“Uma entusiasta da profissão”. É assim que Elisa Araújo, nova diretora de responsabilidade social do IRELGOV, se define. Segundo ela, os profissionais de relgov têm a rara capacidade de fazer conexões e ajudar na construção de soluções. “
As empresas devem atuar na elaboração de políticas públicas que tragam benefícios para todos. Ao contribuirmos nesse processo, nós, profissionais de relações governamentais, ajudamos a criar uma sociedade mais plural e igualitária”.
Confira os principais pontos de sua entrevista:
1 – Conte um pouco sobre sua trajetória profissional/formação acadêmica e como isso contribui com sua missão no IRELGOV?
Me formei em 2009 em relações internacionais. Atuei em organizações do terceiro setor, tanto empresariais quanto da sociedade civil, assim como em consultorias. E há quatro anos estou efetivamente no mundo corporativo.
Comecei a me interessar por relgov quando percebi que empresas poderiam ser atores políticos e atuar nos interesses nacionais, um conceito muito caro a uma internacionalista.
Acompanho o IRELGOV há muito tempo, desde a fundação, mas o ponto de partida foi em 2022, quando participei de uma mesa no congresso do instituto. Fui então convidada para ser líder do GT de ESG, em completa sintonia com minha atuação.
2 – Quais são os principais desafios e metas do seu conselho/diretoria no IRELGOV e como pretende alcançá-los? Quais temas pretende priorizar?
Tratar ESG exige uma mudança de perspectiva e como a área de relações institucionais deve atuar. Até recentemente tínhamos um perfil muito específico do profissional de relgov e essas áreas se mantinham focadas apenas na defesa de seus negócios – algo absolutamente legítimo. No entanto, hoje as empresas são cobradas para agirem como atores políticos na construção de políticas públicas que proporcionem o máximo de benefícios possível para as pessoas.
Nesse sentido temos pensado em como olhar para as necessidades das áreas e dos profissionais de relgov das empresas e entender como oferecer apoio para resolver parte dos problemas. Como gerar equidade de gênero e raça? É uma questão de capacitação? Um banco de talentos ajudaria?
Também pretendemos oferecer às empresas associadas formas para encontrar profissionais que participem da construção de uma área de relgov mais diversa dentro da empresa. Outra ideia é fortalecer mudanças de perspectiva de como as empresas devem atuar e priorizar ações de responsabilidade socioambiental dentro da estratégia de defesa de interesses.
Por fim, pretendemos elaborar um mapeamento do profissional de relgov no país – quem são, onde estão e como atuam em uma nação tão grande. Vamos mostrar que o relgov também acontece fora do eixo São Paulo/Brasília, que é mais amplo e pode ser mais plural.
3 – Como você enxerga o papel do IRELGOV para o universo das relações governamentais?
O IRELGOV já tem duas características reconhecidas – uma é a produção de conteúdo – artigos, revista – que abordam o assunto de forma clara e contribuem para reduzir o estigma que nós, os chamados lobistas, sofremos. Exerce de forma muito relevante o papel de um think tank.
O segundo ponto consiste na mediação de encontros entre os profissionais, por meio de GTs e webinars, e que tem no congresso o seu auge. Isso permite a expansão de conexões. Essas duas vocações do IRELGOV estão consolidadas e em expansão.
4 – A nova diretoria é liderada por duas mulheres. Qual o significado desse fato na luta por condições mais igualitárias na sociedade e no mercado de trabalho?
É maravilhoso ter duas mulheres na presidência! Isso deve trazer múltiplas dimensões de ganhos para o instituto. Estudos provam que pessoas com vivências diversas trazem soluções diferentes e contribuem para melhores soluções.
Contar com duas mulheres à frente da gestão deve colocar foco em debates como assédio, deslegitimação e temas como o impacto da maternidade no trabalho.
5 – Como trabalhar para conseguir um relgov mais plural e transparente?
Costumo dizer que temos que trabalhar para compreender os processos decisórios e fazer com que sejam mais claros para permitir a participação na construção de políticas públicas melhores, que atendam a pluralidade de interesses da sociedade. Nesse sentido, nós, profissionais de relgov, temos a chave desse portal.
Seja no mundo corporativo ou no terceiro setor, somos nós que conduzimos esse processo de conexão entre quem demanda a lei e quem a elabora. Por isso nossa atividade foi tratada como enigmática por um bom tempo. Temos o poder de construir essas pontes e isso me torna uma entusiasta da profissão.
6 – Indique uma sugestão de livro de cabeceira que você julgue útil para a profissão de relgov.
Gosto de obras que me façam pensar na própria construção do Brasil. Um livro que reúne meu entendimento enquanto mulher negra é o “Por um feminismo afro-latino-americano”, de Lélia Gonzalez, que foi intelectual acadêmica, ativista e militante de movimento negro e também política, fundadora e filiada a partidos políticos na redemocratização do Brasil. O livro reúne artigos de sua autoria sobre redemocratização, lobby do batom, criminalização do racismo na Constituição. Lê-lo me levou a querer atuar de formas múltiplas.