Na primeira apresentação do evento, o secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS – Conselhão) da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Paulo Henrique Rodrigues Pereira, abordou “A importância das relações governamentais para o fortalecimento da democracia”.
Ele ressaltou que o evento é muito importante para o ministério de Alexandre Padilha, porque permite ouvir as empresas e a sociedade. “O conselho parece um pouco com vocês, do IRELGOV, pois há essa mistura de agendas e de atores.”
Pereira observou que o fortalecimento da democracia enfrenta uma série de contradições no país, mas que tem avançado. Segundo ele, há anos se debate a crise da democracia brasileira, que, no entanto, resiste. “Existe mesmo essa crise? Afinal, nunca se votou tanto. Nos últimos anos, tivemos mudanças consideráveis no Governo Federal e a democracia continuou. Não há mais um problema quantitativo – negros, mulheres, indígenas –, todos podem votar.”
Por outro lado, o secretário-executivo explicou que é perceptível um ressentimento de parte da sociedade sobre o período democrático, porque tem a sensação de que o país estacionou nos últimos 40 anos. Se, até os anos 1930, o Brasil era uma das nações que mais crescia no mundo, a partir dos anos 1980, com as transformações econômicas, em especial com a globalização, a taxa média de crescimento fica próxima ao aumento vegetativo da população, entre 1% a 1,5%. “A gente começa a ter uma geração, principalmente nas grandes cidades, que vive pior do que seus pais. As pessoas não conseguem reproduzir a vida que seus pais tiveram nem proporcioná-la a seus filhos. Essa é uma contradição muito forte: as pessoas crescem pensando que basta estudar e trabalhar, que a vida vai melhorar. Com o nosso padrão educacional, será que é suficiente estudar, para que a pessoa possa ter um lugar garantido? Temos que nos preparar para um novo ciclo de inclusão e desenvolvimento, para evitar que pessoas que fizeram universidade se submetam a empregos precários, o que acontece com frequência hoje.”
Outra contradição, de acordo com Pereira, é que o país nunca teve uma população tão educada quanto hoje, mas há escassez de profissionais qualificados em determinadas áreas – e o país nunca investiu tanto em educação. “Tem alguma coisa errada nisso e no jeito com o qual fazemos política industrial, infraestrutura. Esses dois pontos – o investimento em capacitação e a falta de oportunidades para quem estudou – fazem do grande período democrático brasileiro, dos anos 1980 até hoje, uma fase de grandes vitórias institucionais, mas que está devendo muito a uma grande parcela da sociedade.”
Todo esse cenário, afirmou Pereira, tem a ver com o IRELGOV, porque há um processo de afastamento entre as capacidades de administração do poder público e as transformações que estão acontecendo na sociedade. “Nós, do poder público, estamos muito envelhecidos. Precisamos fazer com que as pessoas voltem a acreditar que a democracia é capaz de entregar qualidade de vida para elas. Os países que conseguiram elaborar processos de desenvolvimento consistentes fizeram associações estratégicas entre políticas públicas e empresas privadas.”
Na avaliação do secretário-executivo do CDESS, o poder público não consegue mais alavancar o crescimento econômico com a instalação, por exemplo, de uma siderúrgica, por conta do nível de complexidade das cadeias econômicas globais. A explosão da inovação faz com que os governos estejam sempre olhando a reboque, para 30 anos atrás, enquanto o mercado está muito à frente. Enfrenta, ainda, a internacionalização como um complicador. “Qualquer coisa que é produzida no Brasil hoje disputa com os players globais; isso não era assim há 30 anos.”
Segundo Pereira, só vamos conseguir fortalecer a democracia se as pessoas sentirem o resultado dos seus esforços de estudo e trabalho, em melhoria de qualidade de vida, não apenas com aumento de renda, mas de respeito à diversidade e segurança. “Para isso, é necessário aperfeiçoar as formas de governo e reduzir o afastamento entre o governo e a sociedade. Não há forma de fazer isso, sem o trabalho de relações governamentais que vocês têm feito. Não é mais possível captar a diversidade do mundo da indústria apenas ouvindo uma ou outra associação; é necessário diversificar, trazer novos atores. Várias das demandas sociais têm vindo pelos profissionais de relações governamentais”