Editorial

Assim que cessaram as marretadas que derrubaram o Muro de Berlin e deram (suposta) vitória ao mundo capitalista sobre o bloco socialista, historiadores ocidentais previram uma era de crescimento econômico e liberalidade. Francis Fukuyama, por exemplo, argumentou, em polêmico artigo, que a difusão mundial das democracias liberais e do livre capitalismo de mercado possivelmente sinalizavam o caminho da evolução sociocultural da humanidade. Seria o esprit du temps do novo século. Nesse mundo unipolar, a democracia norte-americana teria caminho livre para impor seus conceitos, como a propagação da cultura do consumo em escala mundial.

Mas a história tem seus próprios desígnios e em apenas duas décadas a realidade soterraria as previsões. A rápida ascensão da China, o comportamento belicista da Rússia e o aparecimento de potências como a Índia trouxeram as incertezas de um novo cenário. Nas ruas brasileiras um pequeno pedaço dessa nova realidade já se impôs: quem imaginaria ver carros chineses em cada semáforo, ironicamente produzidos na Bahia em uma fábrica arrematada pela BYD à Ford?

A revista “Diálogos” consultou especialistas para mapear a nova ordem mundial e avaliar qual o papel do Brasil, alternativas e caminhos diplomáticos, e quais desafios os profissionais de relações governamentais enfrentarão nesse novo século.

Nos artigos, o leitor encontrará toda a diversidade e riqueza que nossa atividade proporciona: de considerações sobre a COP-30 ao caso Felca, do protagonismo dos municípios ao debate sobre a atuação das Big Techs.

Boa leitura!

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Reforçamos que manter suas informações atualizadas é fundamental para que possamos seguir conectando oportunidades, fortalecendo redes profissionais e valorizando a atuação de quem faz Relações Governamentais no Brasil.

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POR DENTRO DO IRELGOV

O lobby sob os holofotes e o nosso papel na mudança dessa narrativa

Por Lara Gurgel, diretora-executiva do IRELGOV

Nos últimos meses, a palavra lobby voltou a ocupar espaço de destaque na imprensa nacional e internacional — nem sempre de forma positiva.

As tarifas impostas pelos Estados Unidos a seus parceiros comerciais forçaram governos e empresas a mobilizar, com rapidez, lobistas para tentar mitigar os efeitos da política externa americana. Um movimento explícito de defesa de interesses legítimos — e uma demonstração inequívoca de que o lobby é parte essencial do processo democrático.

No Brasil, o episódio também repercutiu com força. A cobertura jornalística destacou reuniões entre empresários e representantes dos governos federal e estaduais para discutir os impactos do “tarifaço”. Mas, para quem conhece a dinâmica das relações governamentais, estava claro que não eram apenas “empresários”: tratavam-se de diretores e presidentes de associações setoriais, profissionais cuja missão é a defesa dos interesses de seus associados — em outras palavras, lobistas setoriais.

Ainda nesse contexto, a imprensa fez questão de ressaltar a “legalidade” do lobby nos Estados Unidos. Mas, sem explicações adicionais, a mensagem deixou a impressão de que, no Brasil, a prática seria ilegal ou, no mínimo, suspeita. Uma lacuna que reforça estereótipos.

Em paralelo, outro episódio agravou a confusão. Durante a CPMI sobre fraudes no INSS, o principal suspeito de operar um esquema criminoso que lesou milhares de aposentados foi apresentado pela imprensa — e até por veículos oficiais do Senado e da Câmara — como “lobista”. Um rótulo equivocado que mais uma vez associa, indevidamente, lobby a corrupção.

O paradoxo é evidente: quando defendemos interesses estratégicos de forma legítima, somos rotulados de “empresários”; mas quando um autodeclarado “empresário” comete crimes, ele é transformado em “lobista” pela narrativa pública.

Diante desse cenário, é fundamental reconhecer o papel da imprensa na formação da opinião pública. Mas, acima de tudo, precisamos assumir nossa responsabilidade como profissionais do setor. Se não formos nós a explicar o que fazemos, a sociedade continuará a associar lobby ao que ele não é.

Por isso, não basta dizer que o lobby é legítimo: é preciso mostrar na prática. E, aqui, as recomendações da OCDE no projeto Galvanizing the Private Sector são um guia concreto: códigos de conduta claros, transparência ativa, prestação de contas, treinamento em integridade, canais de denúncia e abertura ao diálogo público. Esses são os pilares que nos blindam contra acusações indevidas e constroem credibilidade.

O desafio para cada lobista, consultoria e associação é direto: não se trata apenas de “o que posso dizer” ao público, mas de “o que posso fazer” para transformar essa percepção. Desenvolver e publicar códigos de conduta, explicitar quem representamos, como atuamos e quais interesses defendemos. Criar rotinas de prestação de contas. Responder a críticas de forma aberta.

Essas atitudes não resolvem todos os problemas — mas constroem algo essencial: confiança. E confiança é o ativo que precisamos cultivar se quisermos, de fato, mudar a narrativa sobre o lobby no Brasil.

A pergunta que deixo é simples, mas inescapável: o que você, lobista, está fazendo hoje para ser agente dessa transformação?

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Expansão dos BRICs, imposição de tarifas pelos norte-americanos, invasão russa à Ucrânia: esses são apenas alguns dos fatos recentes que alteraram de forma profunda – e repentina – as relações internacionais políticas e comerciais. O Brasil não passou incólume pelo processo – das taxas impostas por Trump e tentativas imperiais de intromissão na política interna à críticas por sua proximidade com China e Rússia. Para profissionais de relações governamentais, o novo cenário se apresenta desafiador, pela velocidade e impacto das mudanças. É preciso apostar em novas ferramentas digitais, mas sem esquecer a humana capacidade de avaliar cenários.  

Floriano Pesaro, senior fellow do IRELGOV e COO (Chief Operating Officer) da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos)

Floriano Pesaro, senior fellow do IRELGOV e COO (Chief Operating Officer) da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) acredita que o mundo vive um momento de transição acelerada. Se o multilateralismo construído no pós-Guerra Fria não acabou, precisa se reinventar diante do avanço de governos nacionalistas, que subvertem as regras pactuadas do multilaterismo para forçar uma ordem hegemônica, como a interdependência econômica, basilar no cenário multipolar. “A globalização trouxe prosperidade, mas também desigualdades e tensões sociais. Como já destacou Joseph Nye, as potências não disputam apenas território ou força militar, mas também influência econômica e tecnológica. Hoje o mundo é mais competitivo e interdependente, e cabe ao Brasil defender regras claras, cooperação e previsibilidade, sem abrir mão da sua autonomia”.

Para Valentina Sader, vice-diretora e head para o Brasil no Adrienne Arsht Latin America Center do Atlantic Council, o mundo já é multipolar, mas as recentes mudanças na política internacional, principalmente impulsionadas pelo governo americano, representam um chamado para uma nova realidade de dinamismo global, na qual as relações internacionais se concentram mais em cooperações estratégicas e em uma lógica de troca direta (tit for tat) do que num poderio cultural ou ideológico, característico do American Dream. “Eu diria que o mundo pós-Guerra Fria não está necessariamente chegando ao fim, mas o multilateralismo e organismos multilaterais do pós-guerra correm o risco de se enfraquecerem ainda mais caso não se renovem em propósito, entregas e governança”.

Sader argumenta que, pelo menos em um primeiro momento, o soft power tende a ser substituído por uma defesa mais assertiva dos interesses unilaterais de cada país. Nessa nova configuração, os Estados Unidos, com seu poderio militar e econômico, buscam ditar uma reestruturação da ordem global, em que o multilateralismo deixa de ser prioritário ou estratégico. A União Europeia, como um marco de multilateralismo, continua polo de influência na geopolítica, mas se mostra dependente dos Estados Unidos e enfraquecida pelo conflito na Ucrânia. A China, por outro lado, ganha força como “país parceiro,” por meio de investimentos voltados ao desenvolvimento econômico e à infraestrutura de países em desenvolvimento, ainda que guiados por seus próprios interesses. Com menor influência global, mas ainda assim relevantes sobretudo em nível regional, outros polos de poder também emergem, como a Índia e o próprio Brasil”.

José Mário Antunes, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e Diretor de Operações na BellaTerra Consulting, na China

“Acredito que há uma maior competição direta entre EUA e China, o que não significa o fim do multilateralismo, mas uma reconfiguração com menos centralidade dos países que compõem o G7 que, na década de 1980, reunia países que respondiam por cerca de 70% do PIB mundial”, afirma José Mário Antunes, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e Diretor de Operações na BellaTerra Consulting, na China. Hoje essa participação caiu para algo próximo a 40%, enquanto emergentes, em especial os países que compõe o BRICS, puxados pela China, cresceram significativamente. Grandes potências tradicionais continuam influentes, mas já não conseguem definir sozinhas as regras do jogo. O quadro é de pluralização das arenas multilaterais e de práticas concorrentes e o equilíbrio dessa equação exige e exigirá cada vez mais o diálogo para a construção de consensos”.

Para Ariane Costa, diretora-adjunta do Programa de Geopolítica do CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), o cenário internacional atual evidencia o enfraquecimento do multilateralismo construído no pós-II Guerra e expandido, via hegemonia norte-americana, no pós-Guerra Fria.  “Estamos testemunhando uma transição rumo a um mundo multipolar, com o aumento da competição estratégica entre grandes potências e a emergência de polos regionais com maior autonomia e influência. A antiga hegemonia norte-americana já não se sustenta isoladamente, e observamos a consolidação de poderes intermediários, como Índia, Brasil e Turquia, que ampliam suas margens de manobra e capacidade de agenda internacional. Isso não implica o fim da ordem multilateral, mas sua transformação e fragmentação: a governança global passa a operar por meio de redes parciais de cooperação e rivalidade, em que diferentes blocos e fóruns regionais exercem influência sobre agendas específicas, de comércio a segurança e sustentabilidade”.

José Pimenta, diretor de Relações Governamentais e Comércio Internacional na BMJ Consultoria

José Pimenta, diretor de Relações Governamentais e Comércio Internacional na BMJ Consultoria, diretor do Departamento de Infraestrutura da FIESP e diretor-Executivo do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional, Investimentos e Sustentabilidade (IBCIs), concorda que o sistema internacional tem passado, nos últimos anos, por importantes revezes em áreas-chave como segurança, comércio e meio ambiente. O multilateralismo construído no pós-guerra fria está claramente sob pressão, seja pela fragmentação de cadeias globais de valor, pela paralisia em instâncias como a OMC e o sistema ONU ou pela crescente politização de fóruns ambientais. “Países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, têm defendido mais espaço nas instituições multilaterais, justamente porque é ali que se definem regras com grande impacto sobre a economia global. Esse movimento marca uma transição rumo a uma ordem internacional mais instável e multipolar, com novas potências — sobretudo China e Índia — consolidando seu peso político e econômico”. Pimenta considera que os EUA permanecem centrais em economia e tecnologia, mas a China tem liderado a transição energética e dominado etapas estratégicas de cadeias de alto valor, como baterias, semicondutores e processamento de minerais críticos. A União Europeia busca ampliar sua autonomia estratégica, sobretudo militar, diante de ameaças vindas da Rússia. A Índia consolida sua projeção como liderança no Sul da Ásia, com peso crescente também no setor digital. O Canadá, por sua vez, tem se destacado pela diversificação de parceiros comerciais e energéticos. É de fato uma nova ordem onde a geopolítica e geoestratégia se impõem como elementos centrais do posicionamento do país no sistema global, marcado sobretudo por priorização de interesses centrais ao desenvolvimento do país e maior competição por recursos e tecnologia”.

Mas é possível falar em uma nova ordem mundial e quem seriam os principais atores? Diego Bonomo, membro e ex-conselheiro do IRELGOV, e assessor sênior do Covington & Burling afirma que ainda estamos na transição entre ordens. “Os americanos certamente continuarão como atores centrais e é provável que os chineses sejam alçados ao mesmo patamar, mas há uma dúvida em relação aos demais. A Rússia é uma grande potência, mas enfrenta declínio populacional e econômico, além de uma guerra custosa contra a Ucrânia. A Índia é uma candidata a grande potência, mas ainda não atingiu a velocidade de modernização que a China alcançou nos últimos 40 anos. E a União Europeia continua com o desafio de viabilizar sua atuação como potência militar. Vamos viver mais anos de desordem antes de uma nova ordem internacional se consolidar”.

Antunes concorda que o mundo vive tempos de transição acelerada, com instituições tradicionais como ONU e OMC não conseguindo exercer o papel para os quais foram idealizadas. Enquanto isso, BRICS, ASEAN e outras coalizões promovem soluções alternativas. “Os principais atores continuam sendo EUA, China e União Europeia, mas ganham relevância blocos emergentes e atores econômicos, como empresas big-tech e instituições financeiras não-ocidentais”, diz o senior fellow do CEBRI.

Para o Brasil, essa nova ordem pode soar como uma oportunidade. Pesaro ressalta que o país tem energia limpa, alimentos, biodiversidade e um mercado consumidor relevante. “O desafio é transformar vantagens comparativas em vantagens competitivas. O economista Dani Rodrik aponta que estamos saindo de um paradigma liberal para um modelo mais produtivista, em que cada país busca segurança econômica, inovação e emprego de qualidade”.

Ariane Costa, diretora-adjunta do Programa de Geopolítica do CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais)

Ariane Costa, diretora-adjunta do Programa de Geopolítica do CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), acredita que o Brasil ocupa uma posição estratégica no novo xadrez internacional, mas enfrenta dilemas significativos. Por um lado, busca aprofundar laços comerciais e políticos com a China e os demais membros do BRICS; por outro, mantém interdependência com Estados Unidos e União Europeia, mercados centrais para a economia brasileira. “Essa postura de multialinhamento oferece flexibilidade e margem de manobra, permitindo ao país negociar em diferentes frentes. No entanto, também gera vulnerabilidades, especialmente em cenários de rivalidade acirrada, nos quais o Brasil precisaria equilibrar interesses conflitantes. As consequências práticas são claras: o país tem potencial para atrair investimentos, diversificar parceiros comerciais e ampliar sua influência em fóruns multilaterais. Ao mesmo tempo, corre o risco de isolamento ou perda de relevância caso não administre tensões diplomáticas com equilíbrio”.

A vice-diretora para o Brasil no Adrienne Arsht Latin America Center do Atlantic Council destaca que, em meio às crescentes tensões entre Estados Unidos e China, o Brasil mantém ambos como principais parceiros comerciais e investidores estrangeiros, sem priorizar um sobre o outro. “No entanto, diante das incertezas da atual relação do Brasil com os Estados Unidos, o Brasil deve buscar novos parceiros comerciais, o que pode servir como um impulso necessário para abrir mais a economia para maior investimento estrangeiro. Potencialmente, países da Ásia para além da China, a Índia, na própria América Latina, como o México, e países africanos. Ao mesmo tempo, o país deve acabar diversificando também suas parcerias diplomáticas para reduzir dependências e ampliar sua margem de manobra no cenário internacional. E o BRICS é um exemplo de bloco onde o Brasil busca elevar seu posicionamento e reforçar sua relevância diplomática global”.

Antunes, do CEBRI, acredita que, nesse contexto de transição acelerada, o Brasil se destaca por um histórico de diplomacia pragmática e de não-alinhamento ativo, buscando aproveitar a diversificação de parceiros comerciais e políticos (Europa, EUA, China, BRICS) ao mesmo tempo que protege interesses estratégicos domésticos. “Vejo que a consequência para o Brasil será uma maior exposição a tensões entre grandes potências, e possíveis impactos indiretos de um não-alinhamento ativo a acordos comerciais entre outros países que possam afetar exportações e investimentos. Como exemplo, temos a relação EUA e China que caminha para um acordo, que tem grande potencial de impacto negativo nas exportações brasileiras à China”. Pimenta concorda que a atuação brasileira se pauta pelo pragmatismo, preservando seus interesses e mantendo interlocução com diferentes polos de poder. No multilateralismo, o país tem se projetado em áreas como comércio, meio ambiente e direitos humanos. Recentemente, vem sendo mais vocal na defesa de reformas da ONU e do FMI, em linha com o pleito de maior representatividade do Sul Global. “A agenda ambiental também se tornou um vetor de projeção internacional. O país será sede da COP30, em Belém (2025), o que reforça seu papel de liderança climática”.

No entanto, Bonomo discorda. Segundo ele, o Brasil não tem uma estratégia clara para a situação atual e vive sob uma espécie de ilusão multipolar. “Existe uma premissa implícita na nossa política externa – nunca discutida publicamente e que atravessa diversos governos – segundo a qual qualquer ordem multipolar é superior ao “momento unipolar” dos EUA. Nós equacionamos multipolaridade com governança democrática do mundo, mas isso pode ser uma ilusão, por duas razões. Primeiro porque a História mostra que ordens multipolares – como as do século XIX e a do entreguerras – são mais instáveis e propensas ao conflito do que ordens uni ou bipolares. Segundo porque o regime de governo das grandes potências importa. Uma coisa é você viver em uma ordem unipolar liderada por uma democracia. Outra, bem diferente, é viver em uma ordem multipolar com uma maioria de ditaduras. Multipolaridade não é sinônimo de democracia e direitos humanos. As regras internacionais refletem os regimes dos governos. Por que o Brasil acredita que uma ordem multipolar, sobretudo com mais ditaduras, como parece ser o caso, é intrinsecamente melhor? A única razão que vejo para isso é um viés antiamericano na nossa política externa, que existe desde o período final do regime militar”.

Como os BRICS podem influenciar o cenário internacional? José Antunes afirma que, apesar de sua institucionalização flexível e heterogeneidade, o bloco possui uma vantagem estratégica em um ambiente internacional cada vez mais fragmentado, sem a rigidez burocrática típica de instituições tradicionais, apresentando-se como um espaço deliberativo para conciliar interesses divergentes. No entanto, o impacto real do BRICS dependerá da capacidade do bloco de institucionalizar os seus mecanismos, como pagamentos e cooperação tecnológica, e de combinar interesses heterogêneos em agendas mais práticas.

Os BRICS já não são apenas um agrupamento simbólico. Com sua ampliação, passaram a representar parcela expressiva da economia mundial”, explica o senior fellow do IRELGOV e COO da ApexBrasil. “Para o Brasil, significa acesso a novos mercados, financiamento em infraestrutura e maior peso político em negociações internacionais”. Por outro lado, o grupo ainda enfrenta o desafio de coordenar de forma coesa interesses tão diversos. José Pimenta lembra que o bloco vem se expandindo — hoje são 11 países membros, incluindo economias estratégicas do Oriente Médio como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Irã. Isso amplia, principalmente, o peso energético e geopolítico do bloco.

Diego Bonomo, membro e ex-conselheiro do IRELGOV, e assessor sênior do Covington & Burling

Bonomo complementa: “O BRICS de hoje não é o mesmo bloco da fundação. Quando o grupo começou no fim da década de 2000, o objetivo era que esses países, em sua maioria democracias, atuassem em conjunto para reformar a governança da ordem internacional liberal existente. No entanto, a partir da década de 2010, o BRICS se transformou em outro tipo de grupo. O reformismo deu lugar ao revisionismo da ordem existente, mas sempre sob a justificativa que o BRICS busca mais democratização. Nos dois últimos anos, as ditaduras passaram a ser maioria no grupo e o Brasil perdeu poder relativo. Provavelmente o que acontecerá é que o BRICS servirá de instrumento da China e da Rússia para contestar a liderança americana. O Brasil precisa se preocupar para não ir de arrasto, sem conseguir emplacar suas prioridades ou ter uma estratégia clara sobre sua participação no grupo”.

As taxas impostas pelo governo norte-americano afetaram o Brasil e a relação entre eles. “Os Estados Unidos, de uma certa forma, romperam com a precedência de liderança que historicamente exerciam, o que gera instabilidade e desconfiança já que é difícil prever ações ou posições com base em padrões e valores pré-estabelecidos que orientavam suas decisões”, explica Valentina Sader.Apesar de os setores privados de ambos os países demonstrarem interesse em abrir canais de diálogo e buscar soluções de benefícios mútuos, a resolução depende, sobretudo, de diálogos entre os dois governos. Para o Brasil, as medidas impostas pelos Estados Unidos podem levar o país a diversificar seus mercados exportadores, inclusive expandindo para o oriente, mas o Brasil é e continuará sendo um país de valores ocidentais”.

Para Pesaro, as medidas protecionistas impostas pelos Estados Unidos não atingiram apenas aço e alumínio, mas também setores estratégicos da pauta exportadora nacional, como máquinas, produtos do agronegócio, carne e madeira. Essas barreiras criam dificuldades imediatas para as empresas brasileiras, que perdem competitividade. “É justamente aí que nossas parcerias bilaterais e birregionais ganham importância. Ao fortalecer relações com a União Europeia, a Ásia e a África, ampliamos as alternativas para nossos produtos. Em diplomacia econômica, quando um mercado se fecha, devemos transformar a restrição em estímulo para abrir novos. É dessa forma que vamos preservar e ampliar o espaço do Brasil no comércio internacional”.

A opinião de Diego Bonomo é semelhante. Se há um consenso entre os brasileiros de que as medidas são injustas e injustificadas, pesquisas indicam que, apesar disso, mais brasileiros confiam nos EUA do que na China, e a maioria ainda quer uma aproximação com os americanos. “Para mim, isso se deve a um fato óbvio, mas muitas vezes ignorado: o Brasil é um país ocidental. É democrático, capitalista, majoritariamente cristão e com enorme capacidade de empreender pela livre iniciativa. Apesar das nossas múltiplas raízes, da qual devemos nos orgulhar, o fato é que, em matéria de visão de mundo e valores (como direitos humanos) estamos mais próximos dos EUA e da Europa do que do resto do mundo. Como o ex-presidente FHC dizia, o Brasil é o “Extremo Ocidente”. Não acho que as medidas dos EUA contra nós alteram de forma estrutural esse fato.

Os impactos para as empresas nacionais variam conforme o setor em que atuam e da forma como o Brasil vai gerenciar suas relações comerciais nos próximos meses. Em um primeiro momento, as tarifas impostas pelos Estados Unidos tendem a aumentar os custos de exportação e a restringir o acesso ao mercado norte-americano, que é um dos principais destinos de produtos brasileiros. “Essas incertezas podem desestimular investimentos num primeiro momento, além de pressionar cadeias produtivas que dependem de insumos importados ou de parcerias tecnológicas com empresas americanas. Por outro lado, esse cenário também pode servir como um impulso para novos parceiros econômicos e uma economia mais aberta ao investimento estrangeiro. Nesse sentido, blocos como o BRICS, a União Europeia e parceiros na Ásia ganham relevância”, acredita Sander.

Costa considera que o Brasil tende a acelerar a diversificação de mercados e fortalecer laços comerciais e institucionais com China, Europa, Índia, México, Canadá e demais parceiros estratégicos. “Essa dinâmica evidencia que a política externa brasileira precisa equilibrar pragmatismo e autonomia: manter relações sólidas com os EUA, enquanto amplia espaço de manobra global e reduz vulnerabilidades em um contexto multipolar. Em termos estratégicos, essas pressões podem fortalecer a capacidade do Brasil de negociar em múltiplas frentes, reforçando seu protagonismo internacional, mas também exigem gestão cuidadosa de riscos econômicos e diplomáticos”.

Pimenta considera um cenário de retração no curto prazo, já perceptível nos números de 2025, mas é difícil imaginar uma ruptura definitiva. Para o setor privado brasileiro, o desafio é duplo: reforçar presença institucional em Washington e, ao mesmo tempo, acelerar a diversificação de mercados. Exemplos já ocorrem: exportadores de carnes ampliam sua inserção no Oriente Médio e na Ásia, enquanto empresas de tecnologia buscam integração com cadeias digitais na Europa. Além disso, destaca-se a ampliação dos volumes embarcados para países da América Latina, notadamente Argentina e México.

De acordo com Floriano Pesaro, as empresas brasileiras enfrentam três movimentos simultâneos: aumento de barreiras, realinhamento das cadeias globais e exigências ambientais cada vez mais duras. Nesse contexto, o Acordo Mercosul–União Europeia ganha importância estratégica. Ele pode abrir um dos maiores mercados do mundo para os produtos brasileiros, mas exigirá adaptação a padrões ambientais e regulatórios mais rígidos, como o CBAM europeu, que entra em vigor em 2026. Nossa função é preparar as empresas para aproveitarem plenamente esse acordo, oferecendo capacitação, mapeamento de oportunidades e suporte técnico. “Na ApexBrasil, temos reforçado nossa atuação em três frentes: inteligência de mercado, apoio regulatório e promoção internacional. É uma soma de esforços, governo, agência e setor privado, que garante resultados concretos para nossas empresas”.

Valentina Sader, vice-diretora e head para o Brasil no Adrienne Arsht Latin America Center do Atlantic Council

Diante dessa realidade em constante transformação, os profissionais de relações governamentais apresentam-se como figuras essenciais na interpretação e análise de cenário, tanto para a elaboração de estratégias para empresas privadas quanto para relacionamentos institucionais. Valentina Sader aposta em cooperação e diálogo em um mundo cada vez mais multipolar, mas politicamente polarizado. “No caso da atual relação entre Brasil e Estados Unidos, uma alternativa pode ser buscar acesso e influência mais específica com entes subnacionais, ao invés de um foco exclusivo no executivo ou legislativo federais, investindo tempo e esforços para distensionar o momento atual”.

De acordo com Ariane Costa, diretora-adjunta do Programa de Geopolítica do CEBRI, empresas e profissionais de relações institucionais e governamentais precisam adotar estratégias proativas de gestão de risco e posicionamento. Não basta reagir a mudanças; é necessário antecipar tendências regulatórias, políticas e comerciais, avaliando cenários de forma contínua e estratégica. “Na prática, isso envolve monitoramento constante de cenários regulatórios internacionais, diversificação de alianças institucionais, engajamento antecipado em agendas políticas e negociações estratégicas, de modo a influenciar decisões e reduzir riscos e redução da dependência de um único polo de poder, explorando oportunidades em diferentes, tanto tradicionais quanto emergentes. Ao combinar planejamento estratégico, inteligência regulatória e diplomacia corporativa, empresas e profissionais podem transformar complexidade em vantagem competitiva, garantindo resiliência e capacidade de atuação eficaz mesmo em contextos de rivalidade global ou mudanças rápidas no cenário internacional”.

Bonomo ressalta que, em um cenário de transição de ordem internacional, é natural que o Estado assuma mais funções econômicas e intervenha de forma mais assídua no mercado, até porque considerações de ordem política e de segurança nacional tendem a se sobrepor a questões de eficiência econômica. “Isso exige dos profissionais de relações governamentais uma nova atitude: não só eles serão mais demandados, como precisarão compreender como questões geopolíticas e de relações internacionais impactam seu setor. Para as empresas, será cada vez mais importante trazer a equipe de relações governamentais para o centro do processo decisório”.

José Pimenta acredita que, para o profissional de relações governamentais, cresce a necessidade de compreender profundamente o negócio em que atua e contextualizá-lo em dinâmicas globais. Antecipar riscos, mapear stakeholders-chave e identificar oportunidades de curto prazo tornam-se atividades centrais. “Além disso, é fundamental participar de fóruns nacionais e internacionais que garantam interlocução constante com governos e organismos multilaterais. O profissional de relgov precisa ser, cada vez mais, um analista estratégico global, não se restringindo ao papel de interlocutor institucional”.

É necessário acompanhar regulações internacionais, tendências geopolíticas e padrões de consumo globais. O profissional de relgov deve ser analítico, multilíngue, capaz de articular em vários níveis e de antecipar riscos. Como apontam especialistas, o papel deixou de ser apenas reativo: agora é planejamento estratégico, advocacy com base em evidências e construção de consensos em escala global”, diz Pesaro.

A tecnologia é uma aliada fundamental nesse processo, permitindo monitoramento em tempo real de decisões, contato direto com counterparts e análise de cenários e impactos. Além disso, ferramentas digitais ajudam na comunicação estratégica e no acompanhamento da percepção pública tanto no Brasil quanto no exterior, garantindo respostas mais rápidas e eficazes em um ambiente global cada vez mais complexo. “A tecnologia é uma aliada indispensável”, pontua o senior fellow do IRELGOV e COO da ApexBrasil, Floriano Pesaro. “Plataformas digitais e inteligência artificial permitem monitorar legislações, barreiras comerciais e padrões regulatórios em tempo real. Relatórios da OCDE já destacaram como a IA pode aumentar a transparência e a eficiência do setor público e privado. Na ApexBrasil, temos usado ferramentas digitais para oferecer inteligência de mercado mais personalizada e imediata, apoiando as empresas brasileiras na tomada de decisão com dados qualificados”.

José Pimenta destaca as ferramentas de monitoramento regulatório baseadas em inteligência artificial e big data, que permitem acompanhar em tempo real mudanças normativas em diferentes jurisdições. “A análise de redes sociais e de plataformas globais de informação ajudam a identificar influenciadores de políticas públicas e a medir a repercussão de agendas específicas. Além disso, a tecnologia facilita a criação de redes internacionais de comunicação e colaboração, ampliando a capacidade de advocacy em escala global”.

Se já há uso intensivo da tecnologia para ajudar o profissional de relações governamentais no seu dia a dia, desde uma simples pesquisa de informação via mecanismo de busca até plataformas sofisticadas para monitoramento de legislação e regulação, Diego Bonomo avalia que o grande salto será a aplicação da inteligência artificial para processar e explicitar padrões de comportamento de agentes políticos e econômicos. “Há um potencial enorme para utilização dessa tecnologia para elevar a estratégia de relações governamentais das empresas e entidades empresariais”.

Os próximos anos prenunciam imprevisibilidade, diante do enfraquecimento das negociações multilaterais e a consolidação de uma ordem pautada por cálculos geopolíticos e geoeconômicos, elevando os custos de adaptação para governos, empresas e sociedade civil. Mas, como a história ensina, a instabilidade é terreno fértil para o surgimento de oportunidades. “Transição energética, digitalização do comércio e economia verde abrem espaços para países e empresas que souberem se posicionar estrategicamente. Quem conseguir ler os cenários com precisão terá maior capacidade de mitigar riscos e aproveitar novas janelas de inserção internacional”, aposta Pimenta.

 Para o senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), profissionais de relgov precisarão traduzir riscos geopolíticos em decisões empresariais e manter diálogo simultâneo com múltiplos parceiros. “O próximo ano se torna especialmente estratégico, pois coincidirá com marcos políticos relevantes, como as eleições gerais no Brasil, as eleições legislativas nos EUA e o anúncio do 15º Plano Quinquenal com as definições do novo ciclo de planejamento chinês”.

A vice-diretora e head para o Brasil no Adrienne Arsht Latin America Center do Atlantic Council destaca a importância dos profissionais de relgov estarem preparados para ajustar a política externa brasileira e fortalecerem o engajamento empresarial internacional de maneira a garantir que o Brasil se posicione de forma estratégica e resiliente diante das transformações globais e às novas dinâmicas geopolíticas. “Com maiores investimentos chineses na América Latina, o Brasil, apesar de não estar formalmente na Nova Rota da Seda, busca expandir seus pontos de acesso para o Pacífico por meio de pontos de acesso na própria América Latina, como pelo porto de Chancay no Peru.

Bonomo acredita em um período de desordem nessa fase de transição entre o velho e o novo, o que significa instabilidade econômica, enfraquecimento da democracia – inclusive pelo populismo de Direita e de Esquerda – e deterioração dos regimes internacionais. “É preciso que as empresas e os profissionais de relações governamentais tenham clareza sobre a situação brasileira: se não houver reformas profundas do nosso Estado e dos marcos legais que regulam o setor privado, é impossível para o Brasil escapar da armadilha da renda média na qual está. Nosso principal desafio é sair dessa armadilha para podermos, de fato, nos tornarmos um país desenvolvido”.

Os ensinamentos da Missão Internacional a Bruxelas

Oito anos separam a primeira missão internacional do IRELGOV à Bélgica da sua 7ª edição, realizada em 2025. Nesse intervalo, o cenário global e as relações entre Brasil e União Europeia (UE) passaram por mudanças profundas, moldadas por eventos que marcaram a política, a economia e a diplomacia mundial.

Da pandemia da Covid-19 à desaceleração econômica global, do processo de impeachment no Brasil à intensificação da polarização política em diferentes países, o mundo viveu reviravoltas que alteraram a forma de fazer política e de conduzir negociações internacionais. A invasão da Ucrânia e seus impactos na segurança europeia trouxeram à tona fragilidades da OTAN; o Brexit redefiniu as fronteiras e prioridades da União Europeia; e a entrada de novos países-membros ampliou os desafios de coesão interna do bloco.

No campo econômico, vivenciamos a transição da grande era do multilateralismo para a fragilização da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 2025, os Estados Unidos redefiniram os contornos da pressão política por meio do comércio internacional. Se, por um lado, ainda não é possível mensurar plenamente os impactos do chamado “tarifaço”, por outro, já é evidente que ele — somado a uma série de fatores geopolíticos — está funcionando como catalisador para a tão aguardada conclusão do Acordo Mercosul-União Europeia, um marco histórico para o Brasil e para a integração econômica entre as duas regiões.

É neste contexto de transformações rápidas e de novas exigências de diálogo internacional que a 7ª Missão Internacional do IRELGOV a Bruxelas se inseriu: como uma oportunidade singular de aprendizado, de trocas institucionais e de fortalecimento da presença brasileira na capital mundial do lobby.

Uma governança ambiciosa

Os ensinamentos da missão remetem, acima de tudo, ao reconhecimento da União Europeia como uma das mais ousadas e inspiradoras construções políticas do nosso tempo. Fruto de um ideal que nasceu das ruínas de um continente devastado pela guerra, a UE transformou dor em propósito comum e diversidade em força coletiva. Mais do que garantir a recuperação econômica e social de seus povos, conseguiu projetar ao mundo um modelo de cooperação que, apesar de imperfeito, prova diariamente que a convivência entre diferentes pode ser não apenas possível, mas também profundamente transformadora.

Estamos falando de um bloco formado por 27 países-membros, que convive com 24 idiomas oficiais e sustenta uma complexa engrenagem institucional: cerca de 8 mil funcionários no Parlamento Europeu — incluindo 720 eurodeputados eleitos —, aproximadamente 3 mil servidores no Conselho da União Europeia e quase 32 mil na Comissão Europeia. Os números, por si só, já impressionam. Mas a grandiosidade não se limita às estatísticas: 12 vezes por ano, em diferentes semanas, cerca de 3 mil funcionários do Parlamento e seus 720 representantes eleitos deslocam-se para Estrasburgo – sede formal do Parlamento Europeu, onde realizam parte de suas sessões plenárias. Um ritual que, ao mesmo tempo, simboliza a tradição política do bloco e revela a magnitude de sua estrutura de funcionamento.

Essa intricada governança também se manifesta na definição dos limites de regulação exclusiva da União Europeia, das competências partilhadas e das matérias reservadas a cada Estado-membro. É verdade que no Brasil também lidamos com a complexa divisão de atribuições entre União, estados e municípios. No entanto, no caso europeu, o desafio é ainda mais singular: trata-se de conciliar países que, em quase todos os casos, não compartilham a mesma cultura, idioma, PIB, problemas internos, questões sociais ou mesmo visões de mundo.

E por que isso importa? Porque, em uma governança tão ampla e sofisticada, influenciar decisões significa dialogar com atores que partem de realidades, culturas e objetivos muitas vezes opostos. Na União Europeia, uma proposta só avança quando consegue conciliar visões políticas distintas e interesses de países com diferentes níveis de desenvolvimento, histórias políticas, idiomas e perspectivas.

Para quem atua em relações governamentais, isso significa que a estratégia de lobby precisa ser ainda mais qualificada: compreender a lógica institucional, mapear os pontos de convergência e traduzir argumentos de forma a ressoar em diferentes contextos culturais e políticos. Não basta apenas defender um interesse específico; é preciso demonstrar como ele se conecta às prioridades coletivas do bloco e, por vezes, aos interesses individuais de seus membros.

Em suma: quanto mais diversa a arena decisória, maior a exigência de uma atuação transparente, profissional e adaptável. E é exatamente nesse espaço de complexidade que o lobby europeu se fortalece como prática legítima de representação democrática — um aprendizado valioso para o Brasil.

Entre biscoitos e tanques

Em linhas gerais, a União Europeia tem suas origens em dois marcos fundamentais:

  • A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (1951) – criada para colocar sob uma autoridade comum as indústrias estratégicas para a guerra, notadamente carvão e aço, tornando materialmente impossível um novo conflito armado entre seus países signatários. Além disso, inaugurava um mercado comum e lançava as bases da integração europeia; e
  • A Comunidade Econômica Europeia (1957) – instituída pelo Tratado de Roma, com o objetivo de promover a integração econômica entre os Estados-membros por meio da criação de um mercado comum e da eliminação de barreiras ao comércio, ao capital, aos serviços e à livre circulação de pessoas.

Essas comunidades e seus tratados foram, mais tarde, substituídos pela União Europeia, mas seus princípios fundadores permaneceram: o compromisso com o desenvolvimento econômico e social, aliado à manutenção da paz. Durante décadas, amparados pela OTAN, os países europeus optaram por não investir pesadamente em defesa, confiantes de que, em uma eventual — e considerada remota — ameaça de conflito, poderiam contar com o poderio militar dos Estados Unidos como aliado decisivo para a pacificação.

Entretanto, a “remota” possibilidade de guerra mostrou-se muito mais real do que se supunha. A invasão da Ucrânia pela Rússia despertou a União Europeia — em especial os países do Leste — para um estado de alerta máximo. Ao mesmo tempo, manifestações recentes do governo norte-americano colocaram em dúvida a solidez do apoio militar dos EUA, abalando um dos pilares de segurança do continente.

Em tempos de incerteza, esses fatores atuaram como um verdadeiro chamado para acordar um “gigante adormecido”: a necessidade urgente de rearmar e reforçar a capacidade de defesa dos Estados-membros. Como resposta, a União Europeia anunciou, para 2025, um investimento histórico de €381 bilhões em defesa, sinalizando uma inflexão decisiva em sua trajetória de integração.

E por que isso importa? Porque a geopolítica voltou a ocupar um espaço central, talvez mais do que em qualquer outro momento das últimas décadas e essa compreensão é fundamental para quem deseja atuar como lobista. Como nos lembrou um eurodeputado durante a missão: “Quando se investe em biscoitos, as pessoas comem os biscoitos, mesmo sem fome; mas quando se investe em tanques, pode surgir a tentação de usá-los — mesmo sem uma guerra à vista”.

A reflexão é simples, mas poderosa: as escolhas de investimento de hoje moldam os cenários de amanhã. O equilíbrio entre atender às necessidades básicas da sociedade e fortalecer capacidades militares será determinante para o futuro da Europa — e para o papel que o Brasil e outros países poderão desempenhar nesse tabuleiro global.

O tripé central que rege a União Europeia e a importância do “poder da iniciativa”

O funcionamento da União Europeia é regido por seus tratados fundadores — o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (1957) e o Tratado da União Europeia (1992) — posteriormente atualizados pelo Tratado de Lisboa (2007), que ampliou e ajustou as competências institucionais do bloco.

Na prática, três instituições centrais exercem papéis complementares e trabalham em cooperação para definir a agenda, elaborar políticas e aprovar leis:

  • Comissão Europeia – detém o chamado “poder de iniciativa”. É responsável por propor novas leis e assegurar que as normas aprovadas sejam corretamente aplicadas pelos Estados-membros.
  • Parlamento Europeu – formado por representantes eleitos diretamente pelos cidadãos, divide com o Conselho da União Europeia a responsabilidade de aprovar as propostas legislativas e desempenha papel fundamental na definição e no controle do orçamento.
  • Conselho da União Europeia – reúne ministros dos governos nacionais e, em conjunto com o Parlamento, delibera sobre as propostas apresentadas pela Comissão.

A Comissão — composta majoritariamente por especialistas técnicos — propõe, o Parlamento e o Conselho aprovam, os Estados aplicam e a própria Comissão fiscaliza. Esse fluxo, conhecido como Procedimento Legislativo Ordinário, garante o equilíbrio entre as instituições e sustenta a governança da União Europeia.

Vale destacar que, na UE, a formulação de políticas públicas não é conduzida apenas por políticos, mas por uma estrutura técnico-institucional robusta que detém o “poder da iniciativa”. São 27 Comissários, um de cada país-membro, responsáveis por pastas específicas e apoiados por direções-gerais (DGs) formadas por advogados, economistas e especialistas de múltiplas áreas. Essa configuração confere densidade técnica às decisões e busca reduzir vieses político-partidários.

Outro aspecto fundamental é que nenhuma proposta pode avançar sem antes passar por um processo obrigatório de consulta pública, que envolve cidadãos, organizações e setores econômicos. Esse mecanismo reforça a legitimidade democrática, amplia a transparência e garante que a construção normativa da União Europeia seja, de fato, fruto de um diálogo aberto com a sociedade.

Além disso, as iniciativas em elaboração pela Comissão são divulgadas em um calendário público prévio, que detalha os temas a serem discutidos e os prazos para contribuição. Esse planejamento não apenas aumenta a previsibilidade do processo, mas também oferece às partes interessadas a oportunidade real de se preparar e participar ativamente do debate desde sua fase inicial.

E por que isso importa? Porque não basta apenas acompanhar os grandes temas em debate. É essencial compreender em detalhes como as decisões são tomadas, quem tem o poder de iniciativa e veto e em que momento é possível influenciar.

Para empresas e organizações que desejam atuar em Bruxelas esse conhecimento é decisivo. A forma como a União Europeia organiza seu processo legislativo, combinando técnica, política e consulta pública, determina não apenas os resultados finais, mas também os caminhos e oportunidades de participação. Ignorar essa lógica é abrir mão de espaço de discussão que impactam diretamente cadeias produtivas, modelos de negócio e estratégias globais.

Em outras palavras: na União Europeia, entender a estrutura significa ter voz; desconhecê-la significa ficar à margem das decisões que influenciam 27 países.

Do Green Deal ao Omnibus: a Comissão Europeia de Ursula von der Leyen

À frente da Comissão está Ursula von der Leyen, uma liderança de trajetória singular: economista de formação, doutora em Medicina, casada, mãe de sete filhos, ex-ministra em diferentes pastas sociais na Alemanha e a primeira mulher a ocupar o cargo de Ministra da Defesa do país. Filha de refugiados, Ursula simboliza, em sua própria história, a força da resiliência e a capacidade de conciliar múltiplos papéis, hoje exercendo a função de primeira mulher a presidir a Comissão Europeia.

Com mandato até 2029, Ursula von der Leyen definiu novas prioridades para a União Europeia. Se antes a agenda estava concentrada no Green Deal — que buscava tornar a Europa climaticamente neutra até 2050, dissociar crescimento econômico do uso intensivo de recursos, proteger o meio ambiente e assegurar uma transição justa e inclusiva —, agora o foco se desloca para o Pacote Omnibus, iniciativa que pretende simplificar processos internos da UE e, ao mesmo tempo, fortalecer de forma significativa sua competitividade global.

E por que isso importa? Porque, ao simplificar procedimentos, a União Europeia acelera substancialmente a tramitação de leis que, até pouco tempo atrás, exigiam anos de debate e negociação. Isso abre tanto oportunidades quanto desafios para todos que compreendem a complexidade — e o valor estratégico — do relacionamento com o bloco.

Para as empresas, o recado da Missão do Brasil na União Europeia foi claro: quem não tiver seus interesses representados já na fase de elaboração das propostas pela Comissão, terá pouquíssimo espaço de influência quando elas chegarem ao Parlamento e ao Conselho. Por outro lado, a velocidade do processo também traz riscos, pois pode deixar lacunas regulatórias que impactarão de forma significativa os 27 Estados-membros, abrindo espaço para que determinados temas sejam definidos em nível nacional, sem a harmonização necessária no âmbito europeu.

As fronteiras do lobby na União Europeia

No Brasil, ainda discutimos — no âmbito de uma futura regulamentação — quais interações público-privadas deverão constar em relatórios de transparência. Afinal, uma parte significativa das conversas, sobretudo no Congresso Nacional, ocorre em espaços informais, como corredores ou aplicativos de mensagens.

Já na União Europeia, os parâmetros parecem muito mais definidos. Para os lobistas com quem dialogamos, a regra é clara: apresentações e discussões técnicas só podem ocorrer em reuniões e audiências oficiais, devidamente agendadas com as autoridades. Nos corredores ou encontros ocasionais, só é admissível tratar de temas gerais — como o andamento de processos ou percepções sobre consensos e dissensos — sem espaço para aprofundamento técnico.

Outro ponto importante: embora o cadastro de lobistas não seja obrigatório, nenhuma reunião pode ser marcada sem que o interessado apresente sua identificação e seu número de registro, o que assegura rastreabilidade e fortalece a transparência do processo. Além disso, os dados disponibilizados pelo próprio governo europeu são muito mais abrangentes do que os oferecidos atualmente pelo sistema brasileiro do e-Agendas. Ainda assim, isso não exime as empresas de elaborarem seus próprios relatórios, com informações detalhadas sobre interações e investimentos em atividades de representação de interesses.

Mas nem tudo são flores: a União Europeia ainda enfrenta desafios de harmonização de regras de compliance entre suas instituições e, não raramente, escândalos de corrupção que alimentam a pressão da sociedade por mais clareza nas relações público-privadas.

E por que isso importa? Porque a regulamentação da atividade de lobby não é apenas uma questão burocrática, mas um marco civilizatório para as democracias contemporâneas. Definir parâmetros claros de transparência e rastreabilidade não significa restringir a atuação dos profissionais, mas legitimar sua contribuição no processo decisório. Quanto mais estruturado e visível for o diálogo público-privado, menor o espaço para interpretações distorcidas ou associações automáticas com práticas ilegítimas.

No caso do Brasil, esse aprendizado é ainda mais urgente. Num país em que a desconfiança em relação às instituições e à política é elevada, a transparência pode ser a ponte para a normalização social do lobby como prática legítima — assim como ocorreu na União Europeia. Para os profissionais, isso significa a oportunidade de reposicionar a atividade como um instrumento técnico, estratégico e necessário para o aprimoramento das políticas públicas.

Além disso, compreender e respeitar as “fronteiras” entre espaços formais e informais de interação é essencial. Se na Europa até conversas de corredor possuem limites claros, no Brasil será preciso definir coletivamente onde começa e onde termina a interlocução legítima. Essa construção não virá apenas de normas legais, mas sobretudo da postura ética dos próprios profissionais e das empresas que optarem por se antecipar às exigências de transparência.

Em outras palavras: a regulamentação virá, cedo ou tarde. A questão é se os profissionais de relações governamentais estarão prontos para liderar esse processo ou se ficarão à margem dele.

“Be present” and “Be likeable”

Nossa visita à Croplife nos trouxe uma reflexão importante sobre a postura e atitude de um lobista comprometido com sua atuação. “Be present” e “Be likeable” — ou, em português, “esteja presente” e “seja simpático”.

Estar presente significa mais do que acumular registros fotográficos ou exibir proximidade com autoridades em redes sociais – o que deveria ser uma prática evitada. Um lobista que se limita a “marcar presença” ou buscar visibilidade imediata desperdiça a chance de construir confiança e relacionamentos sólidos no longo prazo. Essa lógica vale para todos os espaços que ocupamos como profissionais — sejam eles formais, como reuniões e audiências oficiais, ou informais, como eventos, painéis e momentos de networking. Em todos esses ambientes, o que realmente faz diferença não é a foto tirada, mas a consistência da contribuição, a qualidade do diálogo e a credibilidade cultivada ao longo do tempo.

Da mesma forma, “ser simpático” não é sinônimo de bajulação, mas de saber dialogar, ouvir, respeitar e construir convergências mesmo em meio a divergências. Em ambientes altamente competitivos e polarizados, a capacidade de se relacionar de forma ética e colaborativa pode ser tão determinante quanto o argumento técnico ou jurídico.

E por que isso importa? Porque o lobby não se sustenta em aparência, mas em consistência. O verdadeiro diferencial está em unir conhecimento técnico, presença contínua e habilidade de relacionamento para transformar interações pontuais em parcerias legítimas e duradouras. Essas lições são válidas para todos os lobistas em suas diferentes etapas de carreira.

Desafios reputacionais da indústria

Notícias boas e ruins! Não se trata apenas do lobby em si, mas, sobretudo, dos interesses individuais das indústrias. As percepções dos lobistas em Bruxelas, somadas aos dados do Trust Barometer 2025, da Edelman, revelam que a sociedade, de maneira geral, ainda mantém uma profunda desconfiança em relação a determinados setores — atualmente, mais exacerbado em relação às indústrias tecnológica e a farmacêutica.

É essa percepção que molda o comportamento social e orienta a mobilização em torno das agendas defendidas por esses segmentos. Em outras palavras, a legitimidade das pautas não depende apenas da qualidade técnica dos argumentos, mas também da confiança pública nos seguimentos representados.

E por que isso importa? Porque o Brasil não está imune a esse fenômeno. Por aqui, setores como o de mineração, energia, saúde e até mesmo o tecnológico também enfrentam resistências similares. Muitas vezes, o lobby não é rejeitado pelo que é, mas pelo histórico de reputação das indústrias que o exercem. Para os lobistas, isso significa que, além de formular estratégias de defesa de interesses, precisamos atuar para que as empresas representadas invistam de forma contínua em construção de confiança, transparência e engajamento com a sociedade. Sem isso, os nossos melhores argumentos técnicos correm o risco de serem desacreditados antes mesmo de serem ouvidos.

É nesse ponto que as ferramentas de public affairs e public relations entram em cena, complementando o lobby e ampliando sua capacidade de influenciar positivamente a agenda pública. Dominar o “como” e o “quando” utilizar esses instrumentos pode ser o divisor de águas entre conquistar espaço para o diálogo e ver uma pauta fracassar na defesa de seus interesses.

Os próximos passos da Inteligência Artificial

Todos já reconhecemos o potencial da Inteligência Artificial para o monitoramento de temas e debates de políticas públicas. Apesar disso, seu uso ainda é incipiente — inclusive na própria União Europeia. Ainda assim, é inegável o valor estratégico dessas ferramentas tecnológicas para assessorar a formulação de políticas, antecipar tendências e qualificar processos de tomada de decisão.

Segundo o estudo The State of European Public Affairs 2025, publicado pelo Public Affairs Council, os profissionais de relações governamentais europeus utilizam a IA principalmente para criação de conteúdo escrito (48%) e para redação de mensagens-chave (37%). No entanto, apenas 11% declararam possuir um plano estratégico estruturado para integrar a IA aos fluxos de trabalho. O dado revela um ponto crítico: muitos já experimentam a tecnologia, mas poucos a incorporaram de forma consistente à prática profissional.

A questão que se coloca é: estamos prontos para as novas fronteiras da Inteligência Artificial? No Brasil, ainda debatemos a legitimidade de textos e contribuições elaboradas por empresas ou pela sociedade civil e encaminhadas a agentes públicos. Enquanto isso, a tecnologia já está pronta para ir muito além da simples redação de propostas, podendo analisar dados complexos, identificar tendências e até sugerir novos textos e soluções regulatórias.

Mas o potencial da IA não se limita a apoiar representantes públicos e privados na revisão e análise de políticas. Suas aplicações já alcançam o monitoramento em tempo real de posicionamentos nas redes sociais, a gestão da reputação digital e a detecção de padrões de influência política. Imagine acordar com sua IA já tendo realizado uma varredura das redes sociais e postado um posicionamento estratégico em seu nome. Ferramentas desse tipo já estão em uso por early adopters que compreenderam que a disputa de narrativas ocorre, cada vez mais, em um ambiente digital veloz, fragmentado e altamente competitivo.

E por que isso importa? Porque já deveríamos ter superado a fase de questionar a legitimidade de quem redige ou propõe um texto. No fim das contas, pouco importa se a redação veio de uma Inteligência Artificial, de um influenciador externo — seja empresa privada ou representante da sociedade civil — ou da própria equipe de um parlamentar. O que realmente importa é a qualidade do conteúdo, a transparência do processo e a capacidade de gerar impacto efetivo nas decisões públicas.

Tentar culpar empresas, organizações ou a própria IA por textos protocolados por parlamentares é uma estratégia simplista. Trata-se de tentativa de deslocar responsabilidades que são, por natureza, políticas e exclusivas dos legisladores eleitos. Na prática, esse tipo de crítica funciona como um atalho retórico para evitar o enfrentamento de uma questão muito mais complexa: como garantir transparência, rastreabilidade e responsabilidade no processo de formulação de políticas públicas.

A partir dessa constatação, a conclusão é inevitável: a Inteligência Artificial não pode ser tratada apenas como ferramenta operacional. Ela deve ser compreendida como um ativo estratégico das relações governamentais, capaz de ampliar capacidade analítica, oferecer previsibilidade e enriquecer o debate público. Incorporar a IA ao cotidiano do setor é dar um passo decisivo para redefinir a forma como acompanhamos agendas, estruturamos argumentos e, sobretudo, como construímos legitimidade em um ambiente cada vez mais complexo, marcado pela disputa de narrativas e pela velocidade informacional.

As missões internacionais do IRELGOV representam verdadeiros pontos de inflexão na trajetória dos mais de 100 profissionais que já participaram das sete edições realizadas nos Estados Unidos, Bélgica e China. A cada experiência, os aprendizados se transformam em bagagem concreta para o aperfeiçoamento da prática de relações governamentais no Brasil e reafirmam uma convicção central: o lobby é parte essencial do processo democrático, ainda que siga subvalorizado por parcela significativa da sociedade.

Não por acaso, o grande letreiro instalado na praça central do Parlamento Europeu em Bruxelas sintetiza essa visão ao definir o espaço como “DEMOCRACY IN ACTION” — a democracia em ação, alimentada pela diversidade de vozes que se encontram para debater, negociar e construir consensos.

Fica, então, a provocação final: será que o lobby privado brasileiro compreenderá a tempo a importância de ocupar Bruxelas — hoje reconhecida como a capital mundial da influência — ou chegará tarde demais para participar das mesas onde parte das grandes decisões globais já estarão sendo tomadas? Atualmente, amargamos as lições do nosso afastamento de Washington D.C., e repetir esse erro em Bruxelas pode significar abrir mão de um espaço vital para a defesa dos interesses brasileiros no cenário internacional.

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O papel estratégico do profissional de relações institucionais e governamentais no processo de internacionalização de empresas

Luiz Tavares é gerente sênior de Relações Governamentais e Regulatórias na SBA Communications Brasil

A internacionalização, entendida como o processo de inserção sistemática em mercados estrangeiros, envolve múltiplas dimensões que vão além da competitividade de produto e da eficiência logística. Fatores institucionais – como regulação, política comercial, barreiras técnicas e acordos internacionais – condicionam fortemente as decisões estratégicas das empresas (Fundação Dom Cabral, 2023). Nessa perspectiva, a atuação dos profissionais em Relações Institucionais e Governamentais (RIG) torna-se fundamental para estruturar e executar estratégias de expansão, mitigando riscos e criando condições para o acesso e manutenção de mercados externos.

O Paradigma Eclético de Dunning (1980) sustenta que a decisão de internacionalizar depende de vantagens de propriedade (ownership), localização (location) e internalização (internalization). O componente location, que abarca fatores como ambiente regulatório, estabilidade política e acordos comerciais, influencia e é diretamente influenciado pelo trabalho de RIG. Além disso, o Modelo de Criação de Valor Internacional da Fundação Dom Cabral (2023) ressalta a importância da interação com stakeholders e do alinhamento com políticas públicas como elementos críticos para sustentar operações internacionais. Casos de empresas brasileiras, como Marcopolo (Suellen, 2009) e WEG, mostram que a capacidade de influenciar e adaptar-se a contextos regulatórios diversos é determinante para a resiliência e a competitividade internacional.

Nas fases iniciais do processo de avaliação da internacionalização, tais como estudo de viabilidade ou mesmo fact finding, a área de RIG tem como papel realizar o mapeamento de barreiras tarifárias e não tarifárias, conduzir due diligence regulatória para fusões e aquisições e avaliar licenças e permissões necessárias. Atua também na análise de riscos políticos e na identificação de atores-chave que influenciam a política comercial, criando uma base para decisões estratégicas sólidas (Costa; Soares-Filho; Nobrega, 2022). Na fase de entrada, a área tem como funções negociar protocolos sanitários, habilitações e certificações, estabelecer canais formais de diálogo com autoridades locais e garantir que as operações estejam em conformidade com exigências técnicas e ambientais, frequentemente complexas e distintas entre mercados.

Durante a consolidação, o trabalho envolve monitorar mudanças regulatórias e legislativas, representar a empresa em fóruns setoriais, nacionais e multilaterais, defender interesses diretamente e construir reputação institucional sólida. Por fim, na fase de expansão internacional, o profissional de RIG pode buscar incentivos fiscais e tributários para ampliar a produção local, apoiar a celebração de acordos comerciais entre mercados estratégicos via engajamento governamental e com atores privados, ampliar mercados e participar de negociações que moldam o ambiente competitivo no longo prazo. A capacidade de influenciar a formulação de políticas públicas, aliada à inteligência regulatória, diferencia RIG como um ativo estratégico para a organização.

Entre 2019 e 2023, à frente da estratégia internacional de RIG da BRF, o autor foi responsável pelos mercados internacionais, coordenando uma equipe de dezesseis profissionais em sete países. No período, foram conduzidos ao menos[1] 4.030 engajamentos com 1.004 stakeholders de 173 países, acompanhadas mais de 50 iniciativas legislativas e implementadas estratégias de advocacy em parceria com o executivo federal brasileiro (MRE, MAPA, ME) e coalizões estratégicas no legislativo.

Nesse período, como principais resultados, obtiveram-se 147 novas habilitações de exportação para 27 países, garantindo manutenção e expansão de mercados estratégicos e gerando mais de U$1,8 bilhão em receitas, cost avoidance e savings. A atuação incluiu defesa comercial (antidumping, price undertaking, medidas de salvaguarda e ações na OMC), representação em associações setoriais (ABIA, CNA, CNI, ABPA, ABRA), conselhos empresariais (Brasil-China, Brasil-México, BRICS), câmaras de comércio e organismos internacionais (OMC, WAHO, IPC). Além disso, houve monitoramento e mitigação de riscos geopolíticos em mais de dez países, participação em missões internacionais e elaboração de briefings estratégicos, demonstrando a contribuição direta de RIG para resultados institucionais e financeiros.

O papel de RIG no processo de internacionalização transcende a intermediação com governos, sendo um elemento central na formulação e execução de estratégias globais. Ao integrar análise regulatória, gestão de stakeholders, diplomacia corporativa e advocacy, o profissional de RIG cria condições para entrada, consolidação e expansão sustentável em mercados estrangeiros. O caso BRF demonstra que a presença estratégica dessa área impacta diretamente variáveis críticas do Paradigma Eclético de Dunning, reforçando a necessidade de incorporá-lo como protagonista nos projetos de internacionalização de empresas brasileiras.

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Evidências que incidem: pesquisa a serviço do advocacy

Matheus Leite atua em relações governamentais com foco em estratégias de advocacy

O advocacy desempenha um papel crucial na mediação entre conhecimento técnico e incidência sobre decisões públicas. No contexto brasileiro de desigualdades estruturais, campanhas de advocacy baseadas em evidências se destacam pela capacidade de produzir e comunicar informações qualificadas, contribuindo para a construção de políticas públicas responsivas e ancoradas em demandas sociais.

Contudo, mobilizar dados para influenciar decisões ainda é um desafio. Apesar da crescente cobrança por maior racionalidade na formulação de programas e políticas, é comum que pesquisadores e ativistas compartilhem a frustração de ver evidências robustas sendo subutilizadas nos processos decisórios.

Afinal, por que ainda é tão difícil transformar dados em ação política concreta? E o que torna uma evidência verdadeiramente capaz de incidir sobre políticas públicas? A persistência dessas questões nos leva a repensar abordagens com o uso de evidências. O desafio da incidência qualificada nos convida a explorar estratégias que articulem não apenas o rigor técnico, mas também sensibilidade política, legitimidade social e timing institucional.

Comunicar evidências é, antes de tudo, um desafio de interlocução entre trincheiras. A formulação de políticas públicas opera no terreno dos detalhes: depende de informações técnicas e indicadores para subsidiar o desenho de programas ou embasar projetos de lei. Porém, o processo decisório é complexo e não se resume à técnica. Envolve disputas simbólicas, valores em jogo, interesses de coalizões e viabilidade política. Esses fatores moldam o enquadramento de cada questão. Assim, mesmo evidências robustas podem ser ignoradas se não forem adaptadas à linguagem dos tomadores de decisão ou se não dialogarem com marcos narrativos dominantes.

A capacidade de gerar mudanças depende de uma certa sensibilidade estratégica dos atores intermediários – como ONGs, think tanks, centros de pesquisa e redes interinstitucionais. Tornar as evidências mais legítimas aos olhos dos decisores demanda critérios de escopo e finalidade. Isso passa, inclusive, pela escolha do método de análise e conforme o campo de políticas públicas. Na saúde, dados locais, atualizados e desagregados costumam ser mais eficazes para expor as desigualdades, pois evidenciam determinantes sociais difíceis de ignorar. Na segurança pública, mapas georreferenciados cumprem bem esse papel ao mostrar, de forma direta, onde a violência se concentra. No acesso à infraestrutura, estimativas de custos da inação traduzem desigualdades em perdas econômicas concretas, como aumento dos gastos com saúde ou queda na produtividade.

Além de estarem ajustados à realidade social, a credibilidade da fonte também importa. Evidências respaldadas por universidades, centros de pesquisa ou coletivos reconhecidos tendem a ser mais bem recebidas nos espaços de deliberação. Ativistas ampliam esse efeito ao atuar em redes – com base em confiança mútua e articulação intersetorial –, as quais fortalecem o diálogo com decisores e ajudam a romper a distância entre “quem produz” e “quem decide”. Ao lado de parceiros com expertise técnica, os ativistas conseguem oferecer informações acessíveis, confiáveis e politicamente oportunas.

A mobilização pelo fortalecimento do Fundeb é um exemplo notável de como o apoio técnico-estratégico pode aproximar a pesquisa da incidência concreta. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação teve papel central na produção e difusão de evidências em favor da renovação do fundo. Ao articular vozes intersetoriais – entre centros de pesquisa, movimentos sociais e parlamentares –, a campanha conquistou autoridade no debate público sobre o financiamento da educação, tornando-se protagonista na aprovação da emenda constitucional que garantiu o Fundeb permanente e mais equitativo. Entre suas principais contribuições, destaca-se o desenvolvimento do índice de Custo Aluno-Qualidade (CAQ), que se consolidou como referência para o diagnóstico das desigualdades no financiamento da educação básica e na definição de parâmetros mínimos de qualidade.

O caso do Fundeb nos revela como o encontro entre uso de evidências e mobilização política pode alterar o curso do debate público. Dados têm incidência quando circulam com intencionalidade política e densidade simbólica. O que isso significa? Que não basta ter razão técnica. É preciso que informações ganhem significados sociais, conectem-se a valores coletivos e a narrativas de mudança.

Na prática, o valor de uma evidência não está apenas na sua robustez, mas em sua capacidade de ser convertida em mensagem que comunique um problema público e tenha eco nas arenas decisórias. Para isso, estratégias de comunicação precisam traduzir dados em linguagem clara, com força simbólica e apelo político. Recursos expressivos, como metáforas, imagens e narrativas humanas cumprem esse papel. Eles permitem:

  • dar visibilidade às pessoas por trás dos números;
  • sensibilizar decisores para a gravidade de problemas multifatoriais;
  • aprofundar a compreensão pública sobre temas complexos;
  • aproximar o debate técnico das experiências concretas de grupos sociais.

A pandemia de Covid-19 trouxe um exemplo emblemático dessa estratégia. A campanha “Renda Básica que Queremos” combinou dados sobre pobreza, informalidade e desproteção social com recursos de comunicação acessíveis – infográficos, vídeos e relatórios. A campanha mostrou de forma simples como políticas de transferência de renda garantiam a sobrevivência de milhões de pessoas.

Mais do que números, destacou-se o fio condutor de sua narrativa central: o direito à renda como expressão de cidadania. Estimativas econômicas foram entrelaçadas a histórias reais de vulnerabilidade social. Essa integração vinculou a renda básica a valores como dignidade humana e solidariedade. A estratégia reposicionou o imaginário público em torno da pauta e deslocou o debate para um terreno suprapartidário e popular. A pressão gerada foi determinante para a criação do Auxílio Emergencial em 2020, além de abrir espaço para novas agendas de advocacy nessa área.

Apesar dos avanços na mediação entre ciência e advocacy, a distância entre pesquisa e ação política ainda é um dos maiores gargalos de transformação estrutural. Traduzir dados em incidência efetiva exige mais do que comprovação empírica: requer mediação estratégica, construção de alianças e legitimidade política e social. O descompasso entre produção de conhecimento e agenda pública é, muitas vezes, mais político do que técnico. Atores de advocacy encaram decisores que operam sob lógicas próprias de mérito, urgência e capital político. O desafio está em fortalecer organizações e redes para assumir o papel de intermediação e compreender o contexto político de forma ampla, identificando os incentivos que movem cada ator. Só assim será possível transformar conhecimento em ação e dar lastro político às mudanças necessárias.

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O profissional de relações governamentais na COP30: Brasil em liderança estratégica nas mesas de negociação

Ruan Raielli Chaves atua no Itamaraty

A Conferência das Partes (COP) é o maior fórum global de construção de soluções diante da crise climática, reunindo governos, empresas e sociedade civil. A COP30, que será realizada em Belém do Pará, coloca o Brasil em evidência ao sediar, pela primeira vez no Norte do país, um evento dessa magnitude, reafirmando sua liderança estratégica nas negociações internacionais.

No centro das negociações multilaterais, o governo brasileiro mantém o protagonismo, conduzindo as posições oficiais e representando o país perante a comunidade internacional. Para que esse papel seja ainda mais fortalecido e robusto, a participação das empresas como aliadas estratégicas é fundamental. Elas fornecem dados, resultados concretos e inovações que ampliam a credibilidade do Estado nas mesas de negociação, consolidando a legitimidade do processo e tornando sua atuação ainda mais sólida e confiável.

O profissional de relgov (relações governamentais) se torna ainda mais relevante nesse cenário. Atuando como elo entre o setor público e o privado, ele transforma entregas corporativas em pautas técnicas que dialogam diretamente com formuladores de políticas nacionais e internacionais. O IRELGOV se destaca como formador de profissionais qualificados, promovendo capacitação e boas práticas que fortalecem a atuação brasileira em fóruns multilaterais como a COP30.

Embora a regulamentação da profissão ainda esteja em andamento no Brasil, a legitimidade da atuação já é reconhecida. O Projeto de Lei nº 2.914/2022, que estabelece regras claras para a prática de representação de interesses junto aos três Poderes, foi aprovado pela Câmara dos Deputados em novembro de 2022 e aguarda análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. A proposta prevê a criação de um cadastro público de representantes de interesses, limites para atuação e regras sobre presentes e brindes a agentes públicos, garantindo maior transparência, segurança jurídica e credibilidade.

Mesmo antes da regulamentação formal, o trabalho de relações governamentais é aceito e consolidado, fortalecendo tanto a agenda governamental quanto as iniciativas empresariais. A regulamentação futura ampliará a confiança nas negociações, permitirá o mapeamento sistemático das atividades e alinhará a atuação profissional com padrões internacionais de transparência.

A experiência internacional reforça essa importância. Na União Europeia, onde o lobby é regulamentado e registrado em Bruxelas, empresas e organizações participam de forma transparente da formulação de políticas públicas, agregando valor e legitimidade às decisões. No Canadá, regulamentado desde os anos 1980, o processo trouxe clareza e credibilidade às relações entre governo e setor privado, permitindo que empresas apresentem soluções técnicas enquanto o Estado mantém controle e transparência. Esses exemplos demonstram que a regulamentação não cria restrições, mas fortalece a democracia e legitima a influência corporativa de maneira ética e reconhecida.

O IRELGOV reúne atualmente 55 associados, entre empresas e instituições, que se unem para fortalecer a atuação de relações governamentais no Brasil. Entre eles, destacam-se organizações como BASF, Scania, JTI, Yara Brasil, Bayer, Syngenta e ICC Brasil, todas com forte atuação em setores estratégicos, em especial no agronegócio brasileiro e em cadeias globais de valor. Essas empresas e instituições desenvolvem projetos que vão desde agricultura regenerativa, tecnologias de mobilidade sustentável, inovação em biocombustíveis, fertilizantes de alta eficiência e programas de neutralização de carbono até a integração do Brasil em redes de comércio e sustentabilidade internacional. Ao contribuírem com inovação e soluções técnicas, elas fortalecem a imagem do Brasil como protagonista global em sustentabilidade, além de evidenciarem o papel crucial do setor privado na transformação do agro em um vetor de desenvolvimento econômico e ambiental.

Outras associadas também exercem funções estratégicas em áreas complementares, reforçando a diversidade e a força coletiva que tornam o IRELGOV uma rede essencial para o fortalecimento das relações governamentais no país.

A COP30 representa um momento histórico de liderança compartilhada, em que o Estado conduz oficialmente as negociações e o setor privado atua como parceiro decisivo. O protagonismo governamental, aliado à expertise corporativa e à atuação estratégica do profissional de relações governamentais, garante que o Brasil participe de forma legítima, transparente e eficaz, consolidando sua posição como referência global em sustentabilidade e desenvolvimento inclusivo.

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Saindo da “zona cinzenta”: o futuro da representação de interesses no Brasil

Daniel Melo é assessor legislativo na Liderança do Partido Cidadania na Câmara dos Deputados

Há mais de três décadas, o Brasil discute como regulamentar a representação de interesses, atividade popularmente conhecida como lobby. Essa longa trajetória, marcada pelo arquivamento de mais de quinze projetos de lei, manteve a profissão em uma “zona cinzenta” institucional, na qual a linha entre a defesa legítima de interesses e o tráfico de influência se torna perigosamente difusa. Agora, com o Projeto de Lei (PL) nº 2.914/2022 em fase decisiva no Senado, o país enfrenta uma oportunidade histórica: profissionalizar a atividade, alinhando-se às melhores práticas internacionais, ou aprovar uma norma que, apesar das boas intenções, se revele insuficiente para os desafios do século XXI.

A persistência desse vácuo normativo não é fruto do acaso. Ela se explica, em parte, pela captura do processo legislativo por atores que se beneficiam da opacidade, para os quais a ausência de regras claras é mais vantajosa que a transparência. Nesse cenário, a falta de um marco legal sólido transforma a influência indevida em uma escolha racional, calculada friamente a partir de uma equação em que os ganhos de atuar nas sombras superam, de longe, os baixos riscos de detecção e punição. O resultado é a perpetuação de um estigma que distorce a percepção pública e penaliza justamente aqueles que exercem a atividade de forma ética.

A experiência internacional oferece lições eloquentes. Nos Estados Unidos, um sistema regulatório maduro, com mais de três décadas de vigência, segue em constante aperfeiçoamento — com novas propostas, em 2025, para fechar brechas e conter ameaças como a influência estrangeira. Essa trajetória mostra que regulamentar não é um ato pontual, mas um processo contínuo de adaptação. O Chile, referência na América Latina, aprovou sua lei em 2014 e, diante de escândalos que revelaram fragilidades, lançou em 2024 o “Lobby 2.0”, um robusto pacote de reformas para reforçar a fiscalização e endurecer as regras de “porta giratória”. Em contraste, a Itália e a União Europeia demonstram o custo elevado da inação: a ausência de uma lei nacional italiana gera incerteza jurídica crônica, enquanto casos como o “Huawei Gate”, no Parlamento Europeu em 2025, expõem como a lacuna regulatória pode ser explorada por interesses externos, corroendo a integridade de todo um bloco continental.

Sob essa perspectiva, o PL nº 2.914/2022 representa avanço ao reconhecer formalmente a atividade, exigir a divulgação das agendas de autoridades e instituir quarentena para ex-agentes públicos. Contudo, sua versão atual traz fragilidades que ameaçam a eficácia da norma.

A mais grave é o credenciamento voluntário. Ao permitir que o representante de interesses escolha se deseja ou não se registrar, a lei abre espaço para o shadow lobbying, prática que favorece aqueles que desejam continuar operando à margem do sistema em um ambiente com alta opacidade. Outras falhas críticas incluem a ausência de um órgão de fiscalização independente, transferindo o controle justamente para instituições que são alvo do lobby, e o silêncio diante dos desafios contemporâneos da influência digital e estrangeira. Num mundo em que a pressão política migra de “apertos de mão para hashtags”, ignorar a transparência de campanhas em redes sociais é legislar para um passado que já não existe.

O Senado tem agora a responsabilidade de corrigir o rumo. Para que o Brasil saia, de fato, da zona cinzenta, são necessárias mudanças essenciais:

  • Tornar o registro obrigatório, submetendo todos os atores às mesmas regras,
  • Criar um órgão de supervisão independente e especializado, com real poder sancionatório;
  • Incorporar a transparência digital, exigindo a divulgação de campanhas de influência online;
  • Reforçar as regras sobre financiamento, para revelar quem realmente sustenta cada causa.

A aprovação do PL nº 2.914/2022 pode marcar um divisor de águas. Mas aprová-lo sem as correções necessárias seria criar uma ilusão de controle, preservando no subsolo da política a influência mais nociva. Regulamentar não é erradicar a corrupção, e sim tornar a opacidade mais cara. É profissionalizar o setor, reforçar a confiança nas instituições e consolidar a representação de interesses como um pilar legítimo e transparente da democracia brasileira.

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Índice de gestão municipal de desenvolvimento da primeira infância

Daniela Santos é consultora da Unesco na pauta da primeira infância

O Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) estabelece diretrizes para políticas públicas voltadas à gestação e aos primeiros seis anos de vida, reafirmando direitos previstos na Constituição e no ECA. Ele define a criança como “prioridade absoluta” e orienta a elaboração de planos que integrem ações intersetoriais nos três níveis de governo.

No Brasil, cresce o movimento para que municípios criem seus Planos Municipais de Primeira Infância – PMPI (2022), com destaque para o Pacto Nacional pela Primeira Infância na disseminação do tema e incentivo à formação de comitês estaduais e municipais. Porém, a efetividade desses planos enfrenta obstáculos como falta de leis específicas, orçamento adequado e integração entre setores.

O PNPI propõe apoiar estados e municípios na elaboração de seus planos, com capacitação, suporte técnico e monitoramento. Nesse contexto, o Índice de Gestão de Desenvolvimento da Primeira Infância (IGDPI), desenvolvido em minha tese de doutorado, foi criado para avaliar governança e ações intersetoriais, dialogando com a matriz Nurturing Care. O índice busca ser um instrumento de monitoramento e aprimoramento da gestão municipal, fortalecendo institucionalmente a agenda da primeira infância e garantindo a prioridade das crianças nas políticas públicas.

  • Governança Colaborativa e Monitoramento para Qualificação da Política de Primeira Infância

A implementação de uma agenda integrada para a primeira infância exige abordagem sistêmica, articulando todas as partes e atores das políticas públicas, desde a formulação até a execução. A governança garante legitimidade e efetividade, baseada na construção compartilhada de objetivos e na articulação com instrumentos de gestão, que incluem: Gestão por resultados, Gestão de pessoas e Gestão de processos.

Os modelos de governança estão cada vez mais estruturados na ideia de colaboração a partir da articulação contínua entre as diversas etapas da engrenagem da política pública, seguindo o conceito de governança colaborativa (Abrucio, Segatto & Marques, 2022). Estabelecer essa lógica é fundamental para a primeira infância, pois esse campo envolve vários setores e atores, de modo que a cooperação entre eles é essencial, uma vez que presume um modelo de atenção integral difundido pelo Unicef e pela Organização Mundial da Saúde – OMS, a Matriz Nurturing Care. Desse modo, é necessário estimular os aspectos de cada área a atuar mais de forma colaborativa a partir de um objetivo comum onde, de acordo com a Fundação Maria Cecília Solto Vidigal (2023), presume “proteger e promover o desenvolvimento infantil a partir do fortalecimento da articulação intersetorial desde a gestação da mãe e passando por todo o período até os seis anos de idade das crianças, com prioridade para o público das famílias mais vulneráveis”.

Neste pressuposto, a proposta de governança colaborativa para a primeira infância envolve entender seus três aspectos básicos:

  • A intersetorialidade: ação articulada entre diferentes setores do governo;
  • A extragovernamentalidade: ação articulada entre setores da sociedade e o governo;
  • A intergovernamentalidade: ação articulada entre as diferentes esferas de governo. No modelo federativo: federal, estadual e municipal. Tais ações são pautadas a partir do entendimento das funções de cada ente federado. Assim, o Governo Federal apresenta como função redistributiva de recursos públicos e normatizações. Os governos estaduais coordenam e apoiam tecnicamente os municípios e, por fim, os municípios implementam as políticas públicas. Os estados têm papel estratégico, pela proximidade com municípios e capacidade de disseminar boas práticas. Para a sustentabilidade das políticas, destacam-se quatro fatores: coalizão política, pactuação, equipes governamentais engajadas e gestão por resultados.

Neste interim, o monitoramento de políticas públicas deve permitir aos agentes públicos: acompanhar os resultados e os esforços empreendidos para concretizar a política; verificar o alcance das metas, identificar dificuldades, erros ou desvios na implementação, identificar avanços e experiências que podem contribuir para outras políticas públicas e comunicar e compartilhar informações de monitoramento das políticas públicas com a sociedade.

Dito isso, o IGDPI abrange dois eixos de análise – os aspectos de governança e as ações estratégicas intersetoriais, que totalizam dez indicadores para serem analisados. Esses indicadores foram desagregados em subindicadores para serem pontuados em uma escala entre zero e um. Isto posto, podemos atribuir uma escala para mensurar e ranquear municípios e estados, bem como direcionar os mesmos para planejamento de ações para melhoria do indicador.

Tabela 1 – Critérios para mensuração do IGDPI

Eixo GovernançaEixo Ações EstratégicasEsses indicadores de ações estratégicas de primeira infância foram selecionados a partir de programas e serviços implementados pelo Governo Federal, podendo ser utilizado esse índice para avaliar as gestões de quaisquer municípios do Brasil. Ademais, além de mensurar a qualidade da gestão, poderá ser utilizado como um norte para os municípios avançarem na implementação de ações que irão contribuir com o fortalecimento de uma agenda pública de primeira infância. Para Estados e Governo Federal é uma excelente ferramenta de planejamento estratégico para monitoramento e planejamento das ações de apoio aos municípios numa relação de governança colaborativa.

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Trending Politics: o caso Felca e a influência das redes na política

Eduardo Galvão é diretor de Public Affairs da consultoria Burson e professor de Políticas Públicas no Ibmec-DF

Em pleno século 21, trending topics viraram praças públicas: arenas digitais onde a mobilização acontece em tempo real e temas viram política em questão de segundos.

A metáfora não é exagero: a política contemporânea se constrói tanto nos plenários quanto nas telas. As redes sociais condensam percepções, amplificam indignações e transformam conversas dispersas em movimentos organizados capazes de pautar governos, empresas e sociedade civil. O tempo de reação encurtou e a linha entre o que é apenas barulho e o que se converte em agenda política ficou cada vez mais tênue.

Felca, adultização e a geopolítica – O episódio Felca é emblemático porque mostrou como um debate digital pode rapidamente transbordar para a arena política. O conteúdo do influenciador, que parecia restrito ao campo cultural e de entretenimento, em poucos dias mobilizou autoridades, sociedade civil e empresas. O tema deixou de ser apenas uma preocupação social para se transformar em pauta política, com implicações regulatórias diretas.

Por trás desse movimento, há uma disputa de alcance internacional. O Brasil sofre pressão para não avançar na regulação das redes sociais, em função de interesses de empresas norte-americanas. O tarifaço de Trump contra o Brasil ilustra bem esse cenário: além de instrumento comercial, funciona como mecanismo indireto de pressão política. Trump se ampara no discurso da defesa da liberdade de expressão, bandeira cara à direita brasileira, para reforçar a narrativa contra a regulação.

Nesse contexto, a discussão sobre a “adultização” nas redes, viralizada por Felca, caiu como uma luva para o governo brasileiro. Ao trazer o tema para o grande público, o episódio forneceu legitimidade social para que o governo pautasse a regulação das plataformas digitais, defendendo-a não como restrição à liberdade, mas como resposta a uma demanda amplamente reconhecida pela sociedade.

Redes como fatores de agenda – As plataformas digitais deixaram de ser apenas canais de comunicação: são incubadoras de pauta política. O EU Media Poll 2025, elaborado pela Burson, mostra que formadores de opinião na União Europeia já migram aceleradamente das mídias tradicionais para redes como TikTok e LinkedIn, afetando diretamente o processo de definição da agenda legislativa. Esse movimento confirma que o ciclo de produção de políticas públicas começa cada vez mais em espaços digitais.

A teoria do agenda-setting ganha novas camadas no ambiente online. As redes determinam tanto o que se discute, quanto como os temas são enquadrados (framing), moldando a percepção pública e acelerando a pressão sobre legisladores. Um mesmo episódio pode ser narrado como ameaça à liberdade ou como demanda por proteção social, gerando impactos distintos na formulação de políticas. A lógica algorítmica acelera esse ciclo, transformando discussões virais em pressões institucionais quase imediatas e obrigando decisores políticos a reagirem em tempo real, muitas vezes mais pela intensidade do engajamento digital do que pela consistência do debate.

O estudo da Harvard Kennedy School The rise of the social algorithm destaca como algoritmos sociais têm se tornado fundamentais na construção da agenda pública. Esses sistemas identificam e promovem conteúdos com elevada interação, criando um efeito acelerador que pode elevar debates pontuais a crises políticas com potencial regulatório. Assim, questões que antes permaneciam nos extremos do debate ganham centralidade institucional em ritmo amplificado pela pressão digital.

Muitas organizações já perceberam esse potencial e incorporaram a comunicação em redes sociais como parte estruturante de suas estratégias políticas. ONGs, associações setoriais e até empresas passaram a usar campanhas digitais para pautar o debate público, influenciar a opinião de decisores e acelerar a formulação de políticas públicas. Em vários casos, conseguiram resultados expressivos, seja mobilizando apoios parlamentares para projetos específicos, seja bloqueando iniciativas regulatórias vistas como desfavoráveis.

Implicações em public affairs e relgov

Para profissionais de public affairs e relgov, o desafio é integrar esse fenômeno à prática estratégica. Algumas implicações são inevitáveis:

  • Mapear tendências digitais: antecipar quais narrativas estão ganhando tração nas redes antes de migrarem para a arena legislativa ou regulatória;
  • Analisar a convergência entre pressões sociais e negociações econômicas: crises digitais podem ser instrumentalizadas em mesas de negociação política, tornando-se variáveis de poder;
  • Rever estratégias de advocacy: campanhas que não consideram as arenas digitais já começam em desvantagem, correndo o risco de perder relevância política;
  • Construir narrativas híbridas: unir dados de rede, impacto social e implicações regulatórias em mensagens consistentes, capazes de dialogar com diferentes audiências, de influenciadores a parlamentares.

Ignorar as dinâmicas digitais significa perder a capacidade de incidir sobre a formação da agenda pública.

Política em 280 caracteres – Se no passado os lobbies se organizavam em gabinetes e corredores, hoje o poder de agenda nasce em trending topics e se espalha em velocidades que desafiam qualquer cronograma institucional. O que parecia ruído ou efemeridade digital pode, em poucos dias, se transformar em proposta legislativa, decreto ou até em negociação internacional.

Para os profissionais de public affairs e relgov, esse novo cenário impõe a capacidade de decifrar códigos do engajamento digital, antecipar movimentos sociais e traduzir o barulho das redes em estratégias políticas consistentes e eficazes. A provocação que fica é: estamos apenas reagindo ao fluxo das hashtags ou já aprendemos a convertê-las em instrumentos de influência legítima e duradoura?

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O perigo fatal da guerra às instituições

Gustavo Bernard é jornalista, consultor de comunicação estratégica e de relações institucionais e governamentais

O recorde de conflitos globais – mais de 60 desde 1946, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) – ascendeu, neste ano, os termômetros dos governos e das instituições, tanto públicas quanto privadas a preocupantes temperaturas: como minimizar os riscos e danos ao desenvolvimento e à prosperidade das nações, empresas e sociedades, independentemente de seus díspares e complexos níveis de desenvolvimento humano (IDH’s) e como ampliar a segurança e confiabilidade dos sistemas pautados em participação cidadã e justiça social. Em meio a outras inúmeras guerras que rondam o mundo, como as tarifárias-comerciais protagonizadas pela maior economia mundial; governos – dos menos aos mais democráticos – monitoram cada movimento e ameaça aos povos do ecossistema multilateral alcançado nessa era informacional hiperconectada e digital em busca de novas respostas e alternativas.

As sucessivas frustrações com as instituições, sobretudo as democráticas, têm gerado preocupantes alertas que ecoam, indistintamente, na política e na economia de quaisquer territórios. Criterioso estudo da Unidade de Inteligência da prestigiosa The Economist – com base nos processos eleitorais, pluralismo, funcionamentos dos governos, participações políticas e liberdades civis de 167 países – indica que o globo alcançou, em quase duas décadas, seu pior cenário, com o menor índice médio de democracia: 5,17. Em 2015, o pior índice já tinha atingido preocupante 5,5, reforçando uma inquietante tendência: apenas menos de 7% da população mundial, cerca de 520 milhões de cidadãos – vivem em uma democracia plena.

A imprensa e a mídia, importantes agentes de fortalecimento institucional, também têm sido alvos físicos e analógicos desses ataques que enfraquecem ainda mais os modelos bem-sucedidos de avanço global do capitalismo. Dados do Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ) apontam, por exemplo, que, mesmo em tempos de conflitos precisos e digitalizados, 2024 foi o ano mais mortal para os profissionais de mídia: mais de 120 repórteres em 18 diferentes países foram assassinados, sobretudo na Faixa de Gaza, durante seus trabalhos de informar a sociedade. Essa é a pior estatística em mais de 30 anos desde o início dos registros pelo CPJ. O Brasil, décima maior economia do planeta, que pela primeira vez na história condenou militares e um ex-presidente da República (Jair Bolsonaro) por crime de golpe de Estado e tem em seu histórico mais outros três ex-presidentes que foram presos desde à redemocratização (Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer e Fernando Collor) também sente os efeitos dessas modernas dinâmicas, intensificadas por conexões públicas e privadas mais complexas, digitalizadas e viscerais. São ataques às instituições – tanto ao Executivo quanto ao Legislativo e ao Judiciário – que crescem tão rapidamente quanto os movimentos algorítmicos das progressões matemáticas geométricas dos ambientes virtuais.

No Brasil, que despencou seis posições no Índice The Economist de Democracia, o número de profissionais vítimas de violência física e verbal que atuam em favor da liberdade de expressão, por exemplo, continua elevado: 144 casos, segundo dados da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Em 2023, foram mais de 180 casos. Apesar da queda de mais de 20% em um ano, chama bastante atenção que muitas dessas agressões têm partido de autoridades públicas eleitas democraticamente pelo povo para representações em instituições públicas federais, estaduais ou mesmo municipais.

Para tentar encontrar respostas seguras e estratégicas sobre como minimizar esses riscos às instituições e garantir a segurança social no longo prazo, o Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV) aceitou convite dos militares das três Forças (Exército, Marinha e Aeronáutica) para um treinamento intensivo de uma semana no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), no Rio de Janeiro, com mais de 30 outros profissionais e instituições de todo o Brasil. Entre as inúmeras aulas táticas e estratégicas, mesmas usadas por civis correspondentes de guerra, nas operações de paz da ONU e por forças policiais especiais para o combate às milícias e narcotraficantes estão importantes lições e valores ensinados pelas instituições militares que merecem reforço e atenção: práticas terroristas e de maximização do caos e do medo – as mesmas que encerraram precocemente a vida do Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos e diplomata brasileiro Sergio Vieira de Melo (1948-2003), assassinado há 22 anos, em Bagdá, no Iraque – são graves riscos às democracias e instituições e precisam ser combatidos implacavelmente. A adoção de inteligentes e perspicazes táticas de negociação e diálogo também devem ser usadas assertivamente para a superação das tensões e pressões nos complexos jogos de poder.

No treinamento de sobrevivência, que contou com simulações reais e controladas em câmaras de gás e em territórios minados e de selva, tomados, inclusive, por fogo, explosões, tiros e fumaça, também ficou evidente a importância de se fazer o reconhecimento antecipado e planejado do território crítico, com as respectivas análises com lupa e dados das condições ambientais e uso compulsório de básicas ferramentas protetivas – como capacetes, torniquetes e coletes à prova de bala. Para sobreviver às tensas áreas, mostrou-se eficaz a agilidade de raciocínio e a movimentação atenta, discreta e cautelosa entre concretos e em blindados. Ainda para a lista de boas práticas de sobrevida, foi altamente perceptível a relevância e valia de informações verdadeiras e detalhadas e o acesso seguro e confiável a dados públicos e privados, com transparência e clareza a todo o grupo de envolvidos nas missões e operações.

Nos cursos de primeiros socorros, a atenção empática ao próximo e os cuidados aos grupos de pessoas, independentemente de gênero, raça e crenças, também se mostraram ações muito acertadas. A disciplina e a checagem diária e antecipada de processos e procedimentos também agregaram elevado valor e responsabilidade às estratégias programadas para as missões e a consequente superação de ambientes hostis. E nos procedimentos de embarque e decolagem em helicópteros não restaram dúvidas sobre a importância do trabalho coordenado e com propósito entre civis e militares para a segurança dos voos e confiabilidade das operações.

Foi a capacidade de adaptação, entretanto, muito treinada e incentivada na ocasião, que mais se destacou como principal fonte e força para a sobrevivência e superação às pressões. Quem conhece a incrível história do Tenente Danilo Marques Moura, piloto de P-47 Thunderbolt da Força Aérea Brasileira que sobreviveu em território inimigo italiano após ter sua aeronave abatida, em plena II Guerra Mundial, sabe como resiliência, coragem e criatividade, mesmo na condição de ferido, foi fundamental para que esse militar conseguisse despistar, com “sangue frio”, os inimigos e chegar com vida em área segura e sob controle das forças brasileiras da época, que envolveu mais de 25 mil homens. Que o exemplo de tantos militares, em especial do herói Danilo, sirvam como inspiração para a construção de nossas jornadas institucionais, pois precisamos com urgência muito mais de aliados do que inimigos para a superação das nossas mais difíceis e desafiadoras missões democráticas.

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Quando o município vai à Brasília: o protagonismo local nas relações governamentais e no diálogo com o Congresso

Henrique Cruz Mota é consultor em contratações públicas, governança e processo legislativo municipal 

Nas últimas décadas, a dinâmica dos municípios brasileiros no contexto federativo passou por intensas mudanças, que transcendem sua função tradicional de executor de políticas públicas locais, uma vez que, à medida que a descentralização administrativa impôs novas responsabilidades às gestões municipais, também surgiu uma nova temática: a atuação proativa dos entes locais perante o Congresso Nacional, com o intuito de influenciar normativas, garantir repasses e assegurar inserção em políticas públicas federais.

Embora sutil, esse novo panorama tem deixado suas marcas institucionais, com implicações relevantes para a governança pública e a dinâmica intergovernamental no Brasil, sobretudo em momentos de polarização política e conflito entre planos políticos e políticas de governo de fato.

Se analisarmos a história, a relação entre municípios e União era quase sempre mediada pelos estados. No entanto, com a sobrecarga de atribuições transferidas pela Constituição, sem a correspondente redistribuição de receitas, os municípios se viram forçados a encontrar canais próprios de influência.

A presença de prefeitos, presidentes de câmaras e técnicos municipais em Brasília, atuando diretamente junto a parlamentares, ministérios, secretarias e comissões temáticas, evidencia esse novo tempo nas relações governamentais. A exemplo disso, a interlocução direta, mas assistida, com o Congresso Nacional tornou-se um instrumento estratégico para os municípios, notadamente no contexto da tramitação de projetos que impactam diretamente a execução de políticas públicas locais – afinal, as pessoas vivem nas cidades.

Propostas legislativas relacionadas aos pisos de categorias, ao novo regime fiscal, saneamento básico, nova lei de licitações ou às regras do Fundeb, por exemplo, exigem atuação qualificada por parte dos entes locais. Por certo, trata-se de uma atuação que vai além da mera busca por recursos, pois envolve argumentação técnica, mobilização de dados da realidade local e alinhamento com as demandas da sociedade, que cobra diuturnamente daqueles que vão em busca de incrementos orçamentários na capital nacional.

Outro fator que impulsionou esse movimento, cabe pontuar, foi o fortalecimento da pauta municipalista por meio de entidades representativas, como a Confederação Nacional de Municípios (CNM) e as federações estaduais e as associações de municípios. Isso porque essas organizações passaram a atuar como porta-vozes das prefeituras, ao mesmo tempo que funcionam como centros de produção e disseminação de conhecimento, oferecendo subsídios para que os gestores locais se posicionem de forma mais assertiva e conjunta no debate legislativo nacional, pois, repita-se, a vida acontece nas cidades.

Outra frente que ganha força é a busca por flexibilizações normativas. O arcabouço normativo é muito complexo e a grande maioria dos municípios enfrentam dificuldades para cumprir exigências legais pensadas a partir da realidade idealizada a partir de Brasília e da incomparável estrutura administrativa lá existente.

Normas de prestação de contas complexas, sistemas independentes, regulamentos extensos, interpretações subjetivas e canais de contato burocráticos por vezes não consideram as especificidades de pequenos municípios com estrutura técnica limitada. A articulação direta com deputados e senadores, nesse cenário, permite que os gestores locais apresentem suas realidades e pleiteiem ajustes normativos que tornem a legislação mais equitativa e exequível.

Além disso, os municípios têm buscado garantir seu espaço de fala e inclusão em programas federais cuja adesão, por critérios técnicos ou políticos, tende a privilegiar regiões mais desenvolvidas. A interlocução direta com o Legislativo tem se mostrado um caminho possível para corrigir distorções e ampliar o alcance de políticas públicas nacionais, garantindo que ações voltadas à saúde, educação, infraestrutura e assistência social contemplem também os territórios mais vulneráveis, justamente para que se desenvolvam, por óbvio.

No entanto, essa projeção crescente dos municípios também impõe desafios. O primeiro deles é o risco de desvirtuamento da interlocução institucional, com a substituição do diálogo técnico pela política clientelista.

Assim, é necessário estabelecer mecanismos de controle e transparência que garantam que a atuação municipal junto ao Congresso seja pautada por critérios republicanos e pelo interesse público. Além disso, nem todos os municípios dispõem de estrutura e pessoal qualificado para atuar estrategicamente em Brasília, o que pode aprofundar desigualdades regionais e concentrar benefícios em entes com maior capacidade de articulação. E é justamente neste contexto que emerge a crescente necessidade de profissionalização da representação municipal e o fortalecimento das estruturas técnicas nas administrações locais, com vistas a consolidar essa nova postura federativa.

Iniciativas como a capacitação de servidores e implementação de processos inovadores em relações governamentais, criação de núcleos de articulação interinstitucional e o uso de dados e evidências para subsidiar pleitos legislativos são caminhos promissores para qualificar a atuação dos municípios no cenário nacional.

Mas não é só. É, ainda, importante reconhecer que a ampliação do protagonismo municipal no debate legislativo federal não se trata de um movimento circunstancial, mas configura, em verdade, uma tendência estrutural que tende a se aprofundar nos próximos anos. A complexidade crescente da agenda pública e as limitações fiscais dos entes federativos exigem um novo modelo de cooperação, mais horizontal e responsivo às demandas e realidades locais.

Municípios não podem mais ser meros executores de políticas alheias, devem ser agentes ativos na formulação das regras e estratégias que impactam suas comunidades.

A atuação direta dos municípios junto ao Congresso Nacional, quando bem conduzida, fortalece a democracia, aprimora a alocação de recursos e contribui para políticas públicas mais ajustadas às realidades territoriais tão vastas e distintas do nosso país continental. É preciso, portanto, compreender e incentivar esse protagonismo emergente, investindo em qualificação técnica, institucionalidade e mecanismos de governança que assegurem a efetividade e a legitimidade dessa atuação.

Artigo

Big Techs: não é se, mas como regulamentar

Lucas Maia atua em campanhas, gestão de mandatos, articulação política e estratégia legislativa 

Um dos temas mais espinhosos para os profissionais de relações governamentais é também central no debate político atual: o processo de regulamentação das Big Techs. Isso se deve não só pela sua complexidade e relevância como também pela envergadura das partes envolvidas. De um lado, o poder público; de outro, as grandes corporações, que representam uma força econômica colossal, somando mais de dez trilhões de dólares em valor de mercado, número amplamente superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países da América Latina somados (Feldmann, 2024). Esses números continentais refletem sua importância geopolítica e a forma como os governos encaram essas grandes companhias.

Um exemplo disso ocorreu em 2019, na Dinamarca. O país recebeu as atenções do mundo ao criar oficialmente o cargo de embaixador de tecnologia para tratar de seus interesses diretamente com as gigantes do setor. Pela primeira vez elas receberam o status de Estado. Cerca de seis anos depois, não me recordo de outro país que tenha adotado medida tão simbólica, embora não seja mais raro que países enviem emissários para negociar temas importantes diretamente com os grandes players. São esses profissionais que estão incumbidos de abordar assuntos polêmicos com as corporações, como sua regulamentação. No caso citado, a Dinamarca não obteve sucesso, talvez por ter tentado atuar de forma isolada. Em bloco, a Europa tem avançado.

A União Europeia (UE) vem adotando estratégias regulatórias que tiveram como ponto de partida o Digital Services Act (DSA), Lei dos Serviços Digitais, que busca proteger os direitos fundamentais, garantir a privacidade de dados e promover a soberania digital no continente. A nova legislação buscou proteger de forma geral os países que fazem parte do grupo, mas ainda apresenta uma série de desafios de implementação (Turillazzi et al, 2023). No mundo todo há iniciativas como essa. Na Ásia, a Índia implementou uma série de normas que exigem que as plataformas digitais nomeiem representantes locais e respondam com urgência em caso de pedidos do governo (Stockmann, 2023). Nos EUA, o assunto tem ganhado força no âmbito jurídico com gigantes como Google, Meta, Amazon e Apple sendo processadas por práticas antitruste (Srinivasan, 2019).

No Brasil, o primeiro passo para a regulamentação se deu em 2014, com a aprovação do Marco Civil da Internet (Lei nº 12965/2014), que estabeleceu princípios e garantias para plataformas e usuários. Em 2025, ou seja, onze anos após a aprovação, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou recursos sobre o Artigo 19, que trata da responsabilização das plataformas pelos conteúdos publicados pelos usuários. O STF decidiu que elas devem ser responsabilizadas em casos graves, como ameaças ao Estado Democrático de Direito, terrorismo, instigação ao suicídio, racismo, propagação de ódio contra as mulheres, crimes sexuais e tráfico de pessoas.

Em 2018, foi aprovada a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei nº 13709/2018, que tem como objetivo “proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade” das pessoas na rede. Estão em tramitação ainda outros projetos de lei que impactam o uso das plataformas digitais entre os usuários brasileiros. O PL das Fake News (PL nº 2630/2020)[2], que regula a disseminação de notícias falsas, é um deles. O texto foi aprovado pelo Senado Federal em 30/06/2020 e, até o momento em que escrevo este artigo, não havia sido votado pela Câmara dos Deputados. São cinco anos de discussão, um debate longo, mas necessário, dada a relevância do tema. Outro exemplo é o projeto de lei que busca regulamentar o uso das Inteligências Artificiais (PL nº 2338/2023),[3] fundamental como ponto de partida para um assunto ainda recente e que exige amplo debate.

Portanto, a questão não é mais se haverá regulamentação, mas como ela vem sendo construída. É justamente sobre esse como que os profissionais de Relações Governamentais devem se debruçar, pois o processo regulatório já está em curso. Para isso, é fundamental encarar realidades sensíveis ao tema. As empresas de tecnologia não se restringem mais a uma atuação puramente digital, mas se configuram como uma força geopolítica que exerce influência política, econômica e social em escala global.

Nesse contexto, é possível observar uma vasta literatura que pode ajudar a explicar a real preocupação dos governos e que não deve ser ignorada nas mesas de negociação (Zuboff, 2021; O’Neil, 2020; Morozov, 2018; Eubanks, 2018; Faustino & Lippold, 2023, Khanal et al, 2025; Coleman, 2018; Fornasier & Beck; 2020; Empoli, 2020; Moraes, 2022; Terranova, 2014). Há uma clara tensão entre as duas partes sobre os possíveis impactos no sistema político. Como organismo histórico, o Estado tende a buscar mecanismos de autoproteção. Afinal, suas instituições foram criadas para preservar o equilíbrio entre poderes e garantir os direitos dos cidadãos. Talvez por isso, as iniciativas de regulamentação avancem sobre temas que a literatura mais crítica à atuação das Big Techs costuma apontar.

Por outro lado, não se pode demonizar e nem reduzir a atuação das empresas de tecnologia a conteúdos publicados por usuários de redes sociais. Os algoritmos, a ciência de dados e o processamento massivo de informações são um universo complexo e gigantesco que trouxe inegáveis benefícios à sociedade, não só no dia a dia da população, mas no desenvolvimento de soluções tecnológicas em larga escala, nas mais diversas áreas, se tornando absolutamente fundamentais para a sociedade moderna (Berlinski, 2000; Anderson, 2008; Davenport & Patil, 2012). E, a cada dia, surgem novidades que impactam positivamente a vida de todos nós. Portanto, é legítima a preocupação das companhias quanto aos limites impostos por decisões legislativas e judiciais que possam restringir sua atuação.

É certo que nas discussões sobre a política antitruste e as Big Techs nos tribunais dos EUA há risco de discricionariedade excessiva com a escolha de alvos pré-definidos, grandes encargos de compliance que podem inviabilizar investimentos em inovação e barreiras à entrada de novos atores no setor (Cass, 2012). É possível também apontar lacunas regulatórias provocadas pela impossibilidade dos governos de acompanhar o alcance das empresas de tecnologia em áreas estratégicas que se desenvolvem numa velocidade muito maior que a discussão do processo regulatório, como pode ser visto no caso da DSA, adotada pela UE (Sharon, Gellert, 2024).

Desta forma, cabe aos profissionais de relações governamentais assumirem o papel de articuladores nesta extensa e complexa arena, estudar e entender com maior profundidade os dois lados da mesa, promover um diálogo franco e aberto entre as partes e estabelecer pontos possíveis de negociação no processo regulatório garantindo a preservação dos direitos dos usuários, incentivando a inovação tecnológica e assegurando um ambiente democrático para todos.

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O desafio de esclarecer a atividade de lobista, profissional de relações institucionais e governamentais (RIG)

Juliana Marra, diretora de Comunicação, Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da Unilever e vice-presidente do IRELGOV

Fabi Marra, atual diretora de Conteúdos do IRELGOV e head de Relações Governamentais do grupo Dasa

Em um cenário marcado pela polarização e pela disseminação de desinformação, o papel do profissional de relações governamentais (RIG) torna-se ainda mais relevante — e, paradoxalmente, mais vulnerável.

A Constituição Federal (Art. 5º) garante o direito à livre manifestação e à petição aos poderes públicos e fundamenta juridicamente a atuação de profissionais que representam interesses junto ao Estado.

A manipulação maliciosa das palavras lobby e lobista como expressão de práticas ilícitas de corrupção distorce o entendimento público sobre a atividade, compromete a defesa de interesses, o jogo democrático e o desenvolvimento institucional do país.

O lobby, quando exercido com transparência, ética e responsabilidade, é uma ferramenta legítima de participação social. Trata-se de uma atividade exercida em todo o mundo, pautada por códigos de conduta e voltada à construção de políticas públicas mais eficazes e representativas.

O profissional de RIG atua como ponte entre os diversos setores da sociedade — empresas, associações, ONGs, movimentos sociais — e os tomadores de decisão, oferecendo subsídios técnicos, dados qualificados e perspectivas plurais que enriquecem o processo legislativo e regulatório.

Para ilustrar, detalho cinco exemplos recentes em que a atuação de profissionais de RIG, lobistas comprometidos com a ética, transparência e lisura da atividade atuaram na defesa de interesses da sociedade e de vários setores da economia:

  1. Atuação na Reforma Tributária

Contexto: a tramitação da Reforma Tributária no Congresso Nacional mobilizou diversos setores econômicos preocupados com os impactos das mudanças fiscais que certamente onerariam produtos e serviços.

Atividades exercidas:

  • Realizaram análises técnicas dos projetos de lei e suas implicações para os setores representados;
  • Promoveram reuniões com parlamentares e técnicos legislativos para apresentar estudos e propostas alternativas;
  • Participaram de audiências públicas e contribuíram com sugestões para aprimorar o texto legal;
  • Utilizaram estratégias de advocacy para sensibilizar a sociedade e os tomadores de decisão sobre os riscos e oportunidades da reforma.
  1. Defesa de interesses na regulação de Inteligência Artificial (IA)

Contexto: o avanço da IA levou à discussão de um marco legal para regular seu uso no Brasil.

Atividades exercidas:

  • Representaram empresas de tecnologia em consultas públicas e grupos de trabalho organizados pelo Congresso e pelo Executivo;
  • Elaboraram documentos técnicos com propostas de regulação que equilibrassem inovação e proteção de dados;
  • Fizeram articulações com associações setoriais para alinhar posicionamentos e fortalecer a defesa coletiva;
  • Monitoraram movimentações legislativas e anteciparam cenários regulatórios para orientar decisões estratégicas das empresas.
  1. Lobby pela prorrogação de incentivos fiscais para a indústria farmacêutica

Contexto: o fim de benefícios fiscais para medicamentos ameaçava a competitividade de empresas do setor e poderia onerar os pacientes/consumidores.

Atuação dos profissionais de RelGov:

  • Realizaram mapeamento de stakeholders no Congresso e no Executivo;
  • Organizaram missões institucionais com CEOs e diretores para reuniões com autoridades;
  • Produziram relatórios de impacto econômico e social da medida, entregues aos parlamentares.
  1. Atuação na regulamentação da telemedicina

Contexto: após a pandemia, a regulamentação da telemedicina tornou-se prioridade para o setor de saúde.

Atividades exercidas:

  • Intermediaram o diálogo entre conselhos profissionais, Ministério da Saúde e empresas de saúde digital;
  • Participaram da elaboração de propostas normativas junto à ANS e ao CFM;
  • Promoveram eventos técnicos para debater boas práticas e desafios da telemedicina;
  • Esclareceram os tomadores de decisão de que essa ferramenta poderia aumentar o acesso dos brasileiros à saúde.
  1. Defesa de causas socioambientais no Congresso

Contexto: organizações da sociedade civil buscaram influenciar projetos de lei sobre mudanças climáticas e proteção ambiental.

Atividades exercidas:

  • Articularam coalizões de ONGs e empresas comprometidas com ESG;
  • Desenvolveram campanhas de advocacy digital para pressionar parlamentares;
  • Participaram de comissões temáticas e audiências públicas com argumentos técnicos e jurídicos;
  • Estabeleceram relacionamentos institucionais com frentes parlamentares ambientais.

Esses exemplos mostram como a atuação estratégica, transparente, ética e técnica dos profissionais de lobby, das relações institucionais e governamentais é essencial para influenciar políticas públicas e proteger os interesses legítimos de empresas, organizações e causas sociais, sem praticar nenhum ato ilícito ou imoral.

Em todos esses casos, o lobby é exercido de forma institucional, com reuniões registradas em agendas públicas, documentos técnicos protocolados e interlocuções identificadas por crachás funcionais.

Ignorar a distinção entre lobby e corrupção é injusto e perigoso. A corrupção opera na obscuridade, movida por interesses escusos, ausência de prestação de contas e violação de normas legais.

Já o lobby profissional é exercido à luz do dia, com rastreabilidade, responsabilidade e compromisso com o interesse público. Ao confundir os dois, a sociedade enfraquece sua capacidade de influenciar legitimamente as decisões públicas e afasta bons profissionais da arena política, justamente quando mais precisamos de vozes qualificadas e responsáveis.

Nos casos de investigação de corrupção, a sugestão jurídica mais adequada seria substituir o termo “lobista” por “suspeito (a), investigado (a) ou a profissão real da pessoa envolvida na situação.  

Nesse sentido, entidades como o Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV) e a Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (ABRIG) desempenham papel fundamental no fortalecimento da democracia e na profissionalização da atividade de relações governamentais no Brasil.  

Valorizar o profissional de relações governamentais é reconhecer que a construção de políticas públicas exige diálogo técnico, plural e contínuo. Não se trata de privilégio, mas de direito — e dever — de participação.

Entidades da sociedade civil e cidadãos têm o direito de serem ouvidos, e isso se faz por meio de profissionais preparados, éticos e comprometidos com a transparência.

Ao reforçar a distinção entre lobby e corrupção, e ao reconhecer o papel das instituições e da imprensa na defesa da verdade, contribuímos para uma cultura política mais madura, onde o interesse público prevalece sobre os estigmas e os atalhos.

Cabe às instituições, à imprensa, à academia e aos próprios profissionais de RIG o papel de esclarecer, educar e defender a legitimidade da atividade.

Que o malfeito e os autores de condutas criminosas sejam apurados, investigados, processados, julgados e condenados, se for o caso.

Que a corrupção seja banida de toda e qualquer atuação profissional.

Que a normatização do lobby ganhe fôlego para fortalecer o exercício profissional honrado que sustenta o diálogo democrático e tem atraído cada vez mais profissionais das carreiras de direito, ciência política, ciências sociais, comunicação e tantas outras.

Só assim poderemos construir um ambiente político mais aberto, responsável e democrático.

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COP30, integridade e ética na atuação em relações governamentais

Carlos R. L. Petiz Junior é senior fellow do Conselho Consultivo do IRELGOV e consultor em GRC e relações governamentais

A COP30 é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes), um encontro global anual onde líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil discutem ações para combater as mudanças do clima.

A presidência da COP30 propôs uma agenda ousada para o evento, organizada em seis eixos temáticos que abrangem mitigação, adaptação e meios de implementação: (i) Transição nos setores de energia, indústria e transporte; (ii) Gestão sustentável de florestas, oceanos e biodiversidade; (iii) Transformação da agricultura e sistemas alimentares; (iv) Construção de resiliência em cidades, infraestrutura e água; (v) Promoção do desenvolvimento humano e social; e, finalmente, o eixo transversal, (vi) Catalisadores e aceleradores, incluindo Financiamento, tecnologia e capacitação.

Trata-se de uma ocasião na qual haverá constante interação entre tomadores de decisão governamentais e privados, considerando os objetivos do encontro e a natureza das decisões ali tomadas. E, pelas mesmas razões, é um palco prolífico para a atuação de profissionais de relações governamentais.

Segundo o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, embaixador André Corrêa do Lago, o Brasil tem iniciativas exemplares, programas e experiências. Por isso, pode se beneficiar de duas maneiras: do que já está fazendo, que é único, e do que pode fazer, tendo em vista esse protagonismo reconhecido internacionalmente. “Isso trará enormes benefícios para a economia brasileira, posicionando o Brasil como líder da nova economia, pois todas as soluções climáticas exigem soluções econômicas”, avaliou.

Contudo, há crescentes preocupações sobre situações de conflito de interesses e influências indevidas nas negociações climáticas por parte de setores econômicos que buscam bloquear a implementação de medidas necessárias para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

Recentemente, mais de 260 organizações e especialistas de diversos países assinaram uma carta cobrando mecanismos eficazes de transparência e medidas contra a influência indevida nas negociações climáticas. O documento foi enviado ao governo brasileiro, que preside a COP30, e ao secretariado da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).

Diante desse cenário, a COP30 estará sob forte escrutínio global, exigindo alto padrão de conduta dos representantes públicos e privados. Os profissionais de relgov devem estar cientes sobre a importância de assumir compromissos de transparência e integridade que respeitem os objetivos e natureza da COP30, proporcionando um ambiente de debates ético e construtivo.

Além disso, é recomendável o conhecimento dos normativos e as orientações já existentes sobre o tema no âmbito dos organismos envolvidos na COP30. A UNFCCC dispõe de um Código de Ética para oficiais eleitos e nomeados, o qual dispõe que esses “devem evitar qualquer conflito de interesses, bem como situações que possam razoavelmente ser percebidas como geradoras de conflito de interesses, a fim de garantir a integridade, a imparcialidade e a transparência das conferências sobre mudanças climáticas”.

Como exemplos de atitudes desencorajadas são citadas expressamente conceder tratamento preferencial injustificado a qualquer grupo, organização ou pessoa e utilizar o cargo de funcionário eleito ou nomeado como meio de obter ganhos pessoais ou vantagens pecuniárias privadas ou outras remunerações, entre outros.

Também vale conferir o Código de Conduta, aplicável a todos os eventos da UNFCCC. O documento traz orientações sobre como os participantes devem agir com integridade e respeito para com todos os demais. Há um trecho específico sobre o assédio, entendido como “qualquer conduta imprópria ou indesejada que possa ser razoavelmente esperada ou percebida como causadora de ofensa ou humilhação a outra pessoa” devido a gênero, identidade e expressão de gênero, orientação sexual, capacidade física, aparência física, etnia, raça, nacionalidade, filiação política, idade, religião ou qualquer outro motivo”.

É importante lembrar que, segundo o código, as partes e as organizações são responsáveis pela conduta de seus representantes, contratados e outros funcionários de apoio. Nesse ponto, para as empresas participantes, torna-se fundamental um bom due dilligence sobre os fornecedores envolvidos, uma vez que qualquer comportamento que não esteja de acordo com o Código de Conduta pode ter um impacto sobre a participação neste e em eventos futuros da UNFCCC. O Secretariado Executivo da UNFCCC tem autoridade total para tomar medidas em caso de descumprimento do Código de Conduta, inclusive suspender ou encerrar o acesso dos envolvidos ao evento.

Ao se observar o perfil das empresas que já declararam sua participação na COP30, nota-se que boa parte delas, ao longo dos últimos anos, tem desenvolvido e incentivado agendas positivas sobre a questão ambiental, incluindo compromissos assumidos na temática ESG. Contudo, pensando em gestão de riscos, é recomendável que as empresas e profissionais de relgov participantes mantenham um registro das interações realizadas com agentes governamentais, que incluam ao menos o assunto tratado, a forma de interação (reunião, audiência, etc), os participantes e suas qualificações e se houve o oferecimento de brindes e hospitalidades.

Essa medida, ainda que simples, tem como objetivo resguardar o patrimônio reputacional dos envolvidos, uma vez que é esperado uma forte pressão da sociedade civil e de organismos internacionais sobre os resultados da COP30 e, não menos importante, sobre como eles foram ou não atingidos. Um registro mínimo dessas interações pode ser valioso caso a organização ou indivíduo seja acusado de participar de conversas não condizentes com políticas ou compromissos assumidos anteriormente, como já visto em edições passadas do evento.

A agenda da COP30 traz desafios cujas soluções dependem de uma azeitada cooperação entre os setores público e privado, e a atuação dos profissionais de relações governamentais terá papel preponderante para que resultados concretos sejam atingidos. Esta será uma oportunidade única em nosso país, mas sob olhares do mundo inteiro, para demonstrar que a construção de diálogos baseados na ética e na integridade é um pilar da atuação democrática desses agentes.

Artigo

Advocacy tributário: dar voz à sociedade em um sistema que cobra muito e devolve pouco

José Carlos Buffon Junior é empresário

O sistema tributário brasileiro é, há décadas, um dos principais entraves à competitividade e ao desenvolvimento do país. Não é exagero: nossa carga tributária gira em torno de 33% do PIB, equivalente à de nações desenvolvidas, mas sem que tenhamos, em contrapartida, serviços públicos de qualidade proporcional. O problema, contudo, vai além da alta carga. A complexidade para cumprir as obrigações tributárias é um capítulo à parte — segundo o Banco Mundial, uma empresa brasileira gasta em média mais de 1,5 mil horas por ano apenas para lidar com tributos, contra menos de 200 horas na média da OCDE.

Essa equação perversa — muito peso e muita burocracia — não surgiu do nada. Ela é o resultado de sucessivas decisões tomadas ao longo do tempo no processo legislativo, muitas vezes sem debate público qualificado, em meio a negociações políticas de curto prazo. O que deveria ser um instrumento de arrecadação justo, transparente e eficiente acabou se transformando em um labirinto normativo que gera insegurança jurídica e sufoca a produtividade.

É nesse cenário que surge a importância do advocacy no processo legislativo tributário. Mais do que um jargão importado, advocacy significa dar voz à sociedade produtiva na formulação de políticas fiscais. Trata-se da prática de influenciar, de forma organizada, legítima e transparente, a criação ou alteração de normas tributárias, apoiada em dados, estudos técnicos e diálogo democrático com parlamentares e órgãos do Executivo.

No Brasil, ainda há certo preconceito em relação a esse tipo de atuação. Muitos confundem advocacy com defesa de privilégios corporativos. Essa visão, no entanto, é míope. Quando uma entidade empresarial se mobiliza contra o aumento de um tributo que encarece exportações, ou quando apresenta propostas de simplificação no cumprimento de obrigações acessórias, não está pedindo favores — está exercendo cidadania.

Tributo não é apenas uma questão de arrecadação. Ele é um dos fatores que mais influenciam a decisão de investir, produzir e empregar. Uma política tributária equivocada pode inviabilizar setores inteiros, enquanto uma calibragem correta pode gerar dinamismo econômico, mais arrecadação e, paradoxalmente, mais recursos para políticas sociais.

O processo legislativo oferece múltiplos momentos para a atuação da sociedade civil. Na fase de proposição, o diálogo com parlamentares pode evitar que projetos de lei mal estruturados avancem. Nas comissões temáticas, estudos técnicos são fundamentais para embasar votos de relatores e líderes partidários. No plenário, a mobilização social e a pressão da opinião pública podem alterar o rumo de uma votação. Mesmo após a aprovação de uma lei, o processo de regulamentação — por meio de decretos, portarias e instruções normativas — abre espaço para a influência legítima dos setores econômicos.

Não faltam exemplos recentes. A discussão da reforma tributária que resultou na Emenda Constitucional 132/2023 foi marcada por intenso advocacy de setores empresariais, cooperativas, estados e municípios. Graças a essa participação, ajustes importantes foram feitos no texto original, garantindo, por exemplo, regimes diferenciados para determinados setores e a transição mais longa para outros. Sem essa mobilização, o risco de se aprovar um modelo desconectado da realidade produtiva seria enorme.

A verdade é que o Estado brasileiro se sofisticou como arrecadador, mas o mesmo não aconteceu com o contribuinte como ator político. Temos uma máquina eficiente para cobrar tributos, mas uma sociedade ainda pouco organizada para discutir como esses tributos são concebidos.

O resultado é previsível: quem se beneficia é sempre a lógica arrecadatória, raramente o equilíbrio entre arrecadação e desenvolvimento. Por isso, é urgente que entidades empresariais, associações de classe e até organizações da sociedade civil compreendam o advocacy tributário como uma forma de democracia fiscal. Defender simplificação, previsibilidade e justiça no sistema não é um capricho setorial, mas uma agenda nacional.

O Brasil vive agora um momento crucial. A reforma tributária aprovada em 2023 ainda depende de extensa regulamentação, que definirá na prática como funcionará o novo sistema de Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Milhares de detalhes serão decididos: regras de crédito, critérios de compensação, prazos de recolhimento, exceções setoriais.

Cada escolha terá impacto direto sobre a competitividade das empresas, o custo de vida da população e a capacidade de o Estado financiar suas políticas. Se a sociedade civil não se mobilizar de forma organizada, corremos o risco de repetir erros históricos, delegando ao Estado e a grupos restritos o poder de moldar a estrutura tributária. Advocacy, nesse contexto, não é apenas legítimo: é necessário.

Em um país que cobra muito, mal e entrega pouco, a ausência de participação da sociedade no debate tributário é um luxo que não podemos mais sustentar. Advocacy tributário não deve ser visto como privilégio de grandes corporações, mas como um direito democrático de todos que produzem, investem, consomem e trabalham no Brasil.

Dar voz à sociedade no processo legislativo é o primeiro passo para construirmos um sistema tributário menos punitivo, mais transparente e que, de fato, estimule o desenvolvimento. Afinal, se o peso dos tributos já é inevitável, ao menos que seja distribuído de maneira justa e administrado de forma simples.

Fala, associad@!

De que forma as tarifas impostas pelos Estados Unidos afetarão o Brasil?

“Toda a sociedade brasileira já está sofrendo com o tarifaço, indesejáveis barreiras ao comércio. São mais que prejuízos e danos financeiros, sobretudo no sul, sudeste e nordeste do país: menos arrecadação, menor receita, baixa produtividade, cortes nos empregos, efeitos nos preços e no consumo. Nesse novo “xadrez” das relações internacionais, que têm exigido mais realocações de mercados e novas gestões de riscos, as instituições do Brasil - tanto públicas quanto privadas - serão mais cobradas por mais pragmatismo, inteligência, intensa cautela, forte negociação, adaptabilidade e, principalmente, estratégia e influência. Agir muito mais com o cérebro que com o fígado nesse momento será essencial.”
Gustavo Bernard
Gerente de Relações Governamentais e de Comunicação na Bernard Mentoring & Consulting
"Penso que as tarifas impostas ao Brasil pelos EUA, foram majoritariamente baseadas em aspectos políticos, e não técnicos ou comerciais. Um bom exemplo que retrata esse cenário, aconteceu quando na recém missão dos empresários brasileiros aos EUA, os representantes do governo americano receberam a queixa brasileira sobre a taxação de um determinado tipo de sal que é utilizado naquele país para o derretimento da neve, sal esse, originário do Rio Grande do Norte. Cerca de 75% do volume importado pelos EUA, vem do Brasil, e a sobretaxa acarretaria um grande impacto na operação. Ao tomar conhecimento da origem, do volume, e o impacto da medida, imediatamente a decisão foi revista, e a sobretaxa retirada."
Mauricio Niel
Consultor Independente
"As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos podem representar uma oportunidade para o Brasil fortalecer sua inserção em cadeias globais de valor, diversificar mercados e atrair investimentos produtivos voltados à substituição de importações. Ao mesmo tempo, o cenário reforça a importância de uma política comercial estratégica e de acordos que valorizem a sustentabilidade e a segurança das cadeias regionais, ampliando o protagonismo do país no contexto latino-americano e global."
Lui Vasconcelos Rocha Fortes
Consultor Jurídico e de Relações Governamentais

Novos Associados IRELGOV

O IRELGOV dá as boas-vindas aos seus novos associados, que chegam para fortalecer essa grande rede de conhecimento que estamos construindo diariamente!

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Expediente #03 – Outubro – 2025

DIÁLOGOS IRELGOV é uma publicação do Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV)

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Jornalista Responsável
Luiza Paula Sampaio (MTb 17.043)

Coordenação Editorial
Thomaz D’Addio
Daniela Queiroz

Colaboraram nesta edição
Fernando de Moraes
Iolanda Vieira

Suporte
Márcia Rosa e Débora Santos

Conselho Diretor:
Patricia Nepomuceno – Presidente
Juliana Marra – Vice-Presidente
Lara Gurgel – Diretora Executiva
Felipe Carvalho – Conselho de Planejamento Estratégico
Pablo Cesário – Conselho de Conteúdos
Mariana Guimarães – Conselho Jurídico
Thomaz D’addio – Conselho de Comunicação
Júlia Vianna – Conselho de Parcerias
Verônica Hoe Lopes – Conselho de Responsabilidade Social
Carlos Lima – Conselho de Assuntos Estratégicos
Ariela Zanetta – Conselho de Carreiras
Helga Franco – Conselho Fiscal
Paulo Homem – Conselho Fiscal
Roberta Rios – Conselho Fiscal
Marcelo Almeida – Conselho Consultivo
Leonardo Barreto – Conselho Consultivo
Felipe Daud – Conselho Consultivo
Carlos Petiz – Conselho Consultivo
Mariana Chaimovich – Conselho Consultivo
Luciano Gollner – Diretor regional do IRELGOV no Espírito Santo
Gustavo Bernard – Diretor regional do IRELGOV em Minas Gerais
Gilvan Bueno – Diretor Regional do IRELGOV no Estado do Rio de Janeiro
Augusto Cesar Anunciação – Diretor Regional do IRELGOV no Pará

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