Que a mobilidade é parte essencial de qualquer sociedade ninguém tem dúvida. Mas muitas incertezas cercam um mundo em transição energética das fontes fósseis para a energia elétrica, que promete tornar realidade novos modais, graças a baterias e motores mais eficientes.
“Quais as políticas públicas adequadas a esse cenário?”, provocou o moderador Creomar de Souza, fundador da Dharma Political Risk and Strategy, durante o painel “O futuro da mobilidade no Brasil – Os entraves e possíveis soluções para a mobilidade sustentável”. A questão foi inicialmente dirigida à líder de Mobilidade Elétrica do Itaú, Silvia Barcik: “Tratar de mobilidade não é falar necessariamente de automóveis”, observou ela. “O tema mobilidade elétrica envolve um extenso ecossistema de alianças e parcerias, que inclui cidades e comunidades. Estamos nos referindo à necessidade das pessoas de se deslocarem, e isso deve ser feito com economia de tempo e dinheiro. Por isso, o debate deve envolver a sociedade.”
O planejamento urbano de boa parte das cidades, no entanto, não é adequado, com serviços deficientes e uma ocupação espacial que leva as pessoas a grandes deslocamentos. “Perder quatro horas por dia no trânsito só para ir e voltar do trabalho é uma loucura”, afirmou o tecnólogo em construção civil pela Fatec (Faculdade de Tecnologia em São Paulo), Irineu Gnecco Filho.
Segundo ele, os modais devem ser repensados. “Ainda são muito individuais. Temos milhões de veículos que pesam quase uma tonelada e que carregam, em média, uma ou duas pessoas cada um. Isso representa um esforço enorme em termos de poluição, congestionamento e ocupação do espaço público para transportar poucas pessoas – mas ainda é uma cultura muito forte. Em termos de mobilidade, temos que trabalhar com modais diversos – compartilhamento de carros, assinatura de veículos, aplicativos de transporte individual de passageiros e veículos elétricos. Mas a infraestrutura ainda não está adequada para esses meios de transporte, falta integração entre eles. Essas barreiras precisam ser superadas com tecnologias eficientes.”
Daniel Godinho, diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da Weg, acredita que não exista dicotomia entre carros elétricos ou movidos a biocombustíveis no caso do Brasil. A fórmula correta, na avaliação dele, combina os dois sistemas. “Nossa matriz de geração de energia elétrica é bem limpa. O que precisamos é ampliar significativamente a infraestrutura, em especial transmissão e distribuição. Nas cidades, a ideia é ir substituindo aos poucos os veículos coletivos com motores térmicos – a cidade de São Paulo, que tem uma frota de 22 mil ônibus, já deu o primeiro passo para trocar 2 mil desses por elétricos.”
E qual o papel do governo nesse contexto? Barcik ressalta que somos o único país do G20 que não possui uma política nacional de eletromobilidade. “É essencial ter um ambiente regulatório adequado”, destacou, defendendo a ação do governo como agente indutor.
Na avaliação de Godinho, o Brasil tem todos os elementos para ser protagonista nesse campo e, inclusive, exportar suas soluções. “São quatro vetores – produção, consumo, Pesquisa & Desenvolvimento e infraestrutura. Temos que avançar na cadeia de produção de baterias de íon-lítio, financiar a troca de frota de ônibus e caminhões, estimular o desenvolvimento de células de baterias e adotar política de instalação de pontos de recarga nas vias públicas – o que pode ser feito estabelecendo a obrigatoriedade de implantação de estações de recarga em rodovias sob concessão ou em estacionamentos públicos. Tudo isso depende de regulação.”