Levar ações como microcrédito, esportes e formação em empreendedorismo para um bairro carente de São Miguel Paulista, na grande São Paulo, é um dos projetos da Fundação Tide Setúbal. Mas de que forma a comunidade foi impactada? Será que mudou mesmo? Algumas das respostas foram apresentadas pela superintendente da fundação, Mariana Almeida, no primeiro Relgov Talk do segundo dia de congresso.
“Em 15 anos de atuação no local nós mudamos a história de muita gente e da própria comunidade”, revelou Mariana Almeida. “Entretanto, não conseguimos eliminar todas as vulnerabilidades. Não demos o salto que gostaríamos, até porque nenhuma organização do Terceiro Setor conseguirá isso sozinha. Quem pode garantir os direitos básicos da população é o Estado, que até está presente com escolas e unidades de saúde, mas a alternância de poder provoca a descontinuidade de uma série de projetos, o que prejudica a população”.
A superintendente da Fundação Tide Setúbal ressaltou que são necessárias ações interdisciplinares e continuidade para conseguir alterar cenários. Segundo ela, os problemas não são constituídos somente de baixa renda, educação deficiente ou habitação de má qualidade, mas pela forma como essas vulnerabilidades convergem. “Se houvesse sinergia, os resultados seriam muito melhores. Os governos não são formatados para serem interdisciplinares, mas não podemos aceitar as limitações do Estado”.
A solução passa pela própria comunidade, que se transforma em agente de mudança por meio da construção de um planejamento que direcione políticas públicas e do qual ela se torna guardiã. “Retiramos a comunidade desse papel passivo, de receber o que pensam para ela. Eles fazem um plano para o bairro; depois, verificam de que forma esse projeto entra em convergência com o que o governo daquele momento planejou – de ações de drenagem a tratamento de resíduos sólidos. E às vezes é preciso se sentar com uma secretaria, por exemplo, e negociar mudanças”, explicou.
A pandemia teve efeitos também nas relações entre comunidade e poder público. “É uma provocação contínua. Não dá para voltar a ser o que éramos. Fazer melhor vai exigir inovação. Teremos que repensar nossa forma de organização, a maneira de falar com as pessoas”.