Com o texto intitulado “O IRelGov e a evolução do mercado de relações governamentais no Brasil” estreou nesta quarta-feira, 11, a coluna que o IRelGov (Instituto de Relações Governamentais) passa a publicar uma vez por mês no site JOTA. O primeiro artigo desta parceria é assinado pelo presidente da entidade, Bruno Perman, que faz um histórico do surgimento do Instituto e revela seus principais desafios.
O IRelGov e a evolução do mercado de relações governamentais no Brasil
Inicialmente, gostaria de agradecer ao JOTA pelo espaço oferecido ao IRelGov – Instituto de Relações Governamentais. A partir de hoje (11/03), o Instituto passa a ter uma coluna mensal onde serão abordados temas relacionados ao mundo das Relações Governamentais.
Nesta primeira coluna, tenho a responsabilidade de apresentar o IRelGov e falar um pouco da nossa história. Somos um Think Tank brasileiro fundado por ex-alunos do curso de especialização em Relações Governamentais do Insper, que em 2014 sob a mentoria do então professor Guilherme Athia, Rel. Gov. da Nike à época, incentivou a estruturação do Instituto com o objetivo de promover iniciativas para a evolução da prática no Brasil.
Após algumas reuniões, o grupo identificou que os principais desafios da atividade eram a reputação e a educação. Sendo assim, esses se tornaram os pilares do Instituto e todo o plano estratégico está montado sobre essa temática.
Nos seus quase seis anos de existência, foram muitas as conquistas e contribuições para a atividade de relações governamentais no Brasil. Podemos citar alguns dos principais projetos: missões internacionais de estudos, guia de melhores práticas, correalização do anuário de profissionais de Relações Governamentais, dentre outros.
As missões internacionais têm por objetivo buscar benchmarks internacionais de boas práticas. Nessas viagens cobrimos três principais pontos, i) a parte acadêmica, com curso em centros acadêmicos locais e conteúdo de temas relacionados a área de Relações Governamentais, ii) as visitas a órgãos Governamentais locais, tanto no Legislativo quanto no Executivo, para entender como outros países estão organizados e iii) as visitas ao setor privado, onde buscamos consultorias, Startups, ONG, Institutos e demais players que atuam em Relações Governamentais no país visitado.
Além das missões internacionais de estudos, publicamos em 2019 o Guia de Melhores Práticas em Relações Governamentais, contendo recomendações à área, correalizamos o anuário dos Profissionais de Relações Governamentais, uma espécie de who is who do setor no Brasil, também editamos a revista eletrônica Diálogos com publicação trimestral, onde trazemos matérias voltadas ao mercado profissional, além de publicação de artigos e pesquisas de reputação.
Essas informações nos ajudam a entender qual a percepção sobre a nossa atividade e funciona como balizador do nosso plano de comunicação. Realizamos ainda o primeiro Congresso de Relações Governamentais, além de eventos, palestras, workshops, publicações e parcerias acadêmicas com as principais instituições de ensino do Brasil.
Hoje, o IRelGov conta com 200 associados entre pessoas físicas e jurídicas, e conta com a honra de congregar nomes reconhecidos pelo mercado nacional e internacional, além de grandes empresas nacionais e multinacionais.
Acreditamos que a história do IRelGov se confunde um pouco com o desenvolvimento e transformação que a atividade vem experimentando no Brasil. Quando olhamos para 2014, início da operação Lava Jato, os profissionais de Relações Governamentais atuavam basicamente em empresas multinacionais, principalmente aquelas que precisavam seguir as regras do FCPA – US Foreign Corrupt Practices Act e o Bribery Act do Reino Unido legislações que são consideradas divisores de águas no combate a corrupção no mundo. Após todo o impacto trazido pela ação da Lava Jato, foi nítida a mudança na forma em que os setores público e privado se relacionam.
Também podemos trazer outro fator muito importante que contribuiu com a mudança, qual seja, o fim do financiamento de campanha através das doações de empresas para políticos ou partidos.
A busca por criar áreas de Rel. Gov., a contratação de profissionais especializados, o desenvolvimento de softwares de acompanhamento Legislativo, a criação de novas startups na área, as entidades de ensino oferecendo cursos de especialização e prestadores de serviços começando a olhar o mercado como uma nova fronteira de oportunidades e de crescimento.
Em outra frente, o setor público passou a se preocupar com os impactos dos escândalos de corrupção. No Congresso, o PL nº 1202/07, que se propõe a criar regras para a regulamentação do lobby no Brasil voltou a ter desdobramentos, foram realizadas audiências publicas e o debate em torno da regulamentação começou a chamar a atenção da sociedade.
Em paralelo, a Controladoria Geral da União (CGU) começou a trabalhar em uma proposta de regulamentação voltada ao Executivo Federal – administração direta e indireta – em uma tentativa de modernizar as ferramentas de controle e tornar mais transparentes as relações entre os setores público e privado. Inclusive, no início de 2019, a CGU anunciou que estaria estudando o modelo de regulamentação do lobby no Chile e que preferencialmente traria o benchmark Sul-americano para o Brasil. Para tanto, o primeiro passo seria a implantação de um portal único, site onde todas as solicitações de agenda e reuniões e as interações ocorridas durante o encontro seriam divulgadas através da mesma plataforma.
O movimento de profissionalização da atividade vem se fortalecendo, pois a demanda que era apenas das empresas multinacionais passou a ser das nacionais de grande porte e de médio porte que atuam em setores regulados, passando também pelas Associações e Entidades de Classe. Atualmente, grande parte de seus associados já seguem programas rígidos de compliance em Relações Governamentais e, consequentemente, tem pressionado que entidades de representação tenham um plano estratégico em Relações Governamentais e que o trabalho seja desenvolvido de forma transparente e compliant, já que a imagem e a reputação dos setores também podem ser impactadas por escândalos nas entidades setoriais.
Em pesquisa recente realizada pelo Instituto Pensar RelGov, podemos observar que os números do setor têm se tornado robustos. Estima-se que o número de profissionais envolvidos na área de Relações Governamentais no Brasil é de 95.000 pessoas e que, proporcionalmente, os estados com a maior concentração desses profissionais são Santa Catarina, São Paulo e o Distrito Federal e ainda que os setores que mais contratam são o Farmacêutico, Tecnologia da Informação, Biotecnologia, Alimentos, Consultorias/Advocacia, Bens e Serviços e ONGs.
O interesse de estudantes de graduação e jovens profissionais vem crescendo, principalmente daqueles oriundos dos cursos de Direito, Comunicação, Relações Internacionais, Ciências Políticas e Administração. Segundo um levantamento do próprio IRelGov, esses 5 cursos são a base acadêmica de 80% dos profissionais, nos demais 20% podemos encontrar 17 outras profissões.
Por outro lado, os desafios ainda são grandes já que temos que carregar um certo peso da pecha negativa da palavra “lobby”, que tem caído em desuso. Nos Estados Unidos da América, o termo mais usado é Governament Affairs e no Brasil o mercado vem buscando fazer uso da terminologia Relações Governamentais.
Além da questão reputacional, ainda falta muito para termos um mercado como o americano ou europeu, que são mais maduros. Mas entendemos que Brasília já figura entre um dos mercados mais pujantes do mundo. Ademais, ainda não existe uma regulação específica para a atividade no Brasil, e sequer consenso dentro do próprio setor quanto a forma de regulamentação, vale dizer, se ela deve ser restritiva como a americana ou mais branda como a europeia, ou mesmo se ela deve existir, já que há outras leis que regulam as atividades exercidas neste setor
Entre os desafios e oportunidades, IRelGov tem se posicionado de forma a contribuir com a melhoria técnica e amadurecimento da prática de Relações Governamentais no Brasil.
Por BRUNO PERMAN – advogado, com MBA em Economia e Relações Governamentais pela FGV, especialização em Relações Governamentais pelo Insper, College of Europe, George Washington University e Peking University, Presidente do IRelGov – Instituto de Relações Governamentais.
Publicado originalmente dia 11/03/2020 na COLUNA IRELGOV do JOTA