Editorial

Nesta nova edição da revista “Diálogos” exploramos as nuances e desafios que permeiam o campo da comunicação e da informação em um mundo cada vez mais interconectado. Abordamos três temas cruciais que, juntos, oferecem uma visão abrangente sobre como as relações públicas, as relações governamentais e a desinformação moldam a sociedade contemporânea.

Em nossa primeira matéria discutimos a importância de entender as diferenças e semelhanças entre relações públicas, public affairs e relgov. Cada um desempenha um papel vital nas estratégias empresariais e conhecer suas especificidades é fundamental para garantir a fluidez do trabalho e a qualidade dos resultados.

A segunda matéria propõe uma reflexão sobre como o lobby é visto pela imprensa. Diante dos desafios que ainda existem junto à percepção pública, torna-se essencial uma comunicação clara e transparente e os profissionais de relações governamentais devem utilizar a mídia como aliada na transformação da imagem da atividade na imprensa, passo crucial para fortalecer a confiança da sociedade nas instituições.

Por fim, tratamos da questão da desinformação na sociedade atual. Se a era digital trouxe uma avalanche de informações, quantidade não garante qualidade. A infodemia, caracterizada pela superabundância de dados, pode gerar confusão e desorientação, afetando a confiança nas instituições e distorcendo políticas públicas.

Na seção de artigos, um recorde, com 11 textos que tratam desde a agenda climática à necessidade de cultivar relacionamentos em uma sociedade cada vez mais digital, passando por campanhas de advocacy e o uso de dados nas tomadas de decisões.

Boa leitura!

Por Thomaz D’Addio, Conselheiro de Comunicação do IRELGOV, e Marcela Tulli, Diretora de Comunicação do Instituto

Nesta Edição

Coluna Radar

POr dentro do Irelgov

Matérias

ARTIGOS

NOVOS ASSOCIADOS IRELGOV

Coluna Radar

IRELGOV promove Assembleia Geral Ordinária em abril

O Conselho Deliberativo do IRELGOV convoca todos os Associados e Associadas a se reunirem em Assembleia Geral Ordinária a ser realizada, apenas na modalidade virtual, no dia 25.04.2025, às 8h00, na plataforma digital Zoom (clique aqui para acessar), a fim de deliberar sobre os seguintes assuntos:

  • Apreciação e aprovação das contas e do balanço geral referentes ao exercício social de 2024 ; e
  • Alterações no Estatuto Social.
Foto: Freepik
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Nova temporada do TransformaGov Podcast no ar

Frederico Oliveira
Carlos Eduardo Passerani Reolon

O cenário das relações governamentais está evoluindo rapidamente com a transformação digital. No novo episódio do podcast TransformaGov, especialistas como Frederico Oliveira, da Sigalei, discutem como a tecnologia está revolucionando a comunicação com o poder público, otimizando processos e aumentando a transparência.

Em outro episódio, Carlos Eduardo Passerani Reolon, representante da ABES, falou sobre as expectativas e prioridades para o debate sobre Inteligência Artificial em 2025.

Descubra como novas ferramentas estão sendo usadas para monitoramento legislativo, engajamento estratégico e tomada de decisões baseadas em dados.

Ouça os novos episódios clicando aqui

Vem aí: Encontro IRELGOV 2025 em Brasília

Anote na agenda: o Encontro IRELGOV 2025 acontece no dia 06 de junho, no CICB, em Brasília. Em sua segunda edição, o evento reunirá líderes do setor privado e público para explorar estratégias que garantam uma comunicação clara e uma colaboração eficaz, com a participação de palestrantes renomados na área de relações governamentais.

Aproveite: associados possuem desconto especial na compra de ingressos.

Garanta o seu ingresso clicando aqui.

Adquira a Masterclass com Gui Athia

O IRELGOV lançou recentemente a masterclass on-line “Gestão na era da opinião”. Nesta aula, o ex-presidente do IRELGOV, Gui Athia, analisa como as organizações podem se adaptar a um cenário em que a percepção pública exerce um impacto crucial sobre seus resultados.

Este evento é especialmente voltado para executivos e profissionais seniores de relações governamentais que buscam fortalecer sua credibilidade e governança em um ambiente dinâmico e desafiador.

Importante: a masterclass é transmitida no formato on-line e pode ser assistida em qualquer horário!

*Associados ao IRELGOV possuem desconto especial.

Associados ao IRELGOV possuem desconto na pós-graduação do IBMEC

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POR DENTRO DO IRELGOV

Regulamentação do lobby: uma oportunidade para profissionalizar e valorizar a representação de interesses

Por Lara Gurgel, diretora-executiva do IRELGOV

A regulamentação do lobby no Brasil avança, e com ela cresce a necessidade de um debate qualificado sobre como estruturar essa atividade de forma transparente, ética e alinhada às melhores práticas internacionais. O Projeto de Lei nº 2914/2022, atualmente em tramitação, representa um avanço significativo ao conferir maior segurança jurídica e previsibilidade à interlocução entre setor público e privado.

Esse movimento, no entanto, não ocorre isoladamente. Organismos internacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e projetos e pesquisas conduzidas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) reforçam a necessidade de aprimorar os mecanismos de governança das interações entre empresas e governos, garantindo que essa relação ocorra dentro de padrões claros e responsáveis.

Globalmente, o projeto “Getting Influence Right: Galvanizing the Private Sector as Partners in Combatting Corruption”, da OCDE, está desenvolvendo diretrizes práticas para o engajamento responsável das empresas com governos. Essa iniciativa aborda questões essenciais, como gestão de conflitos de interesse, integridade no lobby e financiamento político, além do uso transparente de dados na formulação de políticas públicas.

Contando com o apoio do Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV) e de muitos outros atores internacionais, esse projeto destaca o papel fundamental do setor privado na promoção da ética e da transparência na interlocução com o setor público. Mais do que uma recomendação, trata-se do reconhecimento de que a governança responsável não pode ser um compromisso exclusivo do Estado, mas sim um esforço conjunto. Os profissionais de Relações Governamentais e Institucionais (RIG) têm um papel estratégico na construção de um ambiente regulatório previsível, legítimo e alinhado às melhores práticas internacionais.

No Brasil, essa discussão ganha ainda mais força com o avanço da regulamentação do lobby e com as pesquisas conduzidas pelo MDIC sobre participação social em processos regulatórios. Essas iniciativas, que também contam com o apoio do IRELGOV, apontam caminhos para tornar o diálogo entre empresas e governo mais acessível, previsível e alinhado aos princípios da transparência e integridade.

A pesquisa do MDIC reforça a importância de mecanismos que garantam um ambiente regulatório mais aberto, com consultas públicas efetivas e processos decisórios mais democráticos. Em um cenário global em que a governança pública está cada vez mais conectada às boas práticas de transparência e compliance, essas discussões são essenciais para o fortalecimento institucional do Brasil.

Desafios e oportunidades para a regulamentação do lobby no Brasil – Apesar dos avanços na tramitação do PL 2914/2022, ainda há desafios a serem superados para garantir que a regulamentação do lobby seja efetiva e aplicável. Por isso, o IRELGOV reuniu novamente seus associados para atualizar seu posicionamento institucional e rever o substitutivo enviado à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado.

Se bem conduzido, esse debate pode resultar em um marco regulatório moderno, alinhado às melhores práticas internacionais e benéfico tanto para o setor público quanto para o privado. A convergência com as diretrizes da OCDE e as demais iniciativas nacionais fortalecem esse caminho, promovendo um ambiente de governança mais transparente, previsível e acessível para todos os atores envolvidos.

Oportunidade para profissionalizar e valorizar a atividade de lobby – A regulamentação do lobby não deve ser vista como uma restrição, mas sim como um mecanismo para fortalecer e valorizar essa atividade, garantindo que ela ocorra dentro de regras claras e éticas. Esse movimento, que conta com total apoio e engajamento do IRELGOV, aponta para um Brasil mais transparente, com relações governamentais mais profissionais e uma governança pública mais aberta à participação social.

Profissionais e empresas que atuam no setor precisam se engajar nesse debate, assegurando que o Brasil adote um modelo moderno e eficiente de interlocução entre setor público e privado. Afinal, regulamentar o lobby não significa limitar a participação dos setores produtivos nas decisões governamentais, mas sim garantir que essa participação ocorra de forma estruturada, previsível e alinhada aos interesses da sociedade como um todo.

Relações públicas, public affairs e relgov: convergências e divergências

Quem atua na área sabe: as diferenças conceituais entre relações públicas, publica affairs e relgov se sobrepõem em alguns aspectos, mas cada um tem papel dentro das organizações, com detalhes específicos. Conhecê-los melhor garante fluidez ao trabalho e maior qualidade aos resultados.

Thomaz D’Addio, diretor da Ágora no Brasil, considera que são três áreas diferentes, mas que têm suas interseções. Relações públicas, por exemplo, possui um objetivo de comunicação com a sociedade de uma forma ampla, que trabalha temas ou de políticas públicas ou de marcas, de interesse corporativo. “Já public affairs e relações governamentais têm sido usados como sinônimo e não são. A primeira olha para um problema de política pública a partir de uma ótica de amplos stakeholders, pensando não só no tomador de decisão, mas olhando para o ambiente de tomada de decisão, inclusive levando em conta a opinião pública. As relações governamentais têm foco no tomador de decisão, com ações como apoio à relatoria de projetos, tramitação e até apoio na redação de decretos e Projetos de Lei. O melhor cenário é quando as três áreas estão alinhadas com o objetivo estratégico, mas entendendo que têm papéis, ferramentas e olhares para o mercado que são convergentes, mas também diferentes”.

Gisela Martinez – CEO da Antakly Public Affairs

A CEO da Antakly Public Affairs, Gisela Martinez, concorda que a confusão ocorre porque esses campos se sobrepõem em muitos aspectos, mas que cada um tem sua finalidade específica. Para ela, as relações públicas lidam com a construção da reputação e do relacionamento de uma organização com seus diversos públicos, como clientes, funcionários e a mídia, uma atividade mais voltada para comunicação e imagem institucional. “A atividade de public affairs está relacionada à interseção entre o setor privado e o ambiente regulatório, abrangendo relações governamentais, engajamento com stakeholders e gestão de políticas públicas. O objetivo é influenciar o debate público e as decisões políticas, com agendas que beneficiem a sociedade, o governo e o setor produtivo. Dentro do universo de public affairs, as relações governamentais constituem uma atividade específica de interagir com o governo para representar interesses empresariais, setoriais ou institucionais. Aqui, o foco é a interlocução direta com o poder público, seja no Legislativo, Executivo ou reguladores, para defender interesses específicos”, explica.

Raquel Rocha, diretora de public affairs da FTI Consulting

Raquel Rocha, diretora de public affairs da FTI Consulting, acredita que uma das razões para a pouca compreensão dos conceitos se deve ao fato da área de public affairs ser ainda incipiente no Brasil. “Esta vai avaliar o ganho de imagem e melhoria de reputação ao interagir com o governo ou a tratar de questões de políticas públicas. Terá um olhar mais amplo para a estratégia de comunicação da empresa e definir qual é o stakeholder que você precisa mobilizar para alcançar o objetivo proposto”.

Os três conceitos desempenham papéis essenciais na estratégia empresarial. De acordo com Gisela Martinez, enquanto as relações públicas fortalecem a reputação e credibilidade da marca, o public affairs permite que a empresa compreenda e influencie políticas que afetam seus negócios, e as relações governamentais garantem que as empresas participem da formulação de regulações que impactam seu setor. “As três frentes ajudam a obter previsibilidade no ambiente de negócios e sustentabilidade a longo prazo”.

Raquel Rocha acrescenta que o posicionamento de uma empresa afeta tanto seus consumidores quanto reguladores e legisladores. Para ela, é essencial que a gestão corporativa enxergue a comunicação estratégica não apenas como um meio, mas como um diferencial competitivo. “É necessário uma mudança de visão estratégica da gestão para conseguir usar a comunicação como alavanca para obter melhores resultados”.

Frederico Oliveira, CEO e fundador da Sigalei

Essa visão é compartilhada por Frederico Oliveira, CEO e fundador da Sigalei, que alerta sobre a necessidade de alinhar estratégias de relações públicas e public affairs para evitar mensagens contraditórias entre público e governo, o que pode gerar crises corporativas. “As questões que as empresas precisam gerenciar são consequência do conflito de interesses naturais de uma sociedade plural e complexa. É comum uma questão precisar ser gerenciada via múltiplas perspectivas, de acordo com o stakeholders que precisam ser engajados, mas de forma geral é importante harmonizar as estratégias de PR e PA para evitar uma piora da situação”.

Mariana Castro, sócia-diretora Latam da Vector Relações Governamentais


E quais os impactos de cada um desses conceitos na sociedade? Muitas vezes as consequências dessas estratégias vão além das empresas. Como explica Gisela Martinez, uma comunicação institucional bem estruturada fortalece a transparência e a confiança nas organizações, o que contribui para o diálogo com a sociedade. Além disso, o public affairs promove políticas públicas equilibradas e um ambiente regulatório mais previsível. Já as relações governamentais permitem que o setor privado participe do processo decisório e ajude a formular políticas eficazes e alinhadas às necessidades econômicas e sociais.

Mariana Castro, sócia-diretora Latam da Vector Relações Governamentais, destaca que as relações públicas reforçam valores de transparência e engajamento social, enquanto o public affairs influencia políticas que podem beneficiar setores inteiros da economia “As relações governamentais ajudam a criar um ambiente regulatório mais eficiente, favorecendo o crescimento econômico e a inovação. Quando bem aplicadas, essas estratégias garantem que empresas sejam atores responsáveis no desenvolvimento de políticas públicas que beneficiam não apenas seus negócios, mas também a sociedade como um todo”.

O lobby na imprensa

As relações governamentais desempenham um papel fundamental na formulação de políticas públicas e na construção de um ambiente regulatório equilibrado. No entanto, ainda enfrentam desafios na forma como são percebidas e cobertas pela imprensa. As alternativas passam por explicar com clareza e transparência seu papel de construção de uma sociedade democrática, onde todos têm voz, e contar com o alcance dos veículos de comunicação para desmistificar a atividade e aproximá-la da sociedade.

Felipe Seligman, cofundador e CEO do JOTA

Para Felipe Seligman, cofundador e CEO do JOTA, a relação entre governo e setor privado pode inquestionavelmente gerar benefícios para a sociedade. “Empresas possuem conhecimento técnico e informações relevantes sobre políticas públicas que impactam a economia. No entanto, nem sempre esse equilíbrio é positivo, pois grupos minoritários podem buscar proteger interesses específicos. Nesse contexto, a imprensa desempenha um papel essencial na fiscalização e na divulgação dessas dinâmicas para garantir equilíbrio e transparência”, afirma.

Gisela Martinez, CEO da Antakly Public Affairs, lamenta que ainda persista em alguns representantes da imprensa a imagem dos lobistas associada a negócios nebulosos, ainda permeada por estereótipos negativos. “No mínimo cria um viés inconsciente, que gera barreiras na comunicação entre profissionais da área e jornalistas. Há uma necessidade urgente de letramento sobre o tema, que mostre que a atividade é embasada em dados, em informações, acessíveis e apresentáveis à sociedade. A figura de uma pessoa com um caderninho de contatos que negociava encontros é coisa do passado”.

Thomaz D’Addio, diretor da Ágora no Brasil

Já Thomaz D’Addio, diretor da Ágora no Brasil, acredita que ainda existe um espaço grande para evoluir na forma como a profissão é tratada pela imprensa. Segundo ele, em muitos casos a palavra lobby ainda é usada como sinônimo de uma atividade ilícita ou, no mínimo, dúbia, em uma zona cinzenta que não corresponde à verdade. “Como conselheiro de comunicação do IRELGOV, sempre que identificamos esse tipo de colocação nós trazemos para o jornalista que o lobby e as relações governamentais são atividades legítimas que contribuem para o debate democrático de políticas públicas, trazendo o ponto de vista de setores, de empresas ou de associações. É representação de interesses, que pode ser feito por qualquer parte interessada, de forma totalmente transparente”.

Sobre a cobertura midiática, Seligman acredita que há diferenças na abordagem, mas não necessariamente na profundidade da análise. Já Martinez aponta que, apesar da diversidade de formatos — impressos, TV, rádio e mídias digitais — a forma como o lobby é tratado ainda é bastante homogênea. “A maior diferença talvez esteja no imediatismo da cobertura, mas, no geral, o tema é abordado de maneira semelhante em todos os meios”, explica.

A cobertura jornalística também enfrenta desafios dependendo da localização dos veículos de comunicação. Seligman observa que, em legislativos locais, o acesso à informação pode ser mais limitado, o que pode impactar a transparência e o acompanhamento por parte da imprensa. No cenário internacional, ele compara a percepção da atividade nos Estados Unidos, onde as relações institucionais são vistas como uma parte essencial da atividade econômica, com o Brasil, onde ainda há resistência ao tema.

Gisela Martinez, CEO da Antakly Public Affairs

Martinez ressalta que a relação entre governo e iniciativa privada nos EUA é muito mesclada, tornando a cobertura da mídia mais complexa. “Estamos em um momento de transição na forma como a imprensa e a sociedade enxergam essa relação”, pontua.

O fortalecimento da comunicação sobre políticas públicas passa por estratégias bem estruturadas, que envolvam diversos atores do debate. Thomaz D’Addio, diretor da Ágora no Brasil, destaca que é essencial trabalhar com diferentes camadas de influência, desde os tomadores de decisão, passando por ONGs, universidades e especialistas, até a opinião pública. “A imprensa tem também o papel de trazer o contraditório, de dar voz aos diferentes atores e trazer isso para o público, ampliando o debate e evitando que relações governamentais sejam vistas como algo escuso”, analisa.

Gisela Martinez acredita que as estratégias de comunicação para políticas públicas podem encontrar na imprensa uma grande aliada. “Mas, para isso, os veículos de comunicação têm que atuar como agentes para chamar a sociedade a participar do debate, para que as pessoas exerçam seu direito de se pronunciar a respeito dessas políticas. Outro ponto é que a imprensa neutralize o que prefiro chamar de notícias fraudulentas, em vez de fake news, que muitas vezes afastam a sociedade desse debate”.

Modificar a imagem do setor junto à imprensa requer um esforço contínuo de educação e esclarecimento. D’Addio menciona o trabalho do IRELGOV, que há anos busca diferenciar o lobby legítimo de práticas ilícitas. “Precisamos mostrar que relações governamentais são um mecanismo democrático, de representação de interesses, e que não há problema algum em assumir essa identidade com transparência”, argumenta. “Atividades ilícitas, corrupção e outras formas de atuação não republicanas não são lobby, mas crime. É simples assim. Lobby é uma legítima representação de interesses, dentro de princípios de transparência, seguindo toda a legalidade. É representação de interesses, apoio na interlocução entre atores normalmente privados e o governo, e o desenvolvimento de estratégias que visem o ambiente legal e regulatório e de negócios para que seja o melhor e mais competitivo possível, permitindo a atuação de diversos atores”.

A CEO da Antakly Public Affairs vê a atuação de think tanks como o IRELGOV como crucial para transformar esse cenário. “Quem mais vai se beneficiar de uma cobertura mais ampla e inclusiva, que inspire as pessoas a participarem mais da defesa de causas, é a própria sociedade, que ficará mais diversa e plural. É importante estar mais presente em audiências e consultas públicas e a imprensa tem potencial para incentivar essa participação”. 

A discussão sobre a imagem das relações governamentais na imprensa mostra que ainda existe um longo caminho a percorrer no sentido de fortalecer a compreensão sobre a atividade. A transformação do entendimento da imprensa sobre a essência e o papel do lobby e, em última análise, da própria sociedade exigirá um olhar mais dedicado dos meios de comunicação. Dependerá também da capacidade dos profissionais de relações governamentais de se comunicarem de forma clara e propositiva, aliando dados, tecnologia e um relacionamento construtivo com a mídia e a sociedade.

Infodemia: vida em tempos de desinformação

Não há dúvidas de que a era digital colocou uma quantidade praticamente infinita de informações na palma da mão de qualquer um com acesso à internet. Quantidade, no entanto, nem sempre é sinônimo de qualidade. Mais do que isso, o excesso pode muitas vezes gerar efeitos indesejados. Esse mal do século XXI é conhecido como infodemia, caracterizado pelo exagero de informações disponíveis que, em vez de facilitar o acesso ao conhecimento, cria confusão e desorientação. Afinal, a simples disponibilização de dados não é suficiente, é necessário que a informação relevante se destaque em meio a um mar de conteúdos.

Mariana Castro, sócio-diretora Latam da Vector Relações Governamentais,

Para Mariana Castro, sócio-diretora Latam da Vector Relações Governamentais, o excesso de informação sem curadoria gera grande dificuldade em distinguir fatos de boatos, impactando diretamente a tomada de decisão e aumentando a polarização nas discussões públicas. “Mais informação não significa mais conhecimento; sem a devida análise, gera mais confusão do que soluções”, afirma. Fernando Mello, sócio-fundador do JOTA, destaca que apenas fornecer informação não é suficiente. “Diante do excesso de conteúdo recebido por e-mail, WhatsApp e outras plataformas, é essencial garantir que a informação relevante se destaque”.

A tecnologia, embora tenha democratizado a produção de conteúdo, também ampliou a desinformação. “Houve significativa redução do custo de publicação de uma informação. Hoje, qualquer pessoa com um celular e acesso à internet pode potencialmente alcançar milhões de pessoas, algo que, no passado, somente aqueles que tinham acesso aos grandes veículos de imprensa eram capazes de alcançar”, explica Frederico Oliveira, CEO e fundador da Sigalei. “Essa facilidade de publicação, somada ao advento da inteligência artificial, generativa, tornou ainda mais fácil produzir informações, sejam falsas ou verdadeiras”.

Para o sócio-fundador do JOTA, esse novo cenário tornou mais importante o papel da imprensa profissional. “A tecnologia facilitou a disseminação de informações, mas também aumentou o número de produtores de conteúdo. Isso torna o papel de veículos confiáveis ainda mais relevante, fornecendo informação precisa e objetiva”, comenta Fernando Mello.

A infodemia também contribui para a formação de ecossistemas de desinformação. A repetição de narrativas falsas dentro de bolhas informacionais cria “verdades alternativas”. Segundo Castro, quando alinhadas a interesses políticos e econômicos, essas bolhas se tornam ecossistemas de desinformação, influenciando percepções e decisões. “A desinformação não é aleatória – ela é estruturada e tem propósito”. Para o sócio-fundador do JOTA, estudos mostram que pessoas polarizadas tendem a consumir e compartilhar desinformação que confirma suas crenças, criando câmaras de eco. “Mas ainda há um debate sobre o alcance real dessa desinformação na sociedade”.

O ciclo de desinformação se inicia com a criação de narrativas impactantes, que são amplificadas em redes sociais e engajadas em grupos fechados, culminando em uma influência real sobre a opinião pública. “Não se trata apenas de fake news – é a manipulação da percepção da realidade”, ressalta Mariana Castro.

Fernando Mello, sócio-fundador do JOTA

Para combater essas “bolhas” informacionais, Fernando Mello sugere o prebunking, também conhecido como imunização informacional, uma abordagem que ensina a reconhecer desinformação antes que ela se espalhe. “Também é possível investir em convenções sociais contra a desinformação, como ocorreu com o uso do cinto de segurança e a proibição de fumar em locais fechados”, ensina. “Diversificar fontes, promover transparência e usar dados concretos para desmistificar narrativas. A linguagem acessível e o engajamento constante são essenciais. A verdade precisa ser proativa – não basta reagir à desinformação”, ressalta Castro.

O papel da inteligência artificial na desinformação é dúbio – tanto pode acelerá-la quanto combatê-la. De acordo com Mariana Castro, sócio-diretora Latam da Vector Relações Governamentais, a IA pode acelerar a produção de fake news, mas também é ferramenta para evitá-las, analisando padrões, checando fatos e filtrando informações estratégicas. “O desafio não é a IA, mas como a usamos”. Oliveira concorda: Talvez a inteligência artificial possa ajudar na redução, mas o problema, na minha visão, não tem raiz tecnológica e sim social. Precisamos olhar pela perspectiva da sociologia, pois informações falsas estão presentes na vida humana desde o início dos tempos. A questão é que, hoje, a intensidade aumentou exponencialmente devido às tecnologias”.

As consequências da desinformação são profundas e podem afetar a confiança nas instituições e distorcer políticas públicas. Oliveira acredita que a pior consequência é o esfacelamento do tecido social e a descrença nas instituições: “Isso impacta na capacidade de a sociedade de se articular para vencer grandes desafios como as mudanças climáticas, por exemplo”. Mariana Castro aposta em regulamentação equilibrada, transparência e educação midiática para conter o problema. “Caso contrário, a desinformação pode minar a governabilidade e a previsibilidade dos negócios”, alerta.

Fernando Mello lembra que o Brasil já busca regulamentações para mitigar esses problemas, especialmente em períodos eleitorais. “Existe um debate sobre se a desinformação causa polarização ou se a polarização impulsiona o consumo de desinformação. De qualquer forma, é um dos grandes desafios do Brasil na atual conjuntura política”.

Frederico Oliveira, CEO e fundador da Sigalei

À medida que as próximas eleições se aproximam, a desinformação se torna uma pauta relevante. O CEO e fundador da Sigalei acredita que as eleições são um reflexo das dinâmicas sociais. “Se elas estiverem altamente contaminadas com informação falsa, naturalmente as campanhas eleitorais precisarão se adaptar a essa realidade para terem chances de vitória”. Para Castro, a desinformação direcionada pode mudar percepções e decisões de voto. “Nas próximas eleições, o uso de IA tornará as campanhas de desinformação ainda mais sofisticadas. Não é apenas disputa de narrativa – é disputa de realidade”. Em um cenário onde a verdade precisa ser proativa, a colaboração entre consultorias qualificadas e a sociedade civil se torna fundamental para separar o ruído da informação estratégica e garantir um debate público saudável e informado.

Artigo

Avanços e desafios na agenda climática: financiamento, cooperação internacional e sustentabilidade

Augusto Cesar Anunciação é internacionalista, profissional de relações governamentais e gestor de projetos

O ano de 2024 destacou a pauta ambiental como um dos principais temas da diplomacia internacional. Nesse contexto, o Brasil participou de importantes encontros e fóruns globais, nos quais as mudanças climáticas ocuparam o centro das discussões. Em março de 2024, o presidente Lula recebeu o presidente francês Emmanuel Macron, em Belém (PA). Na ocasião, os dois líderes anunciaram um programa de investimentos com o objetivo de arrecadar 1 bilhão de euros (cerca de R$ 5,4 bilhões) em recursos públicos e privados para a bioeconomia da região amazônica nos próximos quatro anos. Além disso, os países concordaram em tratar o combate à mudança do clima como prioridade estratégica e em incentivar a apresentação de metas climáticas mais robustas na Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP 30), que acontecerá em novembro de 2025, também em Belém.

Agência Brasil: visita de Lula e Macron na ilha do Combu (PA)

O Brasil assumiu a liderança do G20 em 2024 e sediou a cúpula de líderes em novembro, no Rio de Janeiro. Durante sua presidência, foram realizadas reuniões temáticas em 13 capitais brasileiras ao longo do ano, incluindo Belém e Manaus, na Região Norte. No texto final, o governo brasileiro obteve o compromisso dos países do grupo de intensificar esforços para garantir a sustentabilidade ambiental e climática frente aos desafios decorrentes da mudança do clima, perda de biodiversidade, desertificação, degradação dos oceanos e do solo, secas e poluição.

Durante a Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, organizada pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e realizada em novembro, em Belém, o ex-secretário de Estado e ex-senador norte-americano John Kerry destacou que o Brasil é peça-chave no combate às mudanças climáticas, sobretudo devido a seus ativos florestais. Ele apontou a bioeconomia como uma excelente oportunidade para a comercialização de produtos oriundos da biodiversidade. Ainda em novembro, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visitou Manaus (AM) e anunciou a destinação de US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia, além de US$ 11 bilhões, a partir de 2024, para o financiamento climático internacional. Biden também reafirmou o compromisso dos EUA em ações de restauração florestal e na promoção de parcerias para soluções baseadas na natureza.

Na COP 29, realizada em Baku, no Azerbaijão, as delegações chegaram a um acordo sobre uma nova meta global de financiamento: US$ 300 bilhões anuais até 2035, com foco no apoio a países em desenvolvimento para enfrentarem os impactos das mudanças climáticas. Apesar disso, o valor ficou abaixo da expectativa inicial de US$ 1,3 trilhão. As delegações também concordaram em lançar a iniciativa “Rota Baku a Belém” para mobilizar o trilhão adicional necessário.

Em 2024, o mercado de carbono esteve em destaque nos fóruns ambientais. Ainda em dezembro, foi sancionada a lei que regulamenta o setor e cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), a Lei nº 15.042/2024. Antes da regulamentação nacional, o estado do Pará estruturou seu sistema jurisdicional de REDD+ e assinou, em setembro, um acordo de R$ 1 bilhão com a Coalizão LEAF — uma iniciativa internacional que inclui grandes corporações e os governos de Noruega, Reino Unido, Estados Unidos e Coreia do Sul — para a comercialização de 12 milhões de créditos de carbono a US$ 15 por tonelada. Os valores serão destinados para a preservação da floresta e apoio a comunidades tradicionais. Acordos semelhantes foram firmados com Gana e Costa Rica, demonstrando uma tendência e grande potencial de crescimento desse mercado nos próximos anos.

Considero que 2024 trouxe avanços em relação ao financiamento público e privado, ao envolvimento de entidades multilaterais e à maior cooperação internacional, além da participação de setores da sociedade civil brasileira nas discussões. No entanto, é necessário fortalecer a governança e promover maior engajamento das lideranças políticas nas esferas federal, estadual e municipal. A interface entre financiamento e articulação política e institucional contribuiu, nos últimos anos, para viabilizar espaços de inovação, como o Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá (PCT Guamá), em Belém (PA) e o Centro de Inovação Aces Tapajós (CIAT), em Santarém (PA). Contudo, essas iniciativas-modelo precisam ser replicadas nos nove estados da Amazônia Legal, com destaque para estados estratégicos como o Acre e o Amazonas.

Adicionalmente, é fundamental investir na capacitação e articulação local para garantir que os beneficiários, como comunidades tradicionais e indígenas, agricultores familiares e pequenas cooperativas, consigam acessar os recursos destinados ao fomento da produção sustentável de cadeias produtivas importantes, como as de açaí e cacau. É crucial levar em conta a complexidade e as peculiaridades da região, que abriga 28 milhões de habitantes que anseiam por uma melhoria em sua qualidade de vida.

Por fim, em 2024 a Amazônia consolidou-se como parte fundamental da solução para o problema climático, e o Brasil obteve alguns resultados importantes, embora ainda tenha um longo e desafiador caminho a percorrer para exercer uma liderança global. Os desafios de 2025 exigirão do governo brasileiro uma ampla capacidade de diálogo e de construção de consensos a nível interno e externo. A emergência climática não espera. A ver.

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Artigo

Compliance e uso de dados na influência da tomada de decisão

Beatriz Gagliardo é gerente de corporate affairs na Japan Tobacco International – JTI

A atuação dos profissionais em relações governamentais ao longo do tempo foi evoluindo e não pode mais ser admitida sem governança, sob padrões mínimos de transparência e ética. A conformidade com as normas de governança é uma exigência legal e um compromisso corporativo essencial que fortalece a transparência e a ética nas interações entre empresas, governos e a sociedade civil. Especialmente, isto diz respeito ao uso e amplo acesso de dados para evidenciação de fatos levados a conhecimento. Este artigo busca refletir sobre a importância da atuação institucional, ética e transparente em relações governamentais, destacando o papel essencial que dados e fatos desempenham no processo de engajamento dos stakeholders.

A importância da transparência e da ética – A transparência nas relações governamentais é fundamental para a construção de um ambiente de confiança. Quando as interações entre empresas, sociedade civil e entidades governamentais são claras e abertas, há uma diminuição significativa de riscos, com práticas antiéticas. A ética, por sua vez, estabelece um padrão de comportamento que guia os profissionais na tomada de decisões, assegurando que as ações promovidas estejam alinhadas com valores morais e sociais.

Empresas que prezam por estes comportamentos tendem a formar uma reputação perante os stakeholders que lhe conferem credibilidade o suficiente para, inclusive, ser fonte de informação para a tomada de decisão. Dessa forma, isto não só se traduz em benefícios a longo prazo, como constrói relacionamentos mais fortes com stakeholders, incluindo consumidores, investidores e autoridades reguladoras; também gera uma percepção positiva por parte da sociedade, que está cada vez mais atenta à forma como as empresas e organizações se comportam.

Ainda assim, ao ter se tornado algo básico para uma instituição cumprir, a demanda da sociedade tem ido além da governança corporativa pautada por princípios éticos e na transparência. Cabe mencionar que, hoje, adiciona-se a responsabilidade social e ambiental das empresas como premissas para o desenvolvimento de relações institucionais. No futuro, é provável que o se torne uma exigência legal ampla, como já se é possível perceber no âmbito político. 

Compliance: um pilar fundamental – A governança corporativa (compliance), que abrange um conjunto de normas e práticas que visam garantir que as organizações atuem em conformidade com leis e regulamentos, é um pilar fundamental para a atuação ética em relações governamentais.

Com a implementação de legislações como a Lei Anticorrupção e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil, as empresas devem adotar mecanismos robustos para garantir a conformidade legal e mitigar riscos. Um programa de governança efetivo deve incluir treinamentos regulares, políticas claras sobre conflitos de interesse, uma cultura organizacional que promova a integridade, além do envolvimento e do compromisso da alta gestão das empresas, que deve liderar pelo exemplo e promover essa cultura organizacional que valorize a conformidade com todas as áreas da empresa. Ao mesmo tempo, deve ser sólida o suficiente para não engessar a empresa em atuações importantes com seus públicos.

Já sob a perspectiva da atuação do profissional de relações governamentais, uma governança robusta é fundamental, especialmente no que diz respeito ao engajamento dos stakeholders: a partir da perspectiva de governança íntegra, empresas podem ser percebidas com potencial para participar de debates e influenciar a criação de leis e regulamentações, seja por meio de consultas públicas ou processos de elaboração de políticas, que podem gerar impactos diretos na sociedade,

Em um ambiente onde as regulamentações e as expectativas sociais estão em constante evolução, a conformidade não apenas protege a organização contra riscos legais e reputacionais, mas também fortalece a credibilidade e a confiança nas interações com os diversos públicos.

Aplicações práticas

Aqui estão três características ou critérios de atuação que evidenciam a importância do compliance nesse contexto:

  1. Transparência e integridade: o profissional de relações governamentais deve atuar com total transparência, assegurando que todas as interações e práticas estejam alinhadas com as normas legais e éticas. Isso gera confiança entre os stakeholders, pois eles sabem que a organização opera dentro dos padrões estabelecidos, evitando práticas que possam ser vistas como desonestas ou manipulativas. Manter canais de comunicação e acesso fácil às informações é fundamental para a manutenção da transparência e confiabilidade.
  2. Gestão de risco: a governança correta permite ao profissional identificar e gerenciar proativamente riscos associados à atuação em ambientes governamentais. Ao compreender as legislações aplicáveis e as expectativas dos diferentes stakeholders, ele pode desenvolver estratégias que minimizem riscos de conformidade e, ao mesmo tempo, promovam uma imagem positiva da organização. Isso é especialmente relevante em setores regulados, onde falhas de conformidade podem gerar impactos legais e reputacionais significativos.
  3. Relacionamento sustentável: o cumprimento rigoroso das normas de governança contribui para a construção de relacionamentos sustentáveis e de longo prazo com os stakeholders. Ao estabelecer um histórico de atuação responsável e ética, o profissional de relações governamentais pode se tornar um parceiro confiável, capaz de influenciar e engajar de maneira mais eficaz. Isso também facilita a colaboração em iniciativas comuns, onde a confiança e a reputação são cruciais para o sucesso.

O uso dos dados – Deste modo, no contexto das relações governamentais, a apresentação de dados e fatos sólidos é essencial para a construção de argumentos convincentes, já que a narrativa se torna mais robusta e difícil de contestar. Profissionais da área devem estar equipados com informações precisas e atualizadas, que possam sustentar suas reivindicações e propostas. Isso não apenas fortalece a argumentação, mas também reforça a credibilidade da empresa junto aos stakeholders.

Por exemplo, ao discutir a necessidade de uma nova política pública, a apresentação de estatísticas sobre os impactos de uma situação atual pode ser muito mais eficaz do que uma argumentação meramente emocional.

Conclusão – A governança estruturada e aplicada na prática não apenas garante a conformidade legal, mas também sustenta a credibilidade e a eficácia do profissional de relações governamentais no engajamento com stakeholders, permitindo que ele atue de forma ética e responsável, contribuindo para a construção de uma sociedade ainda mais forte em seus valores.

E, diante disso, o apoio da argumentação com base em dados auxilia sobremaneira nas ações de influência da tomada de decisão por parte dos stakeholders, pois também lhes confere lastro, justificação e segurança política perante os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.

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Do campus ao poder: a institucionalização e profissionalização do lobby nas universidades brasileiras

Caliel Calves da Costa é especialista em política pública e relações governamentais e coordenador da disciplina Fundamentos das Relações Institucionais e Governamentais na Universidade de São Paulo (USP)

Nos últimos anos, o setor de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) no Brasil passou por uma transformação significativa. A crescente complexidade no desenvolvimento de política pública e a demanda por transparência impulsionaram a profissionalização da área. Diante desse cenário, a academia ganhou um papel essencial na formação de profissionais qualificados.

Atento a essa necessidade, o Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP) oferecerá pela terceira vez a disciplina Fundamentos das Relações Institucionais e Governamentais: sociedade atuando na construção de políticas públicas. Como idealizador e coordenador da disciplina, tenho acompanhado seu crescimento e impacto dentro da universidade. Desde sua primeira edição, foi uma das disciplinas mais procuradas do instituto, evidenciando a demanda por conhecimento estruturado na área. Neste ano, a disciplina será conduzida pelo professor titular Amâncio Oliveira, e seguirá um formato inovador dentro dos padrões da USP.

O curso se diferencia por combinar teoria e prática, trazendo rodadas de palestras e atividades interativas com lideranças corporativas, autoridades públicas e representantes institucionais. Essa abordagem permite aos alunos compreenderem o funcionamento do setor a partir de experiências reais. Além disso, a avaliação está focada na participação ativa dos alunos e na elaboração de uma estratégia de engajamento e lobby para uma organização com impacto comunitário, tornando o aprendizado aplicável e facilmente transponível para realidade das entidades trabalhadas, que inclusive são engajadas no decorrer do curso.

A colaboração e a troca de experiências estão entre os principais valores que norteiam o desenvolvimento dessa disciplina. Por isso, profissionais que tenham sugestões ou interesse em contribuir com essa iniciativa são sempre bem-vindos para se conectar e compartilhar suas perspectivas.

Além disso, a diversidade é um dos pilares centrais das discussões em sala de aula. A disciplina busca abordar os desafios que permeiam o meio político, em termos de gênero, raça e conflitos geracionais, garantindo que as reflexões sobre relações governamentais sejam inclusivas e alinhadas com a realidade social do país.

A inserção dessa disciplina no currículo acadêmico reflete a crescente valorização do setor de RIG no Brasil. Empresas e organizações reconhecem a necessidade de um diálogo técnico e ético com o governo, e a demanda por profissionais capacitados está em alta. Segundo a 5ª edição do Anuário Origem Latam 2023, houve um aumento de mais de 11% no número de cientistas políticos atuando na área, indicando a expansão do setor e a necessidade de qualificação contínua. Ainda que o crescimento do mercado de relações governamentais tenha desacelerado em 2023, com 27,1% dos líderes de RIG reportando aumento orçamentário — 3,6 pontos percentuais menor que no ano anterior, a busca por profissionais especializados e bem-preparados continua em ascensão.

Nos últimos anos, a área de Relações Governamentais tem se institucionalizado, com avanços como a ampliação do debate sobre regulação do lobby, o fortalecimento da agenda de compliance e a expansão de oportunidades de qualificação profissional. Diante desse cenário, o ensino acadêmico assume um papel fundamental. A disciplina não apenas oferece uma base teórica sólida, mas também funciona como um curso introdutório para aqueles que desejam ingressar na área, proporcionando conhecimento estratégico e preparando os alunos para disputar vagas no mercado, seja em RIG, ou em áreas correlatas, onde esses conhecimentos serão bem utilizados.

A consolidação dessa disciplina na USP reforça o novo momento da academia na construção de um setor mais profissionalizado, transparente e eficiente. E entendo que a interação entre universidade, população, setor privado e governo é essencial para garantir políticas públicas mais bem estruturadas e conectadas à realidade brasileira.

Por fim, o que sabemos é que o setor de Relações Governamentais seguirá evoluindo, exigindo cada vez mais capacitação técnica e profissionalismo. O oferecimento da disciplina Fundamentos das Relações Institucionais e Governamentais pelo IRI-USP representa um passo importante na interseção entre academia e mercado, promovendo um ecossistema mais qualificado e contribuindo para o fortalecimento da democracia com debates informados.

Se o futuro das políticas públicas passa pelo diálogo entre diferentes setores, é essencial que esse processo seja conduzido por profissionais preparados. E esse preparo para o profissional de RIG, hoje, pode começar dentro da universidade.

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Poder e processo legislativo comparados: aspectos gerais entre Brasil x Estados Unidos

Flávia Fernanda Costa é advogada e consultora política.

Débora Jacintho de Faria é cientista política, doutora em História Política e consultora de Public Affairs

O estudo comparado dos processos legislativos entre Brasil e Estados Unidos da América (EUA) revela tanto semelhanças estruturais quanto divergências significativas, fruto das tradições jurídicas distintas e da organização política de cada país. Ambos são republicanos, democráticos, federativos e presidencialistas, mas suas abordagens à legislação e ao funcionamento do Poder Legislativo apresentam particularidades relevantes.

Uma das principais distinções entre os dois países está no sistema jurídico adotado. O Brasil opera sob a tradição romano-germânica, o chamado civil law, onde a fonte primária e imediata do Direito é a lei – embora haja uma crescente influência do common law, sobretudo com o advento do Código de Processo Civil (CPC) de 2015, em julgamentos de recursos especiais e extraordinários repetitivos, por exemplo. Já os EUA possuem o common law como tradição jurídica, baseado na prevalência de precedentes judiciais, de modo que a legislação assume um caráter secundário.

Outro aspecto relevante é a organização político-partidária. No Brasil, há grande fragmentação partidária, com 29 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que impacta diretamente na dinâmica do processo legislativo. A fidelidade partidária é um elemento essencial, principalmente para os eleitos pelo sistema proporcional de lista aberta. Nos Estados Unidos, predomina o bipartidarismo entre os partidos Republicano e Democrata, com outros partidos menores de influência reduzida. Os legisladores têm maior autonomia na votação de projetos, sendo os acordos partidários menos tangíveis do que no Brasil.

A estrutura das casas legislativas também apresenta diferenças. A Câmara dos Deputados brasileira conta com 513 membros, cujo mandato é de quatro anos, exigindo idade mínima de 21 anos. A presidência das comissões é definida por uma combinação de fatores como indicações partidárias, acordos políticos e proporcionalidade distributiva. Nos Estados Unidos, a House of Representatives é composta por 435 deputados(as) com mandato de dois anos e idade mínima de 25 anos. Diferentemente do Brasil, as presidências das comissões são escolhidas pelo Speaker of the House (presidente da Casa), sendo todas ocupadas por membros de seu partido, embora a composição geral das comissões seja mais equilibrada.

A governabilidade de um presidente nos Estados Unidos está atrelada à manutenção de seu partido como majoritário no Congresso. No Brasil, por outro lado, a base parlamentar do governo não é estritamente partidária. O poder é organizado sob o “presidencialismo de coalizão”, conceito proposto por Sérgio Abranches, que combina a proporcionalidade, o multipartidarismo e o “presidencialismo imperial” para estruturar o Executivo em coalizões.

No Senado Federal brasileiro, há três senadores por estado, com mandato de oito anos. Já o Senate conta com duas pessoas senadoras por estado, cujo mandato é de seis anos. Essa diferença na composição influencia o peso político que cada estado tem no processo legislativo de seu respectivo país. Em ambos, o número de senadores é igual em todos os estados, independentemente da proporção populacional. Com isso, há uma super representatividade dos estados menos populosos. Nos EUA, essa questão tem um peso maior, dado o volume de estados com esse perfil, em especial no meio oeste – os 26 menores estados, com 18% da população, ocupam cerca de 52% dos assentos. Nessas localidades, o Partido Republicano tende a ter maior preferência do eleitorado.

As eleições no Brasil para os Poderes Executivo e Legislativo ocorrem simultaneamente, enquanto nos Estados Unidos há a ocorrência de pleitos para o Legislativo também no meio do mandato presidencial (midterm elections). A cada dois anos, há renovação de todos os deputados e de um terço dos senadores. O financiamento de campanha também difere consideravelmente. No Brasil, há fundos públicos como o Fundo Partidário e o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC). Já nos EUA, empresas podem financiar campanhas, desde que respeitem regras específicas e não realizem contribuições diretas.

A participação popular no processo legislativo também difere nos dois países. No Brasil, por exemplo, há a possibilidade de apresentação de projetos de lei de iniciativa popular, proporcionando um mecanismo direto de influência da sociedade na produção legislativa. Nos EUA essa possibilidade inexiste, restringindo a proposição de leis aos representantes eleitos, via de regra. O Executivo também não pode apresentar proposições, e as iniciativas do governo são contempladas dependendo das maiorias partidárias no Congresso.

Outro ponto de divergência é a condução das votações e o tempo de fala dos parlamentares. No Brasil, há limitações ao tempo de discurso das lideranças, enquanto nos Estados Unidos não há limite, o que possibilita o uso do filibuster, uma prática onde discursos prolongados impedem o avanço de propostas legislativas – um dos casos mais emblemáticos ocorreu contra a aprovação do Civil Rights Act de 1957, com um discurso que durou mais de 24 horas.

Além disso, o Poder Executivo brasileiro pode editar Medidas Provisórias que são posteriormente analisadas pelo Congresso Nacional, enquanto nos EUA essa prerrogativa não existe. No Brasil, o processo legislativo segue a lógica de uma casa iniciadora e uma casa revisora, exceto em propostas de emenda constitucional (PECs). Nos Estados Unidos, o processo de apreciação de proposições legislativas se assemelha ao de uma PEC no Brasil, com sucessivos retornos entre as casas legislativas até que se alcance um consenso.

Por fim, vale ressaltar que a Constituição dos Estados Unidos de 1787 é a base para a formação do conceito moderno de “constituição”. Comparando Brasil e EUA, há distinção nos seus modelos constitucionais. Enquanto a Carta Magna americana é sintética, a brasileira é analítica. A Constituição brasileira de 1988 já foi emendada 145 vezes, refletindo uma maior flexibilidade para alterações, ainda que com quórum elevado. Em contrapartida, a Constituição estadunidense tem apenas 27 emendas, sendo a última ratificada em 1992. Há maior rigidez para mudanças constitucionais, uma vez que é necessária a ratificação por dois terços dos estados.

Embora Brasil e Estados Unidos compartilhem elementos essenciais de um sistema republicano, democrático e presidencialista, seus processos legislativos e estruturas de poder apresentam notáveis diferenças. As particularidades do sistema jurídico, a organização político-partidária, a participação popular, o financiamento de campanha e a dinâmica legislativa resultam em distintos graus de governabilidade e representatividade. Enquanto o Brasil apresenta um sistema mais flexível e fragmentado, os Estados Unidos se caracterizam por maior rigidez e estabilidade institucional. Essas diferenças impactam diretamente a forma como políticas públicas são formuladas e implementadas, influenciando a eficiência governamental e a relação entre Estado e sociedade.

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Public affairs: a integração estratégica entre relações governamentais e gerenciamento de crises

Guilherme Camargo é cientista político pela Universidade de Brasília (UnB) e líder de relações institucionais e governamentais da Unilever

No atual cenário institucional, onde as interações entre empresas, governos e sociedade são cada vez mais complexas, a capacidade de uma organização de se posicionar estrategicamente diante de mudanças regulatórias e crises reputacionais tornou-se um diferencial competitivo (Heath, 2020). Public affairs, como campo de atuação, abrange tanto as Relações Institucionais e Governamentais (RIG) quanto o Gerenciamento de Crises, duas disciplinas que, quando bem integradas, fortalecem a resiliência institucional e mitigam impactos negativos. A integração entre essas áreas, quando empregada de forma estratégica, garante a sustentabilidade das organizações em ambientes altamente voláteis.

As relações governamentais compreendem o conjunto de estratégias e ações que visam estabelecer um diálogo contínuo e transparente entre empresas e entes públicos. Seu objetivo é influenciar políticas públicas, garantir previsibilidade regulatória e criar um ambiente de negócios favorável (Marinho, 2021). Um exemplo da implementação de uma estratégia coesa em RIG ocorreu com a chegada da Uber ao Brasil. Quando a empresa iniciou suas operações no país, enfrentou forte resistência de taxistas e autoridades locais e para contornar essa situação, a Uber adotou uma estratégia que combinava o diálogo com legisladores e a mobilização de usuários como aliados na defesa da regulamentação do serviço. Como resultado, diversas cidades brasileiras aprovaram leis que permitiram a operação de aplicativos de mobilidade, consolidando a presença da empresa no país.

Por sua vez, o Gerenciamento de Crises é a prática de preparação, resposta e recuperação de incidentes que possam comprometer a reputação e a operação de uma organização (Coombs, 2019). Uma crise pode surgir de fatores internos (como escândalos de corrupção ou falhas operacionais) ou externos (como mudanças regulatórias abruptas ou movimentos de ativismo social). Casos emblemáticos, como o desastre ambiental da Vale em Brumadinho, demonstram como a resposta institucional pode definir o futuro de uma empresa após uma crise. Nesse caso, a ausência de uma comunicação eficaz e a demora na adoção de medidas mitigadoras agravam os impactos sobre a imagem da companhia, resultando em forte pressão regulatória e judicial.

A relevância do trabalho de public affairs, fruto da interseção entre RIG e Gerenciamento de Crises, torna-se evidente ao analisarmos o impacto das políticas públicas sobre crises corporativas. Empresas que mantêm um bom relacionamento com o setor público e compreendem o funcionamento da máquina governamental conseguem agir com maior rapidez e assertividade diante de situações críticas (Post et al., 2002). Profissionais de RIG desempenham um papel crucial na antecipação de riscos legislativos que podem desencadear crises. A aprovação de uma nova regulamentação pode inviabilizar modelos de negócio, tornando essencial um monitoramento constante do ambiente político.

Empresas que constroem relações sólidas com formuladores de políticas públicas e órgãos reguladores possuem maior capacidade de interlocução em momentos críticos. Durante uma crise, a comunicação com stakeholders deve ser transparente, coerente e pautada em fatos. A sinergia entre RIG e Gerenciamento de Crises garante que a narrativa institucional seja consistente, evitando ruídos e desinformação. Um caso notável foi o escândalo da Cambridge Analytica e seu impacto sobre o Facebook. A falta de uma resposta imediata e transparente por parte da empresa intensificou as consequências da crise, resultando em investigações governamentais e multas bilionárias.

O avanço das redes sociais transformou a dinâmica das crises corporativas, tornando as respostas mais imediatas e expondo as empresas a um escrutínio público constante. Além disso, o fortalecimento das pautas ESG (Environmental, Social, and Governance) aumentou a necessidade de compliance rigoroso e práticas transparentes (Boin et al., 2010). Tendências futuras incluem maior regulamentação sobre inteligência artificial e privacidade de dados, pressão crescente para que empresas adotem posturas públicas sobre questões sociais e ambientais e a evolução das estratégias de advocacy digital para influenciar debates políticos e legislativos.

A evolução do profissional de RIG, ao integrar a perspectiva do Gerenciamento de Crises, ressalta o dinamismo da profissão e a necessidade de promover discussões sobre a relevância da área na construção de relacionamentos estratégicos com governos, legisladores, mídia e sociedade civil. Mais do que apenas reagir às mudanças políticas, Public Affairs permite que as organizações participem ativamente da formulação de políticas públicas, garantindo sua sustentabilidade e influência no cenário regulatório.

 

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Menos complexidade tributária e mais diálogo e lobby

Gustavo Bernard é consultor de relações governamentais e institucionais e de comunicação corporativa e public affairs e Gabriela Cabral Pires é advogada tributarista

A onda de discursos pró taxações e tarifas que tem tomado conta do globo nos meses recentes têm profundas e complexas motivações que exigem um olhar atento e responsável sobre os rumos das gestões públicas, comerciais e tributárias e de seus potenciais efeitos econômicos e sociais no confuso tabuleiro do xadrez quadridimensional das decisões público-privadas. Não bastassem os conflitos armados dos vizinhos externos – Israel e Hamas no Oriente Médio, Rússia e Ucrânia, na Europa, e as tensões envolvendo China e Irã, na Ásia – os governos e as empresas têm sentido, muito mais com pesar que com júbilo, as tendências de aumento das inquietações econômicas domésticas causadas pela prometida “guerra comercial” de Donald Trump, líder da maior economia global, com Produto Interno Bruto (PIB) superior a US$ 29 trilhões. 

Com o argumento republicano de ”blindagem” da renda, negócios e dos empregos estadunidenses, os EUA, hábil democracia na construção de poder e alianças em seus quase 250 anos de história, passaram a lançar dúvidas e inseguranças sobre a organização da economia americana e seu histórico de décadas de competitividade de seus integrados produtivos setores e sistemas. Nesse contexto, as consequentes e recíprocas reações da gigante China de Xi Jinping, com seus mais de US$ 18 trilhões gerados em bens e serviços, seguidas pelas condutas não menos bilaterais e reativas de Canadá, México, União Europeia (UE) e Brasil ampliaram ainda mais algumas dessas significativas e importantes variáveis que apimentam a difícil conta da reciprocidade e sustentabilidade econômica e institucional, impactando indistintamente o ambiente de negócios internacional e acendendo a ‘luz amarela’ no até então habitual e previsível trânsito de produtos e serviços do vigente capitalista sistema global. São os riscos políticos e regulatórios que engrossam o caldo desse complexo cálculo com inevitáveis desdobramentos multilaterais, regionais e locais.

Chamado também de “tarifaço”, esse efeito ‘pavor e choque’, segue maximizado e potencializado nas redes sociais e nas trocas informacionais da era digital, com versões sobre temores e rumores quanto ao aumento de impostos, preços e de mais taxações em diferentes níveis dos fluxos financeiros e orçamentários. O movimento amplia os enormes desafios nos campos das formulações táticas dos agentes públicos, como o controle dos juros e da inflação, e das gestações estratégicas das corporações e entes privados para, por exemplo, a melhor e efetiva criação de vagas no mercado de trabalho e assertivas ampliações de investimentos.

Apto em antecipar tendências e precificar o futuro, o mercado financeiro também tem reverberado essa ‘non grata’ onda tarifária que tem impactado os setores de aço e alumínio e alcançado diversos outros segmentos econômicos, como agricultura, manufaturados, infraestrutura e tecnologia. As bolsas de valores – tanto americanas quanto as demais globais e Ibovespa – têm experimentado com surpresa preocupantes declives, com claros efeitos negativos nos cenários desse financeiro dominó global. Noutro lado, o Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva anuncia a redução a zero de alíquotas de importação para mais de 10 produtos alimentícios na esperança de baratear a vida do consumidor de baixa renda, mesmo que entre os alimentos em questão estejam aqueles cujo consumo de importados não alcança as classes baixas, como o café, cujo maior produtor mundial é o próprio Brasil.

Tateando esse novo momento internacional, as instituições democráticas brasileiras tentam colocar integralmente em prática até 2033 a Reforma Tributária, na busca pela simplificação e transparência das contas públicas (Emenda Constitucional 132/23) e reverter, ao mesmo tempo, os ventos ruins que sopram sobre a economia brasileira. Rebaixada à 10ª maior do mundo, com PIB de mais de R$ 11,7 trilhões, o Brasil tem mantido, mesmo com a fama de país; pesado em termos tributários, alguns avanços técnicos, em sua jornada de mais de 130 anos de República, alinhados com modernas e inovadoras práticas, como as defendidas pela Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já em 2026 inicia-se a implementação da nova tributação sobre o consumo: o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual, formado pela dupla IBS-CBS (Imposto sobre Bens e Serviços e Contribuição sobre Bens e Serviços), e do Imposto Seletivo.

Em clima de redução dos custos de conformidade, esse importante movimento há muito debatido na academia e na seara política e que somente agora será efetivado, inaugura debate propositivo, com visão de futuro, que exigirá muita interlocução e envolvimento dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) em todos os níveis: federal, municipal e estadual, com a participação proativa e indispensável das empresas e de toda a sociedade. É, em termos republicanos e democráticos, um caminho para transformar crises em oportunidades com menos custos de conformidade tributária e muito mais diálogo e lobby, ainda que a jornada seja longa e tortuosa. Parafraseado o ex-presidente Tancredo Neves (1910-1985), político mineiro símbolo da redemocratização do país, não são os homens, mas as ideias que precisam brigar.

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Participação popular no relacionamento institucional: uma revisão teórica

Helcio Martins Borges é engenheiro civil, ambiental e sanitarista, especialista em políticas públicas

O Instrumento da Participação Popular no relacionamento entre empresas e poder público muitas vezes coloca as comunidades em uma posição passiva, sem poder de decisão sobre os investimentos em seus territórios. Geralmente, essas relações priorizam interesses externos, deixando as necessidades reais das comunidades em segundo plano. Participar de audiências públicas ou acessar programas socioambientais e socioeconômicos é percebido como suficiente, mas, ao final dos empreendimentos, as comunidades frequentemente percebem que não foram atendidas em suas prioridades.

Abordo aqui, considerações teóricas sobre o entendimento das práticas de controle social no contexto do relacionamento entre poder público e empresas, assim como, a possibilidade de introduzir o modelo da gestão social como balizador das relações institucionais entre empreendimento de grande porte, governos municipais e comunidades impactadas pelos investimentos privados realizados, com vistas no desenvolvimento local.

Investimentos institucionais e participação popular – De acordo com a Constituição Federal de 1988, o cidadão brasileiro tem o direito de fiscalizar os agentes públicos e participar ativamente nos destinos de sua comunidade. O controle institucional, quando bem aplicado, assegura a transparência e a ética nas ações do executivo, garantindo o uso correto do orçamento. Por meio do controle social, cidadãos organizados podem fiscalizar promessas e impedir que mandatários atuem apenas em seus próprios interesses, preservando a democracia. A “accountability” é essencial nesse processo, garantindo o controle mútuo e aproximando os cidadãos das decisões políticas. A descentralização dos recursos promove maior transparência e eficiência, especialmente em níveis municipais. Assim, a fiscalização cidadã e a descentralização são pilares para políticas públicas eficazes e participativas.

Os instrumentos de controle e responsabilização são fundamentais, mas no Brasil frequentemente observa-se governantes priorizando interesses políticos próprios em detrimento das reais necessidades das comunidades, especialmente em municípios menores com recursos naturais relevantes, como jazidas minerais e/ou a instalação nesses territórios, de grandes empreendimentos no segmento de logística, energia, agronegócio etc. Nesses casos, recursos privados destinados ao setor público, muitas vezes ficam fora do controle social, sendo aplicados de forma pouco transparente e ineficaz.

O engajamento social, por sua vez, busca transformar essa realidade, promovendo pequenas mudanças por meio de movimentos populares. A participação cidadã deliberativa, conforme Habermas (1987), legitima decisões políticas orientadas por inclusão, pluralismo e bem comum. Assim, é necessário um instrumento eficaz para direcionar recursos privados às prioridades das comunidades impactadas, evitando superposições e garantindo sua aplicação de forma transparente e eficiente para atender às demandas reais.

Gestão social nos investimentos privados de caráter público, de origem nas obrigações socioambientais para o bem do desenvolvimento local – A gestão social, conforme Tenório (2005), visa promover o bem-estar dos cidadãos e reduzir desigualdades, garantindo acesso equitativo às riquezas materiais e imateriais. Esse conceito fortalece um modelo de relação entre Estado e sociedade, superando a visão Estadocêntrica, que limita o público ao estatal, e adotando uma perspectiva Sociocêntrica, onde o público se torna um espaço de interação entre diferentes interesses orientados pelo bem comum (Denhardt; Denhardt, 2003). Ele estimula a ação coletiva e solidária, fortalecendo laços comunitários, identidade cultural e valores coletivos, com prioridade no desenvolvimento sustentável e sinergia entre necessidades sociais e atividades realizadas.

A gestão social utiliza a participação popular como base para ações institucionais eficazes. Práticas que integram recursos privados ao setor público impulsionam o desenvolvimento local, especialmente em territórios onde se instalam grandes empreendimentos em diversos segmentos como já mencionado, fortalecendo o controle social e o empoderamento de grupos marginalizados.

Segundo Brose (2002), a gestão social promove democracia, combate à pobreza e impulsiona o desenvolvimento local por meio de inclusão social, diversificação econômica, inovação pública, proteção ambiental e mobilização. Para tanto, é necessária a articulação de interesses entre atores diversos, com práticas adaptadas às particularidades de cada território.

Considerações finais – As regiões onde grandes empreendimentos atuam refletem a territorialidade exercida pelas empresas em seus diversos segmentos, marcada por recursos e normas acumulados ao longo do tempo. Essas localidades também sofrem influência dos poderes públicos e dos desejos comunitários.

A adoção de um modelo de gestão para investimentos privados no setor público, com controle social, é essencial para promover o empoderamento comunitário e garantir o desenvolvimento local. Contudo, observa-se que regulamentações são insuficientes para assegurar a aplicação eficiente de recursos. Assim, a criação de associações que fomentem a participação popular no processo decisório, monitoramento e controle social é fundamental para resultados eficazes e para fortalecer a cidadania.

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Relgov em mobilidade global para migração laboral

João Marques é graduado em administração de empresas, ciências jurídicas, relações governamentais e especialista em Lei Imigratória.

O relgov como defensor de interesses, possui um papel estratégico e aliado dos grandes negócios e interesses empresariais.

O Brasil é um dos países mais modernos do mundo em termos de Migração Laboral, com uma legislação clara mediante processos transparentes e digitais, e normas sempre atualizadas para atender as demandas empresariais. 

A atual Lei de Migração nº 13.445/2017, trouxe inovação, mas também penalidades e multas extremamente severas e que podem alcançar o valor de R$ 5.000.000,00 quando identificada o descumprimento das normas. Ainda, a lei também apresenta uma nova tipificação penal remetida ao artigo 232-A do Código Penal Brasileiro com penalidades 2 a 5 anos de reclusão pela obtenção de vantagem econômica pela entrada ilegal de estrangeiro em território nacional. Além dos danos relacionados a reputação Empresarial.

Os profissionais de relgov é importante que exista um trabalho sensibilização dos departamentos jurídicos e de recursos humanos de suas empresas e clientes em um sentido de análise das normas e revisão em seus processos e políticas migratórias para que a lei seja atendida em sua integralidade.

O papel do relgov é manter o alinhamento estratégico entre as empresas no que tange aos seus projetos de investimento, instalação ou ampliação e as autoridades brasileiras demonstrando seus planos para o país.

De outra via, o envio de pessoas ao exterior requer a mesma diligência em todos os aspectos, mas principalmente a legislação do país de destino.

A presente recomendação possui como fundamento primordial a preservação da reputação empresarial bem como seus reflexos legais seja para fins migratórios, tributários e fiscais.

João Marques, CEO e sócio fundador da EMDOC, consultoria especializada em mobilidade global há 40 anos com operações no Brasil e no exterior.

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Influência com legitimidade: o que Stanford me ensinou sobre como estruturar campanhas de advocacy em tempos de polarização

Leonardo Volpatti é advogado e cientista político

Em janeiro deste ano, participei de uma imersão acadêmica do mestrado do IDP no Vale do Silício com o objetivo de estudar regulação de inteligência artificial, inovação em políticas públicas e os impactos das novas tecnologias na tomada de decisão governamental. Mas o maior aprendizado não veio de um laboratório tecnológico, e sim de um centro de estudos sobre democracia: o Deliberative Democracy Lab, da Universidade de Stanford.

Ali, fui apresentado ao deliberative polling, método criado por James Fishkin para aprofundar o debate público sobre temas polêmicos e de alta sensibilidade social. O princípio é simples, mas poderoso: as decisões políticas ganham legitimidade quando são precedidas por escuta qualificada, informação equilibrada e deliberação estruturada entre cidadãos diversos. Em um cenário de polarização como o brasileiro, isso é um diferencial estratégico para qualquer campanha de advocacy.

A metodologia já foi aplicada em temas como energia nuclear (Coreia do Sul), reforma da saúde (EUA), mudanças climáticas, legalização de drogas e encarceramento. O processo envolve cinco etapas: seleção de uma amostra representativa da população, aplicação de um questionário inicial, fornecimento de materiais informativos neutros (validados por especialistas de visões opostas), deliberação mediada em grupos pequenos, e reaplicação do questionário ao final. O impacto é mensurável: redução da polarização afetiva, aumento da empatia com o “outro lado” e disposição para consensos realistas.

Esse tipo de escuta não substitui o trabalho institucional tradicional, mas pode qualificá-lo. Em advocacy, não basta convencer autoridades; é preciso sustentar decisões politicamente viáveis e socialmente legítimas. A experiência na Universidade de Stanford me levou a propor uma nova lógica para campanhas de influência: começar pelo diagnóstico do risco ideológico, seguir com deliberação entre stakeholders (usando princípios do deliberative polling), construir narrativas técnicas com base empírica e social, e só então engajar com decisores públicos.

Essa abordagem tem aplicações práticas claras no Brasil. Veja alguns exemplos:

  • Vapes: tema capturado por discursos extremados. Uma escuta com jovens, educadores, médicos e representantes da indústria poderia levar a uma regulação técnica e responsável, com apoio público informado.
  • Cannabis medicinal: um debate com famílias de pacientes, médicos, religiosos e juristas pode gerar empatia e entendimento mútuo — pré-condições para uma política equilibrada.
  • Sistema prisional: sair do confronto de slogans e construir soluções a partir da escuta de policiais, vítimas, ex-detentos e operadores do direito.
  • Legalização de cassinos: deixar de lado o moralismo ou o ufanismo econômico e ouvir operadores do turismo, religiosos, economistas e comunidades locais para formatar uma proposta viável e preventiva.

Executivos e líderes de RIG podem se beneficiar dessa abordagem com quatro ações imediatas:

  1. Incorpore escuta estruturada nos projetos de influência, especialmente em pautas de alto risco político;
  2. Produza materiais técnicos mais neutros, com validação cruzada de visões divergentes;
  3. Organize fóruns deliberativos, com inclusão de vozes críticas e plurais;
  4. Use os resultados da escuta como ativos reputacionais e argumentos técnicos junto ao setor público.

O maior risco hoje não é ser ignorado — é ser percebido como ilegítimo. Em um país onde a opinião pública pode transformar uma proposta técnica em um ringue ideológico, navegar exige mais do que influência: exige método, escuta ativa e disposição para o dissenso construtivo.

A inovação em políticas públicas não começa no plenário. Começa no espaço que poucos estão dispostos a ocupar: o da conversa difícil, com quem pensa diferente.

Olá Sr. Detrator, você aceitaria um café e uma boa conversa?

Artigo

Decifrando o jogo político: como a IA e o mapeamento de stakeholders transformam o relgov

Matheus Palma é responsável por desenvolvimentos de negócios na TSC Brasil

No ambiente dinâmico e altamente influenciado por múltiplos atores, a atuação em relações governamentais exige muito mais do que o monitoramento da pauta legislativa. O desafio não está apenas na identificação de projetos de lei ou normativas em tramitação, mas na compreensão aprofundada dos debates que os cercam e dos interesses que os impulsionam. Para isso, o uso de tecnologia e da Inteligência Artificial (IA) para o mapeamento de temas críticos e stakeholders se torna essencial.

Um modelo eficaz de inteligência em relações governamentais deve capturar a real percepção dos diversos stakeholders impactados por determinado tema. Isso significa ir além dos tradicionais Executivo e Legislativo para incorporar uma análise que contemple o setor produtivo, universidades, organizações da sociedade civil e formadores de opinião. Dessa forma, torna-se possível construir estratégias mais precisas e fundamentadas, reduzindo riscos e ampliando as oportunidades de influência legítima.

O mapeamento de stakeholders envolve a identificação, categorização e análise dos posicionamentos dos atores-chave. Não basta saber quem são com um perfil biográfico de seu histórico profissional; é crucial compreender seus interesses, agendas e possíveis alianças. A segmentação desses stakeholders permite a construção de narrativas mais eficazes e estratégias de engajamento direcionadas, ampliando a capacidade de interlocução e antecipação de cenários adversos. Encontrar pontos em comum para um debate mais construtivo pode ser uma importante vantagem para defender os interesses de sua organização.

Além disso, temas críticos frequentemente transcendem o escopo regulatório e alcançam a esfera da opinião pública, onde a percepção social pode moldar decisões políticas. Monitorar e interpretar o debate público, utilizando análise de dados e inteligência de dados, possibilita uma atuação mais proativa e menos reativa. Compreender quais grupos apoiam ou se opõem a determinada pauta e os argumentos que sustentam suas posições é essencial para definir abordagens estratégicas, seja na construção de consensos, na mitigação de resistências ou na mobilização de apoios.

A IA tem se mostrado uma aliada poderosa nesse processo, permitindo o mapeamento e a identificação de tendências com mais agilidade e precisão. Seu poder e sua vantagem competitiva cada vez mais deixam de ser uma opção, mas um “must have” para as empresas. Por meio da análise de grandes volumes de dados em tempo real, a IA pode identificar padrões de comportamento, detectar mudanças na percepção pública e antecipar possíveis riscos regulatórios e riscos reputacionais a sua empresa. Além disso, algoritmos avançados podem fornecer insights estratégicos, auxiliando na formulação de discursos mais assertivos e na segmentação de stakeholders de forma mais eficaz. Dessa forma, a tecnologia potencializa a capacidade analítica dos profissionais de relações governamentais, proporcionando decisões mais embasadas e estratégicas.

Dando exemplos mais práticos, imagine estar em suas mãos a capacidade de construção de redes de relacionamento identificando, por exemplo, quem são as conexões diretas mais importantes de determinado stakeholder (Tier 01) e quais seus posicionamentos em temas relevantes. Ainda mais, imagine também fazer esse mapeamento vinculado a um contexto específico relacionado à estratégia maior de sua empresa, analisando em poucos minutos, como isso vai impactar seu negócio. Tudo isso já é possível utilizando a IA de maneira customizada a seu negócio. Em uma análise mais estratégica, relacionar como sua empresa pode ser percebida pelo mercado, avaliando possíveis impactos reputacionais e quais medidas deveriam ser tomadas para evitar danos também pode ser possível com um modelo treinado e focado em seu negócio.

Até onde podemos ir com a IA é uma pergunta que ainda não temos respostas, mas já podemos usufruir de seus benefícios em nossas rotinas e na melhoria de nossos trabalhos. Estruturar sua rotina de trabalho, suas pesquisas e sua definição de estratégia usando IA já é uma realidade e precisa ser explorada. Um bom início é a quebra de suas tarefas para avaliar em quais delas pode ser utilizado algum modelo de IA para promover um ganho de eficiência e de escala em seu trabalho. Mesmo um usuário com pouca familiaridade em pouco tempo já vai começar a identificar os benefícios de seu uso e, quanto mais vai se refinando, modelos mais avançados de IA vão sendo demandados e escolher aquele que melhor se adeque ao contexto de sua empresa irá trazer uma vantagem competitiva para o profissional e, consequentemente, para sua organização.

Em resumo, a adoção de um sistema estruturado de mapeamento e inteligência proporciona previsibilidade e embasamento para ações estratégicas. O cenário regulatório e institucional está cada vez mais complexo e sujeito a pressões externas, e atuar sem um mapeamento robusto significa correr riscos desnecessários e perder oportunidades estratégicas. Portanto, ao extrapolar a observação legislativa e adotar uma visão ampliada do ambiente político e social, os profissionais de relações governamentais elevam sua capacidade de influência, promovendo um diálogo mais qualificado e eficaz entre setores impactados e tomadores de decisão. A construção de políticas públicas equilibradas e sustentáveis depende dessa abordagem integrada e baseada em inteligência estratégica.

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Relacionamentos como catalisadores: estratégias poderosas para fazer acontecer

Michelle Novaes é uma líder empreendedora carioca, conselheira titular no Conselho Estadual do Empreendedorismo Feminino e vice-presidente da ACRJ

No mundo dinâmico e interconectado em que vivemos, a capacidade de criar e cultivar relacionamentos significativos são habilidades essenciais que transcendem barreiras e setores. Seja no ambiente profissional, social ou comunitário, os relacionamentos podem atuar como catalisadores poderosos, capazes de transformar desafios em oportunidades e sonhos em realidade. Ao longo da minha vida e em diferentes atuações, percebo como as maiores realizações aconteceram por e com. Por alguém, ou um propósito, e com diversos parceiros que abraçaram a causa e me ajudaram a fazer acontecer.

Networking é uma ferramenta poderosa e valiosíssima. Na minha perspectiva, a chave para o networking eficaz reside na construção de conexões pautadas em empatia, alteridade e bem-querer mútuo. Quando nos dispomos a enxergar o outro com compreensão e genuíno interesse, criamos laços que vão além do profissional, tocando o pessoal e o humano. Esses vínculos são fundamentais para a inovação e o crescimento, pois a diversidade de perspectivas enriquece nossas experiências, decisões e nos inspira a agir de forma diferente.

Construindo pontes em múltiplas frentes

Sou uma mulher que transita em diferentes contextos, cenários e segmentos e acredito que os relacionamentos não devem ser confinados a um único segmento ou assunto. Pelo contrário, hoje vivemos em uma sociedade cada vez mais polivalente e conectada, que, por diversos fatores e até necessidades humanas, precisa criar menos muros e mais pontes. Por isso, gosto de reforçar que, a meu ver, devemos nos esforçar para construir conexões multifacetadas, que abarquem diferentes frentes e disciplinas. Um líder eficaz é aquele que tece uma rede que integra diversas áreas, desde o setor empresarial e governamental até a esfera comunitária. Essa abordagem multidisciplinar oferece uma visão holística, que é crucial para a resolução de problemas complexos.

Recebo perguntas com frequência sobre como faço para trabalhar e ter um networking tão amplo e potente. Quando olho para trás para elencar alguns marcos e ações táticas, lembro que comecei a construir relacionamentos valiosos desde o início da minha vida profissional como comissária executiva de aviação. Desse período, trago comigo dois grandes ensinamentos: primeiro, avião só decola com o vento contra; segundo, o sucesso e a boa experiência do voo dependem de uma equipe.

Além de lembrar e me inspirar com esses ensinamentos, compartilho com os leitores da Diálogos quatro estratégias práticas para o dia a dia que ajudam a lapidar e construir relacionamentos de grande valor:

Escuta ativa: ouvir atentamente e com empatia é a base de qualquer relacionamento forte. Em reuniões ou conversas informais, pratique a escuta ativa para entender verdadeiramente as necessidades e perspectivas dos outros. O mundo está cheio de ruídos, e ouvir de forma ativa proporciona clareza.

Mentoria e compartilhamento: compartilhar conhecimentos e experiências sem esperar retorno imediato é uma maneira eficaz de fortalecer laços. Ofereça-se para ser mentor ou participe de grupos de discussão onde possa contribuir e aprender. Na mesma perspectiva, inspire-se, conecte-se e busque mentores em quem você confia e com quem pode trocar experiências.

Colaboração intencional: procure oportunidades de colaboração que não apenas beneficiem seu trabalho, mas também promovam o crescimento de outros. Projetos interdisciplinares e ações sociais são excelentes para estimular novas ideias, fortalecer equipes e melhorar a nossa vida e a dos outros.

Apoio incondicional: torcer pelo sucesso dos outros e oferecer apoio genuíno cria um ciclo de positividade e confiança. Ajudar sem esperar payback imediato cultiva um ambiente de cooperação e reciprocidade.

O bem de fazer o bem

Um dos aspectos mais gratificantes de cultivar relacionamentos autênticos é o bem que eles trazem, tanto pessoal quanto profissionalmente. Quando agimos com a intenção de fazer o bem e de torcer pelo sucesso do outro, criamos um espaço onde a generosidade e a gratidão florescem. Além de fortalecer laços, isso também promove um senso de comunidade e pertencimento, tão necessário nos dias de hoje, onde os índices de solidão e problemas de saúde mental crescem a passos largos.

Os relacionamentos são a espinha dorsal de qualquer empreendimento e vida bem-sucedida. Ao investir tempo e energia em conexões baseadas na empatia e no respeito mútuo, ampliamos nosso horizonte de oportunidades e contribuímos para um mundo mais colaborativo e inclusivo. Vamos nos empenhar em fazer o bem, com a certeza de que esses esforços reverberam positivamente em todas as direções, catalisando resultados e pessoas.

Novos Associados IRELGOV

O IRELGOV dá as boas-vindas aos seus novos associados, que chegam para fortalecer essa grande rede de conhecimento que estamos construindo diariamente!

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Expediente #04 – Dezembro – 2024

DIÁLOGOS IRELGOV é uma publicação do Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV)

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Jornalista Responsável
Luiza Paula Sampaio (MTb 17.043)

Coordenação Editorial
Thomaz D’Addio
Marcela Tulli

Colaboraram nesta edição
Fernando de Moraes
Iolanda Vieira

Suporte
Márcia Rosa e Débora Santos

Conselho Diretor:
Patricia Nepomuceno – Presidente
Juliana Marra – Vice-Presidente
Lara Gurgel – Diretora Executiva
Felipe Carvalho – Conselho de Planejamento Estratégico
Pablo Cesário – Conselho de Conteúdos
Mariana Guimarães – Conselho Jurídico
Thomaz D’addio – Conselho de Comunicação
Júlia Vianna – Conselho de Parcerias
Verônica Hoe Lopes – Conselho de Responsabilidade Social
Carlos Lima – Conselho de Assuntos Estratégicos
Ariela Zanetta – Conselho de Carreiras
Helga Franco – Conselho Fiscal
Paulo Homem – Conselho Fiscal
Roberta Rios – Conselho Fiscal
Marcelo Almeida – Conselho Consultivo
Leonardo Barreto – Conselho Consultivo
Felipe Daud – Conselho Consultivo
Carlos Petiz – Conselho Consultivo
Mariana Chaimovich – Conselho Consultivo
Luciano Gollner – Diretor regional do IRELGOV no Espírito Santo
Gustavo Bernard – Diretor regional do IRELGOV em Minas Gerais
Rafael Maia – Diretor Regional do IRELGOV no Estado do Rio de Janeiro

 

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