Editorial

Nada melhor para festejar dez anos de vida do IRELGOV do que uma grande comemoração. E foi isso que o IRELGOV fez de 6 a 7 de junho, quando reuniu em São Paulo profissionais de relações governamentais no “III Congresso Internacional de Relações Governamentais”, realizado na Amcham. Na pauta, além de abraços e reencontros, debates sobre as tendências e o que o futuro reserva à atividade.

Os painéis abordaram profissionalização, regulamentação e as relações entre setor privado e o poder público, e entre os profissionais de relações governamentais e órgãos do poder público, como agências reguladoras e Poder Judiciário. Também foram debatidos o cenário regulatório, a relação da iniciativa privada com o Judiciário e a participação do setor privado em cúpulas multilaterais como o G20 e a COP 30.

No evento, foi realizada a eleição da nova diretoria do instituto para o biênio 2024/2026. E apresentado o documento “Modelos de Referência em Relações Governamentais do IRELGOV”, que busca estabelecer padrões ideais para profissionais, organizações que necessitam de uma área de relações governamentais para apoiar sua missão institucional e prestadores de serviços de relgov para terceiros. 

Nesta edição, o leitor encontrará tudo o que aconteceu durante o congresso. 

Boa leitura!

Nesta Edição

Coluna Radar

POr dentro do Irelgov

III CONGRESSO INTERNACIONAL DE RELAÇÕES GOVERNAMENTAIS​

ARTIGOS

10 ANOS DO IRELGOV

FALA, ASSOCIAD@!

NOVOS ASSOCIADOS IRELGOV

Coluna Radar

Embarque na Missão Internacional do IRELGOV 2024!

A 6ª Missão Internacional do IRELGOV já tem data e destino definidos: de 29 de setembro a 4 de outubro de 2024, em Washington, D.C. O programa inclui curso acadêmico de meio período na prestigiada Georgetown University e uma agenda dinâmica de visitas e reuniões técnicas com especialistas e representantes do governo americano.

Nos últimos anos, o instituto promoveu cinco missões internacionais, sendo uma para Bruxelas, três para Washington DC e uma para Xangai e Pequim. Ao todo, mais de 100 profissionais já participaram deste programa. O objetivo das missões é aprimorar as habilidades daqueles(as) que trabalham com relações governamentais e institucionais, capacitando-os(as) para que possam se destacar em funções de liderança e em mercados competitivos. Os(as) participantes terão acesso a oportunidades únicas de networking e conhecimento prático em áreas que são vitais para o sucesso daqueles que atuam em RelGov.

Não perca essa grande oportunidade!

Acesse nosso site e confirme sua presença.

Novos episódios do podcast TransformaGov debatem tecnologia no relgov e public affairs

Estão no ar novos episódios do podcast TransformaGov com especialistas renomados no universo das relações governamentais. Em parceria com a ESPM, os últimos episódios abordam, respectivamente, a influência da tecnologia na sociedade, com o jornalista e professor Eugênio Bucci, o advogado Carlos Ari Sunfeld e a diferença entre public relations e public affairs, com a cientista política Helga Franco.

Clique aqui e ouça na íntegra o bate-papo que tivemos com Helga Franco,  Eugênio Bucci e Carlos Ari Sunfeld

Sugestões de pauta devem ser enviadas para irelgov@arteiras.com.br.

Desconto para associados em cursos da Abrig, FGV, Dharma Academy, IDP, Fundação Dom Cabral e muito mais

Os associados PJ e PF do IRELGOV têm acesso a uma série de benefícios para aprimoramento do conhecimento em relações governamentais.

O IRELGOV possui parceria com instituições de ensino, como Abrig, FGV, Dharma Academy, IDP e Fundação Dom Cabral, que oferecem até 30% de desconto em cursos da área.

POR DENTRO DO IRELGOV

Referências para um relgov melhor

Por Lara Gurgel, diretora executiva do IRELGOV

Em um cenário dinâmico e competitivo, a utilização de modelos de referência emerge como uma prática essencial para profissionais e organizações. Estes modelos não apenas servem como guias, mas também oferecem estruturas definidas, caminhos claros e etapas fundamentais para orientar o desenvolvimento de projetos, pesquisas, produtos e até mesmo carreiras. Eles proporcionam uma base sólida que não só simplifica processos complexos, mas também promove eficiência e excelência na execução de iniciativas em diversas áreas do conhecimento e da prática profissional.

Desde sua criação, o PMBOK (Project Management Body of Knowledge) se consolidou como o principal guia na gestão de projetos, sendo comumente referido como a “bíblia” do setor. Lançado em 1996, este guia abrangente oferece uma vasta gama de conceitos, técnicas e ferramentas essenciais para orientar o ciclo de vida de um projeto. No entanto, suas origens são profundamente enraizadas em um passado que remonta a décadas anteriores. O Project Management Institute (PMI), fundado em 1969, surgiu com a missão inicial de estabelecer um fórum para profissionais discutirem e avançarem as práticas de gerenciamento de projetos. A trajetória histórica do PMBOK não apenas delineia o desenvolvimento do próprio campo de gerenciamento de projetos, mas também serve de modelo inspirador para a criação de novos referenciais em diversas áreas do conhecimento e prática profissional.

Inspirado por esse exemplo, o Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV) convocou centenas de profissionais da área para colaborar na criação de três modelos de referência essenciais. Esses padrões visam orientar profissionais, organizações e prestadores de serviços, facilitando o desenvolvimento e a estruturação de suas atividades na área de relações governamentais. Projetados para beneficiar tanto novatos quanto veteranos da profissão, os modelos também buscam aprimorar o desempenho das organizações que atuam nesse campo dinâmico.

É crucial ressaltar que os modelos propostos não estabelecem requisitos mínimos obrigatórios, mas sim servem como referências para a melhoria contínua ao longo do tempo. A diversidade de formações e estruturas organizacionais é considerada um aspecto positivo, permitindo adaptações às necessidades específicas de cada profissional e organização. Assim como no caso do PMBOK, espera-se que novas edições dos modelos possam incorporar ajustes e melhorias para garantir que o conteúdo permaneça alinhado com as demandas em evolução da área e as inovações nas relações governamentais.

Regulamentação do lobby e modelos de referência – Enquanto as discussões sobre a regulamentação do lobby parecem ter perdido força no Congresso Nacional, os modelos de referência do IRELGOV surgem como um marco do amadurecimento das relações governamentais no Brasil, oferecendo um guia fundamental para avanços coletivos na profissionalização da representação legítima de interesses no país.

Os modelos assumem uma relevância ainda maior em um contexto em que é crucial promover maior participação de grupos de interesses menos poderosos ou menores. Eles desempenham um papel fundamental ao trazerem, de maneira gratuita, orientações para formação profissional e organizacional daqueles que almejam participar da formulação de políticas públicas que verdadeiramente representem os interesses coletivos de todos os segmentos da sociedade.

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) “pesquisas recentes mostram que os cidadãos esperam que o setor privado se engaje mais, não menos, com os governos em questões-chave de políticas. No entanto, isso traz expectativas adicionais sobre COMO o setor privado se engaja com os governos e COMO esse engajamento molda a formulação de políticas”.

Nesse contexto, é fundamental que os profissionais de relações governamentais se engajem cada vez mais no debate sobre os termos que irão regular a atividade de representação de interesses no Brasil e busquem, de maneira contínua, meios para uma atuação ainda mais ética, transparente, legítima e estratégica. O IRELGOV está comprometido em contribuir para esse futuro promissor.

III Congresso Internacional de Relações Governamentais

Continuidade de um excelente trabalho

A cidade de São Paulo se tornou o centro do debate das relações governamentais do país durante o “III Congresso Internacional de Relações Governamentais”, realizado nos dias 6 e 7 de junho na Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham).

Organizado pelo Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV), que completa dez anos de atividade, o encontro abordou tendências no setor, com palestras sobre profissionalização, regulamentação e as relações entre setor privado e o poder público, entre outros temas. Durante o evento, foi eleita o novo conselho da instituição para o biênio 2024/2026.

Jorge Lima, ex-presidente do IRELGOV e diretor de Relações Governamentais do Itaú

Na abertura, o ex-presidente do IRELGOV e diretor de Relações Governamentais do Itaú, Jorge Lima, fez uma síntese do mandato. “Demos continuidade à gestão anterior e conseguimos aumentar a base tanto de associados pessoa física quanto de pessoas jurídicas. Colocamos no ar um novo portal, com mais conteúdo, com todos os documentos produzidos pela sociedade”.

Para a conselheira eleita do IRELGOV e gerente de Relações Governamentais e Institucionais da Totvs, Ariela Zanetta Simoni, um dos desafios da área é adotar uma linguagem acessível a todo tipo de público. “Outros pontos relevantes”, apontou, “são diminuir a polarização política em vigor hoje na sociedade e investir em educação política.”

Ariela Simoni, gerente de Relações Governamentais e Institucionais da TOTVS
Juliana Marra, vice-presidente do IRELGOV e líder de Relações Institucionais e Governamentais da Unilever Brasil

Juliana Marra, vice-presidente do IRELGOV e líder de Relações Institucionais e Governamentais da Unilever Brasil, ressaltou a importância da interação entre setor privado e poder público, em especial por conta dos aspectos relacionados à preservação do meio ambiente, que possuem impacto social. “Um encontro como esse é um fórum para a troca de ideias e boas práticas.”

Nova gestão do IRELGOV é eleita durante o congresso

Integrantes da nova diretoria do IRELGOV

O “III Congresso Internacional de Relações Governamentais” sediou a eleição da nova gestão do IRELGOV para o biênio 2024/2026. A chapa “Crescer” foi a vencedora, com Patrícia Nepomuceno, gerente de Relações Governamentais da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), como a nova presidente, e Juliana Marra, líder de Relações Institucionais e Governamentais da Unilever Brasil, como vice-presidente do instituto.

A eleição contou com grande adesão entre os associados, registrando a maior participação na história do instituto: 48,21%. Também foram eleitos os novos conselhos Deliberativo e Fiscal do IRELGOV.

Patrícia Nepomuceno, nova presidente do IRELGOV

A nova presidente do instituto, Patricia Nepomuceno, agradeceu aos gestores anteriores pela administração considerada “impecável” e adiantou a ênfase dos próximos passos. “Somos a primeira chapa com duas mulheres na Presidência, o que é um fato a se comemorar. Teremos um olhar para a sustentabilidade e para a diversidade de opiniões.”

Para Juliana Marra, é uma alegria enorme dar continuidade ao trabalho que tem dado certo. “Também estou feliz por ver duas mulheres assumindo esses cargos de liderança. 

Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) e vice-presidente do IRELGOV na chapa anterior, falou sobre a gestão que deixou o instituto.

“Creio que fizemos todas as entregas. Mais importante, conseguimos motivar jovens profissionais a ingressar no IRELGOV. A transformação só acontece por meio dos associados. Esse é o principal legado que a gente deixa”.

Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), e vice-presidente do IRELGOV na chapa anterior

Pequena história do relgov

O que esperar da atividade de relações governamentais nos próximos anos? Essa foi a pergunta que o painel “IRELGOV + 10: o futuro das relações governamentais”, moderado por Jorge Lima, diretor de Relações Governamentais do Itaú e ex-presidente do IRELGOV, tentou responder. O debate contou com a presença de associados que estiveram na fundação do instituto e participaram ativamente de sua história desde então.

Kelly Aguilar, sócia da Artha Consultoria Estratégica e ex-presidente do IRELGOV, afirmou que, no momento da sua criação, era difícil imaginar que o instituto chegaria até esta data. Ela lembrou que tudo começou com sete associados pessoas físicas e quatro pessoas jurídicas. “O Gui Athia, que assumiu como presidente, foi para o exterior, e eu assumi. Desde lá foram muitos cursos e artigos publicados. A reputação ainda está longe do que gostaríamos, mas muita gente hoje já entende o que é lobby, ao contrário do que acontecia há poucos anos. Aprender constantemente e adaptar-se rapidamente às mudanças será crucial para o sucesso futuro do IRELGOV”.

Bruno Perman, sócio da Perman Advogados Associados e ex-presidente do IRELGOV, observou que o instituto nasceu em um momento delicado, antes das eleições de 2014 e durante a Operação Lava Jato. “Lutamos contra a percepção negativa associada ao lobby, conseguimos estabelecer parcerias importantes e expandir nossas atividades, especialmente com o advento da tecnologia durante a pandemia, que mudou a forma como exercemos a atividade em Brasília”, disse. “Nos próximos anos, a tecnologia será nossa aliada e devemos usá-la para antecipar necessidades e soluções”.

Fábio Rua, vice-presidente de Políticas Públicas, Comunicações e ESG da General Motors e ex-vice-presidente do IRELGOV

De acordo com Fabio Rua, vice-presidente de Políticas Públicas, Comunicações e ESG da General Motors e ex-vice-presidente do IRELGOV, que começou sua carreira no início dos anos 2000, o instituto representa o crescimento das políticas públicas no Brasil. “Nos próximos dez anos, continuaremos centrados nas pessoas, mas sem deixar de abraçar a tecnologia como aliada na construção de políticas públicas. Não se pode mais trabalhar intuitivamente. O lobista de hoje argumenta com fatos e dados.”

Larissa Wachholz, sócia da Vallya Participações e ex-vice-presidente do IRELGOV, acredita que o Brasil e o mundo vivenciam grandes desafios para os sistemas democráticos.

“Estamos em um momento crucial para a democracia. Como profissionais de relgov, temos a responsabilidade de ajudar empresas e instituições a lidarem com essa polarização extrema. O desafio para o futuro consiste em educar as pessoas no sentido de lembrá-las da beleza da democracia do sistema.”

Gui Athia, CEO da Gui Athia e ex-presidente da instituição, destacou a jornada fascinante desses dez anos e reforçou o papel da informação consistente no trabalho. “Foi muito gratificante ver o crescimento e a evolução nos últimos anos, especialmente agora que enfrentaremos desafios significativos na gestão da opinião pública e na polarização política. É crucial que os profissionais de relgov ajudem a promover um diálogo construtivo e defendam causas legítimas com base em fatos e dados.” 

Comunicação, base para um relgov eficaz

O painel “Soluções integradas de inteligência governamental e Comunicação (PA & PR)”, moderado por Jordana Saldanha, chefe de Comunicação Institucional do Conselho Federal de Química, reforçou a importância da comunicação ao colocar um ponto de luz sobre a comunicação como base das estratégias de relações governamentais.

Para Marcelo Diego, sócio da FSB Holding, o segredo é decifrar o papel da comunicação nesse binômio de inteligência governamental e relações públicas. Se, por um lado, a tecnologia facilitou o diálogo, o outro lado da moeda é um superdimensionamento que dificulta a tarefa de filtrar informações do dia a dia. “Porém, na base, está aquela velha cidade grega, aquela praça romana, onde as pessoas se reuniam para saber das novidades. As pessoas continuam ávidas por notícias, mas hoje são seletivas. Querem cada vez mais informação, mas sobre o que é importante no meio disso tudo. Cada profissional de relgov tem uma missão que, se precedida de uma boa base junto à opinião pública, terá meio caminho andado.” 

De acordo com Disraelli Galvão, CEO da Seta Public Affairs Solution, é preciso compreender a força que comunicação e relações governamentais possuem quando andam de mãos dadas. O papel do relgov é gerar valor para a empresa e para os clientes, com base em uma matriz simples, de dois eixos indissociáveis – método e relacionamento. “Para tal, é necessário conhecer profundamente o negócio do cliente, assim como construir um diálogo institucional para transmitir a mensagem. Não acredito em ações de relgov sem uma estratégia clara de comunicação.” 

Anthony Christian Pinheiro, diretor-executivo do Monitor Legislativo, por sua vez, não acredita ser possível fazer relgov sem tecnologia e profissionais qualificados. “Não se faz nada sem o profissional. No fim, é a fibra do ser humano que decide. É graças a eles que a equipe de relgov recolhe informações para que os líderes possam decidir.”

Helga Franco, head de Relações Governamentais - Governo Federal, da Vale

Helga Franco, head de Relações Governamentais – Governo Federal, da Vale, argumenta que o profissional que entende de tecnologia aprende a ler no mundo virtual, daí a importância de contar com um time plural e diverso, especialmente nos momentos de crise. Ela observa que a parte mais importante da gestão de crise é quando ela não está acontecendo. E aponta três elementos muito conectados – escuta ativa, em que se escuta diferentes visões com o intuito de enxergar a realidade; diálogo aberto, no qual as pessoas se sintam confortáveis para expor suas opiniões; e timing, pois o domínio do tempo de reação é essencial para garantir um bom resultado. “Perder o timing significa desperdiçar uma oportunidade de fazer diferente”, afirmou.

Larissa Wachholz, sócia da Vallya Participações e ex-vice-presidente do IRELGOV, acredita que o Brasil e o mundo vivenciam grandes desafios para os sistemas democráticos. “Estamos em um momento crucial para a democracia. Como profissionais de relgov, temos a responsabilidade de ajudar empresas e instituições a lidarem com essa polarização extrema. O desafio para o futuro consiste em educar as pessoas no sentido de lembrá-las da beleza da democracia do sistema.”

Gui Athia, CEO da Gui Athia e ex-presidente da instituição, destacou a jornada fascinante desses dez anos e reforçou o papel da informação consistente no trabalho. “Foi muito gratificante ver o crescimento e a evolução nos últimos anos, especialmente agora que enfrentaremos desafios significativos na gestão da opinião pública e na polarização política. É crucial que os profissionais de relgov ajudem a promover um diálogo construtivo e defendam causas legítimas com base em fatos e dados.” 

Legitimidade e transparência em relgov

Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais do governo brasileiro

O primeiro painel do “III Congresso Internacional de Relações Governamentais” contou com a participação de três keynote speakers, que abordaram a importância de legitimidade e transparência nas relações governamentais. 

A primeira palestrante foi Pauline Bertrand, policy  analyst (analista de políticas públicas) da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reforçou a importância das políticas públicas que, em última análise, determinam a qualidade da vida cotidiana. “As relações governamentais estão no centro da relação com o poder público. Precisamos reconhecer a existência de interesses diversos e lhes dar oportunidade de participarem das decisões públicas, aumentando a legitimidades destas.”

Bertrand, contudo, fez uma ressalva quanto à necessidade do estabelecimento de regras para evitar prejuízos aos interesses da coletividade. “Não significa que queremos menos lobby, mas sim que seja aplicada mais transparência e que, também, empresas menores sejam ouvidas, reduzindo as desigualdades.”

Nancy Bélanger, commissioner of Lobbying (comissária de Lobby) do Canadá, concorda com a importância da transparência, da informação precisa e da constante das atividades realizadas. “O registro das reuniões é um ponto crucial. No ano passado, tivemos 35 mil comunicações das atividades – e essas informações ficam disponíveis on-line. No Canadá, há um regulamento sobre lobby desde 1989, independente e não subordinado ao governo.” 

O ministro das Relações Institucionais do governo brasileiro, Alexandre Padilha, saudou a realização do evento. “É um excelente fórum para o intercâmbio de experiências e para compreender o contexto das relações entre os Poderes. Estou sempre de portas abertas para o debate”.

Um mundo mais diverso e inclusivo

Lara Gurgel, diretora executiva do IRELGOV

A diretora do IRELGOV, Lara Gurgel, deu início ao segundo dia do congresso fazendo uma ponte entre a catástrofe climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul nos meses de abril e maio deste ano e a capacidade dos profissionais de relgov de contribuírem para uma mudança de hábitos da sociedade.

Ela ressaltou que situações como a do desastre ambiental ocorrido no sul do país não podem mais ser consideradas normais. Segundo ela, a sociedade precisa se conscientizar de que é necessário debater mudanças, em especial de hábitos de consumo. “E esta sala aqui está cheia de pessoas com capacidade de intervir, de transformadores da sociedade. Precisamos usar esse nosso dom para transformar nossa sociedade. Um dos caminhos é aumentar diversidade e inclusão e podemos ser responsáveis por isso”.

Lara Gurgel lamentou que, segundo a pesquisa “Mulheres Profissionais de RIG 2023”, 80% das mulheres que atuam na área de relações governamentais revelam que já sofreram assédio sexual e moral, uma situação inaceitável. “Assim como também podemos constatar, aqui nesse auditório, ausência de negros e descendentes dos povos originários. Para alterar esse quadro, é preciso contar com lideranças comprometidas com mudanças. Infelizmente, hoje, muitos jovens não se interessam mais em se tornar líderes. Esse modelo está errado. Precisamos repensar a formação de lideranças. O IRELGOV pode ajudar a construir um novo normal, mais inclusivo. Todos devem se engajar, afinal nosso instituto é a soma dos esforços de cada indivíduo”.

Conhecimento acima de tudo

Informação e capacidade de análise são habilidades essenciais para o futuro das relações governamentais. Esta pode ser a conclusão do painel com o keynote speaker João Sousa, diretor-executivo do escritório europeu do Public Affairs Council (PAC), apresentado por Eduardo Carlos Ricardo, membro do Conselho do PAC e CEO da PATRI Políticas Públicas & Public Affairs.

Eduardo Carlos Ricardo, membro do Conselho do PAC e CEO da PATRI Políticas Públicas & Public Affairs

Eduardo Carlos Ricardo começou explicando que o PAC não é um sistema para fazer networking, mas sim um centro de conhecimento, de troca de experiências profissionais. “Acaba funcionando como um local onde as pessoas adquirem formação”, explicou. Ele ressaltou que debates como os do congresso do IRELGOV são essenciais. “Afinal, não existe discussão de políticas públicas sem a defesa de interesses. Minha recomendação a todos é: se profissionalizem, estudem, busquem conhecimento. Se, no passado, o que acontecia no campo das relações governamentais na Europa tinha impactos aqui no Brasil, hoje a maior influência vem dos Estados Unidos. Em breve, no entanto, a bússola apontará para a China.”

Souza começou sua apresentação fazendo um breve retrospecto da evolução da atividade desde os anos 50 do século passado, quando, nos Estados Unidos, o trabalho dos lobistas consistia em levar executivos para passear de limusine pelas ruas de Washington e se encontrar com congressistas. “Era uma atuação muito mais relacional, os profissionais eram avaliados por sua rede de contatos”, compara. 

João Souza, diretor-executivo do escritório europeu do Public Affairs Council (PAC)

A chegada da Internet nos anos 1990 altera completamente essa paisagem. De repente, pequenos grupos passam a ter voz e a influenciar governos, explicou Souza. “Do outro lado do Atlântico, a representação dos interesses das empresas evoluiu de mãos dadas com as transformações da comunidade europeia. Aparece o ‘lobista do conhecimento’, com domínio dos conceitos de comunicação digital e atento a assuntos regulatórios.”

Segundo o diretor-executivo do escritório europeu do PAC, o período que estamos atravessando é de grande turbulência, e propõe grandes desafios, com um mundo cada vez mais fragmentado e com tensões crescentes, por exemplo, entre Estados Unidos e China. “Pesquisa recente revelou que CEOs de diversas empresas consideram que esse clima de insegurança, causado por conflitos e um ambiente político polarizado, afeta de forma significativa as empresas. Nesse sentido, as equipes de public affairs estarão cada vez mais envolvidas para que sejam capazes de identificar tendências e riscos. Outro ponto de atenção são as ferramentas de Inteligência Artificial, com o uso cada vez mais automático – e corriqueiro – na produção de fake news, que tumultuam o ambiente”.

Modelos de referência, guias para um melhor relgov

O III Congresso Internacional de Relações Governamentais também foi marcado pelo lançamento da publicação “Modelos de referência em relações governamentais: profissional, organização e prestador de serviço”, desenvolvido pelo IRELGOV.

A obra busca estabelecer padrões ideais para profissionais de relações governamentais, organizações que necessitam de uma área de relações governamentais para apoiar sua missão institucional e prestadores de serviços de relações governamentais para terceiros.

A expectativa é que esses modelos promovam a profissionalização da área de relações governamentais no Brasil, beneficiando tanto profissionais quanto organizações. Além disso, serão utilizados como referência para o desenvolvimento de novos produtos e serviços pelo instituto.

Regulamentar sim, mas como?

Não é de hoje que o país debate a regulamentação da atividade de relações governamentais. Se a maioria parece considerar necessário o estabelecimento de regras, a forma de fazê-lo ainda está longe de ser um consenso. Moderado por Silvia Fagnani, sócia gerente da Think Brasil e ex-conselheira do IRELGOV, o painel “A regulamentação das relações governamentais no Brasil” foi uma oportunidade de ouvir diferentes correntes de opinião sobre esse tema.

Andrea Gozetto, diretora-executiva da Gozetto e Associados, consultoria de gestão estratégica em relações institucionais e governamentais (RIG), começou abordando a definição ideal de lobby – todo tipo de esforço concentrado sobre os tomadores de decisão de políticas públicas. “Só que isso é muito abrangente, pois tudo é lobby – email, zap, telefonema, contato pessoal –, o que torna a regulação um verdadeiro desafio. A legislação acaba tendo que ser muito rigorosa, o que não funciona.” O problema então é como fazer. Segundo ela, é preciso se perguntar a quem serve a regulamentação: “A um grupo específico de profissionais? Porque o risco é de restringir a entrada de interessados. Não podemos cercear o direito à participação”.

Ana Paula Abritta, diretora de Estratégia e Inovação da BMJ Consultores Associados e diretora do IRELGOV, observa que existem muitos argumentos contra e a favor da regulamentação. Outro ponto é como estabelecer regras em um cenário com tantos stakeholders. “Existem maus profissionais em todas as áreas. Por exemplo, um crachá pode ser uma ideia, mas já existe um cadastro na entrada do Congresso Nacional. Temos que nos fazer a pergunta: poder público e sociedade querem a regulamentação?”

Para Jean Castro, CEO da Vector Relações Governamentais e presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), a principal questão é como garantir a transparência nas influências no poder público, tanto nos aspectos referentes ao acesso como às formas de executar o contato. “Qualquer processo de regulamentação consiste em aprendizado para todas as partes envolvidas – regulador, profissionais e sociedade. Podemos pensar que, se o projeto que está no Congresso ainda não virou lei, é porque a população ainda não está pronta para isso. Vivemos um tempo em que estão ocorrendo flexibilizações de comportamentos que merecem nossa atenção e não podemos nos ver enredados.”

A diretora executiva do IRELGOV, Lara Gurgel, afirmou que o instituto não é contrário à regulamentação, mas gostaria de debater como será conduzida.  “Para quem ficará o ônus desse processo? Queremos mostrar que nosso trabalho é legítimo e incentivar a transparência. Sou lobista, com muito orgulho”, afirmou, provocando aplausos da plateia.

Profissionalização passa pelo domínio das tecnologias

Com moderação de Patrícia Nepomuceno, presidente do IRELGOV e gerente de Relações Governamentais da Firjan, o painel “A profissionalização das relações governamentais” demonstrou a importância da incorporação das novas tecnologias para o desenvolvimento da atividade de relgov.

Patrícia Nepomuceno, presidente do IRELGOV
Juliana Celuppi, CEO do Radar Governamental

De acordo com Juliana Celuppi, CEO do Radar Governamental, a tecnologia nos tornou mais eficientes. “Mas, para aproveitá-las, devemos compreendê-las. O acesso à Inteligência Artificial é essencial, até porque ainda há muito a evoluir nesse setor. A pandemia de Covid-19 resultou em evoluções, como as sessões on-line, e mostrou, na prática, como a tecnologia pode nos trazer soluções.”

Gisela Antakly Martinez, CEO da Antakly Public Affairs e ex-conselheira do IRELGOV, ressaltou que uma das mudanças positivas que a maior profissionalização da atividade trouxe foi o aumento da pluralidade, com a presença de pessoas de diversas áreas de conhecimento. “Esse olhar dá muito mais riqueza. Não podemos pensar em desenhar um cenário eficaz de dentro de uma sala, sem olhar para fora e sem estar nos ambientes externos. Nos dias de hoje, em que existe um imenso acesso à informação, precisamos conseguir a empatia dos stakeholders que queremos mobilizar. A participação da sociedade como um todo é fundamental. Como diria Ariano Suassuna, sou uma realista esperançosa.”

Gisela Antakly Martinez, CEO da Antakly Public Affairs e ex-conselheira do IRELGOV

Para Renato Noda, gerente executivo de Relações Governamentais da Cielo, os novos profissionais devem apostar em tecnologia para maximizar o aproveitamento do tempo. “Hoje há ferramentas excelentes, mas é preciso ter esse conhecimento básico. O setor de meio de pagamento é um exemplo: a evolução foi muito rápida – o PIX não tem nem quatro anos. Lidar com toda essa ebulição do segmento de meios de pagamento é difícil. É preciso usar estratégias de forma inteligente.”

Esteves Colnago, diretor de Relações Institucionais da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), considera que, além da tecnologia, é necessário formar parcerias, especialmente quando a atuação do profissional acontece em estados e municípios. “Em alguns locais ainda há resistência à utilização de ferramentas. Muitas vezes, por exemplo, uma pessoa centraliza o processo de votações de um município e ela não tem interesse em adotar tecnologia e perder esse ‘pequeno poder’. Por isso, fortalecemos nossos parceiros locais.”

Debate contínuo garante qualidade da regulamentação

No painel “Diálogo regulatório: relações governamentais e agências reguladoras”, o debate foi centrado nas trocas entre empresas privadas e poder público na elaboração de normas. A moderação da mesa foi de Felipe Cascaes Sabino Bresciani, sócio na Eclésia – Estratégia e Inteligência Política.

O ponto de partida foi dado pela diretora da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), Miriam Wimmer, que defendeu o diálogo para a eficácia dessas relações. “Nas sociedades democráticas, é preciso conversar antes para não se arrepender depois.”

A opinião é compartilhada por Alexandre Freire, conselheiro diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ele considera fundamental a participação da sociedade nos debates por meio das agências, que devem ser transparentes ao máximo. “É preciso induzir a participação da sociedade. Até recentemente, a agência tinha uma visão estreita sobre a participação de terceiros no processo. Hoje, as discussões acontecem, depois são sintetizadas e passam a compor o material que o conselho vai discutir. Então esse espaço me parece importante: assegurar não apenas o acesso formal, mas também uma participação material significativa no processo regulatório.”

Pedro Ferreira, gerente de Relações Institucionais da GS1 Brasil, concorda: “Vejo a importância desse diálogo entre o público e privado.”

Se a conversa é essencial, também é preciso ser flexível. Flávio Chantre, diretor de Relacionamento Institucional da Fundação Renova, afirmou que a entidade conta com uma grande equipe de negociação, em contato direto com prefeitos e câmaras municipais. “Tudo que a gente implementa está conectado com políticas públicas. Mas, para sermos bem-sucedidos, temos que lançar mão de muita habilidade para negociar.”

Freire, da Anatel, acredita que as mudanças contínuas de cenário tornam o diálogo fundamental. “Nossa agência deveria ser redesenhada até do ponto de vista semântico quando falamos em telecomunicação. Hoje nosso papel é garantir conectividade, que está presente em todos os setores produtivos. O cenário muda cotidianamente e os grandes desafios para nossos técnicos é se manterem atualizados para que sejam capazes de dialogar com o mercado. A legitimidade democrática só é obtida por meio de discussões.”

Miriam Wimmer ressaltou que, se hoje a ANPD é uma entidade estruturada subordinada ao Ministério da Justiça, no início contava somente com um misto de entusiasmo e desespero, sem computadores ou telefones. “A busca de uma agenda regulatória passa por reuniões com especialistas. Na época não havia diversidade – mulheres, pretos ou povos originários. Com o passar do tempo, houve um amadurecimento, tanto nosso quanto dos profissionais que nos procuram”, avaliou.

Wimmer afirmou que outra dimensão interessante é que as entidades públicas também fazem relgov. “Nossas ações regulatórias têm reflexos em setores regulados. Devemos ouvir os regulatórios setoriais – e é o que fazemos. Os profissionais de relgov devem ser vistos não apenas como defensores dos interesses privados, mas como facilitadores do interesse público.”

Novos ares no Poder Judiciário

Um poder mais propenso ao diálogo. Esta é a conclusão do painel “Relação da iniciativa privada com o Poder Judiciário”, moderado na tarde do segundo dia do congresso por Patrícia Marta, sócia na TozziniFreire Advogados, onde foi observado que há, atualmente, maior inclinação dos magistrados a ouvirem especialistas. Essa tendência, contudo, exige ainda mais preparo dos profissionais de relgov.

Na avaliação de Alexandre Vitorino, superintendente de Estratégia Jurídica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Poder Judiciário é um dos protagonistas do cotidiano da sociedade brasileira e, como tal, precisa de informação qualificada. “Já não somos mais os monopolistas das informações. No caso da CNI, adotamos algumas boas práticas para que nosso trabalho possa ter uma boa imagem e consolidamos uma agenda com todas as ações relevantes para os setores secundários.”

Para Renê Medrado, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (Ibrac), essa mudança de atitude é visível, com a abertura do Poder Judiciário para diversos temas. “O direito brasileiro deixou de ser hermético. As cortes também se abriram para reflexões sobre políticas públicas. É um fenômeno relativamente novo, de uns 20 anos para cá. Tanto que hoje encontramos um assessor econômico no Supremo Tribunal Federal (STF), algo impensável até pouco tempo. Como Ibrac, dispomos de diversos associados com conhecimento técnico, para oferecer o que nos transformou em uma referência técnica.”

De acordo com Luciano Souza, sócio do escritório Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados, houve uma época em que as empresas tinham departamentos estanques. “Já não é mais assim, para o bem de todos. Os advogados conversam com os profissionais de relgov, estabelecem metas, estratégias e quais as melhores formas de focar em uma determinada pauta. Hoje há um economista no STF porque só os argumentos jurídicos não bastam, e ele ajuda os magistrados a entenderem, por exemplo, os impactos de uma determinada decisão na economia.”

A figura do amicus curiae, segundo Vitorino, expressa humildade institucional, pois os juízes admitem que há coisas que eles desconhecem. “Qual juiz domina células-tronco? É um debate que depende de opinião médica. Alguns juízes criam espaços de discussão e mostram que o Poder Judiciário não é mais autoritativo, coercitivo.”

A questão, para Luciano Souza, é saber se o novo profissional de relgov está preparado. “A interação com os ministros me parece mais tranquila do que com os congressistas brasileiros. O grande desafio dos relgovers é andar de mãos dadas com o jurídico da empresa para criar uma narrativa clara.”

Estratégias para antecipar políticas públicas

O painel “Agendas regionais e risco político em relações governamentais”, com moderação de Creomar de Souza, CEO da Dharma Political Risk and Strategy, debateu, as estratégias que visam a antecipação de políticas públicas e eventuais mudanças regulatórias, proporcionando melhor organização e eficácia na execução de ações.

“Um planejamento bem elaborado permite o desenho de estratégias que levem em conta mudanças tanto de políticas públicas, quanto regulatórias”, explica Creomar de Souza. Um bom exemplo é o caso das mudanças na rotulagem de bebidas, lideradas por Chile e Peru, que acabaram se tornando um padrão.”

Indagada sobre como incorporar, dentro da matriz de riscos políticos, elementos globais que podem afetar o desempenho, Catarina Correa, gerente executiva de Assuntos Públicos, Ciência e Sustentabilidade da Bayer, afirmou que provavelmente o maior desafio consiste na definição de papéis e responsabilidades. “Temos um time de regulatório no Brasil e outro na China, que conversa constantemente com o governo chinês. Isso diz respeito ao ambiente geopolítico. Devemos estar atentos para que todos os lados recebam as mesmas informações, de forma que, na hora que se encontrarem, nenhum dos dois governos se sinta ‘vendido’. É importante garantir que tudo esteja muito bem costurado.”

Alexandra Martinez, diretora de Public Affairs para a América Latina da Prospectiva, recomenda três ações. “A primeira é o monitoramento de tendências para verificar como determinada política pública vai impactar no Brasil. Também existem redes informais que muitas vezes antecipam o que vai acontecer. Em segundo lugar, é preciso participar dos espaços regionais. Por último, aproveitar a experiência local.”

Para Catarina Correa, o segredo é reunir esses momentos de monitoramento e estabelecer um planejamento regional, casado com estratégias de negócios. “É necessário entender o que é preciso monitorar, fazer um ‘de-para’ desse ferramental com o ambiente interno da companhia.

Alexandra Martinez, diretora de Public Affairs para a América Latina da Prospectiva

Pegamos a experiência de uma viagem como a da China, dividimos com a equipe, aplicamos em uma matriz e executamos.” A diretora da Prospectiva ressalta que várias áreas da empresa são envolvidas. “Trabalhamos com diversas equipes, de comunicação, relações governamentais, negócios…..a ideia é mapear riscos que teremos dentro de cinco anos, para mitigá-los.”

Nos fóruns internacionais, um futuro melhor

“G20 e COP 30: o setor privado nas cúpulas multilaterais”, mesa moderada por Suelma Rosa, vice-presidente de Assuntos Corporativos América Latina da PepsiCo e ex-presidente do IRELGOV, abordou a participação de empresas nos debates em fóruns internacionais e na construção de um futuro mais sustentável.

Para Cristiana Xavier de Brito, diretora da área de Relações Governamentais, Comunicação e Sustentabilidade da BASF e presidente do Conselho Curador da Fundação Eco+, o diálogo entre setor público, privado e social é muito importante, e a estratégia de negócio da empresa está focada nesse relacionamento. “A conexão entre as pessoas é que vai criar esse futuro sustentável. O diálogo internacional, cada vez mais, não pertence apenas às empresas multinacionais. O setor privado precisa ajudar a área pública a construir essa agenda necessária para que o mundo supere problemas como o aquecimento global. Participar desses eventos é muito importante para levar nosso olhar da prática. Cabe a nós, profissionais da área, mostrar o quanto é essencial o investimento que a empresa faz nesse setor.”

Suelma Rosa, vice-presidente de Assuntos Corporativos América Latina da PepsiCo e ex-presidente do IRELGOV

Verônica Prates, gerente de Relações Institucionais da Embraer, afirmou que, por ser global, a empresa não deixa de estar nesses fóruns. Segundo ela, a área de relgov tem muito a contribuir para um olhar de longo prazo. “Criamos pontes, diálogo, mesmo entre diversos órgãos de governo. O primeiro desafio consiste em priorizar quais os eventos mais relevantes para a organização, porque há uma infinidade de fóruns tratando de pautas internacionais. E os recursos que a empresa investe, tanto humanos quanto financeiros, não são poucos – no caso do G20, nosso CEO participa de quatro reuniões mensais, o que não é pouco. Para ter bons resultados, é importante contar com uma equipe diversa, para ter visões diferentes, e uma comunicação clara, que não deixe o interlocutor com dúvidas.” 

O diretor de Relações Corporativas da Suzano Brasília, Leonardo Mercante, concorda com Prates que, para empresas com atuação mundial, o âmbito internacional é uma necessidade. “É o nosso caso. Temos muito interesse em bioeconomia, descarbonização e combate às mudanças climáticas de forma geral. O primeiro ponto é que o setor privado pode auxiliar muito nesse processo. O segundo é que estamos muito bem-posicionados como uma empresa que vai colaborar com produtos e processos nesse movimento, e as relações internacionais são essenciais nesse sentido. Olhamos muito além do papel e da celulose. Quem sabe um dia vamos desenvolver SAFs (Combustível Sustentável de Aviação) para os aviões da Verônica. Para isso, precisamos produzir sugestões relevantes em fóruns como o B20, fórum empresarial global, que fornece dados, informações e recomendações aos países do G20 para orientar suas discussões.”

helena mader

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Inteligência governamental + comunicação = sucesso na gestão da reputação e melhor ambiente de negócios

Por Helena Mader e Disraelli Galvão, Seta Solutions

A reputação de uma organização ou de um executivo é ativo construído ao longo dos anos e que não pode ser segmentado. Diferentemente da imagem — públicos diferentes podem ter imagens diferentes de uma mesma pessoa jurídica ou física —, a reputação é consolidada e construída pelo histórico da sua atuação. Como diz o autor Charles Fombrun, “a reputação tem características de perenidade, de imagem consolidada, sedimentada ao longo do tempo. Pode-se mexer com a imagem num dia, para o bem ou para o mal, mas a reputação se constrói ao longo da existência. E por isso seu valor.” Sabe-se, entretanto, que basta uma pequena crise para ruir a reputação. 

Daí a importância de cuidar atentamente da gestão da reputação, realizada, preferencialmente, com a atuação de uma equipe multidisciplinar para ser bem-sucedida. Um dos caminhos para lapidar as percepções sobre as ações corporativas de uma empresa ou a respeito da reputação de um executivo passa pela integração entre as equipes de comunicação e de relações governamentais (public affairs), que compreenda a relevância da abordagem em escala federal, estadual e municipal.  Desta forma, uma complementa e, mais do que isso, potencializa o trabalho da outra.

A consolidação da credibilidade e da legitimidade de uma organização perante os públicos prioritários e seus influenciadores envolve a divulgação de mensagens-chave para cada um desses receptores dentro do tom mais adequado. Tais mensagens podem até ser diferentes, ou o tom pode ser diverso, mas a estratégia de construção das narrativas deve ser obrigatoriamente unificada para ser bem-sucedida. Por isso, o êxito dessa missão passa por uma atuação conjunta – e em estreita parceria – dos profissionais de comunicação, relações públicas e relações institucionais e governamentais. Em inglês, public relations (PR) e public affairs (PA). 

Alterar um cenário regulatório, mover as peças do tabuleiro no xadrez da política, mudar decretos, portarias, leis e até a Constituição são pleitos legítimos. O Brasil é um país multicultural e o ambiente legislativo reflete essa assimetria. Não somente os legisladores pensam de formas diferentes, como também as decisões sofrem impacto direto das culturais locais e as empresas precisam ter acesso às informações certas para não serem surpreendidas com projetos de lei que podem afetar diretamente os seus negócios.

Para que uma organização alcance esses objetivos de maneira ética, republicana e transparente, a comunicação é imprescindível. Para vencer os obstáculos, é preciso passar uma mensagem clara e, assim, sensibilizar diferentes públicos e instâncias decisórias, em todas as esferas de poder impactadas.

Mas, antes de bater à porta de uma autoridade com um pleito em mãos, por mais legítimo e em consonância com o interesse público que ele seja, o caminho mais eficiente é o de entender e aprimorar os processos comunicativos e estudar a construção de significados. 

É preciso entender e antecipar interpretações que poderão advir do que será dito pelo porta-voz, evitando que exercícios equivocados de hermenêutica resultem em interpretações indesejadas. Há que prever e neutralizar o que não se quer que os públicos entendam.

Quando se tem por objetivo influenciar quem decide, observa-se que um tomador de decisões tende a fazer escolhas mais refletidas, ponderadas e alinhadas aos interesses públicos quando ele é escrutinado meticulosamente por cidadãos precavidos, atentos e bem-informados com relação à agenda pública. Para além da celeridade das redes sociais como fonte de informação da sociedade, a imprensa segue como importante balizadora dessa agenda — e, portanto, das motivações desses tomadores de decisão. Aliado a isso, há o temor constante de agentes públicos sofrerem constrangimentos de todas as ordens. Um contexto como esse valoriza ainda mais ferramentas indiretas de lobby, como a pressão da mídia. 

Nesse cenário, a união metodológica de inteligência governamental e comunicação cria o ambiente ideal para um trabalho exitoso na defesa de interesses e causas e na gestão da reputação e de um melhor ambiente de negócios. Uma estratégia bem planejada e implementada molda a percepção pública, estabelecendo confiança e credibilidade entre stakeholders internos e externos, assim como entre a sociedade e autoridades do Executivo e do Legislativo.

Alexandra Martinez

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Navegando as “ondas” regulatórias na América Latina

Por Ricardo Mendes e Ricardo Sennes, diretores-executivos da Prospectiva e Alexandra Martinez, diretora de Public Affairs da Prospectiva

Com as próximas votações no México, Uruguai, República Dominicana e Venezuela, a América Latina terá completado um superciclo de eleições que já redefiniu a distribuição do poder na região. As mudanças começaram entre 2021 e 2022, quando viradas políticas no Chile, Colômbia e Brasil indicavam uma possível reedição da “onda rosa” — a ascensão ao poder de partidos de esquerda que varreu a região nos anos 2000. Candidatos de direita, porém, venceram as eleições no Equador, em 2021, na Argentina, em 2023, e no Panamá, neste 5 de maio, deixando claro que no que diz respeito a ideologias políticas, os países latino-americanos não seguem hoje a mesma toada. O surpreendente, porém, é que essas diferenças não parecem pôr freio a um fenômeno de grande impacto no trabalho de profissionais de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) na região: a convergência na área de regulações, leis e políticas governamentais.

Independentemente da orientação política dos governos de turno, ou do nível de afinidade ideológica entre eles, a disseminação de normas e políticas setoriais entre países da região parece ter adquirido uma dinâmica própria, impulsionada pela integração das sociedades civis e instituições como o Mercosul e a Comunidade Andina (CAN), entre outras. Trata-se de um processo que, hoje, os profissionais de RIG não demoram para perceber. Uma lei, política ou regulação inovadora é adotada em um país e, rapidamente, outros começam a discutir e implementar medidas similares. Os debates públicos sobre o tema transbordam as fronteiras nacionais — e o resultado são “ondas” de novas políticas ou regulações que se espalham pela região, com um impacto significativo em alguns setores específicos.

Os exemplos são muitos. Vão desde as leis antitabaco que tomaram a América Latina partindo do Brasil e do Uruguai nos anos 2000 (incluindo as imagens de advertência em pacotes de cigarros), até as mais recentes regulações do setor de criptomoedas ou os impostos sobre bebidas açucaradas e/ou produtos ultracalóricos (adotados em países como El Salvador, Peru e Chile). Outro exemplo são as normas sobre o uso de tecnologias de Inteligência Artificial (IA): em 2023, o Peru aprovou a primeira lei geral sobre o tema e agora Argentina, Chile, México, Colômbia, Costa Rica e Uruguai discutem projetos semelhantes. Mas talvez o caso mais ilustrativo seja o da rotulagem frontal de alimentos. Pioneiro na área, o Chile implementou em 2016 um sistema no qual a embalagem de produtos industrializados precisa incluir advertências no caso de alto teor de sódio, açúcar, calorias e gorduras saturadas. Em seguida, Peru, Uruguai, Equador, Argentina e Colômbia adotaram iniciativas parecidas. Contribuiu para o impacto regional da lei chilena o ativismo do senador Guido Girardi, coautor da lei, que a promoveu em visitas por países da região (incluindo o Brasil) e entidades internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Na Prospectiva, nos referimos a essa dinâmica de convergência normativa regional — ou de “difusão de políticas”, como preferem os cientistas políticos — como a “regionalização” da elaboração de políticas e regulações, ou, em inglês, regionality of policymaking. Nos últimos anos, temos estudado de forma sistemática esses casos e suas “forças motoras” — como indivíduos e redes regionais, formais e informais, têm interagido para impulsionar tais ondas regulatórias. Está claro que o fenômeno tem se acelerado recentemente, embora não seja novo. Na história da América Latina, há diversos exemplos de difusão tanto de medidas e estratégias econômicas mais amplas — como as reformas liberais dos anos 80 e 90 — quanto de políticas setoriais. A professora da Universidade de Columbia Maria Victoria Murillo, por exemplo, descreveu como na segunda metade do século 20 uma onda de privatizações se alastrou não só por regimes liberais, como o do chileno Augusto Pinochet, mas também por populistas associados a nacionalizações, como o Movimento Nacionalista Revolucionário na Bolívia e os peronistas na Argentina. Mais recentemente, os programas brasileiros Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida inspiraram iniciativas semelhantes por toda a região após serem elogiados por acadêmicos e entidades como a ONU e o Banco Mundial.

Em parte, essa convergência de políticas se explica pelo compartilhamento de traços culturais e socioeconômicos entre países latino-americanos. É natural que um país se inspire em soluções adotadas por um vizinho para problemas comuns. O fato de a maioria da região falar espanhol ou português também ajuda. A aceleração dos casos de difusão, porém, também se deve a uma série de outros fatores. Para começar, a América Latina tem assistido à emergência de “lacunas normativas”, em especial em setores ligados a novas tecnologias. A região está na vanguarda da inovação em áreas como energia renovável, e-commerce e indústria financeira — o que gera demanda por novas normas e políticas para regular e desenvolver esses setores.

Outro motor da difusão normativa são as redes “formais” regionais: a longa lista de organizações interestatais que atuam na região promovendo integração e harmonização regulatória. Essas redes ganharam grande impulso nos anos 1990 (com a criação do Mercosul, do Sistema de Integração da América Central/SICA e da área de livre comércio da CAN) e, mais recentemente, nos anos 2010 (com iniciativas como a Aliança do Pacífico). É verdade que algumas organizações de foco político, como a Unasul, entraram em declínio. Mas principalmente as de viés mais econômico e social continuaram a progredir no nível técnico, avançando na harmonização normativa em diversas áreas — de regras comerciais e fitossanitárias a educação, imigração, turismo e proteção ambiental. A influência dessas entidades soma-se à de bancos regionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e de organizações internacionais, como a FAO e a Organização Pan-Americana da Saúde — que tentam alinhar políticas regionais a agendas globais (por exemplo, o combate ao aquecimento global).

Além disso, a difusão normativa também é impulsionada por redes informais, que abrangem desde ativistas e líderes comunitários até políticos, acadêmicos e outros membros da sociedade civil. Muitos participam de eventos como congressos e fóruns e usam canais on-line, como redes sociais, para manter contato com seus pares e expandir suas redes de influência. Por exemplo, líderes de ONGs ou movimentos sociais costumam colaborar em pesquisas e campanhas públicas, além de trocar informações sobre estratégias que tiveram sucesso em seus países (basta lembrar a colaboração de grupos de direitos humanos para a criação de comissões da verdade na região). Figuras políticas influentes também podem individualmente trabalhar para a defesa de reformas específicas em âmbito regional, como fez Girardi.

Para departamentos de RIG de empresas que operam na América Latina, esse cenário traz uma série de novas demandas. Alguns já estão se adaptando — por exemplo, criando associações de ação regional e ajustando suas estruturas de liderança, uma vez que já não é possível tratar cada país como um mercado isolado. Mas há ainda muito a ser feito para que se possa mitigar os riscos e aproveitar as oportunidades criadas pela convergência regulatória. É crucial, por exemplo, criar estratégias de RIG integradas (issue management), que incluam um mapeamento das redes regionais que influenciam o debate e a tomada de decisões sobre temas de interesse. As empresas também precisam adaptar suas estruturas internas, garantindo o alinhamento de executivos-chave com as ações regionais. Além disso, elas podem mapear como determinado debate se desenrolou em um país para construir narrativas sólidas em outro mercado. Em alguns casos, também é possível usar informações coletadas regionalmente para aprimorar o acesso a determinados mercados. Em um momento em que ondas regulatórias avançam sobre a América Latina, quem souber se adaptar e navegar de forma eficiente essas novas dinâmicas regionais certamente chegará mais longe.

PATRI - Eduardo Carlos Ricardo

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Desafios da regulamentação da representação de interesses

Por Eduardo Carlos Ricardo, CEO da PATRI Políticas Públicas & Public Affairs

Como profissionais de Public Affairs, temos um elefante enorme na sala: o fato de que os que têm a responsabilidade de fortalecer a representação de interesses de terceiros ainda não conseguirem fazer o mesmo para si, para que tenhamos a atividade regulamentada. Seja porque não conseguem, não precisam ou não querem.

Para os que não conseguem e ainda tentam, fica a mensagem de persistência e resiliência. Parafraseando Lao Tzu, lembremos que estamos longe do primeiro passo dessa jornada de mil milhas: completadas quatro décadas recentemente, mesmo antes da constituinte, com o então senador Marco Maciel por meio de um projeto de lei de 1984, arquivado e posteriormente replicado em 1989. Cabe aqui nos escorarmos em algumas relevantes conquistas, exemplo delas a inclusão na Classificação Brasileira de Ocupações, e no entendimento da OCDE de que a regulamentação é essencial para uma democracia com participação não monopolizada de processos decisórios e, por consequência, mais transparente.

Em relação ao grupo que não precisa da atividade regulamentada, a Lei 14.365 de 2022 inseriu no Estatuto da Advocacia que “O advogado pode contribuir com o processo legislativo e com a elaboração de normas jurídicas, no âmbito dos Poderes da República.”  Sendo o Brasil o país com a maior proporção de advogados por habitante do mundo, essa é a hora que o grande elefante na sala cruza as patas sentado na poltrona e se pergunta quem de fato precisa ser regulamentado. O que conforta é a percepção de que boa parte dos que poderiam se beneficiar desta situação se inserem no primeiro grupo, dos que buscam a regulamentação.  Além disso, o excessivo fluxo de informações dentro do ambiente decisório felizmente dá pouco espaço para soluções combinadas no apagar das luzes, beneficiando poucos interessados.

Ao último grupo, dos que não querem a regulamentação, resta respeitar os que possuem argumentos legítimos e convidá-los à refletir se os interesses de seus pares em relação ao assunto são realmente explícitos.  Como diria o personagem de Niels Bohr no recente filme Oppenheimer: “You can’t lift the stone without being ready for the snake that’s revealed”.

Superar antigos vícios da atividade de relações governamentais em restringir os policy makers aos tomadores de decisão e seus respectivos gabinetes talvez seja um dos principais desafios. Há tempos essa restrição foi abandonada, com a atomização da participação para um número infindável de atores na sociedade civil organizada por meio dos grupos de pressão ou no próprio exercício solitário do indivíduo, fortalecido pelas redes sociais e seguindo o manual do “citizen lobbyist”, fazendo valer sua voz como eleitor, contribuinte e cidadão.

Em consonância com a OCDE, temos a janela de oportunidade de tratar a regulamentação do lobby como elemento de interesse público, importante para o fortalecimento de nossa democracia sob constantes ataques. Não é trabalho fácil e, se fosse, já estaria feito, mas apenas ao incluir o debate na real agenda de demandas da população é que tal assunto ganhará tração.    

Por ora, enquanto o terreno da representação de interesses estiver na zona cinzenta da não-regulamentação, onde vários atores se beneficiam dela, optaremos sempre por defender a autorrepresentação. Desconfio, inclusive, que será nossa posição mesmo após regulamentada, uma vez que ninguém mais adequado para defender o próprio interesse do que quem usa o crachá da empresa, organização ou entidade interessada. Estes possuem a missão de buscar ajuda profissionalizada para que esta autorrepresentação seja feita de maneira efetiva e adequada, gerenciando e mapeando eventuais riscos a serem mitigados e oportunidades a serem potencializadas.

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Cotas e financiamento partidário: os entraves que ainda existem para as mulheres na política

Por Letícia Sampaio, cientista política pela Universidade de Brasília (UnB), integra o Coletivo Pretas e Pretos em Relgov 

Segundo os dados do Sistema de Filiação Partidária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)[1], o Brasil conta com quase 16 milhões de eleitores filiados a partidos políticos. Destes, 46% são mulheres, o que indica que quase metade das pessoas aptas a se candidatarem e a participarem de um pleito são do sexo feminino. No entanto, essa proporção não se refletiu nas últimas eleições municipais. Em 2020, houve 2,5 vezes mais candidatos do sexo masculino do que do sexo feminino para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador no Brasil, totalizando 370 mil candidaturas masculinas contra 187 mil femininas. Nas Câmaras de Vereadores, essa disparidade foi de 34%[2].

No mesmo ano, além da cota obrigatória de 30% para candidaturas femininas, foram implementadas pela primeira vez as novas regras de reserva de, no mínimo, 30% dos fundos eleitoral e partidário, bem como a aplicação do mesmo percentual ao tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão para as mulheres, com a obrigatoriedade dos partidos de divulgarem essas candidaturas. Com o objetivo de promover o acesso de grupos sociais minoritários à política, como mulheres e pessoas negras, visando viabilizar uma participação efetiva e competitiva, o TSE estabeleceu esses novos critérios para o lançamento dessas candidaturas, os quais determinaram percentuais mínimos obrigatórios.

Observando a movimentação do TSE, o Congresso Nacional se mobilizou e aprovou a Emenda Constitucional nº 117/22, que resguardou as decisões do tribunal e estabeleceu o percentual mínimo de 5% dos recursos do Fundo Partidário para a criação e manutenção de programas destinados à participação das mulheres na política. Além disso, a emenda garantiu a manutenção dos 30% do Fundo Especial de Financiamento de Campanha para candidaturas femininas, uma vez que esse é o mínimo estabelecido para tais candidaturas.

Entretanto, ao analisar os dados disponibilizados sobre as Eleições Gerais de 2022, observa-se que os investimentos em campanhas eleitorais para mulheres representaram apenas 28% dos valores destinados às campanhas masculinas[3]. Essas informações nos levam a concluir que os investimentos em candidaturas femininas estão aquém do mínimo legal. Se as mulheres representam quase a mesma proporção que os homens dentro das agremiações partidárias e têm a mesma aptidão para se candidatarem, os recursos financeiros deveriam ser destinados de forma equitativa para que elas possam competir em igualdade de condições. A sensação é de que as mulheres continuam sendo incentivadas a se filiarem – e muitas delas a se candidatarem – apenas para cumprir uma cota partidária legal, enquanto os próprios partidos políticos nos quais estão inseridas não estão empenhados em vê-las eleitas.

Embora seja uma decisão pessoal do eleitor, a partir do momento que os partidos decidem alocar recursos e priorizar certos candidatos em detrimento de outras, a visibilidade que essa distribuição ocasiona reduz as possibilidades que mulheres, pretos e outras minorias sejam eleitas. De acordo com estudos realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o dinheiro gasto na campanha é um dos elementos que mais contribuiu para o sucesso das candidaturas nas eleições brasileiras. Isso só reforça que ter candidaturas femininas para cumprir cotas não farão com que elas sejam eleitas – além de um retrocesso para o processo democrático é uma infração às leis eleitorais que buscam mais equidade e não tem uma punição por parte da justiça.

Dentro desse cenário de desigualdades para as mulheres, é crucial observar com mais atenção todas as dificuldades enfrentadas por mulheres negras ao se lançarem, concorrerem e vencerem uma eleição. Para as eleições deste ano, o TSE realizou uma série de audiências públicas para definir diretrizes que possam contribuir para uma competição mais justa. Dentre as sugestões já propostas está a obrigatoriedade de os partidos apresentarem prestações de contas parciais, durante o curso da campanha, sobre o cumprimento das cotas femininas e raciais. Também foi sugerida a criação de bancas de heteroidentificação para verificar a veracidade da autodeclaração das candidatas e candidatos que se declaram negros, como forma de prevenir fraudes no repasse de recursos.

O Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP), da Câmara dos Deputados, propôs que seja autorizado o gasto de campanha com cuidadoras e cuidadores, possibilitando que mulheres de baixa renda, frequentemente responsáveis pelo cuidado de filhos e outros dependentes, possam se desobrigar dessas responsabilidades e, de fato, se engajarem em campanhas eleitorais. A medida seria muito benéfica, visto que em muitos casos mulheres periféricas são as principais cuidadoras de suas famílias e essa atividade muitas vezes impedem que elas possam participar ativamente da política.

Para as eleições municipais que ocorrerão em outubro deste ano, é preciso que não sejamos vistas apenas como uma obrigação legal, mas como capazes de contribuir no processo democrático, com nossas pautas e experiências, necessárias para reduzir desigualdades e índices que mais nos acometem hoje, como o de sermos mais propensas a sofrer violência doméstica, feminicídio, racismo, sexismo e desigualdade salarial.

 

[1] https://sig.tse.jus.br/ords/dwapr/r/seai/sig-eleicao-filiados/home?session=11998716068362

[2] https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Janeiro/crescimento-de-candidaturas-femininas-e-maior-em-cargos-de-vice-prefeita

[3] https://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/

Helga Franco

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Estratégias eficazes na gestão de relações governamentais exigem técnica, preparação e persistência

Por Helga Franco, head de Relações Governamentais Federal da Vale

O profissional de relações governamentais de ontem precisa ser o gestor em relações governamentais de hoje. A atividade de relações governamentais é, em muito, semelhante à uma maratona: exige técnica, conhecimento do percurso e persistência, mas a gestão de uma série de atributos até a linha de chegada é que vai garantir o sucesso.

Uma boa gestão se faz com alguns elementos conhecidos: transparência, colaboração, integridade, accountability, eficiência, efetividade. Mas quais seriam os elementos específicos dessa atividade para as relações governamentais? E sim, existem algumas nuances que, quando observadas, tornam todo o processo de gestão mais criterioso e assertivo.

É importante cultivar entre os interlocutores a cultura da integridade e a relevância do respeito às regras e formalidades estabelecidas para a defesa de interesses. Em uma atividade com forte elemento relacional, uma cultura de integridade fortalecida incentiva o devido registro, clareza de posições e decoro. Todos inegociáveis para quem interage com o processo decisório governamental. Por isso, desenvolver uma cultura organizacional que permita discutir as questões de integridade nas relações governamentais de forma aberta e que os erros possam ser tratados abertamente e resolvidos de forma eficiente é atividade de gestão.

Criar sistemas não apenas para controle, mas para enfatizar compromissos e resguardar memória corporativa, com delimitação específica de responsabilidades e análises orientadas à redução de complexidades também deve ser prioridade para o gestor em relações governamentais. O armazenamento de dados que não serve para desenhar, implementar e avaliar também o desempenho em matéria de integridade e apenas acumula informações desperdiça recursos, aumenta probabilidade de riscos não identificados e incentiva rotinas desgastantes e desestimulantes.

Como terceiro elemento de um padrão de excelência em gestão da área de relações governamentais, a responsabilização pelas práticas que desviem dos protocolos de integridade é imprescindível. O estabelecimento e o desenvolvimento de mecanismos de fiscalização interna e controle de riscos com respostas efetivas são também áreas que merecem atenção do profissional de RIG.  

Quanto mais informado e atento às mudanças, mais capaz estará o gestor de relações governamentais para oferecer insights valiosos, compreender bem os stakeholders, manter um diálogo próximo e construtivo e para definir abordagens que maximizem a identificação de territórios de negociação coletivos.  

Em suma, uma gestão eficaz das relações governamentais requer uma combinação de competências técnicas, preparação estratégica e persistência. É um processo contínuo e dinâmico, que exige adaptação constante às mudanças no ambiente político e regulatório. Por meio de uma abordagem ética e transparente, os profissionais de relações governamentais que sejam também gestores em relações governamentais) podem contribuir significativamente para promover o diálogo entre os setores público e privado e promover políticas que beneficiem a sociedade como um todo.

Ana Paula Abritta

Artigo

Representatividade feminina na Câmara dos Deputados: um jogo de tabuleiro ainda injusto

Por Ana Paula Abritta, diretora de Estratégia e Inovação, BMJ Consultores Associados

A luta das mulheres brasileiras para ocupar espaços políticos não é recente. Desde que Celina Guimarães Viana se alistou como a primeira eleitora do Brasil em 1927, passando pela eleição de Alzira Soriano como a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, em 1928, até a liderança de Bertha Lutz no movimento pelo sufrágio feminino, as mulheres têm batalhado por um espaço no cenário político. Essas pioneiras abriram caminho para que mais mulheres pudessem participar ativamente da vida pública e política do país.

A história das mulheres na política brasileira é marcada por conquistas importantes, mas também por um lento progresso na consolidação desses avanços. Mesmo com a instituição de medidas afirmativas e a publicação de legislações como o Código Eleitoral de 1932, que garantiu o direito ao voto feminino, a representatividade feminina no parlamento brasileiro ainda é insuficiente. A Carta das Mulheres à Constituinte, publicada 61 anos após o registro da primeira eleitora, reforçou a necessidade de uma legislação que inspirasse e assegurasse a representatividade feminina, destacando que “Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher.”

A participação das mulheres na política formal tem aumentado, mas ainda está longe de ser suficiente. Dados do Superior Tribunal Eleitoral de 2021 mostram que as mulheres representam 46% dos filiados aos partidos políticos, mas isso não se traduz em um número proporcional de candidatas eleitas. De fato, o argumento de que o Congresso reflete a sociedade brasileira não se sustenta quando analisamos a composição do parlamento. A maioria dos deputados federais eleitos entre 1986 e 2012 eram homens, brancos, com formação superior e experiência política prévia. Essa realidade pouco mudou desde então.

Nas últimas cinco legislaturas da Câmara dos Deputados, houve um aumento no número de mulheres eleitas, mas a sub-representação feminina ainda é evidente. As mulheres ocupam menos cargos de decisão e têm menor influência na formulação e negociação da agenda política. Durante a 52ª legislatura (2003-2007), as mulheres constituíam 8,3% dos eleitos, enquanto na 56ª legislatura (2019-2023) esse número subiu para 14,5%. Apesar desse aumento, as mulheres ainda representam uma pequena fração do total de parlamentares, com 321 mulheres eleitas contra 2244 homens nas últimas cinco legislaturas.

A produtividade legislativa das mulheres também mostra que, apesar de sua sub-representação, elas são ativamente envolvidas no processo legislativo. A análise dos tipos de proposições apresentadas revela que as mulheres tendem a propor mais políticas classificadas como “soft politics” e “middle politics“, enquanto os homens dominam as “hard politics“. Essa diferença pode ser atribuída às barreiras estruturais e culturais que dificultam a entrada e permanência das mulheres em espaços de maior poder e decisão.

Além da quantidade de projetos apresentados, é crucial analisar o impacto dessas proposições e a participação das mulheres em comissões permanentes e temporárias. As mulheres parlamentares têm ocupado cargos de relatoras em projetos de diferentes temas, mas ainda enfrentam desafios para se destacarem em comissões estratégicas. A alocação de relatorias para mulheres tende a ser maior em projetos de “soft politics“, refletindo a dificuldade de acesso a espaços de maior poder e influência.

A ocupação de cargos de liderança por mulheres na Câmara dos Deputados é ainda mais limitada. A análise da ocupação de cargos de bancada nas últimas cinco legislaturas mostra que as mulheres raramente ocupam posições de liderança, como líderes de bancada ou presidentes de comissões permanentes. Embora tenha havido um aumento na ocupação de cargos como vice-líder, a presença feminina em posições estratégicas de decisão permanece insuficiente.

Para mudar essa realidade, é fundamental considerar reformas políticas e eleitorais que incentivem a participação feminina. A ausência de apoio dos partidos políticos é uma das principais razões apontadas pelas mulheres para não se candidatarem, segundo pesquisa do Senado Federal. Medidas como a destinação de cotas do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e a implementação de listas proporcionais com presença mínima de um gênero específico são passos importantes, mas ainda insuficientes.

A luta pela igualdade de gênero na política é parte integrante da agenda internacional e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O Brasil, como signatário desses objetivos, deve promover políticas públicas que incentivem a participação feminina e garantam uma representação mais justa e equitativa. A desconstrução dos papéis de gênero e a educação das novas gerações são essenciais para construir uma sociedade mais igualitária.

Portanto, a representatividade feminina na política brasileira é crucial para uma democracia completa. Como afirmou Maria Elizabeth Rocha, ministra do Superior Tribunal Militar, “uma democracia sem mulheres é uma democracia incompleta.” É preciso continuar lutando por mais mulheres na política, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e suas perspectivas consideradas na formulação das leis e políticas públicas. Somente assim será possível construir um país mais justo e igualitário para todos.

Referências

Câmara dos Deputados – Dados abertos sobre participação feminina

Superior Tribunal Eleitoral – Estatísticas de filiação partidária

Senado Federal – Pesquisa sobre motivos para não-candidatura feminina

ONU – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

10 anos do Irelgov

Em clima de muita celebração e abraços, o IRELGOV celebrou seus 10 anos de fundação com um brinde reunindo presidentes e representantes de diversas gestões.

Confira:

Fotos: Andre Rosa

Fala, associad@!

Como foi sua experiência no III Congresso Internacional do IRELGOV?

“Foi minha segunda participação e é sempre estimulante ter dimensão do crescimento da área de relações institucionais e governamentais no nosso país, com discussões tão pertinentes para o mercado proporcionadas nos painéis do evento. Destaco aqui o dia 07, quando foi debatida a regulamentação do lobby no ordenamento jurídico brasileiro, me emocionei ao relembrar minha monografia para conclusão da faculdade de Direito, que teve justamente o mesmo tema, onde também abordei a regulamentação chilena como um parâmetro para o Brasil, assim como foi mencionado no painel. Muito legal reencontrar também amigos, clientes, parceiros e ex-colegas de trabalho, além de ser um ambiente muito interessante para networking e novas ideias!”
Talia Felix
Sócia e head de Operações em Estados e Municípios no Radar Governamental

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