Editorial

O ano de 2024 foi muito intenso para o IRELGOV: realizamos Grupos de Trabalho (GTs) para debater temas que afetam diariamente nossa atividade, gravamos podcasts com conteúdos relevantes, organizamos uma missão internacional a Washington e realizamos um congresso pelos 10 anos do instituto, entre outras atividades.

No entanto, este ano foi muito mais do que isso. Representou um período no qual demos continuidade ao nosso trabalho de levar aos nossos associados assuntos importantes para a realização de suas atividades profissionais, debatendo alternativas e soluções para o crescimento da área de relações governamentais. Também nos mantivemos firmes em nosso propósito de mostrar à sociedade os benefícios que um lobby transparente é capaz de proporcionar. 

É este o caminho que vamos continuar trilhando no próximo ano.

Desejamos a todos um 2025 de muitas realizações!

 

Por Thomaz D’Addio, Conselheiro de Comunicação do IRELGOV, e Marcela Tullii, Diretora de Comunicação do Instituto

Nesta Edição

Coluna Radar

IRELGOV recebe Distinção de Mérito no Prêmio Marco Maciel

Foto: Abrig

No dia 26 de novembro, o IRELGOV participou da cerimônia do Prêmio Marco Maciel, promovido pela ABRIG, e foi reconhecido com uma Distinção de Mérito pela confiança e a parceria institucional permanentes que fortalecem as iniciativas e reafirmam o compromisso conjunto pelo diálogo, ética e transparência nas Relações Institucionais e Governamentais no Brasil. A diretora-executiva do IRELGOV, Lara Gurgel, representou o instituto na premiação.

O IRELGOV agradece o reconhecimento e parabeniza a ABRIG pelos seus 18 anos!

IRELGOV está em busca de patrocinadores para edição do Programa de Mentoria Exclusivo para Mulheres

Em função dos inúmeros desafios enfrentados por mulheres no campo das relações governamentais, o Instituto decidiu criar uma edição do programa de mentoria com foco no empoderamento de mulheres na área de RelGov, oferecendo um conjunto abrangente de ferramentas e conhecimentos essenciais para o avanço profissional.

Empresas que tenham interesse em patrocinar a ação poderão adquirir um pacote com inúmeros benefícios.

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Patrocine o Encontro IRELGOV 2025!

O debate sobre boas práticas em relações governamentais é essencial para a construção de um ambiente de negócios mais transparente e ético.

Em sua segunda edição, o Encontro 2025 reunirá, em Brasília, líderes do setor privado e público para explorar estratégias que garantam uma comunicação clara e uma colaboração eficaz.

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Embarque na 7ª Missão Internacional do IRELGOV em Bruxelas

A 7ª Missão Internacional do IRELGOV já está confirmada para setembro de 2025, com destino a Bruxelas, na Bélgica, em parceria com o Public Affairs Council.
Essa é uma oportunidade exclusiva para quem atua em relações governamentais e institucionais e deseja se destacar em mercados cada vez mais competitivos.

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IRELGOV promove Happy Hour em Brasília, BH e RJ

Nos meses de outubro e novembro, o IRELGOV promoveu uma série de Happy Hours com nossos associados e convidados, em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Os encontros representam uma excelente oportunidade de networking e troca de experiências entre os profissionais de relações governamentais.

Fique ligado(a) nas nossas redes sociais e programe-se para estar conosco nos próximos encontros!

Happy Hour Belo Horizonte - Outubro 2024
Happy Hour no Rio de Janeiro - Outubro de 2024
Happy Hour em Brasília - Novembro 2024

POR DENTRO DO IRELGOV

O protagonismo das relações governamentais: reflexões de 2024 e perspectivas para 2025

Por Lara Gurgel, diretora-executiva do IRELGOV

O ano de 2024 foi muito importante para os profissionais de relações governamentais, marcado por desafios e transformações. Questões como reforma tributária, temas climáticos e eleições internacionais e municipais dominaram as agendas políticas. Esses eventos não apenas moldaram o cenário nacional, mas também reafirmaram o protagonismo da nossa profissão, exigindo uma atuação estratégica, ética e atenta às dinâmicas entre todos os poderes.

Para o IRELGOV, 2024 foi o ano de celebração pelos dez anos de atuação do think tank e pela consolidação e fortalecimento do instituto. Com iniciativas importantes, como o lançamento dos modelos de referência, a 6ª Missão Internacional e os projetos desenvolvidos pelo Conselho Consultivo, o instituto não apenas elevou a qualidade do debate, mas também ofereceu aos profissionais da área uma plataforma robusta para aprimorar suas práticas diárias, criando novas oportunidades de aprendizado, networking e, principalmente, propiciando o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades essenciais para o futuro da profissão.

No campo dos debates, realizamos projetos de grande relevância, como o Congresso Internacional do IRELGOV, o ciclo Diálogos com Reguladores, os grupos de trabalho da Agenda de Relações Governamentais e Políticas Públicas, além da contínua produção de episódios do podcast TransformaGov. Na comunicação, modernizamos o site do IRELGOV, proporcionamos novos benefícios para nossos associados e ampliamos a produção de artigos e entrevistas da Revista Diálogos, solidificando nossa missão de promover a troca de ideias e a qualificação do setor.

Na arena institucional, a nova gestão intensificou o diálogo com ministérios, confederações e agências, com o objetivo de apresentar o trabalho do instituto e reafirmar o compromisso de nossos associados com um lobby transparente, ético e legítimo. Esse esforço também nos permitiu estabelecer contatos e parcerias internacionais valiosas com o Atlantic Council, o Public Affairs Council e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reconheceu a liderança do IRELGOV na promoção da transparência na atividade. Essas colaborações ampliam nosso impacto global e consolidam nossa posição de referência no cenário nacional e internacional.

Ao consolidarmos parcerias educacionais e estreitarmos laços com entidades como a ABRIG, contribuímos diretamente para o aprimoramento contínuo dos profissionais do setor, construindo um ambiente mais preparado para enfrentar os desafios de um contexto político cada vez mais dinâmico e complexo.

Em 2024, alcançamos um marco significativo, registrando um recorde de associações na categoria pessoa jurídica e trazendo mais de oitenta novos associados na categoria pessoa física para o IRELGOV. Além disso, ampliamos nossas fronteiras nacionais com a criação de três novas diretorias regionais, que têm prospectado parcerias locais estratégicas. Essa expansão reforça ainda mais a presença do IRELGOV em diversas regiões do país, evidenciando que as relações governamentais vão muito além do eixo Brasília-São Paulo.

Para encerrar o ano, o IRELGOV lançou sua nova Agenda de Relações Governamentais e Políticas Públicas para o biênio 2025-2026. Elaborada com a colaboração de nossos associados, a Agenda é um documento estratégico que delineia as principais temáticas que serão abordadas pelo IRELGOV nos próximos anos, posicionando o instituto como o principal think tank de relações governamentais do Brasil. O documento não apenas reflete desafios conhecidos, mas também incorpora novos cenários, abordando temas complexos e de grande relevância para o cotidiano dos profissionais da área.

Em 2025, com a realização do Encontro IRELGOV e da 7ª Missão Internacional em Bruxelas, estamos preparando o terreno para uma nova era de aprendizado, colaboração e reflexão crítica. Estes eventos serão uma oportunidade única de estreitar o relacionamento com os principais centros de decisão, além de posicionar nossos associados como protagonistas nas discussões nacionais e internacionais sobre transparência, lobby e políticas públicas.

Agradecemos a todos os que contribuíram para essa trajetória de sucesso. Cada ação, colaboração e contribuição foram essenciais para que chegássemos até aqui. No próximo ano, com o apoio e o engajamento de nossos associados, continuaremos a fortalecer a profissão e a construir um futuro ainda mais transparente, ético e profissional para as relações governamentais no Brasil.

Como é participar dos GTs?

Os Grupos de Trabalho (GTs) constituem uma parte vital da estrutura do IRELGOV, desempenhando um papel essencial na abordagem de temas relacionados aos objetivos do instituto. Estes grupos se dedicam ao debate e à análise aprofundada de questões-chave, buscando identificar desafios, oportunidades e soluções inovadoras.

Um dos resultados dos GTs é a elaboração de guias de boas práticas ou posicionamentos institucionais sobre as temáticas discutidas. Esses materiais representam uma compilação de insights, recomendações e melhores práticas identificadas durante o processo de debate, fornecendo orientações valiosas para profissionais e organizações envolvidos em relações governamentais e políticas públicas.

Confira agora a opinião de dois profissionais em início de carreira, que participaram dos GTs: Guilherme Esteves, da área de Relações Institucionais e Governamentais da Dominium Consultoria e Larissa Nascimento, assistente de RH Internacional no Médicos sem fronteiras Brasil.

Oportunidade de debater temas relevantes

Guilherme Esteves

Estruturar, pensar, inovar, propor e implementar. Participar dos grupos de trabalho do IRELGOV é mais que uma experiência, é uma oportunidade de debater e participar dos grandes temas da área. Ser associado ao instituto nos proporciona relevância em nossos trabalhos cotidianos, pois temos um espaço aberto para poder debater sobre os mais diversos temas que vão ao encontro do nosso dia a dia.

Por ser um grande think tank, os grupos de trabalho do IRELGOV têm a adesão de grandes nomes da área de relações governamentais. Durante os trabalhos é possível fazer um bom networking, tanto no sentido de se aproximar de possíveis stakeholders e aumentar seus contatos quanto, também, por ser uma oportunidade para quem busca consolidação e divulgação de seu trabalho.

Durante minha trajetória como associado, pude me adentrar em temas sobre os quais não tinha muito conhecimento. As exposições e debates são bem completos, sendo possível ter um panorama geral e robusto contemplando a evolução do tema, quais os principais gargalos, próximos passos e possíveis alternativas. Esse conhecimento proporciona aos associados a oportunidade de realizarem suas próprias proposições e intervenções com mais eficácia, além de permitir que o grupo de trabalho elabore documentos que servirão de base para a atuação de profissionais, instituições e empresas públicas e privadas.

Até então participei do grupo de trabalho de tendências e boas práticas em relgov, que me proporcionou uma boa base sobre os principais assuntos de relações governamentais e suas condutas. Atualmente, integro o Grupo de Trabalho de Democracia, Participação e Representação Político-Partidária, que está no início de suas atividades. Esse núcleo se propõe a explorar as transformações da democracia, como coeficiente eleitoral, mídias digitais, representação, sub-representação e ações públicas e privadas para o fortalecimento da democracia.

Por fim, iniciei no programa de mentoria do IRELGOV, do qual sou mentorado de Leonardo Volpatti. Esse programa tem sido muito valioso para o meu desenvolvimento profissional. No geral, tem sido muito valoroso ter me tornado um associado ao instituto e, sem dúvidas, é uma experiência muito importante para qualquer profissional de relações governamentais.

Larissa Nascimento

No GT de Webinars e Ações On-line tivemos sessões sobre orçamento público e os mitos e verdades sobre o lobby no Brasil. Para falar do grupo, é importante saber que tínhamos três pessoas ativas, com diferentes agendas e rotinas, e que, no meio do primeiro semestre de 2024, nós nos juntamos para fazer o planejamento atual de temas que seriam de interesse ao IRELGOV e seus associados. Com isso, partimos para sondagem de pessoas com agenda disponível para participar dos webinars. Dentro da minha rotina, foi um desafio poder cooperar, por conta do trabalho, da pesquisa e de aulas de línguas estrangeiras que muito batiam com o horário dos webinars e das conversas de organização.

Dos temas, o que mais agregou ao meu trabalho foi sobre lobby, com Erik Camarano, Diretor Sênior da BioMarin e ex-presidente do IRELGOV, que falou de forma bem sucinta sobre os desafios que diferentes grupos de interesses enfrentam no Brasil, em particular as mulheres e a população negra brasileira. Trabalho em uma organização internacional, e a defesa dos nossos interesses e posicionamentos é o que nos guia. Portanto, saber das diferentes práticas e estratégias a que podemos ficar atentos para nos relacionar com os stakeholders tomadores de decisão e os que pressionam para que isso ocorra agregou na construção do meu conhecimento profissional.

Dias inesquecíveis em Washington

Para qualquer profissional, uma experiência internacional expande horizontes e agrega valor. Para quem está iniciando a carreira então é uma oportunidade extraordinária. Foi o que aconteceu com Natália Oliveira, bolsista pelo Coletivo Pretas e Pretos em Relgov que participou da 6ª Missão Internacional do IRELGOV, em Washington, Estados Unidos. Confira seu testemunho: 

Natália Oliveira

Participar da 6ª Missão Internacional em Washington D.C. foi uma experiência excepcional. Poder estar, por uma semana, participando de cursos na McDonough School of Business e na Georgetown University favoreceu meu enriquecimento acadêmico e profissional, algo que dificilmente teria desenvolvido se não fosse por esta oportunidade. Estar na universidade, uma das mais antigas em atividade nos Estados Unidos, me possibilitou entender que é possível almejar novos espaços e olhares. Essa percepção foi possível graças à contribuição de professores de excelência, que me auxiliaram a refletir e mover meus próximos passos com um olhar atento à inovação, a estabelecer estratégias e comunicação perspicaz, bem como a aprimorar a empatia e o trabalho coletivo.

As atividades externas aos órgãos e instituições contribuíram significativamente para valorizar as atuações do Brasil enquanto Estado soberano e descobrir as múltiplas possibilidades de diálogo e de profissionais comprometidos, fortalecendo a relação comercial Brasil-EUA. Além disso, foi possível entender as similaridades e diferenças na atuação do lobby nos dois países e como as relações governamentais e institucionais são construídas de acordo com as perspectivas políticas estabelecidas.

Tivemos a oportunidade de visitar entidades privadas e públicas, como o Brazil Caucus no congresso estadunidense, a U.S. Chamber of Commerce e o escritório de advocacia Covington. Entre os pontos-chave das visitas que mais me chamaram a atenção e despertaram interesse para o enriquecimento da minha atividade profissional estiveram conhecer o Public Affairs Council, onde pudemos ter uma percepção sobre as eleições dos EUA e a atuação dos lobistas estadunidenses; o Atlantic Council, que me apresentou novos horizontes sobre geopolítica e a multiplicidade de atuações com as quais as entidades podem contribuir para garantir os objetivos-alvo; bem como acompanhar e entender o funcionamento de grandes nomes que se destacam no lobby, como o Bully Pulpit International, uma referência em consultorias políticas, e a PepsiCo, empresa que se destaca na atuação regulatória do mercado alimentício.

Estar na capital estadunidense durante uma eleição tão marcante como a de 2024 certamente ficará marcada na minha trajetória profissional. Além de observar a disputa em si, pude entender as dinâmicas do país, como o formato adotado pelos candidatos nas campanhas nos estados, como a população se comporta nesse cenário, as análises de conjuntura feitas por especialistas e a construção de ações estratégicas a depender do resultado da eleição.

Conhecer colegas de diversos campos e experiências de atuação em relações governamentais me proporcionou uma visão ampliada sobre a profissão e contribuiu significativamente para o desenho do caminho profissional que almejo alcançar.

Por fim, me senti honrada de ter sido selecionada para estar na missão, representando o Coletivo Pretas e Pretos em Relgov. Além de ser um grande incentivo para acreditar na minha própria trajetória, anseio que seja uma oportunidade para que mais profissionais negras e negros estejam presentes e alcancem esses e outros espaços. Participar dessa missão permitiu ampliar meus horizontes e, assim como referências importantes que tenho na profissão, espero que meu relato, por meio da bolsa que me foi concedida, incentive mais profissionais a vivenciar experiências como esta e que mais espaços de troca possam ser estabelecidos, pensando especialmente no fortalecimento das carreiras e do nosso reconhecimento enquanto profissionais de relações governamentais.

TransformaGov Podcast

Nas ondas da web

O podcast Transformagov é uma iniciativa do IRELGOV em parceria com a faculdade ESPM com o objetivo de trazer discussões essenciais sobre o setor de relações governamentais. Lançado mensalmente no Spotify, o programa aborda questões contemporâneas e pertinentes ao setor, discutidas sob a perspectiva de especialistas de diversas áreas, tudo em um formato acessível e dinâmico para o público.

Temas e discussões de 2024

Neste ano, o Transformagov trouxe uma série de temas variados que revelaram a complexidade e a amplitude das relações governamentais na atualidade. Entre os destaques, discutimos com Thaís Zschieschang o papel das novas tecnologias nas eleições, onde analisamos o impacto de ferramentas digitais e plataformas de análise de dados na transparência e no acesso democrático. Em outro episódio, mergulhamos com Carlos Sunfeld na tecnologia e digitalização do relgov, abordando como as inovações estão redefinindo o relacionamento entre instituições e cidadãos, promovendo maior agilidade e eficiência.

O podcast convidou o professor Eugênio Bucci para tratar da influência das tecnologias na sociedade, um tema essencial que explorou o impacto das novas ferramentas digitais nas relações sociais e na política. A conversa sobre a relação entre Public Relations (PR) e Public Affairs (PA) com Helga Franco foi outra discussão importante, na qual especialistas examinaram as intersecções e diferenças entre PR e PA, destacando o papel estratégico de cada um nas interações com o governo e o público.

Outro ponto alto do ano foi o episódio sobre diversidade e inclusão em relgov, onde foram debatidos com Fabiana Gadelha os desafios e as iniciativas que promovem um ambiente mais inclusivo e representativo na área. Da mesma forma, o tema de inovação e participação pública digital destacou como as plataformas online podem ampliar a voz dos cidadãos e a transparência nas tomadas de decisão, em um episódio com Felipe Maruyama.

O tema do capacitismo nas relações governamentais, que contou com a participação de Anita Cardoso e Ayres Jr., trouxe à tona questões de acessibilidade e inclusão para pessoas com deficiência, levantando reflexões importantes sobre a representatividade no setor. A capacitação e o treinamento em Relações Institucionais e Governamentais (RIG) foram abordados por Andrea Gozetto, evidenciando o investimento em habilidades técnicas e estratégicas para atuar no setor. Em Orçamento Público e RelGov, discutimos com Helder Rebouças a importância da compreensão dos ciclos orçamentários para o trabalho de relações governamentais.

Matheus Corrêa

Por fim, no episódio sobre o futuro do relgov, convidamos os fundadores do IRELGOV Gui Athia e Kelly Aguilar para apresentarem a nossos ouvintes o que eles imaginam que está por vir para o setor, considerando as transformações sociais e tecnológicas em curso.

A coordenação do Transformagov é cuidadosamente executada por Matheus Corrêa, internacionalista formado pela UFABC e bolsista no IRELGOV, que prepara o roteiro de cada episódio, incluindo perguntas que servem como guias para os temas abordados.

O ano de 2024 foi repleto de temas relevantes e contou com a dedicação de uma equipe comprometida em trazer conversas significativas ao público. Com temas que abordaram desde a tecnologia até a inclusão, o Transformagov se consolidou como um espaço de aprendizado e reflexão sobre as transformações nas relações governamentais.

CONGRESSO COMEMORA 10 ANOS DE SUCESSO

O IRELGOV comemorou 10 anos de atividades com um congresso que reuniu profissionais, empresas e autoridades. Confira as impressões das empresas parceiras do evento:

Guilherme Camargo, coordenador de Relações Institucionais e Governamentais da Unilever

Na sua opinião, quais os destaques do congresso de dez anos do IRELGOV?

Como destaque do congresso de dez anos do IRELGOV eu ressaltaria o aperfeiçoamento dos painéis que abordaram as tendências no setor, com discussões importantes sobre a profissionalização e regulamentação da área de relações governamentais e as relações entre setor privado e o poder público.

Como avalia a evolução da atividade de relações governamentais nos últimos 10 anos?

Nos últimos 10 anos, a atividade de relações governamentais evoluiu significativamente, tornando-se mais profissional e estruturada, com um aumento na formação acadêmica e especialização dos profissionais. A adoção de novas tecnologias para monitoramento e análise de políticas públicas facilitou a tomada de decisões informadas. Além disso, houve maior ênfase na transparência e na ética e um crescimento na colaboração entre governo, empresas e sociedade civil.

Como avalia os efeitos da atividade de relgov no desenvolvimento da sociedade?

A atividade de relações governamentais tem contribuído para o desenvolvimento da sociedade ao ajudar na formulação de políticas públicas mais eficazes e alinhadas com as necessidades da população. Ela também facilita o acesso à informação, promovendo uma cidadania mais ativa e informada, apoia o desenvolvimento econômico e a inovação e fortalece a democracia ao promover um ambiente mais participativo e representativo.

O que acredita que deve ser feito para melhorar o desempenho da atividade de relações governamentais no Brasil?

Para melhorar o desempenho da atividade de relações governamentais no Brasil, acredito ser necessário o investimento contínuo na formação dos profissionais, reforço às instituições que regulam e supervisionam a atividade e a adaptação às novas tecnologias. Além disso, a adoção de guias e recomendações de melhores práticas, em linha com práticas que garantam a transparência nas interações entre setor público e privado, também compõe o conjunto de ações necessárias para o aperfeiçoamento do desempenho da atividade.

Rebeca Lucena é diretora de Relações Governamentais da BMJ

Na sua opinião, quais os destaques do Congresso de dez anos do IRELGOV?

O congresso foi marcado por discussões de altíssimo nível sobre temas cruciais para o futuro das relações governamentais no Brasil. Entre os destaques, cito a presença de especialistas renomados, que trouxeram reflexões profundas sobre ética, transparência e inovação no setor, além de abordagens sobre a importância da profissionalização da área. A integração entre representantes do setor público, privado e acadêmico também foi fundamental para ampliar a compreensão dos desafios e oportunidades do nosso trabalho. Esses diálogos reforçaram o papel estratégico da atividade para a construção de políticas públicas mais eficazes e democráticas. E, como BMJ, nós nos sentimos honrados em termos feito parte desse momento do instituto e de estarmos sempre contribuindo para o desenvolvimento da atividade no país.

Como avalia a evolução da atividade de relações governamentais nos últimos dez anos?

Nos últimos anos, a atividade de relações governamentais no Brasil avançou significativamente, tanto em termos de profissionalização quanto de reconhecimento como uma prática legítima e essencial para o processo democrático. Esse amadurecimento da atividade trouxe mais clareza e transparência, consolidando-a como um instrumento indispensável para a construção de pontes entre o setor privado, a sociedade civil e o setor público. Além disso, houve uma ampliação do uso de dados e tecnologia para embasar estratégias de advocacy, o que contribuiu para a qualificação das interações e o fortalecimento da imagem do profissional de relgov.

Como avalia os efeitos da atividade de relgov no desenvolvimento da sociedade?

A atividade de relações governamentais tem um impacto direto e positivo no desenvolvimento da sociedade ao facilitar o diálogo entre diferentes atores, promovendo políticas públicas mais inclusivas e eficazes. Por meio de uma comunicação clara e propositiva com tomadores de decisão, conseguimos trazer as demandas de diversos setores para a agenda governamental, contribuindo para a resolução de problemas estruturais e para o avanço de pautas caras para a sociedade. Além disso, o trabalho de relgov estimula a transparência e fortalece a participação social, aspectos fundamentais para o amadurecimento democrático do Brasil.

O que acredita que deve ser feito para melhorar o desempenho da atividade de relações governamentais no Brasil?

Para aprimorar o desempenho da atividade de relações governamentais no Brasil é essencial investir na capacitação contínua dos profissionais da área, promovendo educação voltada para temas como ética, compliance e tecnologia. Também acredito que seja fundamental ampliar o diálogo com a sociedade para desmistificar a atividade, reforçando seu caráter legítimo e indispensável. Por fim, contribuir para um ambiente que traga ainda mais segurança jurídica e padronização pode ser um grande catalisador para o fortalecimento e o reconhecimento da área como uma atividade estratégica para o desenvolvimento do país. Esse é o papel do IRELGOV, do qual tenho orgulho de fazer parte da gestão desde 2022.

Um olhar sobre a COP 30

Suelma Rosa, vice-presidente de Assuntos Corporativos para América Latina da PepsiCo

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que será sediada no Brasil, promete ser um marco para a implementação de soluções sustentáveis no combate à crise climática. Em entrevista, Suelma Rosa, vice-presidente de Assuntos Corporativos para América Latina da PepsiCo, destaca que o evento será uma oportunidade única para fortalecer políticas de bioeconomia e práticas ecológicas, como reflorestamento e regeneração de ecossistemas. O Brasil, como anfitrião, poderá reforçar sua liderança na preservação da biodiversidade, atraindo investimentos para um futuro mais verde e resiliente, enquanto contribui para uma agenda global de segurança alimentar e adaptação climática.

O que esperar da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30)?

A COP 30 representa uma oportunidade única para impulsionar uma agenda global focada em soluções sustentáveis que integram clima, biodiversidade e segurança alimentar. Com o Brasil sediando o evento, espera-se uma liderança clara no fortalecimento de políticas que promovam a bioeconomia e soluções baseadas na natureza, como reflorestamento, práticas agroecológicas e regeneração de ecossistemas. A conferência poderá incentivar a colaboração entre países e setores para mitigar os impactos climáticos, enquanto reforça a proteção da biodiversidade e os serviços ecossistêmicos essenciais para o bem-estar humano e ambiental.

Que tipos de acordos podem resultar desse encontro?

Os acordos esperados incluem a criação de um ambiente de incentivo para a bioeconomia, com estímulos e políticas que fortaleçam ecossistemas de negócios sustentáveis, resilientes e de baixo carbono. A COP 30 deve consolidar parcerias para implementar soluções baseadas na natureza, como reflorestamento e restauração de ecossistemas, promovendo simultaneamente a segurança alimentar e a resiliência climática. Além disso, podem ser desenvolvidos indicadores comuns para monitorar e relatar o progresso nas áreas de mitigação, adaptação e biodiversidade, em alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Esse compromisso poderá direcionar investimentos e recursos para inovações sustentáveis, criando um impacto positivo e duradouro nos sistemas alimentares globais.

De que forma o relgov influencia nas decisões que serão tomadas na conferência?

As relações governamentais desempenham um papel estratégico na promoção de políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis e soluções inovadoras para o combate às mudanças climáticas. Por meio do diálogo entre governo, setor privado e sociedade civil, o relgov facilita o desenvolvimento de políticas que integrem a bioeconomia, fortaleçam a conservação da biodiversidade e incentivem práticas agrícolas de baixo carbono. A atuação do relgov será essencial para alinhar os compromissos globais com os interesses nacionais, impulsionando o desenvolvimento de cadeias de valor sustentáveis e promovendo uma agenda positiva para a COP 30 que atenda aos desafios climáticos e de segurança alimentar.

Quais os benefícios para o Brasil por sediar esse encontro?

Sediar a COP 30 coloca o Brasil em posição de liderança na agenda ambiental global, reforçando seu papel como um protagonista na proteção da biodiversidade e na promoção de soluções sustentáveis. O evento não apenas amplia a visibilidade do país no cenário internacional, mas também atrai investimentos em bioeconomia e tecnologias verdes, fortalecendo a economia local e criando oportunidades de crescimento sustentável. Além disso, a COP 30 posiciona o Brasil como um modelo para práticas de conservação e restauração de ecossistemas, promovendo um futuro de prosperidade e resiliência ambiental para o país e o mundo.

Brasil, BRICs e o futuro do comércio internacional

Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC

Em entrevista exclusiva para a revista Diálogos, Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC, explora os desdobramentos do G20, destacando como o Brasil, ao presidir o fórum, conseguiu avançar em temas essenciais como comércio sustentável, inclusão feminina e reforma da OMC. A especialista também analisa as perspectivas para o comércio brasileiro com o Brics, sublinhando oportunidades no setor de tecnologias inovadoras e sustentáveis. O Brasil se posiciona de forma a fortalecer sua competitividade e diversificar suas exportações, aproveitando tendências como a transformação digital e a intersecção entre política comercial e ambiental.

Quais os desdobramentos do G20? Quais benefícios para o Brasil?

O G20 é um fórum composto pelas maiores economias do mundo que, juntas, representam 87% do PIB global, 80% da população e 80% do comércio internacional. Logo, as discussões e os consensos alcançados dentro desse grupo são fundamentais para o progresso de qualquer tema de interesse global, com impactos diretos nas políticas internas de cada país e na maneira como esses países se relacionam entre si.

No âmbito do Grupo de Trabalho de Comércio e Investimentos, que nós co-presidimos com o Itamaraty, destaco duas grandes entregas. A primeira foi a aprovação dos Princípios do G20 sobre Comércio e Desenvolvimento Sustentável, documento histórico que estabelece princípios para a adoção de medidas que tenham como objetivo promover o desenvolvimento sustentável e que, ao mesmo tempo, impactam o comércio internacional.

Nós entendemos que as políticas comerciais e ambientais devem apoiar-se mutuamente, ser consistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e com os acordos ambientais multilaterais, e não devem representar barreiras injustificadas ao comércio. Nessas condições, o comércio internacional pode ser instrumento importante para impulsionar o crescimento, reduzir a pobreza e proteger o meio ambiente.

Entre os princípios acordados, destaca-se a necessidade de coerência e alinhamento entre as políticas domésticas e os compromissos internacionais. Transparência e participação da sociedade civil nos processos decisórios também foram destacadas como princípios na elaboração dessas medidas que relacionam comércio e sustentabilidade.

Os países também reconheceram a necessidade de que as medidas relacionadas a comércio e desenvolvimento sustentável sejam baseadas em ciência e evidências de qualidade.

Outro princípio aprovado foi sobre transição justa, que reconhece, entre outros, a importância do trabalho em condições dignas e da promoção da equidade e da inclusão.

Um segundo resultado muito importante foi o endosso a um compêndio de boas práticas para aumentar a participação das mulheres no comércio internacional. O documento reúne iniciativas dos países que integram o G20 e de nações convidadas e que são focadas em superar barreiras que limitam a participação feminina no comércio global. Foi a primeira vez que o tema mulheres e comércio internacional foi tratado como uma prioridade na agenda de comércio e investimentos do grupo.

Além dessas entregas, o Grupo de Trabalho de Comércio e Investimentos teve como resultados importantes um compromisso político com a reforma da OMC e a produção de um mapeamento sobre cláusulas de desenvolvimento sustentável em acordos de investimentos. Esses resultados são apenas os de comércio e investimentos, mas, sob a Presidência brasileira, o G20 serviu para avanços em muitas outras pautas importantíssimas para o Brasil e a comunidade internacional.

Quais direcionamentos o Brasil deve apresentar na condição de presidente do Brics? Quais as perspectivas para o comércio do Brasil com o Brics?

O Brics possui uma população estimada superior a 3 bilhões de pessoas e responde por um comércio que alcançou US$ 4,7 trilhões em exportações e US$ 3,9 trilhões em importações no ano de 2023. O grupo representa 25% do PIB mundial.

A exportação brasileira para os países do Brics somou US$ 120 bilhões em 2023, enquanto as importações atingiram US$ 72 bilhões. Como é possível perceber, essa corrente de comércio é francamente superavitária para o Brasil. Ainda que a China responda por parcela preponderante do nosso comércio com o Brics, há outros mercados com potencial importante no grupo.

De forma geral, existe um grande potencial para diversificar as exportações, especialmente para produtos de maior valor agregado, como tecnologia agrícola, biocombustíveis e energias renováveis, áreas de grande interesse para os países do Brics. Essa diversificação pode ajudar a reduzir a dependência das commodities, ao mesmo tempo em que fortalece a posição do Brasil em setores inovadores e sustentáveis.

Em um cenário internacional cada vez mais desafiador para o comércio, é natural que, ao contar com um conjunto diversificado de parcerias comerciais e fóruns de concertação, o Brasil busque ampliar suas possibilidades de atuação. Isso não só fortalece a defesa de nossas posições históricas, mas também permite uma resposta mais eficaz às novas tendências do comércio global. É nesse sentido que o governo está trabalhando em uma agenda para a Presidência brasileira do Brics.

Quais são as tendências e perspectivas para o comércio internacional para os próximos anos?

O cenário para o comércio é desafiador, marcado por incertezas, pressões geopolíticas e um certo ativismo em matéria de política comercial. De acordo com o World Economic Outlook, de outubro de 2024, do FMI, espera-se que o comércio global cresça em linha com o PIB, mantendo uma taxa média de crescimento anual de cerca de 3,4%, apesar das tensões e do potencial de fragmentação do comércio.

O Global Trade Outlook and Statistics, da OMC, por sua vez, sugere que os governos estão cada vez mais concentrados em trazer a produção de volta ao país e em alinhar o comércio com nações aliadas.

Eu destacaria quatro tendências no cenário externo, afetando o comércio internacional. A primeira e mais evidente é o aumento das tensões geopolíticas, com implicações para a reconfiguração de cadeias produtivas e para a valorização da agenda de segurança nacional no comércio. O fato de o Brasil estar mais distante dessas tensões é um ativo que deve ser valorizado e preservado.

Em seguida, temos observado o ressurgimento de políticas industriais mundo afora, com o reconhecimento da importância da indústria e dos empregos gerados por ela na economia. Como há uma grande assimetria de capacidades financeiras e institucionais entre os países, essa é uma competição que nos impacta de maneira relevante, tanto na concorrência em mercados externos quanto no próprio mercado brasileiro.

O terceiro aspecto é o impacto da transformação digital tanto sobre a produção quanto sobre o comércio internacional, por exemplo, com a ampliação do comércio de serviços, em especial os digitais. De acordo com a OMC, os serviços representaram 42% do comércio global em 2022, com 21% dessa parcela sendo entregues digitalmente. Esse cenário oferece novas oportunidades, aumentando a produtividade e facilitando o comércio internacional. Mas também exige atenção redobrada com infraestrutura digital, educação e marcos regulatórios adequados.

Por fim, o quarto vetor a promover alterações relevantes no comércio internacional é a crescente intersecção entre política comercial e política ambiental, que, tal como os demais aspectos, também nos alcança com uma série de riscos e oportunidades.

Por um lado, há o receio do aumento de medidas protecionistas disfarçadas de iniciativas ambientais legítimas. No entanto, o Brasil parece ter muito mais a ganhar do que a perder com esse vetor. Nós possuímos uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo e somos detentores da maior biodiversidade do planeta. Além disso, a transição verde abrirá novas oportunidades no comércio global para uma série de serviços e produtos, tais como minerais críticos, o que também oferece oportunidades no contexto da neoindustrialização.

Então, as perspectivas para o comércio internacional são desafiadoras, mas abrem espaço para um posicionamento mais competitivo do Brasil.

Quais as prioridades da agenda de comércio exterior para o próximo ano?

Sabemos que as firmas exportadoras são mais inovadoras, mais produtivas, contratam mais e têm vida mais longa​; que pagam salários, em média, duas vezes maiores que as demais empresas. Por outro lado, um estudo recente da Secex mostra que apenas 1% das firmas brasileiras exportam. Mesmo as que exportam, o fazem de forma esporádica, com períodos de exportação consecutiva de três anos.​ Aproximadamente 40% das firmas exportadoras são MPEs, mas elas representam apenas 0,9% do valor exportado​. Ou seja, em um contexto de grandes mudanças no comércio internacional, o nosso desafio de fazer com que mais empresas se beneficiem do comércio exterior é imenso.

Não há bala de prata no comércio. A agenda é mesmo ampla e inclui promoção comercial, facilitação e desburocratização, acordos comerciais e mecanismos de diálogo, combate às barreiras técnicas, tributos no comércio exterior, defesa comercial, financiamento, inteligência comercial e combate ao comércio ilegal e desleal.

Vou dar alguns exemplos. No escopo da facilitação e desburocratização de comércio, e em linha com o vetor de transformação digital, não posso deixar de destacar o Portal Único de Comércio Exterior. Trata-se da principal iniciativa da Secretaria, em conjunto com a RFB, para reduzir a burocracia, o tempo e os custos nas exportações e importações brasileiras.

O programa já processa 100% das exportações brasileiras e, até dezembro de 2025, contemplará também todas as importações.

O Portal Único permite uso de uma mesma licença para múltiplas operações e promove a interoperabilidade na troca de certificados, além de muitos outros benefícios. É um projeto com muitas entregas importantes ao longo do tempo e que se finaliza no ano que vem.

No que se refere à defesa comercial, a possível ampliação de tarifas por parte de grandes economias, o menor crescimento de mercados consumidores estratégicos e a elevada capacidade instalada geram um risco real de desvio de comércio, afetando preços e a concorrência. Nesse cenário, a utilização de mecanismos de combate ao comércio ilegal e desleal torna-se imprescindível para proteger certos setores. Para que o comércio traga benefícios, ele precisa ser justo. A competição tem que ser leal.

O novo panorama das prefeituras

Juliana Celuppi, CEO do Radar Governamental

Nesta entrevista, Juliana Celuppi, CEO do Radar Governamental, analisa os desdobramentos das recentes eleições municipais, destacando a vitória das forças de centro, como PSD, MDB e PP, e a diminuição da polarização política entre esquerda e direita. Também comenta o crescimento do PL de Jair Bolsonaro, em especial nas grandes cidades, e reflete sobre as expectativas da atuação dos novos prefeitos, ressaltando a importância das estratégias de relacionamento local e o uso de tecnologia para fortalecer vínculos com o poder público.

Como avalia o cenário pós-eleições municipais?

As eleições garantiram a vitória das forças de centro, como PSD, MDB e PP, com uma leve inclinação à direita. De certo modo, não chega a ser uma novidade, uma vez que a maior parte das prefeituras, historicamente, fica mesmo no comando dessas agremiações. No entanto, é um contexto que de algum modo indica uma diminuição no cenário de polarização entre esquerda, representada por Lula (PT), e direita, representada por Bolsonaro (PL), que vimos na política nacional nos últimos anos. Para as eleições municipais, continua valendo aquele clichê de que o eleitor quer saber sobre vaga em creche e buraco de rua, e não tanto sobre questões ideológicas.

Houve uma demonstração de força de partidos mais conservadores?

O PL, de Jair Bolsonaro, foi quem mais venceu em cidades grandes e cresceu exponencialmente na comparação com 2020, quando ainda não contava com o ex-presidente em suas fileiras. Os números, porém, são o andamento do fortalecimento das forças conservadoras que se identifica no Brasil desde meados de 2016 e não exatamente também um fato novo. 

O que esperar das novas prefeituras?

É difícil responder a essa pergunta de forma global. São 5.569 municípios, com 5.569 prefeitos, que dispõem de orçamentos diferentes, têm histórias de vida e visões ideológicas bem distintas entre si. No entanto, o que se deve ver nos próximos anos é a continuidade do sistema que condiciona as prefeituras a dependerem de repasses da União, via FPM e outras vias, e também das emendas parlamentares. Não podemos esquecer do relacionamento com as câmaras municipais, até porque muitos assuntos não são decididos pelo Poder Executivo, isoladamente. Então, é imprescindível mapear o Legislativo dessas localidades para a criação desses relacionamentos locais.

Quais estratégias usar no relacionamento com as novas prefeituras?

O trabalho do Radar Governamental soma uso intensivo da tecnologia com a sempre imprescindível atuação humana. Acreditamos que este é um caminho para estabelecer relação com os novos prefeitos e com o poder público como um todo. Essa atuação, de uma forma geral, depende de variáveis muito específicas de cada localidade, então é essencial fazer uma análise detalhada da localidade na qual se pretende atuar para poder responder a esse questionamento.

Uma nova era Trump

Douglas G. Pinkham, presidente do Public Affairs Council

Em entrevista, Douglas G. Pinkham, presidente do Public Affairs Council, avalia os possíveis desdobramentos da volta de Donald Trump à presidência, destacando a incerteza e a instabilidade que marcarão seu governo. O especialista aponta para decisões imprevisíveis e uma diplomacia pragmática, que pode afetar tanto as relações com o Brasil quanto a posição dos EUA no cenário global, especialmente no contexto do BRICS. Além disso, Pinkham discute o impacto das políticas econômicas de Trump e a crescente importância dos profissionais de relações governamentais nesta nova realidade.

O que podemos esperar do novo presidente dos Estados Unidos?

Normalmente, quando um novo presidente é eleito nos EUA, os jornalistas e analistas políticos concentram-se nas diferenças políticas entre a nova administração e a antiga administração. Embora existam diferenças políticas claras entre Trump e Biden, é extremamente difícil prever o que acontecerá sob a presidência de Trump. Isso porque Trump não tem nenhuma ideologia política real, além de acreditar na centralização do poder sob o Poder Executivo do governo.

Não há uma forma educada de defender este ponto, mas Trump é, acima de tudo, um oportunista. Se ele vir um caminho a seguir que ajude os EUA e a sua reputação pessoal no curto prazo, provavelmente seguirá essa política. Isto é verdade, mesmo que a política vá contra as suas posições anteriormente declaradas ou se puder prejudicar os EUA a longo prazo. Por exemplo, embora muitos americanos sejam favoráveis ​​ao apoio do país à Ucrânia na sua guerra com a Rússia, espero que Trump argumente que proteger a Ucrânia não é do interesse estratégico da nação. Ele dirá que o dinheiro para armar a Ucrânia poderia ser melhor gasto de forma a ajudar diretamente os americanos — talvez reduzindo seus impostos. Ou argumentará que deveríamos abandonar a tarefa de proteger as democracias em todo o mundo, porque as necessidades internas são demasiado grandes. Ele poderá utilizar este argumento para tentar eliminar as obrigações dos EUA de proteger outros países da Otan e, talvez, de cortar as despesas militares dos EUA.

Ora, não é preciso ser um especialista em política externa para perceber que, a longo prazo, essas decisões beneficiariam enormemente a Rússia e os seus esforços para recuperar a sua influência na Europa Oriental. Embora esse cenário não seja do melhor interesse da América, seu grande impacto não seria sentido imediatamente. Muitos também argumentam que abandonar a Ucrânia nesta fase enviaria um sinal ao mundo de que os EUA tolerarão violações dos direitos humanos. Isto prejudicaria a posição da América, mas, mais uma vez, teria um impacto a longo prazo.

A presidência de Trump também aumentaria enormemente o “risco de incerteza” para as empresas globais que operam nos EUA, no Brasil, na Europa e em outros locais. Durante o primeiro mandato de Trump, por exemplo, as empresas norte-americanas não sabiam mês a mês se o país estaria ou não numa guerra comercial com a China. Como resultado, algumas empresas deixaram de formar parcerias globais, construir instalações internacionais e contratar novos funcionários. Se essa incerteza tivesse continuado indefinidamente, os gastos totais das empresas teriam diminuído, o desemprego teria aumentado e a economia dos EUA poderia ter sofrido um abrandamento.

Aqui está outro exemplo. A certa altura, Trump procurou suspender os requisitos de consumo de combustível para as fabricantes de automóveis dos EUA, porque era improvável que algumas delas cumprissem os prazos regulamentares, e as alterações de design necessárias estavam provocando aumentos dos custos. Imediatamente ele enfrentou a oposição de outras empresas automobilísticas, cujos investimentos para melhorar o consumo de combustível já estavam embutidos na reformulação de seus processos de fabricação de forma a cumprir os prazos. Trump, irritado porque todas as empresas automóveis não estavam a aplaudir sua proposta, acabou por recuar. Este tipo de tomada de decisão (ou não tomada de decisão) torna muito difícil o planejamento das empresas. O maior risco de incerteza ocorre quando os políticos mudam de ideias com demasiada facilidade ou não tomam decisões a longo prazo.

Tenho a expectativa de que Trump proponha grandes tarifas sobre produtos provenientes da China e possivelmente de outros parceiros comerciais. Fazer isso aumentará enormemente os custos desses bens para os consumidores americanos, o que aumentará a inflação. Se houver uma grande oposição pública a estas medidas, num primeiro momento ele negará a ligação entre tarifas e preços mais elevados, e depois — eventualmente — espero que declare vitória e reduza novamente as tarifas.

Com base nas pessoas que Trump nomeia para servir no seu gabinete e em outros cargos de liderança importantes, ele valoriza claramente a lealdade muito mais do que a experiência ou a competência. Esta abordagem terá um grande impacto no Poder Executivo do governo e colocará muita pressão pública sobre os republicanos no Congresso para que não aprovem todos os movimentos que Trump tenta tomar. Apesar de o Partido Republicano ter reconquistado a Casa Branca, o Senado e a Câmara dos Representantes, haverá momentos em que parecerá que dividimos o governo. Isso será causado pela tendência de Trump de tentar fazer grandes coisas, sem primeiro obter apoio. Por outras palavras, apesar de todas as ameaças e promessas que Trump fez na campanha, é possível que ele consiga realmente realizar muito menos do que as pessoas esperam. Isto também aumentará a incerteza em torno da sua presidência.

As empresas podem esperar alguma forma de retaliação por parte do novo presidente?

Sim, é esperado que algumas empresas enfrentem retaliações, mas esse movimento parecerá aleatório. Isto porque Trump procurará um benefício para si mesmo ou para um dos seus principais apoiadores quando atacar outra empresa por se manifestar contra ele ou as suas políticas. Por exemplo, como Elon Musk contribuiu com muito dinheiro para ajudar a eleger Trump, posso imaginar Trump tentando punir os concorrentes dos negócios de Musk, se esses concorrentes alguma vez se tivessem oposto a algo que Trump favorecia.

Haverá mudanças significativas na forma como o Poder Executivo dos EUA interage com o setor privado?

Absolutamente. Por exemplo, Trump está falando em dar a Robert F. Kennedy Jr. um papel fundamental na gestão das políticas e práticas de saúde pública do país. No entanto, Kennedy se opõe às vacinas e é a favor de certos tratamentos médicos controversos que podem não ser seguros. O que farão os médicos e os hospitais, se o governo dos EUA lhes der instruções que ponham em risco a saúde dos pacientes? Como irá a nação lidar com outra pandemia se esta ocorrer enquanto Trump estiver no cargo?

Se Trump cumprir suas promessas de reduzir as regulamentações, isso poderá impactar a forma como operam agências importantes, como a Agência de Proteção Ambiental e o Departamento de Transportes. As companhias aéreas ou ferrovias se tornarão menos seguras para viajar? Irá a qualidade do ar diminuir e as alterações climáticas piorarão à medida que as regulamentações que protegem o ambiente forem enfraquecidas?

Quais são as consequências para os profissionais de relações governamentais?

A ironia de tudo isto é que essas mudanças potencialmente ameaçadoras — juntamente com o risco de incerteza — tornarão os profissionais de relações governamentais mais valiosos do que nunca. Os defensores que compreendem a diplomacia e são capazes de identificar formas criativas de alcançar múltiplos objetivos poderão ter um enorme impacto. Ao mesmo tempo, porém, os partidários de Trump nos setores público e privado terão uma influência desproporcional. Os profissionais de relações governamentais terão de escolher suas batalhas e monitorar de perto a evolução da opinião pública à medida que as várias propostas de Trump são debatidas legislativamente e nos meios de comunicação social.

Como o novo presidente dos EUA afeta as relações entre os Estados Unidos e o Brasil? Como os EUA veem a presença crescente da China no Brasil?

Se Bolsonaro ainda estivesse no poder no Brasil, acho que Trump trabalharia para aproximar os dois países. Mas não tenho a certeza se ele achará que vale a pena concentrar-se no Brasil, a menos que sua abordagem “America First” para manter a produção no país não ganhe força. Para os protecionistas, a próxima melhor coisa depois de fazer tudo no país de origem é o “near-sourcing”, quando um país tenta apoiar o comércio com países amigos localizados nas proximidades. É possível que Trump argumente que aumentar o comércio na América Central e do Sul faz mais sentido do que manter os níveis de comércio na Europa. Por outro lado, ele só desejará fazer parcerias com governos nacionais que sejam amigos dele.

Como a diplomacia do novo presidente dos EUA vê o papel do Brasil em um BRICS que inclui China, Rússia e Irã?

Por um lado, Trump passou muito tempo a ameaçar a China e o Irã, tanto militar como economicamente, o que significa que não apreciará quando outros países considerarem melhorar as relações com essas nações. Por outro lado, Trump não é apenas um oportunista: ele também é um pragmático. Então, quem sabe o que pode acontecer? Talvez ele pudesse abençoar algum tipo de parceria envolvendo a Rússia ou pudesse eventualmente apoiar relações mais estreitas com a China, se sentisse que aquele país tinha começado a capitular às suas exigências. 

Dada a falta de experiência em política externa esperada na Casa Branca de Trump, não tenho certeza se o novo presidente prestará muita atenção às relações menos formais do Brasil com outras nações.

Quais são os planos do Public Affairs Council para o futuro?

Não somos uma associação comercial e não fazemos lobby nem apoiamos candidatos a cargos públicos. Isso significa que não estaremos envolvidos nas batalhas legislativas específicas sobre política de imigração, desregulamentação, comércio ou outras questões. Mas parte do nosso papel é sermos um grupo de reflexão para a profissão de relações públicas. Por meio de pesquisa, educação executiva e outras estratégias continuaremos a estudar os desenvolvimentos nesse campo e a comunicar regularmente sobre questões emergentes e estratégias de defesa de direitos nos EUA e em todo o mundo.

Enfrentar é preciso

Quais os desafios enfrentados pelos profissionais negros na atividade de relações governamentais? Como superar o preconceito? Coletamos as experiências de cinco profissionais da área, que mostram que, se houve avanços nos últimos anos, ainda há muito caminho a percorrer. Confira quem são os entrevistados:

Adilson Marques

Advogado e analista de políticas públicas na PATRI Políticas Públicas & Public Affairs
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Adilson Marques

Advogado e analista de políticas públicas na PATRI Políticas Públicas & Public Affairs
Atua na equipe de infraestrutura com foco em transporte e logística. Também é membro do Coletivo Pretos e Pretas em Relgov.

Dayana Morais

Consultora especialista em Representatividade e Impacto Social
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Dayana Morais

Consultora especialista em Representatividade e Impacto Social
Atualmente, é Coordenadora de Mobilização da Legisla Brasil, onde executa ações de sensibilização de atores políticos por mais representatividade efetiva na política brasileira.

Josiara Diniz

assessora especial da ministra de Igualdade Racial
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Josiara Diniz

assessora especial da ministra de Igualdade Racial
Bacharel em Ciência Política e em Gestão de Políticas Públicas e mestranda em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília com pesquisa na área de orçamento público e raça.

Maiara Oliveira

integrante do Coletivo Pretas e Pretos em Relgov
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Maiara Oliveira

integrante do Coletivo Pretas e Pretos em Relgov
Cientista política pela Universidade de Brasília, coordenadora-geral da Assessoria Parlamentar do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, integrante do Coletivo Pretas e Pretos em Relgov

Tamiris Villarinho

Especialista em relações institucionais
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Tamiris Villarinho

Especialista em relações institucionais
Possui formação em Ciência Política e especialização em Processo Legislativo, Relações Institucionais, Direito Constitucional e Gestão de Projetos. Atualmente, faz parte do time de políticas públicas do Nubank.

Quais são os desafios, enquanto profissional negro, vivenciados no mercado de relações institucionais e governamentais?

Adilson Marques – A falta de igualdade de oportunidades na formação e capacitação torna mais difícil o ingresso de pessoas negras nesse mercado. Entretanto, políticas como o sistema de cotas nas universidades federais e os programas de financiamento estudantil têm contribuído para transformar esse cenário.

Dayana Morais – Eu acho que o principal desafio é estar constantemente desafiando estereótipos: sobre sua capacidade intelectual, sobre sua trajetória profissional, sobre sua posição ideológica e sobre como você “chegou até lá”. Como em qualquer outro espaço de poder, a sua negritude chega antes do que qualquer outra coisa, e as pessoas já partem de ideias pré-concebidas sobre qual a sua pauta de atuação. E, muitas vezes, você se posicionar é lido como você ser uma pessoa negra raivosa — ainda mais se for uma mulher negra.

Josiara Diniz – São muitos os desafios, mas posso colocar como principal o racismo institucional (que não é exclusivo do mercado de relgov). A máxima de ter que se esforçar o dobro/triplo; de não ser considerado para as vagas porque está fora das rodas de amizade majoritariamente brancas; ser julgado pela aparência, previamente, como um não profissional. A chamada “passabilidade” que a pessoa branca tem nos espaços é um desafio dado, que implica não sermos nem considerados para determinados espaços.

Maiara Oliveira – O mercado de RIG é historicamente elitizado, branco e masculino. Enquanto uma profissional negra, corriqueiramente enfrentamos os estereótipos sobre capacidade técnica ou competência de estar nesses espaços como um igual aos demais pares. Esse status quo de não pertencimento dos corpos não convencionais a esses espaços dificultam que profissionais negros e indígenas acessem e estabeleçam uma boa rede contatos e consigam oportunidades profissionais de liderança.

Tamiris Villarinho Um dos principais desafios é o sentimento de não pertencimento. Mesmo após dez anos de carreira e diversas conquistas, noto que, à medida que os profissionais da área avançam em senioridade, suas experiências e vivências pessoais se distanciam cada vez mais da minha realidade. Isso pode gerar uma sensação de isolamento, que é ao mesmo tempo intimidadora e desafiadora. Apesar disso, encaro esse desafio como uma oportunidade de promover resiliência e transformação, tanto em minha trajetória quanto no ambiente ao meu redor. A pluralidade precisa estar presente não apenas na base, mas em todos os níveis hierárquicos. Ter líderes e executivos negros envia uma mensagem poderosa ao estagiário, ao júnior e ao pleno: existe espaço para você. Suas ambições são plenamente possíveis!

Você já sofreu algum preconceito na sua carreira de relgov? Se sim, como enfrentou a situação?

Adilson Marques – Embora o Brasil seja um país diverso, o racismo estrutural ainda está presente em diversos setores, inclusive na nossa profissão, que envolve espaços de poder. Em situações de preconceito, consegui agir de forma a evidenciar o problema, garantindo que a atitude fosse corrigida e o tratamento ajustado, não apenas em relação a mim, mas também para evitar que outros enfrentassem a mesma situação.

Dayana Morais – Já. E muitas vezes esses preconceitos vêm associados a esses estereótipos que citei. Algumas vezes, mais sutis, como a invisibilidade seletiva de algumas autoridades, quando uma pessoa negra está no recinto; e outras, mais atrelada ao acesso aos prédios públicos. Não acredito muito nessa ideia de enfrentar a situação. A gente se acostuma, se posiciona, questiona e denuncia quando possível, mas seguimos entregando resultados — é geralmente a melhor resposta.

Josiara Diniz – Sim. Já sofri tanto no meu começo de carreira, quanto agora em um cargo sênior (mais de uma vez). Quando eu era jovem tinha poucas ferramentas, mas agora eu tento institucionalizar o crime. Mesmo que não “dê em nada”, quero deixar claro que tal pessoa/instituição foi racista/LGBTfóbica.

Maiara Oliveira – Sim, já enfrentei situações de preconceito que se manifestaram de forma direta, como questionamentos sobre a presença em algum espaço de decisão, ou de forma velada, como a apropriação de ideias sem os devidos créditos. Nesses momentos, o apoio de colegas que experienciaram algo similar ou mesmo espaços de acolhimento, como o Coletivo Pretas e Pretas em Relgov, é fundamental. Assim como buscar apoio em colegas brancos/as que compartilham valores de equidade e diversidade.

Tamiris Villarinho A palavra preconceito tem muitas conotações e camadas. Acredito que seja difícil encontrar uma pessoa preta que não tenha vivenciado algum tipo de preconceito no ambiente profissional. Por vezes, notei que meu currículo causou surpresa em alguns recrutadores, como se fosse inesperado que uma pessoa preta pudesse ter construído uma trajetória como a minha.

Quais práticas, de acordo com sua experiência profissional, podem tornar o ambiente ou a instituição mais equânime e realmente acolhedora para profissionais negros?

Adilson Marques – Além de contratar pessoas negras, é fundamental criar um ambiente que as acolha e faça com que se sintam pertencentes. Um exemplo disso é a implementação de grupos de afinidade, onde profissionais negros podem trocar experiências e discutir desafios do cotidiano e da profissão.

Dayana Morais – Ter mais pessoas negras em papéis de alta liderança e ter mais pessoas brancas dessas lideranças que tenham letramento racial. Mais importante do que ter pessoas negras se tornando referência no campo e construindo novas narrativas profissionais para pessoas negras, é necessário que as organizações estejam dispostas a terem conversas desconfortáveis sobre como a equidade racial é um desafio gigante que se faz presente no ambiente profissional, mesmo em organizações sociais que pautam essa temática. A assimetria de poder de lideranças negras com lideranças brancas continua sendo comum, e não é possível construir um ambiente acolhedor sem revisar como microagressões limitam e invisibilizam dores de pessoas negras dentro do ecossistema.

Josiara Diniz – O primeiro de tudo é incluir. O primeiro passo para o letramento racial, o que tantas organizações têm buscado, é incluir profissionais negros nos quadros de colaboradores. Não adianta fazer palestra/cartilha/homenagem, sem movimentos claros de inserção do profissional negro.

Maiara Oliveira – É primordial que os espaços que se propõem a romper com esses estereótipos desenvolvam de forma efetiva programas de mentoria e capacitação para lideranças negras, assim como incluam como valor e missão a promoção de conscientização sobre vieses inconscientes e práticas discriminatórias.

Tamiris Villarinho Oportunidade, acolhimento, mentoria e investimento. Em primeiro lugar, acredito que as empresas precisam se comprometer a recrutar pessoas pretas. Em seguida, é essencial acolher essas pessoas, garantindo condições que favoreçam sua permanência em um ambiente que reconheça e valorize talentos vindos de trajetórias diversas, incluindo aqueles que não estudaram em escolas tradicionais. Além disso, é fundamental oferecer mentoria para que essas pessoas desenvolvam habilidades que podem não ter sido naturalmente acessíveis em suas jornadas. Por fim, investir no desenvolvimento de competências complementares para tornar pessoas pretas elegíveis a espaços de liderança.

Nos últimos anos você percebeu alguma evolução na redução do preconceito na atividade de relgov?

Adilson Marques – Não percebi uma redução significativa do preconceito, mas notei um aumento no número de profissionais negros atuando na área. Contudo, ainda são poucos os que ocupam cargos de liderança.

Dayana Morais – Não sei dizer se houve uma redução do preconceito, mas percebo que houve um aumento de organizações sociais que começaram a assumir estratégias de advocacy como parte central da sua atuação — e acredito que isso tenha a ver com a capacidade de impacto dessas ações.

Josiara Diniz – Não consigo mensurar se houve uma diminuição do preconceito, mas observo que as pessoas conseguem nomear melhor as violências que sofrem. Os grupos de afinidade (seja por gênero, raça e/ou orientação sexual) são um passo essencial nessa evolução.

Maiara Oliveira – Sim, especialmente após o fortalecimento de movimentos sociais e debates públicos sobre diversidade, bem como um maior número de profissionais negros com ensino superior na última década e inseridos no mercado de RIG. Assim, com o quadro de profissionais das empresas e instituições começando a ficar mais diverso, esses espaços passaram a adotar políticas de inclusão mais robustas, e há maior conscientização sobre a necessidade de representatividade. No entanto, os avanços ainda são iniciais, e a prática precisa acompanhar o discurso para que mudanças significativas ocorram.

Tamiris Villarinho Sinto que nossa evolução como sociedade é muito marcada por avanços e retrocessos — um passo à frente e dois para trás. As empresas acabam refletindo esse fluxo, já que esse processo depende, em última análise, das pessoas. Apesar disso, percebo que o povo preto tem avançado significativamente, conhecendo melhor quem somos e o que somos capazes de realizar. Além disso, acredito que estamos aprendendo a importância de contar uns com os outros. É exaustivo ter que se posicionar constantemente — e entenda isso como estar sempre preparado para tudo. Ainda assim, penso ser esse o caminho, pois ele depende exclusivamente de nós, povo preto, e não de uma mudança no outro.

De que forma as instituições de classe e coletivos podem contribuir para tornar o ambiente de RIG mais igualitário e diverso?

Adilson Marques – Essas entidades desempenham um papel importante ao facilitar o ingresso e a capacitação de profissionais negros no mercado. Além disso, são espaços essenciais para promover debates sobre a relevância da representatividade e da diversidade na nossa profissão.

Dayana Morais – Acredito que, para além de contratar mais profissionais negros, formar mais profissionais, para que possam assumir papéis estratégicos dentro dessas ações. Também construir ações intencionais de diversificação dos conselhos administrativos e direcionar verba para desenvolver profissionais não negros sobre a temática. Vejo com muitos bons olhos coletivos como o Pretas e Pretos em Relgov, que gera referência, trocas e apoios para lideranças negras dentro da área de relgov. Precisamos construir mais oportunidades de reconhecer quem são as lideranças negras de relgov que já estão mudando esse cenário.

Josiara Diniz – Penso que o primeiro passo é não tratar como tema de nicho. Não é uma data ou um mês incluir mulheres e negros e conversar com a maioria da população, logo não é algo de prateleira. É preciso pensar em uma política de inclusão que seja tão ampla quanto os preconceitos que precisamos enfrentar. É preciso, para além disso, incluir-se como parte da solução e não terceirizar essa gestão “para os profissionais negros da organização”. Se todos somos os causadores/reprodutores de preconceitos, todos somos solução.

Maiara Oliveira – É necessário fomentar mais espaços de diálogo, não apenas para debater as experiências das pessoas negras nesse mercado, mas também para garantir que elas atuem como influenciadores no debate público, independentemente do tema em discussão.

Tamiris Villarinho Os coletivos desempenham papel fundamental na oferta de espaço para que grupos historicamente silenciados possam falar e serem ouvidos, rompendo com o silêncio da sobrevivência. Além de amplificar essas vozes, penso que os coletivos também são ambientes de reconhecimento, onde as pessoas encontram seus iguais; de desenvolvimento, promovendo troca de experiências e criação de oportunidades; e de luta, desempenhando um papel essencial na busca por espaços de ocupação e representação.

Que mensagem você gostaria de deixar para profissionais negras e negros que atuam em relgov?

Adilson Marques – Não desistam! Busquem coletivos, instituições e profissionais experientes comprometidos com a representatividade e a transformação do cenário atual. É possível que uma pessoa preta possa avançar e crescer cada vez mais na área.

Dayana Morais – Construa sua rede de contatos e sua comunidade, que vão sempre te apoiar nos diferentes desafios que você pode encontrar no caminho. Grande parte das vezes, a resiliência do seu dia a dia profissional vem de construir vínculos com profissionais que reconhecem os mesmos desafios que você no campo.

Josiara Diniz – Confie em você e cuide da sua cabeça. O racismo não é problema nosso, logo não daremos conta dele sozinhos. Invista na sua formação e nas suas habilidades. Escute bons profissionais (e isso não tem a ver com status de carreira ou nível) e esteja aberto a mudanças.

Maiara Oliveira – Nosso papel no mercado de RIG vai além de abrir portas para nós mesmos: é sobre pavimentar caminhos para as próximas gerações, para que elas possam almejar e conquistar seus espaços profissionais. Para isso, cultivar redes de apoio e se aproximar de referências é crucial. A sua história e vivência têm um impacto transformador em qualquer debate/discussão, então use-as a seu favor. Sua presença e análise sobre determinada agenda pública pode ser um agente de mudança para tornar o mercado mais justo e igualitário.

Tamiris Villarinho Você pode! Sim, você é bom o suficiente. Existe espaço para você com as ferramentas que já possui. É possível aprender algo novo e completamente desconhecido. Está tudo bem não ter as mesmas experiências que eles; o que importa é você estar comprometido a ser excelente no que faz. Não vai funcionar tentar ser algo que você não é.

Artigo

As oportunidades para o profissional de RIG na construção das regras do jogo

Bárbara Teles é advogada de regulatório e public affairs da Sportech Rei do Pitaco e diretora de relações governamentais da Associação Brasileira de Fantasy Sport (ABFS) 

A discussão sobre a regulamentação dos jogos no Brasil tem sido tema recorrente na agenda política, econômica e social, que pode passar por transformações importantes nos próximos anos.  

Na esteira de outros setores altamente regulados, a implementação da regulamentação dos jogos no Brasil, que terá início a partir de 2025, representará um processo complexo e que demandará uma atuação qualificada dos profissionais de relações institucionais e governamentais (relgov). A tendência é que a indústria invista mais em compliance e no desenvolvimento de práticas que fomentem o jogo responsável, o que gera uma oportunidade para os profissionais do setor. O sucesso desse processo depende da capacidade de articulação, do conhecimento técnico e da visão estratégica desses profissionais que atuam como facilitadores do diálogo — e por vezes tradutores — entre o setor privado e o poder público.  

Portanto, o processo de sucesso da regulamentação dos jogos no Brasil passa pela qualificação de um importante stakeholder: o profissional de relgov.   

O tema dos jogos, por vezes, é tratado com certa restrição. Isso se dá pelo histórico dessa indústria no país, já que a exploração do jogo de azar foi permitida em determinados momentos da sociedade e, logo em seguida, proibida.   

Atualmente, nem todas as vertentes dos jogos são permitidas em território brasileiro. Os cassinos e bingos físicos, por exemplo, continuam proibidos. As apostas esportivas e jogos on-line, por outro lado, são permitidos e estão legalmente reconhecidos desde 2018. Em 2023, o setor teve um importante marco legal, permitindo um cenário de transformação e início de construção da regulamentação, que foi elaborada ao longo de 2024.

Antes da proibição total dos jogos de azar, até 1946, o Brasil vivenciou período de relativa liberdade. Com a prática legalizada e regulamentada, tínhamos no país grandes e conhecidos cassinos que atraíam turistas internacionais e geravam receitas significativas para o Estado.

Logo em seguida, por meio do Decreto-Lei nº 9.125, de 30 de abril de 1946, veio a proibição da exploração dos jogos de azar no país. A decisão pela proibição se sustenta, dentre outras justificativas, na tradição moral jurídica e religiosa e nos bons costumes. 

Desde então, as únicas exceções permitidas eram as loterias administradas pela Caixa Econômica Federal e a modalidade de apostas em corridas de cavalos, em ambientes especificamente autorizados. 

Em 2018, o Brasil teve uma mudança significativa no panorama legal. Após aprovação pelo Congresso Nacional de Medida Provisória, foi publicada a Lei nº 13.756, de 12 de dezembro de 2018, que criou a modalidade lotérica de apostas de quota fixa em eventos reais de temática esportiva — em outras palavras, legaliza a exploração das apostas esportivas em território brasileiro.

Desde então, essa Lei passou por algumas mudanças. Em 2021, uma Medida Provisória convertida em lei — a Lei nº 14.183, de 14 de julho de 2021 — modificou a forma de cálculo das destinações específicas dessa loteria.

Mais recentemente, entrou em vigor a Lei nº 14.790, de 29 de dezembro de 2023, que modifica pontos importantes da Lei de 2018, como a possibilidade de exploração dos jogos on-line, e abre o processo de regulamentação da atividade, pendente desde a sua legalização. 

Em 2024, foram editadas mais de dez portarias temáticas de regulamentação de pontos específicos da legislação, elaboradas pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério do Esporte. 

Além disso, existem muitos projetos de lei tramitando, seja para legalizar outras vertentes dos jogos no Brasil, seja para modificar as leis atualmente em vigência em diversos pontos.  

O início da vigência das regras específicas para o setor permitirá o levantamento de dados concretos sobre seus impactos. Isso possibilita a criação de bases de informações para a construção de políticas públicas e de controle das externalidades negativas e positivas.   

É nesse cenário que o profissional de relgov poderá trabalhar e precisa conhecer a fundo a competência de cada um dos stakeholders, públicos e privados, envolvidos nas discussões do tema. 

O profissional de relgov precisa desenvolver habilidades específicas importantes, não só para trabalhar nesta indústria. É fundamental que adquira competências relacionadas à articulação de interesses, análise técnica de proposições legislativas, capacidade de análise de cenários políticos e econômicos, construção de consenso, mediação de conflitos e habilidade de negociação, capacidade de análise estratégica e conhecimento dos processos de construção de políticas públicas. Para além disso, ter a compreensão da legislação específica do setor para verificar quais são as regras, riscos e oportunidades é um diferencial. Ou seja, saber as regras do jogo é essencial para o desenvolvimento do trabalho.  

As regras para a indústria de jogos no Brasil estão postas, mas pode-se esperar uma evolução do marco regulatório para os próximos anos, com o aperfeiçoamento contínuo. Trata-se de um setor novo, em construção e altamente regulado. Portanto, a revisão regulatória será essencial para que possa se consolidar. 

É nesse cenário que o profissional de relgov precisa estar preparado, ser resiliente com os desafios que aparecerão durante o processo de discussão e implementação da regulamentação, atuar com transparência seguindo à risca todas as limitações legais impostas e estar atualizado a respeito das transformações e novas informações que aparecerão ao longo do caminho.  

O movimento natural do setor é de ampliar a contratação de profissionais de relgov, principalmente incluindo-os dentro da atuação estratégica da empresa. Isto se dá em função do futuro do setor depender da continuidade do trabalho de articulação e da capacidade dos stakeholders envolvidos em construir consensos que permitam o desenvolvimento da indústria no país.   

A evolução das regras do jogo no Brasil demonstra a importância crescente do profissional de relgov, que contribui para a construção de um ambiente regulatório equilibrado, capaz de promover o desenvolvimento econômico e social e de assegurar o estabelecimento da indústria no país, enquanto garante a proteção dos consumidores e o cumprimento das melhores práticas internacionais.  

Para os profissionais de relgov, a construção, desenvolvimento e consolidação do setor de jogos no Brasil geram oportunidades de atuação em 2025. Para tanto, o conhecimento das regras do jogo, a atualização constante, o desenvolvimento de redes de relacionamento na indústria e o aprimoramento técnico contínuo levarão a resultados positivos, que precisam ser sustentáveis, transparentes e responsáveis. 

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Artigo

Sobre a construção de pontes e redes

Gisela Antakly Martinez é proprietária do Antakly Public Affairs e Mariana Chaimovich é diretora de relações institucionais da Coalizão Licença Paternidade 

Falamos muito sobre construir pontes e relacionamentos profissionais robustos e duradouros, mas pouco se fala, na prática, sobre como isso pode ser feito. Na era dos coachs, e com toda a conotação negativa que esse termo pode trazer, como saber o que é genuíno e o que pode, de fato, te ajudar na carreira? Como separar o joio do trigo – ou, melhor, aqueles que, frustrados na carreira, pretendem ensinar você a ser bem-sucedido na sua (qualquer que seja ela), daqueles profissionais que vão te ajudar de verdade a se aprimorar, a buscar uma nova oportunidade de crescimento ou de ascender na carreira no local onde você está?1 

Estamos escrevendo em dupla, então, para fins didáticos, vamos deixar claro que quem escreve esta primeira parte deste texto é Mariana Chaimovich (ou “mentorada”). Convidei Gisela Antakly para participar desta empreitada porque ela, mesmo sem saber, é minha mentora extraoficial. Conheci a Gisela logo depois de entrar no mundo das relações governamentais, quando trabalhava em uma consultoria, num grupo de mulheres que atua em relações governamentais. Rolou uma empatia, trocamos contatos, convidei-a para um café. Desde então, nos últimos mais de sete anos, trabalhamos juntas em um projeto muito legal para organização estrangeira do terceiro setor, tomamos cafés, almoçamos e trocamos impressões profissionais e pessoais. Afinal, a vida não é composta só de trabalho. E, mais importante, sua profissão não define quem você é é só um componente desse complexo emaranhado que é o ser humano. 

Bem, tudo isso para dizer que Gisela me deu diversas dicas práticas do que fazer na vida profissional. Foi a primeira pessoa a me falar de dinheiro, de orçamento, sem papas na língua e com exemplos práticos de como cobrar, como pensar em produtos para um contrato específico, quanto pedir para determinada vaga, como abordar e lidar (ou, como ela gosta de dizer, de “tourear”) com os clientes mais difíceis. 

Lembro de uma palestra de Rosilda Prates que, se não me engano, foi no começo da pandemia, batizada como “Chutando a porta: como encarar os desafios impostos à liderança feminina”. O evento aconteceu no âmbito da Associação de Mulheres em Relações Governamentais (MRG), espaço de trocas para profissionais femininas do setor. Algumas coisas me marcaram tanto que guardei as anotações daquele dia (sou dessas) e escrevi uma frase, que menciono agora, na qual Rosilda resumiu o que entendia que retratava a delicada posição da mulher em posições de liderança: “ser forte, mas não arrogante. Humilde, mas não idiota”. O que mais me marcou naquela exposição incrível, além da reiterada menção à necessidade de ter mulheres levantando e ajudando as próprias colegas, foram os exemplos práticos que ela deu para ajudarmos nossas pares no dia a dia de uma profissão ainda tão masculina quanto o lobby. Exemplos como a sugestão de tentar identificar, em determinada situação ou debate em que você esteja com uma colega mulher, um tema no qual ela tenha segurança e se sinta confortável, e passar a palavra para ela em relação a esse ponto; buscando ativamente que ela manifeste uma opinião que, às vezes, pode estar prontinha para ser compartilhada, e ainda não foi só por insegurança, muito característica na síndrome de impostora.2 Ela falou para, se for o caso, puxar a colega (até mesmo literalmente, tomando-a pelas mãos) para apresentá-la a um contato relevante ou ator imprescindível para a pauta dela. Enfim: tornou muito mais material como fazer esse papel de multiplicadora da profissão das outras. Estava falando para uma plateia feminina, mas sabemos, e esperamos, que essas atitudes se proliferem para todos os colegas, de maneira indistinta. Como a própria Rosilda diz, temos que nos enxergar cada vez mais, notar as outras não como competição, mas como rede.  

Foi também nessa rede de mulheres que conheci a Ariela Zanetta, que, falando comigo sobre indicadores de relações governamentais,3 mencionou algo sobre engajamento com stakeholders que aproveito para compartilhar aqui, e que certamente é válido para o engajamento com pares também: ela trabalha com um conceito gradual, que vai do engajamento de conhecimento; passa pela aproximação, ou seja, um aprofundamento desse contato inicial; pela fidelização, que fortalece ainda mais esse engajamento e, finalmente, pelo que chamou de “repescagem”. Achei uma maneira criativa e didática de explicar como, seja para atores dos três Poderes, seja para colegas, pares e chefes que muitas vezes se tornam mentores para toda a vida, os relacionamentos precisam ser cultivados. Aí está mais um exemplo de como fazer isso na prática.  

Uma breve, mas não por isso menos importante, menção à Camila Salvatore e ao Projeto Protea. Começamos em 2021 um projeto para unir mulheres que quisessem falar sobre carreira, projetos e dinheiro, algo ainda pouco discutido no nosso meio. Alguns encontros depois, a vida foi acontecendo e acabamos não evoluindo com a pauta. De qualquer maneira, sabemos que existe muito espaço para promover encontros, palestras e trocas entre as mulheres incríveis que conhecemos. Estamos só começando! 

Encerro com a Veronica Hoe, minha mentora na última edição do programa de mentoria estruturado pelo IRELGOV que, depois das sessões em que conversamos muito (quase uma terapia!) e que preenchi um ikigai,4 me disse o seguinte: para mim, está claro que você quer atuar no terceiro setor! E eu, incrédula, concordei. Atuo, hoje, em uma coalizão que trabalha em prol da regulamentação da licença-paternidade no Brasil, uma agenda de equidade de gênero, que destaca a necessidade de os pais cuidarem dos próprios filhos de maneira ativa, principalmente durante a primeira infância. Defendemos uma licença ampliada, remunerada e obrigatória para, entre diversas outras coisas, equiparar as atividades de cuidado exercidas por homens e mulheres no nosso país.5 

Mencionei alguns nomes propositalmente. Essas pessoas, que me conhecem mais ou menos e talvez nem lembrem de mim (como no caso da Rosilda, que deu essa palestra on-line e certamente não tem ideia de quem estava na audiência), marcaram a minha memória de uma maneira ou de outra.  

Ao organizar a mentoria do IRELGOV, com o empurrão da Lara Gurgel, nossa diretora-executiva e repositório de conhecimento do instituto, foi possível perceber que existe muita demanda para uma mentoria organizada dentro de uma estrutura como o IRELGOV. Tudo isso para dizer que todos certamente se beneficiariam de uma mentoria, de alguém com quem possa compartilhar dúvidas e inquietações durante essa jornada. As mentorias podem ser mais estruturadas, como a do IRELGOV, ou menos, como a que consegui “arrancar”, digamos assim, da Gisela. O importante é dizer que todos podem se beneficiar. Falamos aqui como mulheres porque (surpresa!) ambas somos profissionais mulheres que, como tal, enfrentam desafios que nossos colegas homens provavelmente não irão enfrentar. O que não significa, claro, que um mentor homem não pode ser tão empático como uma mentora mulher. Neste caso, diversidade é sempre um plus: tenha mais mentores: quanto mais perspectivas diferentes, melhor! 

E, além disso: seja mentor.   

Quem escreve agora como mentora sou eu, Gisela Antakly Martinez, com a difícil tarefa de continuar o texto sensível e generoso da Mari. Fui convidada para participar da primeira edição do programa de mentoria do IRELGOV e sigo contribuindo na atual edição. A experiência é sempre revigorante, e recomendo de forma entusiasmada que outros colegas experientes se inscrevam nas próximas edições. A mentoria é um espaço perfeito para conhecer novas pessoas e estabelecer vínculos duradouros, como o que certamente estabeleci com a Mari. Além de aprender muito e se emocionar um outro tanto. 

Pessoalmente, sempre que tive oportunidade, eu me aconselhei com pessoas nas quais confio para tomar decisões sobre minha carreira. Tenho mais de 35 anos de experiência e continuo fazendo isso! Hoje, um dos meus mantras como mentora é recomendar que os mentorados construam (e mantenham) suas redes de contato. Entendo também que uma das melhores coisas que posso fazer por eles é disponibilizar a minha rede, fazendo recomendações, apresentações e ampliando o potencial de um primeiro contato. É a criação de pontes e relacionamentos profissionais robustos e duradouros que a Mari menciona no início do texto.  

Em 2017, iniciei a Antakly Public Affairs, após ter trabalhado em veículos de comunicação, no governo e em uma grande agência de PR. Meu objetivo era implementar uma abordagem diferente para Public Affairs no Brasil. Tive longas conversas com meus dois maiores mentores, meu pai e meu marido (que hoje também é meu sócio), para criarmos um plano estratégico e colocar o bloco na rua exatamente como eu queria. Um dos maiores trunfos da Antakly sempre foi minha capacidade de construir e manter conexões. Algo que sempre fiz por mim e sigo fazendo para apoiar nossos clientes e, obviamente, meus mentorados. 

Uma grande vantagem em ser consultora é ter a chance de atuar com pessoas e temas tão diversos. Já trabalhei e trabalho em setores que vão do mercado de luxo ao saneamento básico, passando por saúde, alimentação e agronegócio. Essa trajetória me dá uma visão ampla do universo corporativo, do qual gosto muito de fazer parte. Sei que a maioria das pessoas gosta de ser procurada para aconselhar outros profissionais — gesto que representa reconhecimento e confiança. 

Porque, no fim das contas, “it takes a village”. Ninguém constrói uma carreira sozinho. A força das conexões e do apoio mútuo é bastante poderosa. Uma rede colaborativa fortalece nossas trajetórias individuais, mas também contribui para melhorar todo o ecossistema profissional ao nosso redor. E não é exatamente isso que almejamos fazer no IRELGOV?

Artigo

IA na logística: como a tecnologia transforma o setor e quais os desafios no Brasil

Por Jackson Campos, especialista em comércio exterior e diretor de relações institucionais da AGL Cargo

Revolucionando o mercado, a Inteligência Artificial Generativa está transformando todos os setores onde é aplicada, demonstrando todo o potencial de uma ferramenta arrojada e complexa. Na logística não tem sido diferente e já é possível ver transformações acontecendo em tempo real, agilizando processos que antes demandavam esforço e tempo de vários profissionais do setor. 

Sendo implementada em diversas camadas da cadeia logística, a IA já atua no planejamento de rotas, gerenciamento de estoques, no aumento da eficiência e produtividade, por meio de robôs, no monitoramento, por meio de sensores, e em muitos outros pontos, dando mais velocidade e segurança a esses processos. 

Entretanto, a aplicação desse modelo automatizado no Brasil esbarra em diversos problemas que existem há anos, mas que não foram solucionados pelo poder público e carecem de investimento. Um deles é a infraestrutura tecnológica do país, que ainda está atrasada e sem profissionais capacitados corretamente para dar suporte a um avanço mais incisivo nesse segmento. 

A infraestrutura também passa por rodovias deficitárias, portos que já estão superlotados e malha ferroviária pouco desenvolvida. Esta última, inclusive, poderia ligar o país diretamente ao porto de Chancay, no Peru, o que desafogaria diversos pontos de entrada e saída de cargas brasileiras. A IA poderia até sugerir rotas que fossem mais eficientes em casos como a seca no Amazonas, que prejudica fortemente o comércio exterior do Norte do país.  

Há também problemas de conectividade em todo o país, que afetam e até interrompem o funcionamento das máquinas, e gargalos estruturais de armazéns e empresas, que não permitem que a logística brasileira dê esse passo rumo à inovação que está sendo implementada no setor. 

Mas talvez o problema que mais causa esse atraso é o alto custo das máquinas e computadores envolvidos na aplicação dessa tecnologia. Muitos deixam de investir pensando nos gastos, mas não enxergam que é um investimento a longo prazo que trará muito mais retornos do que despesas, reduzindo custos e otimizando processos.  

Por isso, é necessário irmos escalando, mesmo que a passos lentos, a qualidade da tecnologia que temos à disposição. Pequenas mudanças iniciais podem se mostrar essenciais a longo prazo, atualizando os trâmites de um setor dentro da empresa ou apenas acelerando a burocracia. 

Incentivos para esses investimentos também são importantes e trariam fôlego para os empresários, que estão sentindo a pressão do atual momento da economia, pensarem em inovação. Vale lembrar que isso seria uma via de mão dupla, pois o mercado brasileiro seria amplamente beneficiado com um avanço desse tipo. 

A construção e ampliação de portos e aeroportos e seus armazéns, já recebendo todo esse suporte, também seria importante para que as cargas cheguem e passem por todas as etapas de fiscalização com mais agilidade, chegando ao consumidor final muito mais rápido e com muito menos “enroscos” nas alfândegas. 

É necessário que o mercado brasileiro compreenda o potencial transformador da IA para o setor e passe a investir de maneira mais pesada, assertiva e dedicada, inclusive na formação de profissionais qualificados para atuarem com essas máquinas inteligentes, talvez um dos principais gargalos.  

O poder público sozinho não tem o hábito de investir em tecnologia na logística e, por isso, o setor privado deve fomentar essa discussão, buscando parcerias e incentivos que levem a essa mudança, ampliando ainda mais sua capacidade de atuação em todo o território brasileiro. 

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A importância da IA na política e a possibilidade de fortalecimento das relações institucionais e governamentais

João Lucas Moreira é consultor político na Legisla Brasil 

As eleições municipais chegaram ao fim e, com isso, o Brasil dá início a um novo ciclo político nas 5.570 cidades do país. Em um cenário de renovação e continuidade, cerca de 58 mil vereadores foram eleitos para atuar nas câmaras municipais, sendo muitos reeleitos e outros iniciando seus primeiros mandatos. Esses parlamentares têm uma missão essencial: legislar e fiscalizar em nome da população, em um contexto em que a conexão com os eleitores e a transparência são exigências cada vez maiores.   

A relevância de mandatos atuantes e conectados é inquestionável. Os representantes eleitos precisam estar acessíveis às demandas da população e abertos ao diálogo com diferentes setores da sociedade, incluindo profissionais de Relações Institucionais e Governamentais (RIG). Esses especialistas atuam como pontes entre poder público, setor privado e sociedade civil organizada, auxiliando na construção de políticas mais eficazes e alinhadas às necessidades reais da população, mas também de segmentos econômicos. 

No entanto, a realidade cotidiana dos mandatos nem sempre favorece essa proximidade. O excesso de demandas administrativas e burocráticas, somado ao volume de informações que gestores e parlamentares precisam processar, pode dificultar a atuação estratégica e o diálogo contínuo com a sociedade. É aqui que a tecnologia, a Inteligência Artificial (IA), emerge como uma poderosa aliada.    

A Inteligência Artificial já é uma realidade em diversas áreas e, mais recentemente, tem ganhado espaço no setor público. Uma das iniciativas mais promissoras é a Assessora AI, lançada pela Legisla Brasil, ferramenta desenvolvida especificamente para atender às demandas do Poder Legislativo.   

Essa IA auxilia parlamentares e sua assessoria em tarefas como produção legislativa: apresentação de evidências, busca de projetos de lei e políticas públicas bem-sucedidas; análise de peças orçamentárias; avaliação de impacto de projetos para grupos sociais específicos; identificação de necessidades locais por meio de dados e engajamento com a base eleitoral. 

A utilização de soluções como a Assessora AI pode revolucionar o cotidiano de mandatos parlamentares. Ao otimizar processos repetitivos e técnico-burocráticos, a IA permite que seja dispensada maior dedicação à função representativa pelos mandatos legislativos, por meio do diálogo direto com a população, da escuta ativa de suas demandas e da articulação com especialistas e representantes de diversos setores.   

Embora iniciativas como a Assessora AI já sejam um grande passo, ainda há muito espaço para expandir o uso de Inteligência Artificial no setor público. Em particular, as prefeituras e câmaras municipais podem investir em tecnologias para: transparência ampliada (ferramentas baseadas em IA podem sistematizar e divulgar informações sobre gastos públicos); andamento de projetos e execução orçamentária de forma acessível, facilitando o acompanhamento por parte da sociedade; e participação popular (sistemas inteligentes podem criar plataformas de consulta pública mais acessíveis, permitindo que os cidadãos opinem sobre projetos de lei ou prioridades de investimento). Essas inovações não apenas aprimoram o Poder Legislativo e a Gestão Pública, mas também estreitam a relação entre eleitores e eleitos, promovendo maior confiança e engajamento político.   

O avanço tecnológico reforça a importância dos profissionais de relações institucionais e governamentais, que agora podem se apoiar em ferramentas mais sofisticadas para construir pontes entre o poder público e a sociedade. A capacidade de interpretar dados gerados por IAs para traduzir as demandas da população em pautas legislativas e fomentar o diálogo estratégico torna esses profissionais indispensáveis.  

A integração da Inteligência Artificial na política destaca uma oportunidade essencial: menos tempo com burocracia e mais tempo com conexão. Com ferramentas como a Assessora AI, o cotidiano técnico e administrativo de mandatos legislativos pode ser significativamente otimizado, permitindo que parlamentares e suas equipes se dediquem mais à escuta ativa da população e ao fortalecimento do diálogo com setores estratégicos. Essa nova dinâmica favorece mandatos mais presentes, acessíveis e capazes de entregar soluções alinhadas às necessidades reais da sociedade. 

Nesse contexto, os profissionais de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) desempenham um papel cada vez mais relevante. Com o suporte de tecnologias avançadas, esses especialistas têm o potencial de ampliar o impacto de sua atuação ao transformar dados em estratégias, promover parcerias produtivas e contribuir para uma esfera política mais ética e transparente. O uso estratégico da IA fortalece o elo entre eleitos e cidadãos, ampliando a capacidade dos mandatos de atenderem às expectativas da população de forma ágil e eficiente. 

Ao abraçar a Inteligência Artificial, prefeituras e câmaras municipais não apenas modernizam seus processos, mas também demonstram compromisso com transparência e inovação. Essa abordagem, além de potencializar a eficiência administrativa e legislativa, pavimenta o caminho para uma relação mais próxima entre poder público e sociedade. Afinal, em um Brasil tão diverso e repleto de desafios, o uso responsável e inteligente da tecnologia é uma das principais ferramentas para transformar representatividade em resultados concretos e com impacto social relevante. 

Artigo

Construindo pontes: estratégias para reduzir a lacuna de confiança de grupos minorizados no sistema de saúde

Neila Lopes é head de diversidade & cultura na Sanofi no Brasil 

O cenário é preocupante: no Brasil, onde mais de 2 mil pessoas foram entrevistadas no levantamento global Lacuna de Confiança¹, realizado pela Sanofi, o relato de experiências negativas na saúde entre pessoas com deficiência, por exemplo, está 10 pontos percentuais acima, na comparação com pessoas sem deficiência. Situações essas que podem levar à falta de adesão a tratamentos, resistência a vacinas e ausência de diagnósticos vitais.  

O impacto dessa desconfiança no sistema de saúde vai além do indivíduo, atingindo famílias e comunidades inteiras. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a repercussão negativa ocorre tanto no sistema público quanto no privado. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (2015), das pessoas que já se sentiram discriminadas nos serviços de saúde, 13,6% destacam o viés racial da discriminação². 

Reconhecer essa realidade foi o primeiro passo que demos na Sanofi. O segundo foi o nascimento de uma causa, que começou dentro de uma empresa global de saúde, mas transpõe nosso universo por meio da iniciativa “Um milhão de diálogos”. O programa emergiu como uma resposta essencial às desigualdades persistentes no acesso à saúde, especialmente para grupos minorizados, e conta com um investimento global de 50 milhões de euros até 2030. 

Lançada oficialmente no Fórum Econômico de Davos, em janeiro de 2015, o objetivo é claro: reduzir essa lacuna de confiança e construir pontes que permitam que esses grupos voltem a acreditar no ecossistema de saúde. A Sanofi vem encabeçando o tema e ampliando a presença do “Um milhão de diálogos” em três frentes: diálogos inclusivos, influência e educação. 

A primeira esfera está centrada na escuta e na troca de experiências. Esse campo envolveu eventos e reuniões com nossos colaboradores, influenciadores digitais, atores do sistema de saúde, clientes, players da indústria farmacêutica, sociedade civil, imprensa e instituições de saúde. Em um ano e meio, coletamos mais de 50 depoimentos, com muitas horas de escuta em mais de 10 rodas de diálogos,  envolvendo mais de mil pessoas de organizações da sociedade civil inseridas nos temas de saúde, diversidade e cidadania. 

No campo da influência, a iniciativa já chegou aos Ministérios da Saúde, Educação, Equidade Racial, Direitos Humanos e Cidadania, além da Organização das Nações Unidas (ONU) e de instituições relevantes na área da saúde, como Sindusfarma, Interfarma e Anvisa. A sensibilização de congressistas em Brasília também vem sendo um passo crucial para fortalecer a rede de apoio e garantir que a mitigação dessa lacuna de confiança seja entendida como parte importante da agenda nacional. 

Na esfera da educação, o programa Sanofi Geração do Futuro oferece bolsas de estudo para jovens vulneráveis, com o intuito de acelerar a diversidade e formar novos líderes na indústria farmacêutica. Em todo o mundo são mais de 100 jovens que, além do subsídio para os estudos, passam a estagiar na Sanofi. Dessa forma, vamos transformando o cenário de lacuna de confiança, de diferentes formas, com múltiplas abordagens. 

Toda essa articulação vai muito além da responsabilidade da Sanofi em Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) dentro da indústria. A existência e implementação de políticas públicas voltadas para o acolhimento das populações minorizadas no ecossistema da saúde são fundamentais para garantir equidade e justiça social em um país de dimensões continentais e com muitos desafios a serem superados. Essas políticas ajudam a reduzir disparidades no acesso a serviços de saúde, promovendo um atendimento mais inclusivo e sensível às necessidades específicas de grupos historicamente marginalizados. 

O engajamento da sociedade civil organizada, influenciadores e formuladores de políticas públicas é crucial nesse processo, pois amplificam vozes e ajudam a mobilizar recursos e a influenciar mudanças estruturais. A colaboração entre esses atores fortalece a construção de um sistema de saúde mais justo e acessível para todos, promovendo a inclusão e o bem-estar de toda a população. 

 Ao defender esses interesses, temos uma poderosa ferramenta para engajar a sociedade civil em prol de uma causa tão importante. Somos capazes de mobilizar recursos e apoio de diversos setores, incluindo empresas, ONGs e líderes comunitários, para fortalecer iniciativas de saúde voltadas para as populações excluídas e reforçar ações concretas de Estado. Ao manter um diálogo constante com todas as partes interessadas, podemos assegurar que as políticas sejam adaptáveis e responsivas às mudanças nas necessidades da população, promovendo um sistema de saúde mais eficiente e equitativo. 

Ao final da jornada, em 2030, queremos garantir que todas as pessoas, independente de raça, gênero, orientação sexual ou origem, vivenciem um tratamento com equidade. Mais do que termos realizado o “Um milhão de diálogos” sobre o tema em todo o mundo, espero que essa proposta de abordagem inspire e estimule outras empresas e governos na construção de um sistema de saúde mais inclusivo, humano e justo para todos.

Referências:
1. Um Milhão de Diálogos [Internet]. www.sanofi.com.br. Available from: https://www.sanofi.com.br/pt/quem-somos/impacto-social/diversidade-e-inclusao/um-milhao-de-dialogos
2. Negros têm maior incidência de problemas de saúde evitáveis no Brasil, alerta ONU [Internet]. Brasil. 2018. Available from: https://brasil.un.org/pt-br/79061-negros-t%C3%AAm-maior-incid%C3%AAncia-de-problemas-de-sa%C3%BAde-evit%C3%A1veis-no-brasil-alerta-onu

Artigo

Balanço do Cenário Político 2024 no Brasil

Denilde Holzhacker – Diretora Acadêmica de Pesquisa e Pós-graduação Stricto Sensu na ESPM

Em 2024, o cenário político brasileiro apresentou elementos que trouxeram à tona velhos dilemas do sistema político. Temas recorrentes, como as discussões sobre o papel das emendas parlamentares e a tensão constante entre Legislativo, Executivo e Judiciário, permaneceram em destaque no noticiário ao longo do ano. No entanto, o período trouxe acontecimentos inéditos que acenderam novos alertas sobre a resiliência do sistema democrático brasileiro, especialmente em um contexto global de enfraquecimento das democracias.

O processo eleitoral de 2024 foi marcado por disputas locais acirradas, como é típico em eleições municipais, mas também por um aumento preocupante da violência, inclusive entre candidatos. Um exemplo emblemático foi o episódio de agressão entre Datena e Pablo Marçal, que simbolizou a degradação do debate político. A campanha do até então pouco conhecido Pablo Marçal (PRTB), marcada por táticas de uso das redes sociais para difamar candidatos e pela divulgação de um laudo falso contra seu oponente Guilherme Boulos, ultrapassou os limites éticos de uma campanha eleitoral. Essa conduta gerou repúdio unânime dos demais candidatos e partidos. No entanto, o clima geral da eleição foi caracterizado por trocas de acusações e táticas de difamação que ultrapassaram os limites já conhecidos, relegando a segundo plano a discussão de propostas concretas – um problema crônico que atingiu um novo ápice. Além disso, o partido do candidato Marçal, o PRTB, foi acusado de associação com o crime organizado, acendendo mais um sinal de alerta para o sistema partidário como um todo.

De maneira geral, os resultados das eleições municipais evidenciaram o fortalecimento de partidos de centro, como PSD, MDB e União Brasil, que conquistaram expressivas vitórias. Já a esperada nacionalização da disputa entre Bolsonaro e Lula não se concretizou. Diante de uma alta rejeição, muitos candidatos evitaram associar suas campanhas diretamente ao ex-presidente Bolsonaro, e aqueles que mantiveram essa estratégia não conseguiram conquistar a maioria dos eleitores. No campo da esquerda, os resultados também revelaram fragilidades: o discurso progressista focado em ganhos sociais mostrou-se insuficiente para dialogar com parte do eleitorado, especialmente os mais jovens. As transformações no mercado de trabalho e as novas expectativas de qualidade de vida impõem aos partidos de esquerda o desafio de reinterpretar as demandas populares. Esses resultados colocam as lideranças políticas e seus estrategistas diante de uma reflexão urgente sobre como construir novas narrativas e se aproximar do eleitorado, de modo a evitar o surgimento de fenômenos disruptivos, como o protagonismo inesperado de figuras como Marçal, na próxima eleição geral em 2026.

Outro ponto crítico foi a polarização, que ganhou contornos mais preocupantes. Os ecos do período pós-eleitoral de 2022 continuam a revelar o quão próximo a democracia brasileira esteve de uma ruptura. A prisão de um general de quatro estrelas, acusado de obstrução de justiça, destacou o papel do Judiciário na contenção de ameaças e reforçou a percepção de que nem mesmo os militares estão acima do escrutínio das instituições democráticas. Ao mesmo tempo, atentados como o de um indivíduo que tentou atacar o STF demonstram que a violência política transcendeu as redes sociais e se materializou em ações concretas, exigindo monitoramento constante e punições efetivas.

Esse quadro reflete avanços institucionais importantes, mas também evidencia fragilidades que ainda demandam atenção. O fortalecimento das investigações sobre grupos radicais e a aplicação rigorosa das leis são essenciais para consolidar a democracia brasileira.

No campo das relações entre Executivo e Legislativo, o governo Lula enfrentou mais um ano de pressão e necessidade de concessões para viabilizar suas pautas no Congresso. As expectativas de um Executivo mais forte em relação ao Legislativo não se concretizaram. Pelo contrário, o governo continuou dependente das pressões do Congresso, especialmente no que diz respeito à distribuição de emendas parlamentares. Essa situação foi agravada por uma popularidade mediana do governo, que não conseguiu transmitir à população os ganhos de seus programas sociais e econômicos.

A agenda política foi dominada pelo pacote fiscal e cortes de gastos, mas outros temas também ganharam destaque. A crise climática, que atingiu vários estados, mas de forma mais crônica o Rio Grande do Sul, dominou grande parte das discussões, evidenciando a necessidade de uma articulação maior entre os entes federativos para buscar soluções que minimizem os impactos das tragédias climáticas. Outra agenda de destaque foi a segurança pública, que protagonizou disputas sobre a capacidade de ação dos governos, mas com poucos resultados concretos. Já o debate sobre as apostas esportivas (“bets”) revelou tanto a influência da sociedade civil quanto os receios em relação aos impactos sociais e econômicos dessa regulamentação, abrindo o debate sobre os efeitos da legislação e necessidade de maior regulação.

Em síntese, 2024 foi um ano de intensos debates e desafios institucionais que apontam para a continuidade de uma agenda política complexa em 2025. A democracia brasileira demonstrou resiliência, mas exige vigilância constante para superar as ameaças que persistem no horizonte.

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Expediente #04 – Dezembro – 2024

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Jornalista Responsável
Luiza Paula Sampaio (MTb 17.043)

Coordenação Editorial
Thomaz D’Addio
Marcela Tulli

Colaboraram nesta edição
Fernando de Moraes
Iolanda Vieira

Suporte
Márcia Rosa e Débora Santos

Conselho Diretor:
Patricia Nepomuceno – Presidente
Juliana Marra – Vice-Presidente
Lara Gurgel – Diretora Executiva
Felipe Carvalho – Conselho de Planejamento Estratégico
Pablo Cesário – Conselho de Conteúdos
Mariana Guimarães – Conselho Jurídico
Thomaz D’addio – Conselho de Comunicação
Júlia Vianna – Conselho de Parcerias
Verônica Hoe Lopes – Conselho de Responsabilidade Social
Carlos Lima – Conselho de Assuntos Estratégicos
Ariela Zanetta – Conselho de Carreiras
Helga Franco – Conselho Fiscal
Paulo Homem – Conselho Fiscal
Roberta Rios – Conselho Fiscal
Marcelo Almeida – Conselho Consultivo
Leonardo Barreto – Conselho Consultivo
Felipe Daud – Conselho Consultivo
Carlos Petiz – Conselho Consultivo
Mariana Chaimovich – Conselho Consultivo
Luciano Gollner – Diretor regional do IRELGOV no Espírito Santo
Gustavo Bernard – Diretor regional do IRELGOV em Minas Gerais
Rafael Maia – Diretor Regional do IRELGOV no Estado do Rio de Janeiro

 

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