Como o setor privado e o Terceiro Setor se conectam? Quais os desafios da defesa de causas desse segmento? Essa foram as questões que nortearam a mesa-redonda “Relgov e a defesa de causas”, realizada na manhã do segundo dia do congresso, mediada pela diretora executiva da Impacta
Advocacy, Daniela Castro. “As empresas vêm sendo cobradas para que os impactos positivos sejam reais. São atores políticos e precisam dar respostas à sociedade e o advocacy é uma das estratégias para falar em defesa de causas”.
Para o vice-presidente do Instituto Ayrton Senna, Roberto Campos de Lima, o desafio é a descontinuidade. “Os secretários irão mudar, mas a permanência do corpo técnico permite transformar ideias em política de estado. Estamos em um momento de transformação do advocacy em um processo institucional com clareza de agenda e intencionalidade de engajamento dos stakeholders. Fizemos por entender que o Terceiro Setor é um dos principais influenciadores dessa mudança”.
Na Natura & Co, as causas estão agregadas ao negócio desde sua fundação. Segundo a coordenadora de Relações Governamentais da empresa, Elisa de Araújo, a preocupação com as pessoas e os impactos positivos de sua atuação na biodiversidade são a própria essência da construção do negócio. “Interagimos com muita gente, do fornecedor ao consumidor, mas são impactos pontuais. Só é possível transformar a realidade de forma perene a partir de alterações de políticas públicas. Nesse sentido, nenhuma empresa é capaz de substituir o Estado”.
Para influenciar políticas públicas, é necessário falar com múltiplos atores. A frase é do diretor de Projetos Especiais do Impact Hub Brasília, João Marcelo Borges, que recorre à Teoria dos Jogos em seu cotidiano. “Em um cenário de jogos repetidos, reputação é crucial. As partidas não devem ser de soma zero – os dois têm que ganhar”. Ele admitiu que por meses só tomava café com os interlocutores, até conseguir uma relação de confiança que possibilitasse uma negociação. “As organizações que mais alcançam seus objetivos são as que conseguem passar de estratégias de soma zero para relações de respeito e legitimização dos outros, o que lhes garante o diálogo”, explicou.
Daniela Castro ressaltou que todos são atores políticos, mas é na concretização de impactos sociais que as empresas se encontram com as causas. Mas será que as ONGs têm feito a diferença? Para João Marcelo Borges o principal desafio é conceitual. “A criação de uma empresa sempre tem impacto social, positivo ou negativo. Por muito tempo esperava-se delas apenas a geração de riquezas. Hoje, a financeirização do capitalismo gerou um desequilíbrio enorme, que não é contrabalançado pela geração de empregos. Só vejo negócios sociais em empresas que se comprometem em envolver todos, do consumidor ao fornecedor. É o que faz a Natura”, comentou.
A coordenadora de Relações Governamentais da Natura, Elisa de Araújo, afirmou que as empresas interessadas em executar ações de ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) precisam aprender a ouvir diversos públicos. “Se querem, de verdade, construir uma área de ESG precisam montar equipes diversas, que saiba se conectar a todos. É necessário estar aberto para escutar a visão de mundo de outras pessoas, de pessoas diferentes”.