Veja o artigo “2019-2022: momento de analisar possíveis cenários no Brasil”, escrito pelo Conselheiro do IRELGOV, Gabriel Di Blasi, que foi publicado nesta quinta-feira no Estadão
No último dia 5 de agosto, encerrou-se o prazo do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) para o registro de candidaturas à Presidência da República nas eleições de outubro. Assim, está montada toda a estrutura de um debate político que promete ser acirrado, definindo o futuro da política nacional pelos próximos quatro anos.
Nunca a escolha de um vice para a chapa tornou-se tão importante quanto na disputa presidencial de 2018. A este fato são atribuídas algumas questões que, se antes já faziam parte do cenário político, hoje ganham um peso maior: as alianças políticas. Não há como escapar do fantasma do impeachment de 2016, precedido pela não menos famosa carta redigida pelo então Vice-Presidente, ou, como ele mesmo se autodenominou à época, “vice decorativo”.
Dentre as candidaturas majoritárias, o candidato Jair Bolsonaro (PSL), após negativa de Janaina Paschoal, registrou como vice o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB). Geraldo Alckmin, também do espectro ideológico mais à direita, garantiu o apoio do grupo do “centrão” no Congresso Nacional, registrando como sua vice Ana Amélia (PP). Com relação à denominada esquerda brasileira, estão Ciro Gomes, que, isolado na disputa eleitoral, registrou Kátia Abreu (PDT). Devido a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter sido rejeitada pelo TSE no último dia 31.08, sob fundamento da Lei de Ficha Limpa, o PT estuda se recorrerá ao Supremo Tribunal de Justiça (STF) contra referida decisão ou se substitui- seu candidato por Fernando Haddad (PT) com Manuela D’Ávila (PCdoB) na retaguarda para assumir o posto da vice-liderança.
Contudo, uma característica marcante dos últimos anos na política internacional aponta que esta não será uma tarefa simples: o sentimento “anti-establishment” de parte da sociedade. Este momento político, responsável por eleger Donald Trump nos Estados Unidos, pode também eleger Jair Bolsonaro no Brasil. Independente de seus pontos positivos e negativos, fato é que analisar os efeitos do pleito do PSL para sagrar-se vencedor exigiria um estudo detalhado e aberto a mudanças bruscas no modo de fazer política. As outras candidaturas majoritárias, por outro lado, apontam por uma maior possibilidade de diálogo institucional com o Congresso Nacional, em maior ou menor grau.
É neste momento que se dá a maior importância do candidato à vice-presidência. À primeira vista, caso se confirmem os estudos do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), que apontam que a média de renovação de nomes no Congresso Nacional será menor do que nos últimos anos, uma vitória de Alckmin poderia significar que suas propostas sejam melhor acolhidas nas casas legislativas federais. Entretanto, não se pode olvidar da notória capacidade de negociação no governo demonstrada por Lula, que poderia ser repetida por outro presidenciável.
A tais fatos somam-se a atuação cada vez mais crescente de grupos de pressão, representados por lobistas. Cada vez mais a sociedade se dá conta que sua atuação no dia-a-dia da vida política é essencial para o melhor desenvolvimento do negócio, o que pode ser comprovado pelo avanço do projeto de lei que regulamenta a profissão de lobista, bem como medidas já aprovadas, antecipado pelo reconhecimento oficial pelo Ministério do Trabalho e Emprego do profissional de Relações Institucionais e Governamentais.
Em suma, este é o melhor momento para empresas traçarem estratégias baseadas em prováveis futuros no Brasil. Em outubro ou novembro conheceremos o próximo Presidente da República, e a crise brasileira exige um desenho estratégico a depender de cada situação. O custo-brasil, afinal, está muito atrelado a questões políticas e econômicas, e de quatro em quatro anos temos um vislumbre de como ele pode ser alterado.
Gabriel Di Blasi é Advogado e conselheiro do IRELGOV.
13 Setembro 2018 | 06h00