Por Patricia Blanco (Presidente do Instituto Palavra Aberta)
Uma democracia robusta pressupõe a participação do maior número possível de atores na discussão de temas que interessem a toda a sociedade. Quanto mais plural, diverso e heterogêneo for o debate, mais representativa será a construção de políticas que atendam às demandas dos cidadãos.
Diversidade e pluralidade são princípios democráticos diretamente associados a outro fundamento da democracia: liberdade de expressão. Juntos, esses conceitos são catalisadores de necessárias transformações sociais para a construção de sociedades mais justas e equânimes, tarefa que no Brasil é inadiável diante da dimensão das desigualdades e da profusão de atos violentos e preconceituosos que têm por finalidade atacar a própria democracia.
Neste cenário, os profissionais que atuam na linha de frente e em contato direto com representantes dos poderes públicos têm papel fundamental na construção de políticas públicas que beneficiem não só a empresa ou a causa que representam, mas também toda a sociedade. Ao defender interesses legítimos de setores, a área de relações governamentais tem uma relação simbiótica com a própria democracia.
Numa relação de profissionalismo, um dos principais fatores de sucesso é a troca de informações confiáveis que proporcionem a busca por novas formas de solucionar problemas complexos. Problemas esses que só serão superados a partir da construção de soluções integradas e feitas de forma colaborativa entre todos os agentes interessados, contribuindo para um debate construtivo e que possibilite a participação de mais vozes na discussão dos mais diversos temas e assuntos.
Esta relação simbiótica, no entanto, impõe uma grande responsabilidade. Seja na defesa de interesses, seja na discussão de projetos de lei e decretos, o profissional de relações governamentais precisa levar em conta o impacto daquilo que defende não só para seu negócio, mas também para os demais agentes envolvidos. Não há mais espaço para defesa de causas ou negócios que não atendam às questões sociais, de representatividade, de equidade, de impacto social ou que possam afetar negativamente determinados públicos. É preciso ir além de interesses individuais ou de poucos e olhar de fato para uma ação que vise o interesse coletivo e que contribua para o desenvolvimento social, econômico e para a melhoria do ambiente democrático.
Neste contexto, vale lembrar de exemplos recentes que transformaram a realidade de diversas comunidades e públicos vulneráveis que foram beneficiados por leis, programas e ações que surgiram a partir do conhecimento, do embasamento técnico, da análise de casos e demandas percebidas por empresas atuantes do mercado. Diversas ideias nascidas em discussões de planejamento de entidades representativas da sociedade civil e empresarial ajudaram a construir políticas públicas de grande impacto que permitiram mudar a realidade de milhares de pessoas.
Sem contar a atuação de representantes da sociedade civil que, imbuídos de espírito público e vontade, vêm auxiliando na implementação de políticas públicas nas mais diversas áreas e esferas do executivo – municipais, estaduais e federal, funcionando muitas vezes como braço operacional do poder público. Nesta verdadeira parceria público-privada ganham todos – cidadãos, empresas e governos. Nos últimos anos, duas áreas merecem destaque e são exemplos emblemáticos destas parcerias: saúde e educação.
No entanto, essa atuação estratégica exige novas competências e habilidades, sem deixar de lado os princípios que norteiam a profissão tais como ética, integridade, honestidade de propósitos e, mais do que nunca, diversidade e representatividade, ambos não apenas como reflexo da sociedade ou uma boa medida para os negócios, mas sim para a garantia de voz e participação de todos no processo democrático.
É importante lembrar ainda que não existiria espaço para o desenvolvimento da área de relações governamentais se não houvesse garantia de liberdade de atuação e da livre iniciativa. Não existe a possibilidade de diálogo ou de construção de consensos em espaços autoritários, ou seja, só há possibilidade de participação onde a liberdade de expressão é garantida e onde o estado democrático de direito é respeitado.
Nos dias atuais e diante do aumento do radicalismo e da polarização, não custa nada relembrar questões que parecem óbvias. Mais ainda, é papel de todos nós defendermos cotidianamente os princípios que norteiam e embasam a democracia. E o profissional de relações governamentais pode ser um grande aliado desta causa.