2
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Expediente #03
Novembro de 2021
DIÁLOGOS IRELGOV é uma publicação
do Instituto de Relações Governamentais
(IRELGOV) Rua Funchal, 203 – cj. A4
Vila Olímpia – São Paulo – SP
CEP 04551-904
Fone: +55 11 98536-0012
E-mail: irelgov@irelgov.com.br
Conselho Deliberativo
Suelma Rosa (presidente)
Fabio Rua (vice-presidente)
Anna Paula Losi – Nacionalização & Entes
Subfederados | Carreira & Futuro da Prossão
Creomar de Souza – Ensino & Pesquisa
Diego Bonomo – Internacionalização &
Parcerias Internacionais
Helga Franco – Diversidade & Inclusão
Juliana Celuppi – Empreendedorismo &
Transformação Digital
Valeria Rossi – Comunicação & Advocacy
Wagner Parente – Jurídico & Marco
Regulatório
Diretoria de Comunicação
Gisela Antakly Martinez
Conselho Editorial
Fabio Rua
Valeria Rossi
Gisela Antakly Martinez
Coordenação Editorial
Anna Paula Losi
Raquel Araujo
A revista Diálogos IRELGOV é editada pela
Arteiras Comunicação
Rua Conde de Baependi, 39/ 502 – Flamengo
– Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22231-140 - (21)
99913 4464
E-mail: [email protected]om.br
Jornalista Responsável: Luiza Paula
Sampaio (MTb 17.043)
Colaboraram nesta edição: Alexandre
Amissi, Ângela Oliveira, Gustavo Bonini,
Ignacio Garcia Zoppi, Larissa Menezes,
Mário Campos, Noelle Rocha e Patrícia
Nepomuceno
Suporte: Camila Rocha e Márcia Rosa
Ilustração de capa: André Davila e Deise
Davila
Copyright © IRELGOV 2021 – Permitida a
reprodução desde que citada a fonte.
UM PAÍS DE CONTRASTES
Desde Brasil Império que as relações governamentais se dão em fronteiras além
do centro do poder. Quando nos remetemos ao tempo da “República do Café
com Leite” vemos que os barões do café da então capitania das Minas Gerais
muito faziam para perpetuar alianças com os de (São Sebastiao do) Rio de Janeiro
e os de São Paulo. E essas alianças inuenciaram a denição das nossas políticas
econômicas à época, bem como a melhoria de infraestrutura adequada para
escoamento da produção.
Passados séculos, percebemos a relevância do peso dos estados na política
brasileira. Não seria exagero dizer que Minas Gerais e Pará lideram discussões
com Bahia e Goiás no que concerne à mineração. Assim como o Estado do Rio
de Janeiro encabeça muitas das discussões acerca da exploração petrolífera.
Apesar de generalizações aqui descritas, percebe-se que muito da política se faz
no local e, depois de discussões e ponderações, são levadas ao Planalto Central
para virarem lei.
Quando se criou o eixo de nacionalização e entes subfederados na gestão
Convergência, o intuito foi o de retratar no cotidiano do IRELGOV os muito brasis,
como dizia Darcy Ribeiro. O de tentar sair do eixo SP-BSB e trazer para nossos
treinamentos, webinares, palestras, Revista Diálogos e tantas outras ações, essa
matiz diversa e complexa que compõe o Brasil. Com esse intuito, o eixo buscou o
apoio de distintas federações das indústrias. Iniciamos uma jornada de rodadas
de reuniões em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Goiás,
Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina para explanar o Instituto
e buscar convergência de interesses. Tem sido uma jornada bem enriquecedora,
sendo que a primeira ação já se dará em parceria com a Federação das Indústrias
do Mato Grosso, em treinamento especíco para seu time de RIG em novembro.
Essa edição da Revista Diálogos busca trazer para o dia a dia da realidade do
prossional de RIG essa diversidade brasileira. Não somente buscamos por
associados de distintas localidades para participar nesta edição, mas tentamos
trazer contribuições de diversos atores locais que contribuem no desenho de
políticas públicas a nível federal. A introdução de uma seção de páginas amarelas
com a participação do Presidente da SIAMIG, Mário Campos, ressaltando as
particularidades da política local, dita o tom da publicação. Nossa matéria de
capa com foco na indústria está em sintonia com o planejamento estratégico do
eixo, buscando retratar o relevante papel do regional no desenvolvimento de um
Brasil mais industrial – trouxemos contribuições de entidades relevantes como
IBRAM, ABIQUIM, FIEB, FIEG e ABAL. Igualmente, nossos articulistas buscaram
estampar, nos seus diversos artigos, casos práticos, obstáculos e particularidades
que reiteram (como mencionado pela associada Larissa Menezes em seu artigo)
a frase do Congressista norte-americano Tip O’Neal, “all politics is local” – de
problemas tarifários à Amazônia.
Gostaríamos de agradecer a contribuição dos nossos líderes do Eixo de
Nacionalização e Entes Subfederados sem os quais nosso trabalho não seria
possível. Reforçamos também o convite para todos os associados interessados
se juntarem a nós para fazermos com que nossas 27 unidades federativas sejam
representadas no IRELGOV.
Boa leitura!
Anna Paula Losi I Conselheira do Eixo de Nacionalização & Entes Subfederados
Raquel Araujo I Diretora do Eixo de Nacionalização & Entes Subfederados
EDITORIAL
Nesta edição
03
08
10
15
Nova categoria do programa Champions
A importância da indústria na construção do
país
Relações governamentais para além do
Planalto Central
RADAR
CAPA
ARTIGO
Editorial
2
A força do diálogo
nas relações
governamentais 18
ESG e Governo sob a
perspectiva de redes
(multi) stakeholders 20
Os desaos do
monitoramento
das assembleias
legislativas estaduais 25
Do planalto para as
federações 27
Eleições: ser eleitor
não é um bônus! 30
IRELGOV lança
podcast TransformaGov,
em parceria com
a ESPM 34
Novos associados 35
A ecácia das ações locais
PÁGINAS AMARELAS
3
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
O Programa Champions, do IRELGOV, lançou
uma nova categoria - “direitos e garantias
para pessoas com deciência, que reconhe-
cerá prossionais, empresas e entidades que
atuem em prol de políticas públicas para de-
fesa de direitos e garantias, empregabilidade
e inclusão de pessoas com deciência.
Uma sociedade só pode se considerar real-
mente inclusiva quando todos e todas partici-
pam ativamente de sua vida comunitária – do
lazer ao labor. Os desaos mais comuns estão
relacionados à infraestrutura de nossas cida-
des - com ruas esburacadas, ausência de cal-
çadas, rampas, sinais sonoros e sinalizações
adequadas.
Mas o conceito de inclusão vai muito além da
acessibilidade física. A empregabilidade e a
efetiva inclusão no ambiente prossional é
uma dimensão importante que proporciona
independência nanceira, cidadania e digni
-
dade.
Passados 30 anos da sanção da lei de cotas,
que determina que empresas com mais de
100 funcionários reservem de 2% a 5% das
vagas para pessoas com deciências, seria ra
-
zoável imaginar que esse quadro tivesse ten-
dência positiva. No entanto, de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística
(IBGE), das 45 milhões de pessoas com de
-
ciência no Brasil (25% da população), apenas
0,9% estão inseridas no mercado formal. Esse
cenário também precisa mudar.
RADAR
Nova categoria do programa
Champions
4
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Workshop “Guia de Gestão em RIG”
No quarto workshop da série “Guia de Gestão
em Relações Institucionais e Governamentais
(RIG)” o debate foi sobre “Planejamento em
Relações Governamentais”, com moderação
de Rafael Corradi, relatoria de Veronica Hoe
e Luiz Renato Nais, e palestras de Silvia de
Toledo Fagnani, CEO da ThinkBrasil Consulto
-
ria, Guilherme (Gui) Athia, CEO da Gui Athia &
Partners e Kristine M. Reeves, líder na Open
Society Foundations. Nos eventos, prossio
-
nais da área de relações governamentais fa-
zem apresentações e debatem sobre os prin-
cípios metodológicos dos temas: matriz de
stakeholders, gestão de riscos e planejamen
-
to estratégico.
Silvia abriu o debate com uma reexão sobre
o papel dos stakeholders. “Um grande autor
diz que a diplomacia corporativa cria valor
real de negócio. É sempre importante você
se aproximar de todos os seus stakeholders,
sejam eles favoráveis ou não às pautas. Além
disso, devemos ter pautas voltadas para a
sustentabilidade e ter um olhar para os sha
-
reholders”.
Gui Athia trouxe uma visão sobre o planeja-
mento de RIG no ambiente de negócios com
diversos insights. “Planejar é sempre um risco
assumido e temos capacidade para assumir
esses riscos. Como medir lobby e advocacy?
É importante estudarmos as métricas desen-
volvidas no Brasil. Competitividade, previsibi-
lidade e contribuições são algumas das métri-
cas relevantes para análise.
A inuência sobre o poder é tida por Kristi-
ne como uma das principais características
dos prossionais da área. Nosso papel é ge-
rir inuências. O engajamento das pessoas
com a administração pública não é somente
resolver problemas, mas inuenciar o poder.
O prossional que lida com isso é quase que
um intérprete sobre traduzir o poder e como
navegar nesse ambiente, por meio da cons-
trução de estratégia para agir proativamente
e reativamente. Vemos uma grande polariza-
ção aqui nos EUA entre políticos eleitos e en-
tre clientes também.
Quer assistir novamente?
Acesse o canal do
IRELGOV no YouTube
RADAR
5
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
O IRELGOV promoveu, no
dia 19 de outubro, o terceiro
webinar da série “Trilhas de
Carreira em RIG”, com foco
no tema “Da carreira pública
para o setor privado e vice e
versa”.
Nesta edição, o evento vir
-
tual foi moderado por Lígia
Pimentel, diretora de Rela
-
ções Governamentais Latam
da Varian Medical Systems,
e teve a participação de
Humberto Filho, Diretor de
Relações Institucionais da
Fleetcor/Sem Parar, Lucas
Camara, diretor-executivo da
C4IR Brasil Centro Aliado
ao World Economic Forum,
Maurilio Guignoni Dutra,
head de Assuntos Institucio
-
nais, Legislativos e Regula-
tórios do BNDES, e Cynthia
Cury, gerente de Relações
Institucionais e Governa
-
mentais da Embrapa.
O primeiro webinar foi lan
-
çado em julho, mediado por
Rodrigo Navarro, presidente
da ABRAMAT e coordenador
do MBA em Relações Go
-
vernamentais da FGV e teve
como convidados: Daniela
Coutinho, vice-presidente e
diretora de Comunicação e
Relações Governamentais
da Abrace; Carlos Lima, di
-
retor-executivo do IBRAC e
Rosana Galvão, diretora de
Relações Governamentais da
Dell Technologies Brasil.
O segundo webinar aconte
-
ceu em agosto. Nesta edição,
Anna Paula Losi, conselheira
do eixo Carreira & Futuro da
Prossão do IRELGOV, me
-
diou o evento, que teve como
convidados: Mariana Lucena,
diretora de Assuntos Cor
-
porativos da Mars Wrigley &
Food; Fábio Lobato, diretor
de Public Aairs da Jerey
-
Group Brasil; e Renard Aron,
fundador da PolicyZone.
No dia 24 de novembro será
realizado o quarto e último
evento da série. Nessa opor
-
tunidade o debate será com
prossionais de empresas
de Search (Egon Zehnder;
Spencer Stuart e Vittore &
Partners) e abordará os prin
-
cipais desaos competên-
cias, formação, diversidade
e perspectivas do mercado
para os prossionais do se
-
tor de RelGov.
A série é inspirada na frase
“O longo caminho curto e o
curto caminho longo, de Nil
-
ton Bonder, autor de “A Alma
Imoral”.
RADAR
Terceira etapa dos webinars
Quer assistir novamente ou ver
os próximos? Acesse o canal do
IRELGOV no YouTube:
6
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
O IRELGOV negocia uma parceria com o
Briyah Institute, que proporcionará aos as-
sociados descontos de 20% no CEO Meet &
Master Program. O objetivo do programa é
unir inovação, prática e propósito para inspi-
rar líderes para transformar organizações que
co-criam uma economia de impacto. Além dis-
so, o curso visa ampliar o networking de exe-
cutivos a partir de uma maior compreensão
da interconectividade de ações e aplicação
de uma abordagem de pensamento sistêmi-
co para a tomada de decisões em todos os
níveis, capacitando líderes e organizações a
entregar resultados mais signicativos e im-
pactantes. Em breve teremos mais notícias.
Fique ligado!
IRELGOV + Instituto Briyah
Mudanças climáticas em debate
Eventos climáticos extremos, desaparecimen-
to de espécies e prejuízos à agricultura são
algumas das consequências das mudanças cli-
máticas registradas no mundo nas últimas dé-
cadas. Para debater esse cenário, o IRELGOV
e a Weber Shandwick promoveram no dia 22
de outubro um encontro com líderes em sus-
tentabilidade e em relações governamentais.
O evento contou com a participação da presi-
dente do instituto, Suelma Rosa.
RADAR
8
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Nesta edição inovamos com a seção Páginas Ama-
relas, na qual convidaremos um prossional de RIG
para um agradável ping-pong de perguntas e res
-
postas. A estreia é com Mário Campos, presidente
do Siamig, que fala sobre os desaos da atuação
local e o panorama da atividade no interior do
país.
Existe um conhecimento acerca da prossão
de RIG fora de BSB?
Acredito que estamos em desenvolvimento. Cla
-
ro que o conhecimento é maior em Brasília e em
São Paulo, mas está crescendo em todo o Bra
-
sil. Não há um só lugar no país que não tenha
pessoas tentando inuenciar decisões de agen
-
tes públicos ou mesmo promovendo interações
contínuas com diversos stakeholders. Contudo,
apenas recentemente passamos a encontrar
organizações com áreas dedicadas ou pessoas
especializadas nesse tipo de atuação. A disponi
-
bilidade de cursos, capacitações e divulgação da
prossão tem ajudado nessa difusão.
Qual a maior diferença entre o trabalho do
prossional de RIG no seu estado e no eixo
BSB-SP âmbito estadual/municipal para o tra
-
balho no nível federal?
Quanto mais você delimita a área geográca de
atuação e foca em uma região, mais próximo
estará das pessoas que realmente serão impac
-
tadas por determinada política pública ou de-
cisão institucional. Politicamente, a ação local
tem muito mais ecácia para o agente público
por conta da identicação direta do propositor
ou do idealizador. Para que isso seja possível, é
imprescindível uma boa rede de contatos. Nes
-
sa esfera, o relacionamento entre os agentes é
muito maior e a questão cultural assume mais
relevância. também o desao de trazer para
as instâncias estadual/municipal os avanços con
-
seguidos no âmbito federal em relação à trans-
parência. É uma evolução.
A ação local é mais ecaz”
PÁGINAS AMARELAS
8
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Mário Campos
Presidente da SIAMIG - Associação das Indústrias
Sucroenergéticas de Minas Gerais, Sindicato da Indústria da
Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais e Sindicato
da Indústria do Açúcar no Estado de Minas Gerais
9
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Qual o maior desao enfrentado na sua carrei-
ra regionalmente?
Foi o trabalho que realizei para diminuir o ICMS
do etanol hidratado no Estado de Minas Gerais.
Já havíamos conseguido duas reduções meno
-
res, sem muito impacto no mercado mas, em
2014, conseguimos deixar os postos de combus
-
tíveis mineiros com o maior diferencial entre
as alíquotas de etanol e gasolina do Brasil, com
efeitos impressionantes sobre a demanda. Cito a
estratégia CONFORT: tínhamos o “como” proce
-
der, a “forma” também, mas faltava o “time”. Ele
veio naquele ano, por meio de uma convergência
entre Poder Executivo e Assembleia Legislativa,
além de muita paciência e persistência, caracte
-
rísticas essenciais à nossa prossão.
Quais as lições aprendidas em sua região que
fazem diferença no exercício da prossão?
Não podemos esquecer que a política local é
muito ativa e sensível e as diculdades começam
no momento de se decidir as soluções para os
problemas enfrentados. Sou presidente de uma
associação/sindicato patronal e a primeira lição
que aprendemos é aglutinar os agentes econô
-
micos que você representa em torno de objeti-
vos comuns e alcançáveis. Parece fácil, mas não
é; essa discussão precisa emergir do grupo e
meu trabalho sempre foi colocar em pauta a rea
-
lidade, aquilo que é possível. Depois, é necessá-
rio lançar mão de estratégias setoriais, as vezes
locais, em outros momentos nacional, e de coa
-
lizões com aqueles que apresentam problemas
similares. Por m, devemos aliar a parte técnica
com a política, sempre dando os créditos corre-
tos a todos que te auxiliaram.
Qual a regra de ouro para uma estratégia de
relações governamentais no âmbito estadual
e/ou municipal ter sucesso? Você acredita que
é diferente para o âmbito federal?
A política é feita no âmbito local, é ali que estão
os votos e as maiores pressões sobre os agentes.
A rede de contatos e suas nuances apresentam
uma sensibilidade muito maior. Assim, é sempre
muito importante estabelecer uma estratégia
que leve em conta os pontos dessa rede que
possuem formas de relação menos formais e
que precisam de uma preparação anterior mais
apurada, até porque nessa esfera existem mais
informações especícas sobre os interlocutores.
Como o IRELGOV pode contribuir para o de
-
senvolvimento dos prossionais de Relgov
que atuam em estados e municípios?
O trabalho que o IRELGOV tem feito é motivo de
elogios e aplausos. É muito importante intensi
-
car a capilaridade do conhecimento por todo
o Brasil, promovendo capacitação e divulgando
a prossão, tanto no setor privado quanto no
público. Para tal, parcerias regionais são impres
-
cindíveis. Procuro fazer minha parte no curso
de conselheiros promovido pelo IEL/FIEMG em
Minas Gerais, onde incluímos, desde a primeira
turma, a disciplina de Relações Institucionais e
Governamentais.
PÁGINAS AMARELAS
Desde que James Watt inventou o vapor,
dando início ao ciclo industrial na humani
-
dade, a atividade se tornou um pilar do de-
senvolvimento humano. Passou por inúme-
ras transformações – a chegada do motor
elétrico, depois a inserção da automação, a
informatização e, nos dias atuais, a chamada
“indústria 4.0” - o que aumentou sua produ
-
tividade e vem gerando riquezas antes ini-
magináveis. Neste início de século, no entan-
to, torna-se importante repensar seu papel
no desenvolvimento de países e, in ne, no
bem-estar das pessoas, assim como vericar
seus impactos nas políticas públicas. Em es
-
pecial para nós, as políticas públicas brasilei-
ras.
Na história de uma nação, a industrializa
-
ção da economia é considerada um marco,
um ponto de virada que, se bem executada,
impulsiona o crescimento econômico e pro
-
porciona bem-estar e melhores condições
de vida aos cidadãos. No entanto, para que
esse orescimento aconteça, é necessário
criar um ambiente favorável no qual as em
-
presas possam crescer, com legislação, nor-
mas tributárias, linhas de crédito e normas
ambientais adequadas e sustentáveis. Esse
papel de denidor de políticas públicas e
equilibrador das forças sociais cabe ao Esta
-
do. Seus direcionamentos são fonte impor-
tante de sustentação do desenvolvimento
nacional, tendo conexão com todos os fa
-
tores do desenvolvimento, executando um
papel central de regulador. Para tal, deve re
-
ceber da sociedade inputs com demandas e
necessidades.
Nesse sentido, a indústria tem um impor-
tante papel a desempenhar, por sua força
econômica, capacidade de promover cres
-
cimento de longo prazo e de inuenciar os
destinos da nação. Para que se desenvolva,
é importante que sejam estabelecidas po
-
líticas industriais, ou seja, um conjunto de
ações que envolvam setor público e privado
para formar uma visão estratégica de pro
-
gresso.
Uma política industrial bem elaborada cria
resultados não apenas no campo da compe-
titividade, mas também na geração de mais
postos de trabalho e empregos com melhor
remuneração. Para a formulação de políti
-
cas adequadas na promoção de um desen-
Uma indústria para todos
CAPA
10
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
11
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
volvimento sustentável do país, a indústria
precisa levar seus pleitos e necessidades à
sociedade; conta, para isso, com diversos
mecanismos, entre eles as relações institu
-
cionais, na maior parte das vezes exercidas
por representantes de associações e federa
-
ções setoriais.
Ricardo Alban, presidente da FIEB (Fede
-
ração das Indústrias do Estado da Bahia) é
um destes representantes. Ele acredita que
um ambiente de negócios propício ao cres
-
cimento do setor é crucial. “A indústria é o
principal ator do setor produtivo, respon
-
sável pela geração de riquezas, empregos,
arrecadação de tributos e desenvolvimento
econômico, tecnológico e social. Por isso,
nós, da FIEB, nos empenhamos na interlocu
-
ção com os poderes públicos, tanto Legisla-
tivo quanto Executivo, e participamos ativa-
mente da construção de políticas públicas
que impactem o segmento”, explica.
A participação das associações setoriais da
indústria é muito importante na construção
de políticas públicas, pois elas fazem a inter
-
mediação entre a iniciativa privada e o poder
público. “Atuamos para organizar e comuni
-
car as ações e as demandas do setor para o
governo e vice-versa – quais as alternativas
para ampliar a produção e quais as oportu
-
nidades de sinergia entre os programas es-
tatais e as iniciativas empresariais”, explica
André Passos, diretor de Relações Institucio
-
nais da Abiquim (Associação Brasileira da In-
dústria Química). “O Estado precisa ser nos-
so aliado. Nossas pautas perpassam diversas
áreas e são de longo prazo. Só vamos alavan
-
car a competitividade do setor e promover
a inovação no país por meio de um diálogo
ético e transparente”.
Janaína Donas, presidente-executiva da Abal
(Associação Brasileira do Alumínio), concor
-
da: “A defesa de interesses, sobretudo em
temas relacionados ao desenvolvimento e à
promoção da competitividade industrial, são
elementos legítimos e essenciais à missão
de qualquer entidade setorial”, arma. Para
ela, as associações devem servir como fonte
de informação sobre a indústria, oferecendo
atualizações de mercado e tendências que
possam embasar a formulação de políticas
públicas. “Desta forma, contribuímos com
o aprimoramento dos marcos regulatórios,
a denição de normas de padronização de
produtos e o desenvolvimento de melhores
práticas de gestão. Para que nossas estra-
tégias tenham sucesso, temos sempre que
estar atentos à qualidade das informações
apresentadas, que devem se basear em fun-
damentos técnicos”.
Janaína Donas
Presidente-executiva da Abal
(Associação Brasileira do Alumínio)
CAPA
12
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Em um país com dimensões continentais se-
ria miopia considerar que o eixo São Paulo-
-Brasília concentraria toda a atividade de de-
fesa de interesses industriais do país e daria
conta de todas suas particularidades regio
-
nais. Como bem se sabe, as relações gover-
namentais estão presentes em todo lugar
onde exista um grupo de pressão constituí
-
do para defender determinado interesse pe-
rante o Poder Público. Para que tenham êxi-
to, é preciso entender a realidade do país,
constituído por realidades tão diversas. É es
-
sencial conhecer as necessidades regionais e
sua cultura para poder defender os interes
-
ses em qualquer lugar que se faça necessá-
rio. Por isso, é necessário que os pleitos de
todas as regiões sejam levados ao centro do
debate e considerados.
O interior guarda boas oportunidades pros
-
sionais, até porque grande parte dos centros
produtivos nacionais estão lá localizados –
agronegócio, mineração, têxtil, petroquími
-
co, automotivo. O caso da Bahia é um bom
exemplo da importância de conhecer a re
-
alidade local. Apesar de ser o estado mais
industrializado do Nordeste, ainda é consi
-
derada uma região pobre, que sofre com bai-
xos índices de educação e saneamento. “Por
isso as pautas da indústria baiana junto ao
Governo Federal giram em torno da redução
das desigualdades”, ressalta o presidente da
FIEB. “Buscamos o fortalecimento das insti
-
tuições de ensino e qualicação prossional,
a participação da iniciativa privada nas obras
e gestão de saneamento e, principalmen
-
te, a viabilização de infraestrutura logística
para escoamento de produção. Nesse senti
-
do, precisamos atuar sempre de forma técni-
ca e transparente, o que nos permite agir em
rede, com proveitosa troca de experiências e
informações”, arma Ricardo Alban.
André Rocha, vice-presidente da FIEG (Fe
-
deração das Indústrias no Estado de Goiás)
é outro que aposta em transparência. “Em
uma época em que as empresas estão sen
-
do cada vez mais cobradas para apresentar
melhores práticas de sustentabilidade e go
-
vernança, buscamos relações mais éticas.
Nossa atuação é marcada pelo compromisso
por mais transparência e prossionalismo”,
acredita.
No setor de mineração, com atuação em
todo o país, a descentralização da atuação
de relações institucionais e a construção de
políticas públicas com foco local é essencial.
O Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração)
tem sua atuação pautada pelos aspectos
políticos-institucionais, representando as
mineradoras nos debates relativos à cons
-
trução de políticas públicas e participando
dos processos de tomada de decisão. “Ela
-
boramos estratégias para conduzir o relacio-
namento governamental do setor alinhado
André Rocha
Vice-presidente da FIEG (Federação das
Indústrias no Estado de Goiás)
CAPA
13
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
aos legítimos interesses de seus represen-
tados, assim como fazemos análises de risco
regulatórios. Nossa atuação é nacional, mas
mantemos olhar rme para o que se discute
nos principais estados mineradores”, explica
o diretor-presidente do insti
-
tuto, Flávio Ottoni Penido.
“No plano federal o trabalho
se concentra em questões
que vão gerar repercussões
nos estados e municípios”,
continua, “pois é lá que as
ações efetivamente aconte
-
cem. A dinâmica é diversa, a
forma de lidar com autori
-
dade de diferentes poderes,
assim como a tramitação de
propostas e a formação de
alianças institucionais”. Para
Penido, existem também diferenças no aces
-
so às informações, com maior facilidade para
conhecer as propostas no plano federal. Ca
-
berá ao representante institucional setorial
a tarefa de se adaptar à cada realidade. “É
preciso mergulhar na cultura
local e encontrar maneiras de
abrir espaços para apresentar
sua argumentação, propostas
e, também, sugestões”.
Já para a Abiquim, entre os
principais desaos para de
-
senvolver um trabalho de
excelência na defesa dos in
-
teresses setoriais estão a dis-
crepância entre as necessida-
des locais e as nacionais e a
ausência de projetos nacionais
integrados do Estado para o
Flávio Penido
Diretor-presidente do Ibram
(Instituto Brasileiro de Mineração)
Um pouco de história
No Brasil, podemos destacar a industrialização por meio da substituição de
importações que começou na segunda metade do século XX. Isso mudou o
país, de uma economia rural e agroexportadora para uma urbano-industrial.
Mais tarde, a estratégia de fomentar o setor industrial seguiu com Juscelino
Kubitschek, que focou no desenvolvimento do setor industrial, com ênfase
em bens de consumo duráveis. No nal da década de 1970, o Brasil já havia
criado um razoável parque cientíco tecnológico, com recursos públicos e
investimentos de empresas estatais.
No entanto, as políticas industriais ao longo das últimas décadas deteriora-
ram a situação. Recentemente, a indústria vem perdendo participação no
PIB (Produto Interno Bruto) para os setores de serviços e agronegócios. Em
2020, o setor respondia por apenas 20% do PIB chegou a 46% no nal
dos anos 1980.
CAPA
14
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
setor químico. “Por isso é tão importante
termos, como associação, uma pauta comum
para o segmento. Organizamos discussões
colegiadas para buscarmos a convergência
de interesses, na qual estruturamos grandes
temas e denimos princípios orientadores
de nossa atuação”, revela André Passos.
A Abal lembra que o regime de repartição de
competências do federalismo brasileiro faz
com que as pautas federais tenham maior
atenção devido à própria abrangência dos li
-
mites políticos e legislativos existentes. “No
entanto, (em função da) atual conjuntura
socioeconômica, que evidencia realidades
muito discrepantes entre as regiões do país,
ou até mesmo pelo amadurecimento das
instituições democráticas, temos observa
-
do um crescimento exponencial de conitos
de competências, que reforçam a necessi
-
dade de recalibração dos debates”, aponta
Janaina Donas. “É possível perceber um mo
-
vimento de conscientização e de fortaleci-
mento do papel que as comunidades locais
podem exercer na apresentação de deman
-
das e no encaminhamento de soluções para
as questões que
lhes afetam dire
-
tamente. E todos
os atores devem
estar atentos a
essa mudança de
escopo e atua
-
ção”.
A articulação re
-
presentativa or-
ganizada produz
frutos. Para tal,
basta analisar o desempenho de outros se-
tores: um bom exemplo é a agricultura. Bem
organizada, chega a contar com uma Frente
Parlamentar da Agropecuária, que defende
seus interesses no Congresso Nacional. A
indústria vem fazendo um belo trabalho em
prol da construção de um posicionamento
mais uníssono, mas talvez seja útil usar o
setor agrícola como referência na busca de
uma estruturação prática de exercícios de
lobby e advocacy em prol de maior cresci-
mento industrial no país.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), em
parceria com as federações de indústrias e asso-
ciações setoriais de âmbito nacional, elabora anu-
almente, desde 1996, a Agenda Legislativa da In-
dústria. A edição de 2021 apresenta 140 projetos
prioritários para o desenvolvimento do país em
tramitação no Congresso Nacional. O documento,
resultado de um amplo debate que contou com a
participação recorde de 388 representantes das
27 federações estaduais da indústria e mais de
80 associações setoriais, reúne propostas para
melhorar o ambiente de negócios, atrair investi-
mentos e promover desenvolvimento econômico
e social.
O trabalho reete o compromisso da indústria
brasileira com o futuro do Brasil e serve de instru-
mento para qualicar o diálogo com o Poder Legis-
lativo em prol de mudanças nos marcos legais que
possam impulsionar um novo ciclo de crescimento
econômico e social. Entre os temas em debate no
Congresso considerados de maior impacto sobre
o ambiente de negócios brasileiro este ano estão
reformas tributária e administrativa, tratamento
diferenciado para os casos de falência das MPEs
(Micro e Pequenas Empresas), programa especial
de regularização tributária, modernização do se-
tor elétrico, tributação da renda corporativa, de-
bêntures e infraestrutura, prestação de serviços
no exterior por brasileiros, licenciamento ambien-
tal e desconsideração da personalidade jurídica.
A agenda atual
CAPA
André Passos
Diretor de Relações
Institucionais da Abiquim
(Associação Brasileira da
Indústria Química)
Descer o Eixo Monumental e ter acesso aos
representantes do Executivo, Legislativo e
Judiciário. Se colocarmos o foco no Legisla
-
tivo, é comum segundas e sextas-feiras se-
rem dias voltados para atividades internas,
ao passo que, de terças a quintas-feiras,
frequentar os anexos da Câmara dos Depu
-
tados e do Senado Federal são a rotina do
prossional de relações governamentais.
Pelo menos aqueles cujas atividades estão
focadas no âmbito federal.
Apenas em 2015 houve uma pesquisa que
estudou o perl do prossional de relações
governamentais, coordenada pelo think
tank Pensar RelGov. Na ocasião, após entre
-
vistar mais de 160 executivos, foi possível
tomar conhecimento sobre as característi
-
cas da prossão como, por exemplo, veri-
car que São Paulo e Distrito Federal lideram
a concentração de prossionais por UF.
Essa concentração é facilmente explicada
pelos três poderes presentes em Brasília
e pela presença das sedes administrativas
das empresas em São Paulo. Porém, é preci
-
so registrar que a produção e a geração de
renda estão instaladas por todo o país, ge
-
rando uma demanda latente de criação de
capital intelectual nas cidades fora do eixo
São Paulo-Brasília.
É importante ressaltar que, embora as deci
-
sões políticas se concentrem em Brasília e
Relações governamentais para
além do Planalto Central
ARTIGO
15
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Ângela Oliveira
Cientista política e diretora de Relações
Institucionais da Associação Brasileira dos
Comercializadores de Energia
as corporativas em São Paulo, existe o com-
ponente local (estadual e municipal) que
inuencia de forma direta todo o processo
produtivo. E os prossionais que estão nes
-
sas cidades carecem de um espaço de dis-
cussão para troca de experiências e mesmo
desenvolvimento de suas capacidades pro
-
ssionais sem que sejam necessárias cons-
tantes viagens para as capitais já citadas
nesse texto.
16
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
O dia a dia da unidade produtiva está no mu-
nicípio e a relação com os entes municipais
e estaduais é de suma importância para as
-
segurar a licença de operação e garantir a
segurança do investimento realizado. E esse
tema se perde na discussão dentro do gran
-
de eixo, pela distância geográca e falta de
uma melhor retroalimentação de informa
-
ções.
Trazer essas discussões para a pauta nacio
-
nal seria enriquecedor por apresentar dife-
rentes nuances sobre skills necessárias ao
prossional de relações governamentais e
como uma política pública pode começar a
ser proposta desde o município ou estado
para o plano federal. Adicionalmente, é uma
forma de dar o devido destaque ao trabalho
desenvolvido nos estados e aproximar uma
discussão de alto nível do prossional de
relações governamentais e mesmo poten
-
cializar o mercado com a conscientização da
importância do prossional em todas as ca
-
deias produtivas.
Fundado em 2014, o Instituto de Relações
Governamentais (IRELGOV) é um think tank
brasileiro dedicado ao tema das relações
governamentais. No biênio 2020-2022 foi
eleita a chapa Convergência, com oito eixos
temáticos e um deles é o eixo de Naciona
-
lização & Entes Subfederados, cujo objetivo
é regionalizar o IRELGOV, levando os deba
-
tes relacionados à reputação e educação do
prossional de relações governamentais a
diversos estados da União.
O IRELGOV compreende que as relações go
-
vernamentais são parte necessária e legíti-
ma do processo político democrático e quem
exerce a atividade é essencial à formação de
decisões no setor público.
Para que isso seja possível, cabe ao pros
-
sional de relações governamentais reger
sua conduta com observância à legislação
brasileira, zelando pelos deveres e respon
-
sabilidades democraticamente impostos,
bem como ter conhecimento pleno das leis,
regimentos e demais atos normativos que
tenha qualquer relação com as atividades
desenvolvidas.
Dentre os princípios do IRELGOV há a busca
por desenvolver e divulgar a todas as partes
interessadas um programa ativo e contínuo
de aperfeiçoamento técnico e ético de re
-
lações com as pessoas e entidades públicas
ou privadas envolvidas nas atividades reali-
zadas por prossionais de relações governa-
mentais associados. Cabe ao prossional de
relações governamentais comunicar-se de
forma clara, fundamentada, ecaz e adequa-
da com o setor público, a m de promover a
necessária convergência entre os interesses
da empresa representada e o interesse pú-
blico.
Alexandre Amissi
Mestre em Cooperação Internacional pela
Universidade de Santiago de Compostela e gerente
de Relações Governamentais da empresa Dow
ARTIGO
17
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Para contribuir com essa diretriz, o IRELGOV
visa promover atividades de formação e pro
-
ssionalização, com foco na atuação estra-
tégica e com base em interesses legítimos a
serem representados pelos agentes media
-
dores da comunicação entre o setor privado
e público. Ademais, visa gerar conteúdo, tro
-
car experiências, viabilizar discussões, além
de elaborar e divulgar estudos, buscando
noticiar com clareza e transparência infor
-
mações sobre a carreira e atuação dos as-
sociados que trabalham na área de relações
governamentais. Dessa forma, o prossional
estará cada vez mais consciente da impor
-
tância de seu papel na sociedade brasileira.
Assim, o eixo de Nacionalização & Entes
Subfederados buscou as federações das in
-
dústrias de alguns estados para iniciar um
processo de alteração dos debates e, assim,
poder se aproximar de prossionais e em
-
presas em distintos estados do Brasil por
meio de palestras, cursos de capacitação e
mesmo criação de grupos de discussão re
-
gional na certeza da importância do traba-
lho desenvolvido nos estados e municípios e
no seu retorno na formação de políticas pú
-
blicas no cenário federal.
ARTIGO
Nas conexões estabelecidas entre empresas
e organizações com os poderes Executivo e
Legislativo de um país, há consenso quando
falamos de suas particularidades: elas são
complexas e demandam dedicação, conhe
-
cimento, investimento e boa coordenação,
sobretudo porque se estabelecem em di
-
versos âmbitos federal, estadual e regional
(municipal). Na Scania, essas premissas são
levadas ao pé da letra, pois acreditamos na
importância das três esferas quando nos
referimos aos vínculos que estabelecem a
governança, o desenvolvimento e o bom
gerenciamento. Como bem sugere o nome
desta publicação, há diálogos.
A grande questão que gira em torno da
A força do diálogo nas relações
governamentais
ARTIGO
18
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
complexidade das relações institucionais e
governamentais é que não há um modelo a
ser seguido diante das inúmeras pautas es
-
pecicas e as exigências, tanto do Executi-
vo quanto do Legislativo, as necessidades,
realidades e regras inferidas em cada esta
-
do, cidade ou município, que não apenas va-
riam de uma para a outra, como são plurais.
E em um país como o Brasil, de proporções
continentais, essas múltiplas particularida
-
des impactam nas empresas de formas di-
ferentes.
O grande desao em atender a todas essas
questões é a quantidade de interação com
os vários interlocutores como secretarias e
órgãos reguladores, além dos contextos e
questões econômicas; e isso se potenciali
-
za, quando levamos em conta o número de
cidades e estados de um país como o Brasil.
Vale lembrar que estamos falando de um
setor como o de transporte que tem forte
impacto em outras áreas da economia e não
pode parar, como aconteceu durante o iní
-
cio da pandemia no Brasil.
Este é um exemplo prático e pontual da ur
-
gência de se trabalhar com anco as áreas
de relações institucionais e governamen
-
tais, que exigiu forte atuação junto a go-
vernos, empresas, indivíduos e a sociedade
como um todo em adaptações e mudanças
das inúmeras frentes. O setor foi peça-cha
-
ve para manter o abastecimento dos muni-
Gustavo Bonini
Diretor institucional da Scania
Latin America
19
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
cípios durante o isolamento social, por isso
precisávamos das ocinas atuando para ga
-
rantir a operação dos clientes no transporte
de medicamentos, alimentos e insumos em
geral.
Houve forte trabalho da área no diálogo
com cada prefeitura para esclarecer e orien
-
tar sobre a importância das concessionárias
operarem no período, ainda que de portas
fechadas e seguindo rigorosamente os pro
-
tocolos sanitários. Então, não se trata ape-
nas de ter conhecimento sobre algo (um
decreto federal, por exemplo), mas avaliar
tudo de maneira sistêmica e desenvolver
uma gestão e uma coordenação capazes de
levar em conta o que cada um espera e como
impacta regionalmente, em harmonia e com
clareza.
O objetivo da Scania é disseminar boas prá
-
ticas e temos como norte o bom diálogo da
companhia no meio onde estamos inseridos.
A defesa de interesses é uma ação legítima,
transparente, que faz parte da democracia.
Os poderes Executivo e Legislativo precisam
contar com a sociedade civil organizada, com
as indústrias, as empresas e as comunidades
levando suas pautas e demandas de suas
respectivas necessidades para a construção
de políticas públicas ecazes.
Então, estamos constantemente mapeando
e fortalecendo relações em prol de um trans
-
porte público alinhado com as necessidades
e urgências, principalmente as ambientais.
Desta forma, conseguimos estabelecer prio
-
ridades e denir recursos. Comprometida
em oferecer à sociedade um transporte de
qualidade e limpo, com soluções sustentá
-
veis e seguras, a Scania atua de maneira que
o território onde suas instalações estão inse
-
ridas também possa se desenvolver, evoluir
e crescer social e economicamente.
ARTIGO
Ao nal de 2015 me encontrava em Genebra
quando a Assembleia Geral da ONU acaba
-
va de promulgar os “Objetivos de Desenvol-
vimento Sustentável” (ODS). Trata-se de 17
objetivos globais cuja ambiciosa meta é “al
-
cançar um futuro melhor e mais sustentável
para todos” até o ano de 2030. Contemplar
um ambiente tão exultante (inclusive para
os parâmetros suíços) me impactou pro
-
fundamente, pois era visível como todo o
ecossistema em torno da ONU embarcava
na tarefa de desenvolver modelos de ma
-
terialização em cada um dos objetivos para
que governos e empresas no mundo todo
passassem a adotá-los como parte das suas
prioridades.
Com o ceticismo antropológico que me ca
-
racteriza, mas entendendo que alguns des-
tes objetivos (como o “#3 Vida Saudável”,
“#5 Igualdade de Gênero” e #15 Ecossis
-
temas Terrestres e Biodiversidade”) eram
transversais às principais indústrias com
as qual trabalho, decidi abordar o mapea
-
mento de stakeholders desde a perspectiva
interligada dos ODS, pois eles podiam ser
enxergados como uma complexa rede de
temas interligados. De volta ao Brasil, per
-
cebi as diculdades de aderência por parte
do primeiro setor. Obstáculos que podem
ser sintetizados na desconexão clássica en
-
tre objetivos nobres e competitividade so-
mados, em 2016, a um contexto local não
muito aderente, com recessão econômica,
ESG e Governo sob a perspectiva
de redes (multi) stakeholders
ARTIGO
20
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
crise política e scal que, nos anos seguin-
tes, apresentou leve retomada.
É fato que os ODS estão presentes em ini
-
ciativas de algumas das principais empre-
sas do país, tais como Braskem, Ambev e
Natura & Co, entretanto, segundo o Rela
-
tório Luz 2021, produzido por entidades da
sociedade civil e apresentado em julho de
2021 na Câmara dos Deputados “o Brasil
não avançou em nenhuma das 169 metas
de desenvolvimento sustentável da ONU ...
mostrando inclusive retrocesso na maioria
delas”. Nenhum parlamentar da base gover
-
nista compareceu ao debate, o que exem-
plica a fraca conexão entre setor privado,
governo e sociedade civil para desenvolver
uma agenda comum sobre estes assuntos.
Ignacio Garcia Zoppi
Antropólogo digital e estrategista
de redes, co-fundador e CEO da Tree
Inteligence
21
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Seis anos depois do início dos ODS, o mun-
do denitivamente não é mais o mesmo, em
grande parte pelos profundos efeitos de
uma das maiores e mais complexas pande
-
mias da história da humanidade. Neste novo
contexto, os ESG (da expressão Environmen
-
tal, Social and Governance) ganham cada vez
mais força no primeiro setor brasileiro. Eles
vêm com a promessa de revitalizar as prin
-
cipais causas dispersas em diversas nomen-
claturas (como os ODS). Só que, desta vez,
sob o olhar atento dos investidores, peça
fundamental na tarefa de conectar ações
nobres com maior competitividade e valor
da marca. Se já enxergava os 17 ODS como
uma grande teia de issues e stakeholders, os
ESG constituem a oportunidade de avançar
-
mos para uma visão sistêmica e material do
mapeamento de stakeholders, onde gover
-
no, empresas e sociedade civil precisam tra-
balhar em redes de colaboração mais uídas
e integradas.
Pode-se dizer que, no Brasil, ainda estamos
numa etapa incipiente de entendimento
conceitual dos ESG, com alguns exemplos de
aplicação material por parte daquelas em
-
presas que sempre adotam mais cedo esse
tipo de iniciativas. Já do lado governamen
-
tal, a adoção é ainda mais incipiente, com
atrasos na denição de marcos regulatórios,
como aconteceu com o marco do saneamen
-
to, que destravou investimentos.
Está claro que o governo precisa retomar o
protagonismo do Brasil na questão ambien
-
tal. Todavia, o discurso dominante do atual
executivo insiste em uma narrativa que, por
momentos, se apresenta como a antítese
desse encontro. Este contexto lúgubre para
a retomada da agenda da sustentabilidade
deixa o empresariado e a sociedade civil or
-
ganizada como atores-chaves na articulação
das redes de colaboração que, mais cedo ou
mais tarde, devem inuenciar o governo no
entendimento de uma agenda em comum.
Capital social, capitalismo de
stakeholders e redes (multi)
stakeholders
Nos últimos trinta anos os consultores de
investimentos têm aperfeiçoado as análi-
ses dos fatores que hoje são sintetizados
nos ESG, movimento que foi, em grande
parte, estimulado por um artigo de 1988
de James Coleman intitulado “O capital so-
cial na criação do capital humano”. Nele, o
autor desaa a antiga doutrina de Milton
Friedman e outros, que armavam que o
“interesse próprio” é a única consideração
para maximizar retornos econômicos. Cole-
man teoriza sobre o importantíssimo con-
ceito de capital social, que tinha duas abor-
dagens principais:
ARTIGO
22
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Uma abordagem do tipo econômica e
de racionalidade pura, que entende cada
stakeholder como orientado por objetivos
e ações independentes do contexto, guia-
do pelo puro interesse próprio;
Uma abordagem do tipo sociológica,
onde cada stakeholder se encontra dentro
de um determinado contexto social e suas
ações estão governadas por normas e re-
gras sociais.
Coleman propõe uma orientação que inclua
componentes de ambas correntes, aceitan
-
do o princípio da racionalidade e demons-
trando como a adição dos contextos sociais
tem implicações não apenas sobre as ações
dos indivíduos, mas também sobre o desen
-
volvimento de organizações sociais. Este
capital intangível é vital para o crescimento
das nações e se desenvolve por meio de re-
des de colaboração e conança entre diver-
sos stakeholders.
Outro conceito derivado deste último, po
-
rém mais recente, é o do “capitalismo de
stakeholder”, segundo o qual o sucesso das
empresas não se limitaria apenas à geração
de lucro aos acionistas (visão puramente ra
-
cional), mas deve incluir interesses de outros
stakeholders internos (colaboradores) e ex
-
ternos (governo, comunidades locais, com-
panhias da cadeia produtiva, terceiro setor,
acadêmicos e especialistas, dentre outros).
Sob a luz destes poderosos conceitos, acre
-
dito necessária uma visão integrada de redes
multi-stakeholders, a qual sintetizo a seguir:
Figura 1. Rede integrando stakeholders internos (amarelo) e externos
(azul-claro). Elaborado com LivingStakeholders®.
ARTIGO
23
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Rede interna: revelar as redes formais e,
sobretudo, informais de relacionamentos
dentro das organizações onde trabalhamos
possibilita enxergar quem é quem, indepen
-
dentemente do organograma formal, men-
surando uxos de issues e capacidade de
inuenciar internamente. Esta abordagem
interna está relacionada com a disciplina
chamada de Análise de Redes Organizacio
-
nais.
Rede externa: mapear as complexas redes
de relacionamentos entre múltiplos stake-
holders do governo, sociedade civil e indús-
tria, possibilita ter uma visão estratégica das
dinâmicas de inuências sobre issues especí
-
cos. Neste sentido a ciência de redes está
revolucionando a maneira como o mapea
-
mento de stakeholders é feito pelos pros-
sionais de relações institucionais e governa-
mentais.
Rede integrada: nalmente, uma visão inte
-
grada das conexões entre os atores internos
e externos, possibilita obter uma visão sis
-
têmica de determinado ecossistema de ne-
gócios, respondendo a perguntas tais como:
Quem são os inuenciadores internos em
determinados issues?
Quem dentro da organização já está inte
-
ragindo com stakeholders externos chaves
para implementar e fortalecer as práticas
de ESG?
Quais as conexões que precisam ser cria
-
das ou fortalecidas para atingir os resul-
tados desejados de articulação de redes?
A guerra de narrativas sobre o
tema proteção ambiental da
Amazônia
Durante 2019 e 2020 eu e minha equipe
conduzimos uma série de mapeamentos
na região amazônica, identificando cer
-
ca de 250 stakeholders relevantes com
atuação e interesse na floresta amazô
-
nica, seus povos, comunidades tradi-
cionais e desenvolvimento econômico.
A partir da integração de diferentes
fontes de dados on e off-line o LivingS
-
takeholders mapeou uma rede de múl-
tiplos stakeholders sintetizada na ima-
gem a seguir.
ARTIGO
24
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
A rede é formada por seis clusters onde é
possível identicar a presença do Poder
-
blico nos níveis Federal e Estadual; Forças
Armadas; ONGs, ativistas, empresas e nan
-
ciadores de iniciativas na região.
Por meio do monitoramento semântico foi
possível identicar a existência de uma guer-
ra narrativa dividida entre stakeholders pró
e contra a preservação da oresta amazôni
-
ca. Muito além da questão ambiental, cou
evidente a importância, pouco explorada, da
valorização da identidade e dos saberes dos
povos e comunidades tradicionais para a ma
-
nutenção da oresta, desenvolvimento eco-
nômico da região e mitigação das mudanças
climáticas.
Trata-se de um exemplo concreto da fraca
colaboração entre Governo e demais seto
-
res, favorecendo o aparecimento de grandes
oportunidades para as empresas se posicio
-
narem junto aos ESG nesta rede em constan-
te evolução.
Os ESG estão cada vez mais presentes nas
agendas dos comitês executivos e de inves
-
timentos, criando uma conexão necessária
entre os três macro factores e competi
-
tividade, lucratividade e valor de marca,
sendo este um argumento que integra o
aspecto racional do interesse próprio com
a contextualização do interesse coletivo.
Perante o desafio de desenvolver métri
-
cas que deem conta de parte destes am-
plos fatores, o presente artigo destaca a
importância de inserir uma perspectiva de
redes integradas multi-stakeholders, onde
as redes emergentes servem de base para
a construção de métricas e estratégias de
ação orientadas à necessidade de estabe
-
lecer pontes de colaboração entre as três
esferas da sociedade.
Considerações nais
Figura 02. Rede Multi-stakeholders com interesse e atuação na Amazônia.
ARTIGO
All politics is local é a frase célebre atri-
buída a Tip O´Neil, ex-presidente da Câma-
ra dos Deputados nos Estados Unidos nos
anos de 1977 a 1987. Essa frase reforça o
contexto ocorrido com as áreas de rela
-
ções governamentais nos últimos meses.
Com a pandemia, o protagonismo dos po
-
deres executivos e legislativos, estaduais e
municipais, foi evidenciado na tomada de
decisão sobre medidas restritivas e de e
-
xibilização. Sendo assim, os prossionais
tiveram que dialogar ainda mais com esses
atores políticos, corroborando a necessida
-
de de relacionamento e acompanhamento
atualizado sobre a política local e seus des
-
dobramentos. Muitas empresas não tinham
essa interlocução na esfera estadual e mu
-
Os desaos do monitoramento
das assembleias legislativas
estaduais
ARTIGO
25
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
nicipal precisaram construir a ponte em um
momento de crise e de forma remota.
Representados pelos deputados estaduais
e distritais, o poder legislativo dos estados
possui vinte e seis assembleias legislativas
e uma câmara distrital. Importante desta
-
car que mesmo com a limitação imposta
pelo arcabouço constitucional brasileiro, as
casas legislativas estaduais possuem suas
pautas decisórias, com características dife
-
rentes, dentro de uma dinâmica própria. Ao
contrário do Congresso Nacional, que pos
-
sui sistema bicameral, as assembleias legis-
lativas detêm um sistema unicameral, ou
seja, a função legiferante é desempenhada
por apenas uma casa, tornando o processo
legislativo mais célere.
Cumpre destacar que o acompanhamen
-
to legislativo das casas estaduais enfrenta
muitos obstáculos para o desenvolvimento
do ciclo de relações governamentais (moni
-
toramento, priorização, análise, estratégia
e plano de ação).
Larissa Menezes
Gerente-executiva de Relações
Institucionais da Ambev
Com a pandemia, o protagonismo
dos poderes executivos e legislativos,
estaduais e municipais, foi evidenciado
Larissa Menezes
26
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Transparência: a divulgação de informa-
ção pela internet ainda não é realidade
em todas as casas, tornando o monito
-
ramento das tramitações complexo e a
necessidade do contato com stakehol
-
ders locais ainda mais evidente. Hoje,
é possível acompanhar com eciência,
apenas por meio de informações dos si
-
tes, 16 casas legislativas estaduais. Nas
demais, para obter informações é neces
-
sário o contato telefônico ou presencial
na busca de dados sobre as tramitações
e reuniões das comissões. Não obstante
algumas oportunidades trazidas pelas
reuniões on-line, é mister ressaltar que
nada substitui o “corpo a corpo” do rela
-
cionamento institucional.
Regras: acompanhar o processo legisla
-
tivo estadual requer o conhecimento de
27 regimentos internos diferentes, cada
um com sua particularidade e caracterís
-
tica nas tramitações. Para uma boa atua-
ção local, ter o domínio do processo le-
gislativo das casas é fundamental, bem
como o monitoramento, em sua maioria
realizado por consultorias legislativas es
-
pecializadas.
Rapidez da pauta: com o alto volume de
propostas legislativas na esfera estadu
-
al e a dinâmica especíca de cada casa,
o monitoramento deve ser ágil e ecaz.
Mesmo com as votações do plenário sen
-
do transmitidas e realizadas de forma
remota pelos deputados, facilitando o
acompanhamento, é importante desta
-
car que não ocorre o mesmo com a maio-
ria das reuniões nas comissões. Sendo
assim, para evitar surpresas e buscar a
qualidade no monitoramento, é funda
-
mental a construção e o fortalecimento
de um relacionamento institucional pré
-
vio com os stakeholders, a análise das
prioridades e a escolha de uma boa con
-
sultoria.
Com ênfase no monitoramento, destacam-se os seguintes desaos:
ARTIGO
26
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Ante o exposto, vê-se que os desaos de transparência, regras e pautas con-
tinuarão a existir, a despeito do cenário pandêmico, por serem inerentes ao
campo. Cabe ao prossional de RIG, nesse contexto, saber gerenciá-los e estar
preparado para atuações precisas e ecazes. Aqui, ferramentas tecnológicas,
quando utilizadas da maneira correta, podem facilitar essa gestão, mas esse é
tema para um próximo artigo.
Peça a qualquer pessoa – que atue ou não
na área que descreva um prossional de
relações governamentais no Brasil. Certa
-
mente, a primeira imagem mental concebi-
da é de um indivíduo localizado em algumas
das dependências do Congresso Nacional
ou do Palácio do Planalto, quando este não
é absorvido pela fotograa da Esplanada
dos Ministérios e da Praça dos Três Pode
-
res de Brasília, que reúne toda e qualquer
experiência visual relacionada aos termos
“política” e “governo”. E, realmente, esta é
uma construção poderosa dessa prossão,
a qual encontra na disposição arquitetônica
da Esplanada de Brasília a consolidação da
imagem de sua atuação por meio da cami
-
nhada entre o Congresso Nacional, Palácio
do Planalto, ministérios e, por vezes, até o
STF, quase em um processo de personi
-
cação da Praça dos Três Poderes na gura
desses prossionais.
Mas e quando tentamos expandir essa vi-
são, considerando nosso sistema de fede-
ralismo? E quando lembramos que estados
e municípios possuem autonomia e compe
-
tências especícas e devem fazer a gestão
e a regulamentação de questões locais? A
adequação ou ampliação desta imagem
mental é apenas um dos desaos do pro
-
ssional de relações governamentais que
muda seu eixo de atuação na esfera federal
para desempenhar essa mesma função em
estados e municípios.
Do planalto para as federações
ARTIGO
27
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
A já consolidada máxima de Darcy Ribeiro
da existência de “vários Brasis”¹ , da qual
todos já temos ciência em razão das dife
-
rentes manifestações culturais e dos cená-
rios socioeconômicos, torna-se ainda mais
evidente durante o processo de engaja
-
mento com as estruturas políticas locais.
Embora o relacionamento e desempenho
de atividades no Congresso Nacional com
parlamentares representantes das diferen
-
tes unidades federativas já nos proporcio-
ne o aspecto político dessas disparidades,
é no relacionamento com autoridades de
estados e municípios que não só comprova
-
mos este fato, como também assumimos a
missão naturalmente imposta de lidar com
Noelle Rocha
Gerente de Relações Governamentais
para Estados e Municípios da Nestlé
Brasil
28
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
essa complexa estrutura e desenvolver pla-
nos de estratégia e comunicações distintas,
ainda que para um mesmo objetivo.
E devemos lembrar que isso ocorre como
resultado do modo como os estados se or
-
ganizaram dentro do federalismo. Ao con-
trário de experiências em outros países nos
quais as unidades de poder se uniram em um
pacto federativo para a criação de um novo
poder central, o modelo brasileiro de fede
-
ralismo deu-se por meio da descentralização
do poder concentrado no Império para os
estados e de forma não igualitária ² , favo
-
recendo regiões economicamente mais ex-
pressivas e próximas à então sede da União.
E mesmo com a mudança da sede para o Pla
-
nalto Central, na tentativa de trazer a noção
de equilíbrio de poder ao país, e com a revi
-
são dos princípios estabelecidos pela Consti-
tuição de 1988 – os quais, ao mesmo tempo,
determinam a autonomia de estados e muni
-
cípios, mas também a interdependência en-
tre esses e a esfera federal – as diferenças
persistem.
Essa conguração fortalece o papel dos
governadores e coloca-os em papel central
na formulação de políticas públicas locais e
outras agendas³ . E esta torna-se o principal
aspecto que diferencia a esfera estadual da
federal. Enquanto a Câmara dos Deputados
e o Senado Federal apresentam-se como
arenas para debates de pautas e formulação
de matérias legislativas que dispõem sobre
temas sociais, de meio ambiente e de econo
-
mia, governos estaduais e seus respectivos
corpos técnicos desempenham, por muitas
Foto: Daniel Costa | Unsplash
ARTIGO
29
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
vezes, essas atribuições tão características
do legislativo. Isso não signica armar que
as assembleias e câmaras municipais não são
fóruns relevantes ou não possuem inuên
-
cia no processo decisório local. Contudo, o
Poder Executivo estadual, até mesmo pela
proporção de seus territórios, acaba tor
-
nando-se mais “onipresente” e com maior
capacidade de absorver funções do Poder
Legislativo, que também são permitidas aos
chefes de governos.
Além disso, cabe ressaltar o impacto direto
de projetos e atividades de empresas e en
-
tidades representativas nos territórios nos
quais são desenvolvidos. A contribuição para
o desenvolvimento das comunidades locais
ou eventuais impactos negativos sobre es
-
sas resultam em uma aproximação e envolvi-
mento ainda maior de autoridades públicas
de estados e municípios.
Nesse desenho institucional e com o interes-
se ainda mais explícito de lideranças públicas
sobre a construção de agendas que podem
impactar em seus territórios, o prossional
de relações governamentais que atua nessa
esfera local encontra sua missão de adequar
-
-se às especicidades e diferenças regionais
e preparar-se para um relacionamento ainda
mais intenso.
Sair do Planalto Central e expandir o cami
-
nho das relações governamentais pelas fe-
derações exige, por conseguinte, atentar-se
ao rápido tempo de resposta e, principal-
mente, ao peso do seu comprometimento
e envolvimento em constantes demandas
e discussões com o poder público local. E
embora isso possa parecer uma das facilida-
des da troca dos corredores do Congresso
Nacional e anexos ministeriais pelas admi
-
nistrações regionais, não deixemos de con-
siderar o risco maior e ainda mais constante
de exposição e desgaste desse prossional,
quando comparado ao engajamento com a
esfera pública federal. Isso requer cuidado
redobrado com os compromissos e valores
deste segmento de atuação, que devem ser
os mesmos e estarem sempre presentes em
qualquer esfera de poder, setor, área de ne
-
gócio ou estratégia de ação.
Estes desaos impostos nessa mudança são
vencidos em uma espécie de jornada de ob-
servação, comparação e identicação de
especicidades. Ampliar o trabalho desen
-
volvido no Planalto e entrar na dinâmica de
funcionamento e organização dos poderes
locais requer a noção prévia de que a experi
-
ência obtida durante os anos de atuação em
Brasília será valiosa e referencial, mas não
inteiramente suciente para garantir êxito
na condução de pautas com governadores,
prefeitos, assembleias e câmaras municipais.
Com isso, continuemos também com a mis
-
são de expandir a imagem do prossional
de relações governamentais muito além da
Praça dos Três Poderes, considerando seu
papel mais próximo às comunidades e seu
comprometimento em garantir que discus
-
sões e agendas de desenvolvimento social
econômico e de sustentabilidade debatidas
no âmbito de Brasília cheguem a todas as fe
-
derações e municípios.
¹ RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,1995.
² ABRUCIO, F.; FRANZESE, C. Federalismo e políticas públicas: o impacto das relações intergovernamentais no Brasil. São
Paulo: FGV, 2007.
³ ABRUCIO, F. Os barões da federação: os governadores e a redemocratização brasileira. São Paulo: Editora Hucitec,
1998.
ARTIGO
30
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
A democracia é o regime político que esta-
belece a forma de governo do Estado. E é a
Carta Magna, a Constituição, que dene os
limites desse regime. A Constituição Brasi
-
leira, também conhecida como Constituição
Cidadã, é o resultado de um enorme esfor
-
ço de escuta, uma construção a vários bra-
ços, de homens e mulheres que deixavam
um período de autoritarismo, e vislumbra
-
vam um país em que poderiam exercer sua
cidadania de forma livre e construtiva.
A participação popular ampla, por meio de
eleições, é uma realidade recente. Há re
-
gistros de realização de eleições no Brasil
desde o período colonial, para escolha de
representantes para cargos municipais. Du
-
rante o império, a Lei Saraiva (Decreto nº
3.029/1881) instituiu, pela primeira vez, o
título de eleitor. Também estabeleceu dire
-
trizes para as eleições para cargos do impé-
rio brasileiro (senadores, deputados da As-
sembleia Geral, membros das assembleias
legislativas provençais, vereadores e juízes
de paz). O processo eleitoral do Brasil Impé
-
rio excluía analfabetos, mulheres, escravos,
aqueles que não eram católicos, imigran
-
tes e pobres (só poderia votar o indivíduo
que comprovasse uma renda mínima anual,
oriunda de emprego, comércio, indústria ou
propriedade de terra). A realidade dos elei
-
tos dizia respeito à elite masculina que já
estava próxima ao centro do Império.
Eleições: ser eleitor não é
um bônus!
ARTIGO
30
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Com a Proclamação da República, uma nova
Constituição (1891) determinou um “sufrá
-
gio universal” masculino, excluídos analfa-
betos, soldados rasos e mendigos, e estabe-
leceu o voto aberto, mantendo o voto como
um instrumento de barganha, sujeito a ma
-
nipulações que levavam à manutenção dos
mesmos indivíduos no poder. As eleições
raticavam o status social superior daque
-
les que já eram a elite do país, não repre-
sentando as desigualdades entre os brasi-
leiros de diversos lugares e classes sociais.
Essa falta de representatividade se reete
até os dias atuais. Apesar de termos mulhe
-
res, que conquistaram o direito de votar e
Patrícia Nepomuceno
Gerente de Relações
Institucionais da Firjan
31
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
serem votadas em 1932, como deputadas e
senadoras, estas não formam a maioria no
Parlamento, apesar de serem a maior parte
da população. No entanto, podemos dizer
que há pluralidade de programas políticos
que sugerem diferentes políticas públicas
para grupos diversos. Essa pluralidade é re
-
conhecida por meio dos partidos políticos.
Quando olhamos para as eleições, precisa
-
mos reetir sobre os programas e orienta-
ções de cada partido político. Por isso é im-
portante denir, para guiar todas as ações
de cidadania, sua identidade política. O ci
-
dadão, agente político e politizado, é capaz
de denir, a partir de suas necessidades, a
sua ideologia política. São as ideologias se
-
melhantes de indivíduos que formam um
partido político, agente essencial da nossa
realidade democrática. São os partidos que
desenham os programas políticos, que de
-
vem, ou deveriam, denir o verdadeiro re-
sultado das eleições. No Brasil, desde a re-
democratização, estamos experimentando
uma pluralidade de partidos políticos que
precisam se unir para ter sucesso na formu
-
lação de políticas públicas. Mas a realidade
brasileira os empurra para ligações pouco
ideológicas e muito voltadas para o atendi-
mento de interesses políticos e pessoais. E
as consequências desse comportamento re
-
caem sobre os cidadãos.
Vivemos um processo de despolitização,
com o esvaziamento da discussão sobre a
cidadania. O desvio para um embate sobre
signicados de direita e esquerda, muitas
vezes mal denidos ou apontados na histó
-
ria erroneamente, serve apenas para limitar
ações voltadas para que o cidadão exerça
sua função de agente político, ciente do seu
papel individual e coletivo, das ferramentas
que estão a seu dispor e do que quer e preci
-
sa construir para sua realidade.
A despolitização leva a ideia de falsas radi
-
calizações, de disputa entre polos contrários
e contraditórios, o que acaba mobilizando
o medo ao invés da reexão. O medo não
apenas paralisa, mas gera a falsa sensação
de que é necessário um “salvador” para a
pátria, personicando o debate de ideias e
identidades em duas guras rivais. Esque
-
cemos o programa político, a ideologia, o
que realmente queremos e precisamos, e
focamos em quem pode diminuir o estrago
causado anteriormente. Numa sociedade
em que não se discute a cidadania, o voto
útil acaba sendo a escolha de muitos para se
evitar um “futuro pior”, ao invés de pensar
numa realidade melhor. E assim entramos
num looping eleitoral que acaba afastando,
inclusive, o interesse sobre o funcionamento
do Estado.
Nesse contexto, é muito importante reetir
-
mos, enquanto cidadãos, o que queremos de
país. Em 2018, o site “O Iceberg” (www.oice
-
berg.com.br) lançou a calculadora de ani-
dade eleitoral. Um survey, composto por 23
perguntas, distribuídas em cinco áreas (eco
-
nomia, energia, proteção social, segurança
Foto: Justiça Eleitoral
ARTIGO
32
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
e educação), que foram formuladas a partir
dos principais temas debatidos pelos candi-
datos presidenciáveis da época. A ideia era
cruzar o que o eleitor pensava com as pro-
postas dos candidatos. Fica a dica para você
que não sabe ainda por onde quer transitar
em 2022. A calculadora pode te ajudar a co-
meçar, mas é importante conhecer as plata-
formas políticas e votar consciente, de acor-
do com sua anidade ideológica.
A democracia é uma conquista do passado,
do presente e do futuro. Temos que honrar
aqueles que lutaram no passado e deixar o
melhor ambiente possível para as próximas
gerações. Ser eleitor não é um bônus, é um
ônus! Não ache que seu papel de cidadão
se restringe a comparecer, a cada 2 anos,
diante de urnas, escolher um (a) sujeito (a)
e achar que os problemas serão resolvidos
automaticamente. Sem nossas vozes, nossos
representantes não podem atender às nos-
sas reais necessidades! O Estado brasileiro é
como nossa casa: nos exige cuidado, atenção
e dedicação constantes.
ARTIGO
Conheça, vote, cobre e participe!
A manutenção da democracia
depende das ações de cidadania
de cada um, de forma individual e
coletiva.
34
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
O Instituto de Relações Gover-
namentais (IRELGOV) lançou,
em setembro, o podcast Trans
-
formaGov, produzido em par-
ceria com a universidade ESPM.
Cinco episódios integram a sé
-
rie e serão divulgados semanal-
mente nas principais platafor-
mas de podcast (Spotify, Google
Podcast), com a participação
de executivos de grandes em
-
presas do mercado, como XP e
Aché. O objetivo de levar a voz
do IRELGOV ao novo canal de
comunicação é abordar as no
-
vas tendências emergentes da
área de relações institucionais
e governamentais (RIG), a partir
de um contexto social que exi
-
ge novas posturas de governos
e empresas.
A série teve como tema guar
-
da-chuva o “Great Reset” e o
capitalismo de stakeholders,
que se conectam com a atuação
de RIG. Os episódios vão além
dos debates tradicionais, com
a nalidade de entender novos
ecossistemas e as oportunida
-
des que surgem para a área. Foi
explorado, ainda, o papel de
RIG no processo de implemen
-
tação de estratégias de ESG
(Environmental, Social and Go
-
vernance), a m de compreen-
der os parâmetros e métricas
nas vertentes ambiental, social
e de governança. Por m, a
-
rie foi encerrada com prossio-
nais que zeram a transição e já
atuam observando essas novas
tendências.
“O objetivo é explorar novas
fronteiras por meio da nossa
capacidade estratégica. Vamos
debater a necessidade de pen
-
sar as transformações da atu-
ação prossional e atualizar a
nossa caixa de ferramentas por
meio de um conteúdo atempo
-
ral. Precisamos abordar a rein-
venção da prossão e, nesse
sentido, o podcast é voltado
para todos aqueles que estu
-
dam, trabalham ou querem se
aprofundar na área de relações
governamentais”, explica De
-
nilde Holzhacker, diretora do
Eixo Ensino&Pesquisa do IREL
-
GOV, professora da ESPM e ide-
alizadora do podcast.
O primeiro episódio, intitulado
“Tendências e desaos: qual é
o nosso chamado?”, conta com
a participação de grandes no
-
mes do mercado, como Denilde
Holzhacker, Suelma Rosa, pre
-
sidente do IRELGOV e Valéria
Rossi, diretora de Comunica
-
ção&Advocacy do think tank.
Ouça o podcast nas platafor-
mas Spotify e Google Pod-
cast.
IRELGOV lança podcast TransformaGov,
em parceria com a ESPM
PODCAST
34
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
Denilde Holzhacker
Diretora do IRELGOV e
idealizadora do podcast
TransformaGov
35
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 03 - Novembro
O IRELGOV dá as boas-vindas aos seus novos associados
ASSOCIAD@S EMPRESA ADMISSÃO CIDADE UF
RAFAEL DA COSTA LIMA ZANZALAB 29/07/2021 CUBATÃO SP
GIULIANA SILVA DE PAULA FRANCO RAÍZEN 05/08/2021 BRASÍLIA DF
FERNANDO SCHNEIDER KÜNSCH VLI LOGÍSTICA 10/08/2021 VILA VELHA ES
BRUNO FERREIRA DA PAIXÃO GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL 17/08/2021 BRASÍLIA DF
JOÃO NICOMEDES VALERI SANCHES NVS HOLDING 17/08/2021 SÃO PAULO SP
LOREN PEREIRA SPÍNDOLA IBM 23/08/2021 BRASÍLIA DF
LUCAS TADEU MELO DA CÂMARA C4IR/WEF 03/09/2021 SÃO PAULO SP
JÚLIA VIANNA ROCHA SHELL BRASIL 09/09/2021 BRASÍLIA DF
JOELSON VELLOZO JÚNIOR GRINGO 10/09/2021 SÃO PAULO SP
ANITA CRISTINA CARDOSO MAGALHAES CARDOSO MAGALHÃES CONSULTORIA LTDA 23/09/2021 BELO HORIZONTE MG
RICHARD ROMANO SAMSUNG ELETRÔNICA DA AMAZONIA 23/09/2021 CAMPINAS SP
HELEN DE SOUZA BRITO 15/10/2021 SÃO PAULO SP
LAIS FORTI THOMAZ UFG 15/10/2021 GOIÂNIA GO
MARIANA MIDEA CUCCOVIA CHAIMOVICH ITCN 18/10/2021 SÃO PAULO SP
CAROLINA MOURA DA COSTA RELX 27/10/2021 WASHINGTON DC
EMPRESA CIDADE ADMISSÃO
Representante(S)
Barreto e Dolabella Advogados (Barreto e Dolabella Advogados Associados) Brasília 09/09/2021
Guilherme Pereira Dolabella Bicalho - Sócio Fundador
Luiz Afonso Costa de Medeiros - Diretor de Relações Institucionais e Internacionais
CRDC (Central de Registro de Direitos Creditorios S.A.) São Paulo 30/09/2021
Ivan Pompeu Lopes - CEO
Paulo Roberto Pisauro - Diretor Administrativo e Financeiro
Othavio Paulino da Costa Parisi - Diretor Comercial
Guilherme Américo Menezes - Gerente Riscos e Compliance
Dexco (Dexco S.A) São Paulo 15/10/2021
Fabio Serinolli Santos - Coordenador Impostos e RIG
Bárbara Lopes Aguiar Neves - Gerente Impostos e RIG
Lorena de Oliveira Rosa -Analista Senior Impostos e RIG
NOVOS ASSOCIADOS IRELGOV